Artigos da categoria: Cinema

Meninos, eu vi - Simplesmente Amor e As Invasões Bárbaras

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 15 de dezembro de 2003

Love Actually

Existem dias em que você precisa desencanar das buzinas que ressoam em seu ouvido no meio do trânsito, do colega de trabalho que por algum motivo misterioso acha que você está interessado no problema de próstata do tio dela e lhe dá mais informações do que você gostaria de saber, da conta bancária que, feito o Pólo Norte, vive abaixo de zero… Enfim, você entendeu. Nesses dias, você vai ao cinema como quem mergulha em uma piscina num dia de calor senegalês, simplesmente porque merece curtir seu quinhão de ócio despreocupado e precisa sentir-se melhor em um mundo que não lhe dá tréguas ultimamente.

Pois bem, o que você precisa é de uma boa dose de “cinemão tarja preta”: ou seja, aquele tipo de filme que faz você sair do cinema anestesiado, como se tivesse injetado Prozac na veia, sonhando com um mundo mais amoroso e beijos escandalosos em meio ao público, com pessoas batendo palmas à sua volta como numa daquelas comédias da Meg Ryan. Só que, em vez de Ms. Ryan, o filme em questão possui em seu elenco quase todos os atores britânicos conhecidos (e isso porque não arranjaram papéis para Judi Dench, Kenneth Branagh e Sean Connery).

Simplesmente Amor é a estréia na direção de Richard Curtis, roteirista de todas as comédias românticas inglesas bem sucedidas dos últimos tempos (Quatro Casamentos e um Funeral, Um Lugar Chamado Notting Hill, O Diário de Bridget Jones). Forjado pela escola de roteiristas da BBC e calejado pelo sucesso de suas obras anteriores, Curtis cercou-se de um elenco repleto de estrelas e cunhou um roteiro que entremeia oito ou nove histórias de amor em meio a gags que quase sempre funcionam. De quebra, embrulhou tudo em uma trilha sonora que reúne diversas pepitas pop, arrematando com a obra-prima God Only Knows, dos Beach Boys. Tinha como dar errado? As salas de cinema lotadas no mundo inteiro provam que não.

Simplesmente Amor é um filme que deve ser desfrutado deixando-se o senso crítico de lado. Não ligue para as situações inverossímeis, apenas mergulhe em um mundo paralelo em que é possível a um inglês aprender o idioma português em apenas uma semana, ou no qual um primeiro-ministro inglês resolve ignorar décadas de subserviência britânica aos interesses dos Estados Unidos tão somente porque o presidente norte-americano assediou a funcionária por quem está secretamente apaixonado. O filme de Richard Curtis está aí para nos lembrar que tudo que necessitamos é de Amor, e frente a isso os cânones que movem o universo são totalmente reconstruídos. Reitero meu conselho: não cobre realismo. Simplesmente permita-se sair do cinema com um sorriso nos lábios. :)

Para encerrar, uma curiosidade inútil: a piada em que o garçom chavequeiro fala mal da comida do bufê do casamento é reciclagem de uma gag que Curtis havia criado para o roteiro original de Quatro Casamentos e um Funeral que não havia sido aproveitada por mera falta de contexto no filme (só quem possui em casa o livro que a Editora Rocco publicou com o script original sabe disso). Cinema, assim como em toda arte contemporânea, vive disso: uma constante reciclagem de idéias.

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The Barbarian Invasions

Ao contrário de Simplesmente Amor, As Invasões Bárbaras, filme franco-canadense dirigido e roteirizado por Denys Arcand, é voltado a platéias mais restritas. É uma obra talhada para exibição nos Espaços Unibancos e Mostras de Cinema da vida: pretensiosamente artística, discorre sobre o inefável tema da morte, e a partir desse pressuposto aborda outros assuntos como conflito de gerações, o soçobramento das utopias comunistas e a correspondente crise da intelectualidade a partir dessa crise ideológica. No entanto, ao fim da sessão, pessoas saem dos cinemas com olhos marejados, exatamente como em Simplesmente Amor. E o fato é o seguinte: As Invasões Bárbaras, a despeito do seu verniz intelectual, não passa de mais uma obra destinada a arrebatar platéias.

Muito longe de ser uma obra-prima, é um filme extremamente conservador e conformista, que narra, basicamente, as últimas semanas de vida de um professor universitário que sofre de um câncer terminal. Amedrontado diante da proximidade da morte, olha para trás e constata o fracasso de seus ideais socialistas, ao mesmo em que aceita o amparo financeiro de um filho com quem nunca se deu bem: um yuppie que ganha dinheiro especulando com commodities, a personificação do capitalismo que sempre combateu.

Bobviamente pai e filho acabarão por se reconciliar no final, com direito a cenas proibidas para diabéticos. Nesse ínterim, veremos o bom garoto especulador subornando o sindicato dos funcionários da instituição médica no qual seu pai está internado, custodiar melhorias exclusivas para seu leito hospitalar (e os outros pacientes que se virem com o sistema público de saúde) e ainda financiar a heroína que dopará seu velho a fim de poupá-lo das dores da morte (afinal de contas, dinheiro não é problema: é solução).

Você pode (deve) me perguntar: oras, mas o que há de tão diferente entre Simplesmente Amor e As Invasões Bárbaras, que faz com que você releve o universo edulcorado pelo primeiro, enquanto mostra certa indignação com as situações retratadas pelo segundo? Simples: enquanto o filme de Richard Curtis é explicitamente uma obra de entretenimento (com piadas notadamente burlescas, vide as seqüências do inglês metido a Don Juan nos EUA), o segundo almeja ser um retrato artisticamente realista do quadro ideológico contemporâneo. Entretanto, por trás de seu roteiro bem ajambrado, o filme de Arcand traça um quadro assustador de conformidade com o individualismo de nossos dias: enquanto o sonhador comunista aguarda pela morte dopado o tempo inteiro, o capitalista bem-sucedido observa com complacência as idiossincrasias “bestas” do pai, enquanto resolve quaisquer imbróglios que surgem com uma propina aqui e ali (Filipe Furtado, em sua crítica para o site Contracampo, não me deixa sozinho nas ressalvas que faço a Invasões Bárbaras).

“Oras, mas é apenas um filme”, você me diz. Não sei, eu realmente não sei. Afinal, enquanto um filme discorre a respeito da importância do Amor em nossas vidas, o outro parece tentar afirmar a todo instante que o neoliberalismo é a resposta mais adequada aos dilemas filosófico-ideológicos da contemporaneidade, e que as lutas travadas pela geração dos 60s caíram em um vazio anestesiado por drogas e destinado à aniquilação. Não posso deixar de me sentir incomodado pelo discurso por trás de As Invasões Bárbaras, filme tão semelhante (na capacidade de entreter e comover seu público) e tão distinto (nas ambições artísticas e no discurso ideológico) de Simplesmente Amor. Entre a ridicularização desqualificante de toda uma geração de utópicos engendrada pelo primeiro, e o escapismo descompromissado do segundo, opto sem dúvida nenhuma pela comédia inglesa.

* * * * *

P.S. 1: texto originalmente publicado em 15/dez/2003.

P.S. 2: dedico a republicação deste post à cativante Luciana, que é pra ver se eu a convenço enfim a ver Simplesmente Amor, filme que sempre me fará lembrar dela desde o dia em que eu, ela, Ian, Patrícia e Juá encontramos as passistas da Vai-Vai no aeroporto de Cumbica. ;)

Promoção “Os Feiticeiros de Waverly Place”!

Por Alexandre Inagakisexta-feira, 01 de novembro de 2002

ATENÇÃO: Estes foram os perfis ganhadores da promoção do Twitter: @MoniqueJJ, @fraanbatista, @thaislalaujo e @GabiEspolador. Por favor, entrem em contato comigo no Twitter, via DM, assim que possível!

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Quer concorrer a 4 (quatro) pares de ingressos para a pré-estreia de Os Feiticeiros de Waverly Place - O Filme, que será realizada no dia 21 de outubro, às 19:30, no Cine Bombril (Avenida Paulista, 2073)?

Detalhe: além de assistir numa sala de cinema à mais nova atração do Disney Channel, você e seu convidado estará presente a uma sessão exclusiva ao melhor estilo festa à fantasia, em que os convidados irão à première fantasiados como em um evento de Halloween!

Interessou? Então entre em seu perfil no Twitter e retuite a seguinte mensagem:

Quer 1 par de ingressos para a pré-estreia de Feiticeiros de Waverly Place amanhã? Veja http://migre.me/9wDB e RT esta msg! #DisneyChannel

Cada retuitada será numerada em ordem crescente. Os quatro pares de ingressos serão sorteados, através do site Random.org, às 16 horas do dia 21/10. Os vencedores, que ganharão entradas para participar da premiére à fantasia de Os Feiticeiros de Waverly Place - O Filme, deverão retirar seus ingressos na porta do Cine Bombril a partir das 19 horas. Os vencedores serão contatos por replies no Twitter através do perfil @inagaki, ok? Ah, e os retweets serão monitorados por meio deste link do Migre.me. Boa sorte! ;)

Os Feiticeiros de Waverly Place - O Filme estreia no domingo, dia 25 de outubro, às 20:00, no Disney Channel.

Ah, Beárt…

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 26 de agosto de 2002

Sou fascinado pelas atrizes francesas. Imagino Isabelle Adjani dando um peteleco em minha orelha, sussurrando, maviosamente: “zinedine zidane”. Julie Delpy, só de calcinha em minha casa, ajoelhada para cortar as unhas do meu pé, balbuciando com um sorriso malicioso nos lábios: “foie gras et crepe suzette”. Sophie Marceau, fazendo cosquinhas em minha barriga de três meses de grávido, depois de fritar uma omelete para o meu café da manhã, cantarolando: “voyage voyage joe le taxi”. Emmanuele Béart, tentadoramente estendida no tanque, lavando minhas cuecas enquanto puxa um papo-cabeça comigo: “echarpe lingerie renault champagne”. Ah, mas este meu francês tão tosco.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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