Artigos da categoria: Cinema

5 Frações de uma Quase História

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 14 de maio de 2008

Filmes em episódios são uma tradição do cinema contemporâneo que, curiosamente, não chegou a vingar aqui no Brasil, um país repleto de contistas e cineastas que se destacaram mundialmente pela qualidade de seus curtas-metragens (vide Ilha das Flores de Jorge Furtado e Couro de Gato de Joaquim Pedro de Andrade, ambos selecionados na lista dos 100 curtas mais importantes da história do cinema segundo o festival de Clermont-Ferrand). E, embora os resultados obtidos por essa estrutura de filme costumem ser naturalmente irregulares, por conta da diversidade de diretores e roteiristas envolvidos nesse tipo de empreitada coletiva, quase sempre o cinéfilo é premiado com um bom resultado final.

Recordo obras como Histórias Extraordinárias (adaptações de contos de Edgar Allan Poe assinadas por Louis Malle, Federico Fellini e Roger Vadim), Boccaccio 70 (do quarteto Luchino Visconti, Federico Fellini, Mario Monicelli e Vittorio di Sica), Os Novos Monstros (comédia em nove episódios dirigidos por Mario Monicelli, Dino Risi e Ettore Scola) e os mais recentes Cada um Com Seu Cinema (33 episódios de diretores de todo o mundo homenageando o cinema e o Festival de Cannes) e o adorável Paris, Eu Te Amo (18 episódios dirigidos por nomes do quilate de Olivier Assayas, Alexander Payne e os irmãos Coen) para atestar o que digo.

5 Frações de uma Quase História, primeiro longa-metragem realizado pela produtora mineira Camisa Listrada, entra com méritos nesta galeria de bons filmes divididos em episódios. A começar, pelo alento que é ver retratada nas telas Belo Horizonte, uma cidade poucas vezes retratada pelo cinema brasileiro. São seis diretores narrando (como o título do filme já entrega) cinco episódios habilmente amarrados nas transições entre cada história e no modo como os personagens de uma e outra trama se entrecruzam, tangenciando seus pequenos grandes dramas, desenredos, solidões, angústias e dilemas, criando uma unidade narrativa apesar da heterogeneidade de visões.

Dentre os cinco episódios de 5 Frações, há vários destaques que merecem ser feitos. Por exemplo, o modo como a obsessão do fotógrafo Carlos (Leonardo Medeiros) por pés (ao melhor estilo Alex Castro) é exibida pela câmera, que parece compartilhar, através de seus enquadramentos, o fetiche do personagem. A presença carismática de Jece Valadão, no episódio “A Liberdade de Akim”, fazendo jus às melhores atuações de sua carreira, em filmes como Os Cafajestes, Boca de Ouro e Rio 40 Graus. A direção de arte, merecidamente premiada no Festival Cine-PE. E o bom-humor do episódio que encerra o filme, “ZYR 145″, no qual a aparentemente frágil mocinha interpretada por Cynthia Falabella surpreende o conquistador barato vivido por Murilo Grossi (em impagável caracterização).

É uma pena que, em tempos nos quais blockbusters hollywoodianos como Homem de Ferro e Speed Racer invadem de assalto as salas de cinema brasileiras com centenas de cópias, um filme da qualidade de 5 Frações de uma Quase História, produzido e dirigido por uma nova geração de cineastas brasileiros, encontre dificuldades para se destacar e ganhar espaço na mídia em meio às superproduções massificadas de sempre. Deixo aqui, porém, a recomendação: 5 Frações já está em cartaz nas cidades de São Paulo e Brasília, e estreará dia 16 no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Não deixe passar a chance de variar o seu cardápio cinematográfico e conferir esta bela produção vinda de Minas Gerais.

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P.S.: Dos poucos filmes brasileiros em episódios que conheço, o melhor deles talvez seja Contos Eróticos. São quatro episódios que adaptaram histórias vencedores do Concurso Status de Literatura Erótica Brasileira que era promovido anualmente pela finada revista Status. Para quem desconhece a história, a Status foi uma publicação de altíssima qualidade voltada para o público masculino, que circulou no final dos anos 70, antes da chegada da revista Playboy ao Brasil. Um dos pontos altos da revista, que conheci fuçando alguns exemplares que meu pai guardava debaixo da cama, era a sua seção fixa dedicada a contos. Philip Roth, Ray Bradbury e Julio Cortázar foram alguns dos autores publicados pela Status.

Outro destaque era o seu concurso anual de contos eróticos. Para que vocês tenham uma idéia do nível de qualidade dos concorrentes, o vencedor da primeira edição, promovida em 1976, foi Dalton Trevisan com o conto “Mister Curitiba”. Na terceira edição, em 1978, o primeiro lugar ficou com “O Cobrador”, de Rubem Fonseca. Já em 1977, o melhor conto foi “Vegetal”, de Luis Fernando Emediato, singela história sobre um homem cuja tara era manter relações sexuais com… frutas. O genial cartaz ao lado foi obviamente inspirado por esse conto, magistralmente adaptado por Joaquim Pedro de Andrade em um dos episódios do filme, rebatizado como “Vereda Tropical”, que deu um novo sentido para a palavra “vegetariano”. Contos Eróticos volta e meia é exibido no Canal Brasil. Fique atento!

Secos e molhados

Por Alexandre Inagakisexta-feira, 25 de abril de 2008

Um dos meus planos pessoais, quando um dia for capaz de programar deveres e compromissos com a devida antecedência, consiste em reservar alguns dias da semana para publicar posts sobre assuntos específicos por aqui. Assim, organizaria o ritmo de atualizações deste blog e evitaria que este cafofo virtual ficasse alguns dias sem atualizações, fazendo com que uma fina camada de poeira cubra sua superfície. Mas enfim, como disse sabiamente John Lennon, “vida é o que acontece enquanto fazemos planos”. De qualquer modo, tergiverso para dizer que gostaria de reservar as sextas-feiras para publicar vídeos com algumas das minhas músicas prediletas. Enquanto não implemento esse esquema, fiquem com o clipe desta sexta: “De Tanto Amor”, música gravada pelo Rei em 1971, no melhor álbum de sua carreira, o mesmo que contém “Detalhes”, a obra-prima de Roberto Carlos.

Você pode até dizer que a música tem uma letra brega, e eu sinceramente não me importo. Para mim, “De Tanto Amor” é uma das mais pungentes e emocionantes declarações de fim de relacionamento em forma de música de todos os tempos. Curiosidade sobre o vídeo: trata-se de uma seqüência do filme Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora, no qual o Rei interpreta Lalo, um mecânico de carros que sonha em ser piloto e é ajudado por Pedro Navalha (Erasmo Carlos), chefe da oficina. O dono é Rodolfo Lara (Raul Cortez), famoso piloto cuja namorada, Luciana (Libânia Almeida), também é o amor platônico do nosso herói. Não digo que é uma obra-prima, mas trata-se de uma ótima Sessão da Tarde, principalmente por causa da trilha sonora e de um elenco que conta ainda com nomes como José Lewgoy, Flávio Migliaccio e Otelo Zeloni.

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O Movimento Blog Voluntário mobilizou mais de 300 blogs para, dos dias 25 a 27 de abril, escreverem artigos e tutoriais direcionados para aqueles que ainda estão dando os primeiros passos no universo digital, ajudando aqueles que estão ingressando na internet a começarem a se familiarizar com este mundo quase ilimitado de informações. Participe você também: cadastre seu blog e redija um post direcionado ao combate ao analfabetismo digital até o dia 27. Pretendo publicar o meu artigo no domingão. O assunto? Twitter. B)

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Já que falei de cinema nacional, não posso deixar de citar um filmaço que assisti e que ainda está em cartaz: Estômago, de Marcos Jorge. Um filme que, apoiado em um excelente roteiro adaptado do conto “Presos Pelo Estômago”, de Lusa Silvestre, narra uma fábula sobre sexo, poder e gastronomia que, tal qual o processo digestivo, começa com a boca (mais especificamente, com um saboroso e divertido monólogo sobre as supostas origens do queijo gorgonzola) e termina com bunda (em um final pouco ortodoxo para uma história de amor igualmente sui generis). Estômago é uma daquelas obras nas quais cada mínimo detalhe da narrativa tem sua razão de ser, como um engenhoso quebra-cabeças na qual acompanhamos a história de Raimundo Nonato, migrante nordestino que chega à cidade grande e torna-se um exímio cozinheiro especializado na arte da gastronomia de boteco (diga-se de passagem, é quase irresistível sair da sala de cinema e ir para uma lanchonete pedir por uma coxinha).

Vejam, como aperitivo, o trailer de Estômago, no qual vocês poderão conferir en passant alguns trechos da atuação de João Miguel, protagonista do filme e um dos melhores atores brasileiros da atualidade. E aproveitem para baixar, no site oficial do filme, um livro de receitas com pratos sugeridos por alguns dos melhores blogueiros de gastronomia da Terra Brasilis.

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A Revista Bula publicou pesquisa realizada pelo Laboratório de Pesquisas de Opinião Pública e de Mercado da Universidade Estadual de Goiás, junto a 300 estudantes de 10 universidades brasileiras, a fim de descobrir quais eram os seus blogs prediletos. Pensar Enlouquece ficou em um respeitável quarto lugar nesse levantamento, em meio a boas companhias, e este que vos escreve agradece a citação feita por 51 entrevistados. ;)

E por falar em revistas, a partir desta edição de abril passo a assinar a coluna Pop Up na Pix, diversão digital garantida no formato de uma publicação de bolso. O conteúdo da Pix, como não poderia deixar de ser nestes tempos pós-modernos, está disponível na Web, mas sua versão impressa está dando sopa em um monte de lugares bacanas por aí. A singela imagem ao lado ilustra a minha coluna. Como de hábito, apareço fazendo mais uma das minhas habituais caretas. ;D

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P.S.: Este post é dedicado aos meus amigos André e Luciana, que na edição mais recente de seu podcast LoveLive fazem uma homenagem a Roberto Carlos, um grande cara que de quebra faz aniversário no mesmo dia de outro dos meus grandes ídolos: meu pai. :D

Dia Mundial do Beijo

Por Alexandre Inagakidomingo, 13 de abril de 2008

Não sei porque decidiram celebrar o Dia Mundial do Beijo no dia 13 de abril. Terá sido o dia em que Robert Doisneau tirou sua famosa fotografia do beijo de um casal numa rua de Paris? Foi esta a data na qual Rodin terminou sua clássica escultura? Ou o dia em que estreou nos cinemas “A Dama e o Vagabundo”, o desenho da Disney que mostra a cena na qual os cachorrinhos beijam-se acidentalmente ao compartilhar um prato de espaguete?

Bem, o caso é que a resposta não importa tanto. Afinal de contas, assim como um beijo roubado é mais instigante do que um previamente autorizado, os pretextos para que uma data tão interessante como esta seja celebrada pouco importam. E o fato é que falar sobre beijos, embora não seja tão gostoso quanto o ato em si, é ingressar em um universo de curiosidades capazes de fazer a gente perder uma tarde inteira navegando por aí. Por exemplo: vocês sabiam que, na Índia, beijar em público é considerado um ato obsceno que pode ser punido com até dois anos de prisão e 33 euros de multa? O ator Richard Gere, que cometeu a “indecência” de beijar uma atriz indiana durante um evento público em Nova Délhi no ano passado, aprendeu às duras penas que isso não se faz por lá. Continue Lendo

“Sangue Negro” e “Onde os Fracos Não Têm Vez”

Por Alexandre Inagakidomingo, 24 de fevereiro de 2008

Foi ótimo constatar que os dois filmes com mais indicações ao Oscar deste ano são obras densas, sem concessões às platéias. Não à toa, tanto ao fim das sessões de Sangue Negro, de Paul Thomas Anderson, quanto de Onde os Fracos Não Têm Vez, dos irmãos Joel e Ethan Coen, pude ouvir gente reclamando dos filmes. Não há terra para homens velhos, nem finais felizes para espectadores mimados.

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As cenas iniciais de There Will Be Blood mostram Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) cavoucando poços no meio do deserto norte-americano em busca de petróleo. Para saber se há indícios do óleo negro, Plainview cospe nas pedras do poço a fim de tentar ver sinais de minerais. Da saliva ao sangue dos operários que morrem nos poços de petróleo, paulatinamente imergimos na saga de um misantropo que enriquecerá na mesma medida em que terá seu espírito embrutecido. Tratado ambicioso sobre ganância, Sangue Negro justaposta interesses financeiros e religiosos na figura de dois personagens com sobrenomes simbólicos: Daniel Plainview e o pastor Eli Sunday (Paul Dano), homens que dedicam suas vidas a missões completamente alheias ao restante da humanidade. Continue Lendo

Cloverfield, o terror em primeira pessoa

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Nesta que é a semana que antecede a cerimônia do Oscar, estou fazendo uma maratona cinéfila a fim de tentar assistir a todos os principais indicados. Porém, faço um parênteses para escrever sobre um possível indicado aos prêmios de 2009: Cloverfield - Monstro. Um filme que é a representação cinematográfica das mesmas sensações que tomam conta de um incauto andando em um carrinho de montanha-russa: olhares tremidos, vertigens constantes e um certo sentimento de satisfação masoquista ao final do trajeto.

O filme mostra o que aconteceria se a cidade de Nova Iorque fosse atacada por um monstro digno daqueles que destroçavam as construções de Sim City. Porém, esqueça ameaças como King Kong, Godzilla ou George W. Bush: trata-se de algo muito mais arrasador. A grande sacada deste blockbuster dirigido por Matt Reeves e produzido por J.J. “Lost” Abrams está no modo como a trama é exibida: através da câmera de vídeo na mão de um dos personagens que corre destrambelhadamente pelos destroços da “Big Apple”.

O roteiro, acertadamente, não busca dar explicações pseudo-científicas para o surgimento do monstrengo. Ele simplesmente está lá, e você tem que se virar pra conseguir escapar vivo dessa. Outro ponto eficiente é a maneira como são apresentados ao espectador os personagens do filme, um grupo de amigos reunidos para a festa de despedida de Rob, que viajaria para assumir a vice-presidência de uma empresa no Japão, terra natal do Godzilla. As imagens da festa são gravadas em cima de uma fita com registros antigos de Rob ao lado de Beth, seu grande caso de amor mal resolvido, e por meio desse artifício narrativo o espectador passa a saber de informações que serão utilizadas adiante com o devido impacto dramático. A partir do momento em que o monstro começa a tocar o terror em Nova Iorque (na companhia de “amiguinhos” menores que dão o ar de sua desgraça na seqüência do metrô), a câmera passa a registrar a angústia esbaforida dos personagens em fuga, enquanto imagens entrecortadas do bicho são vistas apenas de relance em um e outro enquadramento tremido. E aí está outro mérito da direção e roteiro de Cloverfield: entender que sugerir é um ato muito mais instigante do que escancarar.

Uma das cenas mais significativas de todo o filme é a seqüência na qual a cabeça da Estátua da Liberdade é arremessada pelo monstro, vai parar no meio de uma rua e é logo cercada por diversos transeuntes que começam a filmá-la e fotografá-la com seus celulares e câmeras digitais: Cloverfield é o típico produto de uma era de produtores de conteúdo que não estão mais satisfeitos em ver um acontecimento diante de seus olhos: eles desejam registrar seus pontos de vista fazendo fotos, vídeos, posts.

Não perca tempo questionando a inverossimilhança de uma câmera digital cuja bateria é mais resistente que coelhinho da Duracell ou o estômago do Jack Bauer que em 24 horas nunca para pra tomar um lanche sequer. Cloverfield é um filme angustiantemente divertido, que reflete o zeitgeist desta época na qual registramos nossas lembranças através do suporte de smartphones e câmeras digitais. Produto típico desta era de convergência de mídias, não à toa foi precedido por uma campanha viral na qual cada imagem de seus trailers foi analisada por espectadores que congelaram frames e criaram blogs expondo suas teorias a respeito do filme.

Encontrei na Web vídeos que analisam o áudio quase ininteligível que surge após o final dos créditos e um objeto que cai no mar em determinada cena do filme. Mas só recomendo que você clique nesses links após ter assistido a Cloverfield. Que, ao lado da estupenda produção coreana O Hospedeiro, de Bong Joon-ho (IMHO, o melhor filme de 2007), faz com que eu seja obrigado a dizer que o gênero “filme-de-monstro” nunca esteve tão revigorado e criativo.

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P.S. 1: Tenho um par de ingressos do filme dando sopa por aqui. Se você quiser assisti-lo de graça com direito a acompanhante (afinal de contas, sessão de cinema fica mais bacana quando você tem alguém com quem compartilhar os sustos e impressões), deixe um comentário neste post dando um novo título em português para Cloverfield - Monstro. Todos os comentários dando sugestões de nomes só serão liberados para publicação na meia-noite desta sexta-feira, dia 22, quando também divulgarei o nome do vencedor de acordo com a comissão julgadora deste blog (leia-se: eu). Em tempo: os ingressos que tenho aqui são válidos em qualquer cinema localizado no território brasileiro, de segunda a quinta, exceto no Cinemark do Shopping Iguatemi em Sampa City e nas salas do Grupo Estação.

P.S. 2: Locutório, Roda Presa e Saloma do Blog, sejam bem-vindos ao InterNey Blogs!

A homenagem de Daniel Day-Lewis a Heath Ledger

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Enquanto acabo de organizar os resultados da promoção Coração de Pedra, aproveito para compartilhar o momento mais emocionante da cerimônia de premiação do SAG Awards, o Sindicato de Atores dos EUA, ocorrida ontem. Trata-se do belo discurso de Daniel Day-Lewis, talvez a maior barbada do Oscar 2008, que ganhou o prêmio de Melhor Ator graças à sua atuação em Sangue Negro de Paul Thomas Anderson. Nele, Day-Lewis faz uma homenagem a Heath Ledger, ator que, como bem definiu o crítico do NY Times A.O.Scott, infelizmente não teve tempo para tornar-se “o ator surpreendente, estranho e definidor de uma era que sempre teve o potencial de ser”.

Eis a tradução do site Cinema em Cena para o discurso do grande ator de filmes como A Insustentável Leveza do Ser e Em Nome do Pai:

Estou muito, muito orgulhoso desse prêmio. Muito obrigado por darem-no a mim. E estou muito orgulhoso por estar incluído no grupo composto pelos atores maravilhosos deste ano. Sabem, desde que me entendo por gente, a coisa que sempre me despertou um senso de deslumbramento, de renovação, que me levava a perguntar como tal coisa era possível, e que me desafiava a entrar na arena mais uma vez, com expectativa e auto-questionamento, tentando me equilibrar, sempre foi o trabalho de outros atores. E há muitos atores hoje aqui, incluindo meus colegas indicados, que me despertaram este sentimento de rejuvenescimento e… (pausa). Heath Ledger me despertou isso.

Em A Última Ceia, aquele personagem que ele criou, que parecia um ser deformado, escondendo-se de si mesmo, de seu pai, de sua vida, escondendo-se até mesmo de nós… e mesmo assim queríamos segui-lo, mas tínhamos medo de fazê-lo. Foi ímpar. E, claro, O Segredo de Brokeback Mountain, no qual ele estava inigualável, perfeito. Aquela cena no trailer no final do filme é tão comovente quanto qualquer outra coisa que eu consiga me recordar. E quero dedicar [este prêmio] a Heath Ledger. Muito obrigado.

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P.S.: Seja bem-vindo ao nosso condomínio, Gravatai Merengue. E parabéns antecipados pelos cinco anos de blog, Chico Fireman! B)

Um Oscar para o Brasil?

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Ontem a Academia de Hollywood divulgou uma espécie de lista de classificados às “semifinais” da categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2008. 63 títulos haviam sido propostos, e dessa leva inicial apenas nove filmes sobreviveram à peneira, sendo que a lista final de cinco indicados ao careca dourado será divulgada no dia 22 de janeiro, junto com as demais indicações deste ano. Pois bem: e não é que o brasileiro O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias está na lista dos nove pré-indicados?

Quase tão importante quanto a pré-seleção do filme de Cao Hamburger foi saber que alguns dos títulos que eram considerados favoritos ao Oscar já estão de fora da batalha final, dentre eles o romeno 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (vencedor da Palma de Ouro de Cannes e do European Film Awards), o francês Persépolis (levou o Prêmio Especial do Júri de Cannes e foi premiado pelas associações de críticos de Nova York e Los Angeles) e o alemão Do Outro Lado (ganhou prêmios de melhor roteiro em Cannes e no European Film Awards). Porém, apesar da concorrência agora ser bem menos árdua, o caminho está longe de estar livre para o primeiro Oscar do Brasil-il-il.

Dentre os nove filmes restantes na competição, despontam quatro dirigidos por cineastas que já levaram uma estatueta pra casa: o polonês Andrzej Wajda (Oscar honorário pelo conjunto de sua obra em 2000), o canadense Denys Arcand (As Invasões Bárbaras, 2003), o italiano Giuseppe Tornatore (Cinema Paradiso, 1988) e o russo Nikita Mikhalkov (O Sol Enganador, 1995). Além deles, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias terá a concorrência de filmes da Áustria, Cazaquistão (mostrando que o país não se limita a inspirar as piadas de Borat), Israel e Sérvia.

Deixando a análise da concorrência de lado, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias tem qualidades suficientes para ganhar o Oscar? Afirmo que sim. Pois Cao Hamburger, ao contar a história de um garoto que é cuidado por um vizinho judeu depois que seus pais são obrigados a fugir e a viver na clandestinidade devido à perseguição feita pela ditadura militar no ano de 1970, conseguiu fazer um filme sensível e tocante sobre um período recente da história brasileira. Escolado pela sua experiência anterior ao dirigir Castelo Rá-Tim-Bum – O Filme, Cao aborda o universo infantil entremeando delicadeza, bom humor e lirismo, conseguindo boas atuações do garoto Michel Joelsas e, principalmente, da revelação Daniela Piepszyk. Além disso, é um filme que aborda assuntos populares junto à Academia de Hollywood. Afinal de contas, fala do universo judaico, à semelhança de obras oscarizadas como A Lista de Schindler, O Pianista. E sua trama acompanha o nascimento de uma história de amizade entre um garotinho e um idoso, tal qual Kolya: Uma Lição de Amor, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1997.

Se depender das notas que cada um dos nove pré-indicados recebeu no Internet Movie DataBase, o maior banco de dados sobre cinema na internet, O Ano… de fato está bem na fita: com nota 8.1 em sua página no IMDB, o filme de Cao Hamburger só não foi melhor avaliado que 12, longa de Nikita Mikhalkov que recebeu nota 8.4 dos internautas. O terceiro mais bem votado no IMDB é The Trap, de Srdan Golubovic, representante da Sérvia (nota 8.0).

Caso O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias emplaque a lista final de indicados, será a quinta produção tupiniquim a concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, fazendo companhia a O Pagador de Promessas (1963), O Quatrilho (1996), O Que É Isso, Companheiro? (1998) e Central do Brasil (1999). Além deles, vale a pena lembrar do caso de Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, que concorreu a quatro estatuetas em 2004 (direção, roteiro adaptado, fotografia e montagem), e do argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco, que foi indicado ao Oscar de Melhor Diretor em 1985 por O Beijo da Mulher Aranha. Em tempo: o sucesso de crítica, bilheterias e piratarias Tropa de Elite, de José Padilha, não foi indicado como representante brasileiro na disputa pela estatueta de filme estrangeiro, mas concorrerá ao Urso de Ouro do Festival de Berlim em fevereiro. E, assim como aconteceu com Cidade de Deus, entrará em cartaz nos cinemas americanos neste ano, a fim de se tornar apto para disputar as principais categorias do Oscar de 2009.

Aguardemos, pois, a relação final de indicados que será anunciada na terça, dia 22, lembrando que o Brasil possui outra chance de ser representado na premiação através de “Despedida”, música composta por Antônio Pinto (filho de Ziraldo e compositor das trilhas de filmes como Cidade de Deus, O Senhor das Armas e Central do Brasil) e Shakira para o filme O Amor nos Tempos de Cólera. “Despedida” foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Canção Original, tendo sido derrotada por “Guaranteed”, composição de Eddie Vedder para Na Natureza Selvagem, longa dirigido de Sean Penn).

Desde já estou na torcida, pois, não apenas pelos meus compatriotas, como também pelos meus prediletos Marion Cotillard (atriz francesa, por sua atuação quase sobrenatural em Piaf - Em Nome do Amor), Paul Thomas Anderson (talvez o melhor diretor americano surgido nos últimos anos, por seu novo filme Sangue Negro) e Ratatouille, a mais recente e encantadora animação da Pixar. Cruzemos os dedos!

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P.S. 1: Fui indicado para outra premiação, o iBest 2008. Se você quiser cumprir mais uma vez com o seu dever cívico, clique aqui para votar em Pensar Enlouquece como o melhor blog de variedades. Ah, e aproveite para votar também no Dinheirama, blog sobre finanças criado pelo meu camarada Conrado Navarro, tão completo que acabou por ser indicado na categoria “Cidadania - Educação e Treinamento”!

P.S. 2: Falando de participações brasileiras no Oscar, meu leitor Daniel Ferreira da Silva muito apropriadamente lembrou de Fernanda Montenegro, que foi indicada em 1999 ao Oscar de Melhor Atriz por Central do Brasil, quando perdeu a estatueta para Gwyneth Paltrow, de Shakespeare Apaixonado. Além disso, merece citação Uma História de Futebol, curta-metragem de Paulo Machline que foi indicado ao Oscar da categoria em 2001.

P.S. 3: Monica Vitti, sobre quem divaguei em meu post de ontem, pelo visto anda perambulando o inconsciente coletivo, uma vez que também foi citada no The Moment, blog do New York Times. De lá, trago para cá este vídeo de uma das seqüências do clássico A Noite, na qual a belíssima atriz italiana contracena com Jeanne Moreau e Marcello Mastroianni.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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