Semana passada compartilhei, no Twitter, o seguinte pensamento: “Há certos dias em que me sinto como o Chainsaw do Curso de Verão, aquele filme clássico da Sessão da Tarde”. Em seguida, transcrevi o diálogo antológico no qual Chainsaw, um dos protagonistas desta comédia de 1987 dirigida por Carl Reiner (que fez outros filmes bacanas como Um Espírito Baixou em Mim e Cliente Morto Não Paga), descrevia um blecaute ocorrido em seu cérebro: - Você quer ovos fritos ou mexidos?
- Ovos? O que são ovos?
- Como se soletra “gato”?
- Eu não sei. Eu não sei NADA. EU NÃO SEI NADA!
Pois e não é que, por coincidência ou sincronicidade, alguns dias depois uma boa alma disponibilizou esta cena, que descreve perfeitamente o terror vivenciado por vestibulandos e concursandos, no YouTube? E, melhor ainda, em versão dublada!
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O mercado editorial anda periclitante no mundo todo. E aqui no Brasil, notícias como o final melancólico do jornal Gazeta Mercantil, depois de 89 anos de existência, só reforçam essa constatação. Foi um alento, pois, saber que a revista SET, cujo cancelamento havia sido anunciado em abril, não acabou. A publicação volta sob nova direção, capitaneada por Mario Marques, Carlos Helí de Almeida, Marco Antonio Barbosa, Nelson Gobbi e Robert Halfoun. Eu, como cinéfilo cuja formação passou pelas leituras das colunas que nomes como Dulce Damasceno de Brito assinavam na SET (surgida em 1987 como um spinoff da saudosa revista Bizz), torço para que a revista encontre seu público. É uma missão difícil. Em tempos nos quais temos inúmeros blogs de cinema e sites de qualidade como Omelete, Contracampo, Cinética e Cinema em Cena, uma publicação precisa apresentar um diferencial muito grande para motivar leitores a buscarem suas edições em bancas de jornais. Ficarei na torcida para que a SET encontre o seu caminho.
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A capa da nova SET destaca O Exterminador do Futuro - A Salvação, que estreia no Brasil dia 5 de junho. Assisti ao filme na cabine de imprensa e, como adiantei no Twitter, é um blockbuster que dividiu opiniões. O Borbs do Judão, por exemplo, é um que aprovouT4. Diego Maia, por outro lado, reprovou o resultado e chamou o diretor McG de “picotador-freak”. Nessas horas, o velho clichê faz todo o sentido: cada cabeça, uma sentença. Eu me diverti pacas com T4. E, ao contrário do Diego, achei sensacional o plano-sequência do helicóptero, logo no começo do filme.
Quem assistiu aos três filmes anteriores curtirá as referências à mitologia Terminator, como a reprodução da fita original que Sarah Connor gravou para o filho e o uso de frases-bordão da saga como “I’ll be back” e “come with me if you wanna live”. Não tenho como não destacar ainda a trilha sonora do filme, com “Rooster”, talvez a melhor música do Alice in Chains, e a inevitável “You Could Be Mine”, além da atuação de Sam Worthington no papel de Marcus Wright, um condenado à morte que acaba por se tornar o verdadeiro protagonista da produção. Faço ressalvas quanto ao final do filme (a conclusão original, que foi modificada depois que o roteiro de T4vazou na Web, era melhor); de qualquer modo, o novo Exterminador é uma sessão pipoca de primeira.
Em tempo: a atuação de Christian Bale no papel de John Connor me fez concordar com a tirada de Gilvan Neco - um filme no qual “Batman combate os Transformers”. Mas a melhor de todas as resenhas, até agora, foi escrita por Denis Pacheco do blog Goma de Mascar, que cunhou um texto impecável resgatando os três primeiros filmes da série e relacionando-os com a nova produção. Porém, por estar repleta de spoilers, recomendo que vocês só leiam a crítica depois de terem assistido a T4.
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Graças a uma iniciativa encampada pelo pessoal da Central Globo de Comunicação, estive, ao lado de outros blogueiros como Samantha Shiraishi, Liliane Ferrari e Kako Ferreira, acompanhando uma das gravações do programa Altas Horas, apresentado por Serginho Groisman. Foi uma experiência bacana testemunhar, in loco, o trabalho do Serginho, um cara que acompanho desde os tempos do Matéria Prima e do Programa Livre, em um programa que sempre abriu espaço para a participação dos telespectadores, seja por meio das perguntas feitas pela plateia, seja por meio dos vídeos enviados para a produção.
A edição que acompanhei contou com as participações das simpáticas Alessandra Maestrini, Mariana Gomes e Daiane dos Santos, além de uma banda composta por músicos torcedores do Santos. Mas o grande destaque foi uma entrevista sensacional que Serginho Groisman fez com Ita Rocha, que possui uma singela profissão: carpideira. Em outras palavras: uma choradeira profissional, contratada com a função básica de derramar lágrimas em velórios. Só mesmo vendo pra crer…
Muito antes do advento do Twitter, o Festival do Minuto surgiu em 1991 com o objetivo de instigar nas pessoas a necessidade de serem sintéticas neste mundo repleto de informações, a ponto de conseguirem condensar suas idéias em vídeos com até 60 segundos de duração. A boa sacada foi logo disseminada no exterior; inspirados na ideia original do cineasta Marcelo Masagão, surgiram mais de 50 versões internacionais do Festival do Minuto.
Se antes os vídeos eram enviados em fitas VHS e mini-DVs, por meio de caixas enviadas pelo correio, a pequena revolução causada pelo surgimento do YouTube fez com que o maior festival de vídeos da América Latina naturalmente se adaptasse. Desde o final de 2007 o Festival do Minuto tornou-se permanente e online, passando a receber colaborações diretamente pela internet. Apesar de ainda promover constantemente exibições de vídeos em eventos culturais e universidades, o festival amplificou suas atividades online, mantendo um canal no YouTube e promovendo em seu site diversos concursos temáticos com premiações em dinheiro para os melhores trabalhos audiovisuais escolhidos pela curadoria.
Confiram a seguir cinco dos vídeos mais bacanas que encontrei no canal do YouTube do Festival do Minuto.
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“Na Vida de Um Homem Duas Coisas Podem Acontecer” (2000), de Flávio Andrade Meirelles - É bastante evidente a influência, neste vídeo engenhoso, de “Ilha das Flores”, o curta-metragem já clássico que Jorge Furtado dirigiu em 1989. Mas o minuto concebido por Flávio tem seus méritos próprios, a ponto de ter inspirado outras criações derivadas, como o hilário “Na Vida de Um Estagiário”, de Nuno Boggiss e Marcio Iunes.
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“Uma Vez” (1993), de André Abujamra e Jarbas Agnelli - Matar dois coelhos com uma “caixa d’água” só, “assustar” o cheque e antena “paranoica” são três das pérolas criadas a partir de expressões cotidianas que ganharam tradução audiovisual neste trabalho a quatro mãos de André, ator, músico (ex-Os Mulheres Negras e Karnak) e produtor, e Jarbas, publicitário e diretor de alguns dos melhores videoclipes já feitos no Brasil, como os de “Anormal”, do Pato Fu, e “Instinto Coletivo”, do Rappa.
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“Eva Jones” (1991), de Christiano Metri - De todos os vídeos premiados na primeira edição do Festival do Minuto, que foram exibidos em um especial exibido por alguma TV (Cultura ou Gazeta, não estou certo), este foi o que mais me impressionou. Pela montagem, pela fotografia, pela edição de som e, principalmente, pela narrativa nonsense, que dispensa palavras e trabalha habilmente os recursos audiovisuais a fim de descrever a relação sui generis entre uma lavadeira de roupas e uma barra de sabão de côco.
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“Air Guitar” (2005), de Ricardo Santini - Tive uma identificação imediata com este vídeo, embora deva dizer que sou melhor como air drummer. Mas a grande sacada mesmo foi o fato desta produção ter sido feita para participar de um concurso com o tema “Ctrl+Alt+Del”. É apenas uma piada, mas muito bem contextualizada. B)
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“A Vida é Uma Só” (2004), de Fernando Bianchi - Com o tema “Mínima Diferença”, Bianchi mostra diversos enquadramentos exibindo imagens que não são exatamente o que aparentam, ilustrando de modo criativo como a realidade é modificada dependendo do ponto de vista de cada espectador.
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P.S.: Se você mora em São Paulo, recomendo fortemente que você dê um pulinho no MASP, onde está sendo realizada a mostra 1000 Minutos de 80 Países, organizada pela versão holandesa do Festival do Minuto, com uma seleção de vídeos brasileiros feita por Marcelo Masagão, e direção e produção executiva a cargo de Gustavo Steinberg. A exposição estará no MASP até o dia 29 de março.
Em 2003, o cineasta e músico Gustavo Acioli dirigiu um curta-metragem chamado “Nada a Declarar” que encena uma entrevista realizada com um artista, interpretado por Bruce Gomlevsky, que verbaliza um discurso cínico, desconcertante, provocativo. É um filme que ao mesmo tempo é espelho - distorcido ou cristalino - de seus espectadores e estímulo para reflexão sobre nossas atitudes diante da barafunda da sociedade brasileira.
Não há mais Guerra Fria. E, ao contrário de outros tempos, nos quais bastava-se identificar um personagem como “comunista” para que o espectador soubesse por quem deveria torcer, mesmo em superproduções de cinema não é mais tão simples e maniqueísta distinguir os amigos dos inimigos. James Bond precisou se adaptar a esta nova realidade trazida pelo século XXI. E se nos áureos tempos de Sean Connery e Roger Moore o agente 007 enfrentava hordas de inimigos sem sequer desalinhar seu terno ou seu impecável penteado, o James Bond interpretado por Daniel Craig sangra, tem o rosto marcado por cortes e hematomas, apanha mais que palmeirense no meio da torcida da Gaviões da Fiel e, feito Fox Mulder, não pode confiar em ninguém, uma vez que o grande inimigo da vez é uma organização internacional misteriosa e sem rosto, que se infiltra em todos os lugares e é capaz de derrubar governos com a facilidade descompromissada de quem chupa um Chicabon numa tarde ensolarada de verão.
A fase atual do cinema brasileiro é muito boa em diversos aspectos. Tropa de Elite ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, repetindo o feito de Central do Brasil em 1998. Tivemos dois representantes da nossa cinematografia integrando a seleção oficial do Festival de Cannes (algo que não acontecia desde 1964, ano de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, e Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos), sendo que Sandra Corveloni ganhou o prêmio de melhor atriz por Linha de Passe. Meu Nome Não é Johnny, primeiro filme brasileiro a entrar em cartaz em 2008, ultrapassou a marca de 2 milhões de espectadores nos cinemas. De quebra, pesquisa do Datafolha mostra que dobrou a aprovação do público ao cinema brasileiro em comparação com levantamento semelhante realizado em 1995.
É em meio a este cenário que estreará, no dia 25 de julho, Era Uma Vez. Trata-se do segundo longa-metragem de Breno Silveira, diretor da quinta maior bilheteria do cinema nacional de todos os tempos: 2 Filhos de Francisco, visto por mais de 5 milhões de espectadores em 2005. A expectativa em torno do novo trabalho de Breno é grande e não poderia ser diferente, já que seu filme de estréia foi o mais bem-sucedido do cinema nacional nos últimos 20 anos. Em sua nova investida, Breno resolveu apostar novamente na emoção, ao narrar uma história de amor entre um jovem morador do Morro do Cantagalo que trabalha vendendo cachorros-quentes em um quiosque na praia de Ipanema e uma menina que mora na Vieira Souto, na região mais privilegiada do Rio de Janeiro. Continue Lendo
Se aventura tem um nome, só pode ser Indiana Jones. Ao protagonizar três filmes - Caçadores da Arca Perdida (1981), Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984) e Indiana Jones e a Última Cruzada (1989) - que juntos arrecadaram mais de 1 bilhão de dólares nas bilheterias do mundo inteiro, o arqueólogo criado pela dupla Steven Spielberg e George Lucas entrou para a história do cinema como o maior aventureiro de todos os tempos.
Se você se lembra do terceiro filme da saga, sabe que Indiana na verdade chama-se Henry Jones Jr., e que o herói interpretado por Harrison Ford, por detestar ser chamado de Júnior, assumiu a alcunha de Indiana Jones pegando emprestado o nome do seu cachorro. Do mesmo modo, deve ter acompanhado as peripécias vividas por Indy em lugares tão exóticos e distantes quanto os desertos do Egito, as selvas da Índia, catacumbas subterrâneas em Veneza, vilarejos no Tibete, a floresta amazônica e a Terra Santa, e está ansioso para assistir a Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, que estréia no dia 22 de maio, certo? Porém, se você pensa que as aventuras de Indy se resumem apenas ao que foi exibido nos cinemas, saiba que elas foram apenas o começo. Porque nosso herói prosseguiu com sua saga nos livros, histórias em quadrinhos, videogames e o seriado O Jovem Indiana Jones (1992), todos produzidos pela Lucas Licensing (empresa de George Lucas).
Graças às informações adicionais trazidas por todos os spinoffs da saga cinematográfica, é possível fazer uma biografia quase completa deste personagem que foi interpretado por cinco diferentes atores durante as várias fases de sua vida. Além de Harrison Ford (que filmou Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal do alto de seus 65 anos de idade) e River Phoenix (intérprete do jovem Indy na seqüência inicial de Indiana Jones e a Última Cruzada), o arqueólogo ganhou na série de TV os rostos de Corey Carrier (aos 8 anos de idade), Sean Patrick Flanery (dos 17 aos 21 anos) e George Hall (o Indy ancião). O seriado, aliás, começa com a exibição de um velhinho Indiana Jones de tapa-olho, aos 93 anos de idade, contando a dois jovens a primeira aventura que viveu ao lado do pai: uma viagem ao Egito na qual conheceu duas figuras históricas, Lawrence da Arábia e Howard Carter, o arqueológo que descobriu a tumba de Tutancâmon.
Indiana Jones aos 8 e aos 93 anos de idade, em imagens extraídas da série de televisão.
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Henry Jones Jr. nasceu na Escócia, no dia 1 de julho de 1899. Filho de Anna e Henry Jones, desde pequeno acompanhou o pai, arqueólogo formado na Universidade de Oxford, em suas viagens ao redor do mundo. Em 1908, conhece seu primeiro amor: a Princesa Sofia, filha do arquiduque Franz Ferdinand. Porém, por se tratar de um plebeu, Júnior é proibido de vê-la novamente - seria o primeiro de tantos desencontros amorosos em sua vida. Ainda criança, decide adotar o nome de Indiana, nome de seu cachorro, por abominar ser chamado de “Júnior”. É o primeiro ato de rebeldia contra o pai.
Em maio de 1912, sua mãe Anna contrai febre escarlate e morre, aos 34 anos de idade. Abalado pela tragédia, Indy viaja, junto com sua tutora, para a América. Mais especificamente, para a cidade de Boston, onde seu pai dá aulas em uma universidade. No verão daquele mesmo ano Indy adquire seu famoso chapéu, seu chicote, a cicatriz no queixo e a fobia por cobras, em uma aventura retratada no prólogo de Indiana Jones e a Última Cruzada. Em 1913 encontra pela primeira vez Marcus Brody (personagem interpretado por Denholm Elliott, ator falecido em 1992, nos três primeiros filmes), com quem viaja em uma expedição para o Egito. Depois, decide contrariar os desejos do pai, que queria que Indy prosseguisse seus estudos na Universidade de Princeton, partindo em viagens mundo afora em busca de aventuras que o levarão a encontrar personagens históricos como Pancho Villa, Ernest Hemingway e Mata Hari, e a lutar na Primeira Guerra Mundial.
Fotos de um álbum de família: Henry e Anna Jones, os pais de Indiana.
Com o fim da guerra Indy retoma aos Estados Unidos, a fim de estudar Arqueologia na Universidade de Chicago. Lá, torna-se aluno do professor Abner Ravenwood e apaixona-se por sua filha, Marion (apresentada em Caçadores da Arca Perdida na pele da atriz Karen Allen). Distancia-se dela, no entanto, ao mudar-se para a França a fim de fazer graduação em Lingüística em Sorbonne. O ano é 1922, e Indiana já domina nada menos que 27 idiomas. Em 1925, surge seu primeiro emprego: professor na Universidade de Londres. Porém, como parece ter formigas na bunda, Indy não pára quieto, transitando entre empregos na Inglaterra e Estados Unidos. Em 1930, envolve-se até mesmo com discos voadores (em história narrada pelo livro Indiana Jones and the Sky Pirates). Os romances que trazem Indy como personagem principal também relatam suas caças pela pedra filosofal, ovos de dinossauros e múmias roubadas. Em 1935, o videogame Indiana Jones and the Emperor’s Tomb mostra como ele acaba se envolvendo na busca pelo Coração do Dragão, uma poderosa pérola negra que dá ao seu dono a capacidade de controlar mentes alheias. No mesmo ano Indy se envolve em uma aventura que envolve as Pedras de Sankara: é o enredo do filme Indiana Jones e o Templo da Perdição.
Em 1936, Indy viaja até as selvas do Peru em busca de um ídolo dourado. Para sua desgraça, o amuleto acaba nas mãos de seu rival Belloq. Alguns meses depois, reencontra seu inimigo e uma paixão de juventude, Marion Ravenwood, em meio ao deserto da África, durante a busca por uma certa Arca da Aliança. Em 1937 consegue um emprego no Barnett College, em Nova York. No ano seguinte recebe a visita de um colecionador de antiguidades, Walter Donovan, que informa que seu pai, Henry (personagem impagavelmente interpretado por Sean Connery), desapareceu enquanto buscava pelo Cálice Sagrado. Viaja até a Itália, conhece uma certa doutora Elsa Schneider e envolve-se mais uma vez com nazistas. Ao final de mais uma jornada reconcilia-se com o pai, de quem estava afastado há anos.
Novas aventuras envolvendo os diários de Marco Pólo, o continente perdido de Atlântida, a espada de Genghis Khan, os tesouros de Eldorado e as ruínas da Torre de Babel entreteriam nosso herói até meados de 1947, último ano em que suas aventuras são abordadas pelos livros e videogames. O que acontece com a vida de nosso arqueólogo predileto em 1957 é retratado no filme Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. Já a série de TV dá um salto no tempo, resgatando as histórias de Indy no ano de 1992, quando, flagrado aos 93 aninhos de vida (porém, com corpinho de 83), Indiana é mostrado morando em Nova York junto com sua filha e netos. Será que, após o quarto filme para o cinema, conheceremos mais histórias do maior aventureiro de todos os tempos? Aguardemos pelas cenas dos próximos capítulos…
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P.S.: Diego Maia foi um dos sortudos que assistiram ao novo filme de Indiana Jones antes de sua estréia oficial nos cinemas, e neste texto ele explica porque o grande desafio de Indy será conquistar crianças e adolescentes 19 anos após o lançamento de Indiana Jones e a Última Cruzada. E de Detroit, Lola Aronovich também compartilha suas experiências sobre Indy IV.
Filmes em episódios são uma tradição do cinema contemporâneo que, curiosamente, não chegou a vingar aqui no Brasil, um país repleto de contistas e cineastas que se destacaram mundialmente pela qualidade de seus curtas-metragens (vide Ilha das Flores de Jorge Furtado e Couro de Gato de Joaquim Pedro de Andrade, ambos selecionados na lista dos 100 curtas mais importantes da história do cinema segundo o festival de Clermont-Ferrand). E, embora os resultados obtidos por essa estrutura de filme costumem ser naturalmente irregulares, por conta da diversidade de diretores e roteiristas envolvidos nesse tipo de empreitada coletiva, quase sempre o cinéfilo é premiado com um bom resultado final.
Recordo obras como Histórias Extraordinárias (adaptações de contos de Edgar Allan Poe assinadas por Louis Malle, Federico Fellini e Roger Vadim), Boccaccio 70 (do quarteto Luchino Visconti, Federico Fellini, Mario Monicelli e Vittorio di Sica), Os Novos Monstros (comédia em nove episódios dirigidos por Mario Monicelli, Dino Risi e Ettore Scola) e os mais recentes Cada um Com Seu Cinema (33 episódios de diretores de todo o mundo homenageando o cinema e o Festival de Cannes) e o adorável Paris, Eu Te Amo (18 episódios dirigidos por nomes do quilate de Olivier Assayas, Alexander Payne e os irmãos Coen) para atestar o que digo.
5 Frações de uma Quase História, primeiro longa-metragem realizado pela produtora mineira Camisa Listrada, entra com méritos nesta galeria de bons filmes divididos em episódios. A começar, pelo alento que é ver retratada nas telas Belo Horizonte, uma cidade poucas vezes retratada pelo cinema brasileiro. São seis diretores narrando (como o título do filme já entrega) cinco episódios habilmente amarrados nas transições entre cada história e no modo como os personagens de uma e outra trama se entrecruzam, tangenciando seus pequenos grandes dramas, desenredos, solidões, angústias e dilemas, criando uma unidade narrativa apesar da heterogeneidade de visões.
Dentre os cinco episódios de 5 Frações, há vários destaques que merecem ser feitos. Por exemplo, o modo como a obsessão do fotógrafo Carlos (Leonardo Medeiros) por pés (ao melhor estilo Alex Castro) é exibida pela câmera, que parece compartilhar, através de seus enquadramentos, o fetiche do personagem. A presença carismática de Jece Valadão, no episódio “A Liberdade de Akim”, fazendo jus às melhores atuações de sua carreira, em filmes como Os Cafajestes, Boca de Ouro e Rio 40 Graus. A direção de arte, merecidamente premiada no Festival Cine-PE. E o bom-humor do episódio que encerra o filme, “ZYR 145″, no qual a aparentemente frágil mocinha interpretada por Cynthia Falabella surpreende o conquistador barato vivido por Murilo Grossi (em impagável caracterização).
É uma pena que, em tempos nos quais blockbusters hollywoodianos como Homem de Ferro e Speed Racer invadem de assalto as salas de cinema brasileiras com centenas de cópias, um filme da qualidade de 5 Frações de uma Quase História, produzido e dirigido por uma nova geração de cineastas brasileiros, encontre dificuldades para se destacar e ganhar espaço na mídia em meio às superproduções massificadas de sempre. Deixo aqui, porém, a recomendação: 5 Frações já está em cartaz nas cidades de São Paulo e Brasília, e estreará dia 16 no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Não deixe passar a chance de variar o seu cardápio cinematográfico e conferir esta bela produção vinda de Minas Gerais.
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P.S.: Dos poucos filmes brasileiros em episódios que conheço, o melhor deles talvez seja Contos Eróticos. São quatro episódios que adaptaram histórias vencedores do Concurso Status de Literatura Erótica Brasileira que era promovido anualmente pela finada revista Status. Para quem desconhece a história, a Status foi uma publicação de altíssima qualidade voltada para o público masculino, que circulou no final dos anos 70, antes da chegada da revista Playboy ao Brasil. Um dos pontos altos da revista, que conheci fuçando alguns exemplares que meu pai guardava debaixo da cama, era a sua seção fixa dedicada a contos. Philip Roth, Ray Bradbury e Julio Cortázar foram alguns dos autores publicados pela Status.
Outro destaque era o seu concurso anual de contos eróticos. Para que vocês tenham uma idéia do nível de qualidade dos concorrentes, o vencedor da primeira edição, promovida em 1976, foi Dalton Trevisan com o conto “Mister Curitiba”. Na terceira edição, em 1978, o primeiro lugar ficou com “O Cobrador”, de Rubem Fonseca. Já em 1977, o melhor conto foi “Vegetal”, de Luis Fernando Emediato, singela história sobre um homem cuja tara era manter relações sexuais com… frutas. O genial cartaz ao lado foi obviamente inspirado por esse conto, magistralmente adaptado por Joaquim Pedro de Andrade em um dos episódios do filme, rebatizado como “Vereda Tropical”, que deu um novo sentido para a palavra “vegetariano”. Contos Eróticos volta e meia é exibido no Canal Brasil. Fique atento!
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.