Artigos da categoria: Culinária

Coisas que Porto Alegre tem nos supermercados

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 24 de dezembro de 2013

Viajar para outros lugares e sentir uma espécie de estranhamento ao se deparar com outros hábitos e costumes é um sentimento normal, especialmente se você está no exterior. Mas, morando em um país de dimensões continentais como este, não é difícil se surpreender com costumes e expressões locais. Diga uma frase como “prove o cartola do Leite” a qualquer brasileiro que não more no Recife, por exemplo, e veja a expressão confusa no rosto de quem nunca ouviu falar em um dos restaurantes mais antigos do país, e ainda não teve o prazer de provar uma das sobremesas mais saborosas da Terra Brasilis.

E é assim que, enquanto em São Paulo pessoas chupam mexericas enquanto tomam sol, em Porto Alegre elas lagarteam comendo bergamotas. Mas não é só nas expressões que as duas cidades que mais frequentei em 2013 se diferenciam. E basta fazer o rancho em um supermercado gaúcho para me deparar com coisas que eu dificilmente encontraria em Sampa. Alguns dos itens citados neste post provavelmente também devem ser comuns em outros estados do Sul, mas só vim a conhecê-los mesmo em minhas andanças pelas terras gaudérias, após estar devidamente familiarizado com hábitos como comer um xis, tomar um chimas até roncar a cuia, curtir o pôr do sol do Guaíba, dar umas bandas até a Cidade Baixa, comprar bugigangas no Brique da Redenção, se empanturrar com café colonial em Gramado (ou com o filé à parmegiana do Tudo Pelo Social), entender que em Forno Alegre faz um calor de desmaiar o Batista, pegar a freeway e viajar pra ver o chocolatão, descobrir as mil e uma diferentes conotações da interjeição “bah!” e chamar a namorada de prenda minha, tchê!

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CuecaVirada

Quando vi pela primeira vez o nome desse doce numa gôndola em Porto Alegre, ele era chamado de calça virada, alcunha suficiente para me chamar a atenção. Só depois descobri que aquela era uma denominação mais família, e que seu nome mais roots é cueca virada. O verbete na Wikipedia para este doce feito de massa caseira frita e coberta com açúcar, explicando a origem do nome, tem um trecho que precisa ser citado na íntegra por aqui: Continue Lendo

Breve ensaio da pizza como alimento social

Por Publieditorialsegunda-feira, 25 de novembro de 2013

Uma pizza poderia ser definida como um disco de massa assado, aquecido num forno com alguns ingredientes em cima. Mas é uma definição fria, que não faz jus a um alimento que é comido e apreciado pelos quatro cantos do mundo e por todas as classes sociais, e que em cada região ganha ingredientes típicos que fazem com que a pizza seja um alimento universal e, ao mesmo tempo, local.

Sempre que penso em pizzas, lembro das noites de domingo em que toda a minha família se reunia para se deleitar com triângulos recheados de mussarela e calabresa. E assim, no meu imaginário pessoal, comer aquela massa achatada acabou virando sinônimo de congregação, de pessoas reunidas para dividir fatias enquanto riem e colocam os papos em dia, tendo aquela iguaria saborosa como pretexto para que se unissem ao redor de uma mesa. Afinal de contas, são poucas as pessoas que encaram comer oito fatias em uma só refeição: acabam sobrando alguns pedaços, e nem todos são entusiastas da arte de apreciar uma pizza requentada na chapa no café da manhã do dia seguinte. Meus pais, por exemplo, não pedem delivery sem que eu, meu irmão, outros parentes e amigos estejam na casa deles para ajudá-los a deixar apenas restos de cebola e azeitonas ao fim de uma refeição. Continue Lendo

Inverno é o mundo na geladeira esfriando o mar para a festa do verão

Por Alexandre Inagakisexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Fim do ano. Época de matutar sobre as realizações obtidas e os projetos inacabados, tentar driblar os shoppings abarrotados de gente comprando presentes de Natal, reciclar e remixar a lista de resoluções do ano novo feita em dezembro passado, e, enfim, de pensar no futuro, essa misteriosa pauta em branco. Enfim, uma época que combinou maravilhosamente bem com o convite que recebi do pessoal da LiveAD, que me chamou para participar de um projeto, intitulado Inverse My Fridge, que amalgamou intervenções artísticas, festa com amigos, recriação de um móvel antigo e o recebimento um presente de Natal antecipado que ganhei para a minha casa: uma geladeira nova, a Brastemp Inverse.

A Inverse tem esse nome porque, ao contrário dos modelos usuais, ela tem o freezer embaixo e o refrigerador em cima, deixando as coisas que a gente mais usa frequentemente bem ao alcance das mãos, permitindo ainda que a área do freezer seja maior do que a das geladeiras habituais. Essa inversão da ordem entre geladeira e freezer é a típica idéia que faz a gente pensar depois: mas como é que não fizeram isso antes? História clássica: quem disse que é fácil enxergar as coisas mais simples, quando temos a mania besta de complicar ainda mais a vida?

Além da nova Brastemp, o projeto Inverse My Fridge incluiu ainda a visita de um artista à minha casa, com o objetivo de saber mais sobre meu estilo de vida a fim de transformar a geladeira anterior em uma obra de arte. A galera da Möve foi a responsável pela curadoria dos artistas, chamando dez nomes (Billy Argel, Estúdio Deveras, Luísa Ritter, Emerson Pingarilho, Geraldo Tavares, Yan Sorgi, Ana Helena Tokutake, Wagner Pinto, Fernando Chamarelli e Fernanda Guedes) para customizarem e transformarem as geladeiras velhas dos dez blogueiros convidados para a ação: Anita Cavagnoli, Chris Campos, Cláudia Midori, Gabriela Bianco, Leonor Macedo, Marcelo Costa, Marco Gomes & Gabriel Pires, Ricardo Cobra e Samantha Shiraishi.

Fim de ciclo, início de outro, renovação e transformação. Gostei das simbologias do projeto, em especial porque ele também prevê a realização de duas festas: uma por causa da vinda da Brastemp Inverse, e outra tendo como pretexto a chegada da nova velha geladeira remixada e remasterizada por Geraldo Tavares, o artista incumbido de fazer o trabalho sujo por mim. E assim foi feito: a primeira festa foi realizada sábado passado, a fim de coincidir com o aniversário da minha namorada. E, oras, mais do que a nova geladeira, minha participação no Inverse My Fridge já teria valido a pena por ver o seu sorriso durante a festinha que fizemos.

Ficamos incumbidos de fazer o registro da festa. Mas, putz, como todos devem saber, em um evento desses a gente cuida mesmo é de comer, beber, prosear, falar muitas bobagens, rir como se não houvesse amanhã e aproveitar estes momentos especiais junto com pessoas queridas. Fico devendo esta, pois: tiramos só algumas fotos do making of da festinha. ;)

Quero só ver como ficou o novo móvel para a minha casa, preparado pelo Geraldo. Fotos em breve por aqui. ;) Enquanto isso, um comentário final: outra coisa bem bacana da ação foram os ímãs que ganhamos. O título deste post foi uma daquelas típicas frases de pára-choques de caminhão ou mensagem de Twitter, que acabou por se tornar filosofia de porta de geladeira. :P

Cozinheiros de aluguel

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 09 de julho de 2008

Pra vocês verem como são as coisas. Minha receita de miojo cru repercutiu bastante, a ponto de ter chamado a atenção de uma agência de publicidade que me chamou para ser cozinheiro de aluguel. Portanto, o que vocês lerão a seguir (ou não) é um post devidamente patrocinado.

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Como os leitores deste blog já devem saber, culinária é uma arte que eu não domino. Até me pediram que eu compartilhasse alguma receita que eu fosse capaz de fazer; e eu pensei em várias, afinal de contas sou um cozinheiro versátil: sei fazer ovo frito, cozido, estrelado, mexido e, pasmem, até mesmo omelete. Minha receita de lata de sardinha à moda da casa também é prática, saborosa (especialmente para pessoas sem paladares muito apurados) e ainda tem a vantagem extra de permitir reciclagem das latas, de modo que eles posteriormente possam ser transformadas em pedal de distorção para guitarras.

Resolvi, porém, compartilhar uma receita clássica da minha infância: arroz com natô.

Para quem não sabe, natô é soja fermentada. Vendida em pequenos potinhos, a aparência não é das mais atrativas. Isso se dá porque os grãos de soja, após passarem pelo processo de fermentação, ficam um tanto quanto gosmentos e embranquiçados. O cheiro é um tanto quanto peculiar, e o natô fica mais babado que quiabo, como vocês podem checar conferindo a foto ao lado. Ainda assim, creiam-me, natô é gostoso sim!

Eis o meu método de preparo: com um garfo, pego de duas a três porções de natô e coloco-as em cima do prato. Depois, tempero a soja fermentada com um pouco de shoyu e uma a duas pitadas de aji-no-moto. Misturo tudo, coloco algumas colheres de arroz quente em cima do natô e, nhamy!, está pronta uma deliciosa refeição, considerada nutricional e terapêutica. Ou não.

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Como minhas chances de faturar um concurso de culinária são tão grandes quanto as possibilidades de encontrar algum pingo de bom senso naquele projeto do senador Eduardo Azeredo, menos mal que na promoção Receita Milionária são os comentaristas deste post que poderão ser recompensados. A pegada é a seguinte: todos aqueles deixarem comentários aqui (informando cidade e estado onde mora) descrevendo uma receita original de sua própria autoria que sirva de 4 a 6 pessoas, que use ao menos um produto Knorr, e narrando a história por trás da criação dela, participarão de uma promoção específica para blogs.

Doze leitores de doze blogs (Culinária Masculina, Prato Fundo, Homem na Cozinha, Guloseima, Rainhas do Lar, De Cara Pra Lua, Eu Capricho, Papo de Homem, Substantivolátil, Quem Matou a Tangerina e Manual do Cafajeste também participam) que tiverem suas receitas selecionadas pelo staff da Knorr receberão visitas especiais em casa: uma equipe de TV que filmará você fazendo sua receita, que depois será exibida em um programa cujos vídeos aparecerão no site da promoção da Knorr. Quem se habilitará a mostrar seus dotes culinários?

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P.S.: Além da promoção exclusiva para comentaristas de blogs, não se esqueçam que há uma outra valendo R$ 1 milhão para quem enviar sua receita por meio deste link!

Cozinha prática para homens preguiçosos

Por Alexandre Inagakisexta-feira, 27 de junho de 2008

Em se tratando de gastronomia, sigo a seguinte regra: jamais gasto mais tempo cozinhando do que comendo. Imagino até que seja bacana dominar a arte da culinária, mas o meu lado Ofélia nunca surgiu à tona. Por essas e outras, no intuito de auxiliar aqueles que, feito eu, não têm a menor vergonha na cara de assumir que são especialistas na fina arte de apelar para o delivery na hora em que a fome bate até quase nos nocautear, decidi compartilhar aqui uma velha receita de minha própria lavra, testada e aprovada por quem não entende do assunto.

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Miojo Cru

Ingredientes: 1 pacote de miojo.

Instruções: Abra o pacote de miojo, usando suas habilidades manuais. Se você for meio desajeitado, pode recorrer ao auxílio de uma faca, tesoura ou até mesmo dos seus dentes.

Separe de lado o saquinho com o tempero do miojo, que não será utilizado nesta receita (posteriormente, você pode reaproveitá-lo a fim de temperar o arroz ou a salada). Se bem que há quem aprecie turbinar seu miojo cru com o tempero; essa parte fica a critério do freguês.

A seguir, desfrute desta refinada iguaria quebrando-a em pequenos pedaços e enfiando-os em sua boca. É recomendável mastigar bem cada pedaço antes de engoli-lo, caso contrário sua garganta poderá se ferir durante o processo de deglutição.

Se você quiser pode incrementar seu miojo cru com mel, catchup, azeite ou queijo ralado. Meu amigo Orlando Tosetto, por exemplo, escreveu: “Sugestão: acrescente sal, e fique manducando com uma breja na frente da TV. Substitui o amendoim”. Eu particularmente prefiro apreciar esta fina iguaria em toda a sua crueza. Bon appétit!

Petit gâteau à moda da casa

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 27 de março de 2007

Reza a lenda que minha sobremesa predileta, gastronomicamente falando, foi criada por acidente. Se a história for verdadeira, isso quer dizer que Deus tirou a sorte grande quando estava jogando dados: petit gâteau é, sem sombra de dúvidas, guloseima das mais divinas.
Quando o assunto é agradável a gente não carece de pretextos para falar dele. Compartilho com os leitores deste blog, pois, a receita de petit gâteau cunhada por meu camarada Gustavo Weber. E constatem no que é que dá dois homens ficarem falando de culinária no MSN…
Petit gateau - Photo by Carolsawada
Inagaki diz: De francês só falo champagne, garçon, renault, isabelle adjani e olhe lá.
Gustavo diz: E eu bidé, abajour, mousse, crepe, petit gateau. E la buzanfã! Que definitivamente é uma palavra em francês. Detalhe: na verdade, não falo francês não. Mas, como bom Zelig, me ponha numa roda de franceses, e me acabo de tanto falar oui.
Inagaki diz: Adoro petit gateau. Mas essa frase soa tão metrossexual…
Gustavo diz: É verdade. E eu adoro la buzanfã. Oui, j’aime la buzanfã, bien sure. Ei, eu tenho uma receita simples de petit gateau. Se estiver interessado…
Inagaki diz: Ôpa, manda aí! Ou publique no teu blog, compartilhe essas informações importantes com seus leitores!
Gustavo diz: Hummm. Pode ser. Acho que sei de cabeça. Quer mesmo?
Inagaki diz: Claro! Eu adoro petit gateau!
Gustavo diz: Ok. Ingredientes: 100 gramas de manteiga sem sal. Meia barra (100 gramas) de chocolate meio amargo. Uma xícara de açúcar. Dois ovos inteiros - se bem que vc pode tirar a casca - e duas claras. E duas colheres de chá de farinha. Só. Agora vamos brincar. Preparo: derreta o chocolate e a manteiga em banho maria - sabe, aquele negócio de colocar uma panela apoiada em outra cheia d’água, fervendo. Importante, derreta os ingredientes em banho maria, nunca em banho, Maria. A não ser que a Maria goste.
Inagaki diz: Anotado. Mas, em todo o caso, vou ver se conheço alguma Maria que tope.
Gustavo diz: Enquanto vc derrete o chocolate e a manteiga, coloque numa batedeira o açúcar, os dois ovos - não os seus, seria realmente doloroso, os de galinha mesmo, e sem a casca. E duas claras. Podem ser a nunes e a averbuck. Bata. Mas bata mesmo. Espanque. Bata com vontade!
Inagaki diz: Encher de porrada como se eu fosse um cafetão ensinando minhas bitches a se comportarem direitim… Ok, ok, anotado!
Gustavo diz: Isso. Ina, é sério. Essa receita tem dois segredos, o primeiro é esse. Vc tem que bater pacas, deixar essa mistura crescer. Ficar numa consistência bem cremosa. Mas beeeem cremosa. Eu deixo bater no mínimo por quinze minutos. Às vezes chego a ajudar, rodando a cumbuca na direção contrária - sei lá, sou meio louco mesmo. Depois de bater e fazer crescer, reserve - adoro isso, reserve! Pegue a calda de chocolate - nessa hora, o chocolate e a manteiga devem ter derretido. Se quiser, antes, enquanto derrete, dê uma misturada.
Inagaki diz: Reserve. Essa palavra fica linda numa receita.
Gustavo diz: Verdade. Não confio em nenhuma receita em que não seja imprescindível reservar algo. Senão não vale, perde todo o charme. Bom, espere a calda esfriar um pouco. Coloque a calda num outro recipiente pra bater. Bata. A razão de bater a calda é deixá-la homogênea. Tirar os pedacinhos de manteiga e chocolate que não tiverem dissolvido. Depois de bater e perceber que a calda tá homogenea - é rapidinho -, retire da batedeira e pegue o creme que tinha batido antes. O creme que você tinha reservado (vou escrever um livro sobre a importância de se reservar na culinária brasileira)!
Gustavo diz: Coloque de novo na batedeira. e, aos poucos, com a batederia ligada, vá entornando a calda de chocolate na mistura - a que estava no outro recipiente. Vc vai ficar imediatamente desapontado. Porque aquele creme que tinha crescido pacas, bem, vai murchar. Não se preocupe. é isso mesmo. Aí, novamente, sessão espancamento. Bata, mas bata até doer.
Inagaki diz: Ah, eu gosto de bater. Mas com carinho, e só quando elas me pedem.
Gustavo diz: Pau na cara. Chama de vagabunda. Chama de contínuo! (Nelson Rodrigues, lembra?) “Contínuo!!!” “Eu sou contínuo, e o senhor é um filho da puta!”
Petit gateau - Photo by Missyasmina
Gustavo diz: Bom, depois de uns cinco, dez minutos batendo - depende da sua vontade, da sua preferência, tem gente que é mais sádica, se satisfaz só nessa parte, depois acende um cigarro e vai dormir - coloque, enquanto bate, as duas colheres de chá de farinha. É pouco, não se espante. Importante: não fique triste se não encontrar colheres de farinha no mercado. eu procurei, mas a Tramontina só fabrica de aço mesmo. Nesse caso, jogue apenas o ingrediente que jaz placidamente sobre a colher, ou seja, a farinha – não jogue a colher junto, eles nunca explicam isso nas receitas. Mais uma dica, não é necessário sujar duas colheres diferentes. Aprendi um segredo com um chef romeno: basta usar uma vez uma colher, esvaziá-la no recipiente, e usá-la novamente! Incrível o que esse pessoal do leste europeu inventa.
Gustavo diz: E uma reparação importantissima: é MEIA xicara de açúcar. MEIA! Se vc tem um medidor, use o medidor. Bom, eu sempre botava um pouqinho mais que meia, mas a receita é meia.
Inagaki diz: Ok. Anotado. Meia de estudante.
Gustavo diz: Terminando de incluir a farinha na massaroca que vc criou - e não precisa bater muito a farinha, só o suficiente pra ela se misturar bem na massa - está pronto! Mas, espere, ainda não acabou. Vc tem forminhas para o petit gateau?
Inagaki diz: Pensei que vinha agora a parte do sorvete. Existe isso, fôrmas pra petit gateau? Catzo.
Gustavo diz: Sim. Não pra petit gateau. Aquela fôrma de louça branca, redonda, com risquinhos verticais em volta. Acho que pra souffle. procure uma fôrma redonda. Bom, comprei dois tamanhos dessa fôrma. Um pequeno, de sete centímetros de boca, outro de nove centímetros. Embora pareça pouca diferença, o de nove é bem maior. E costuma ser o que eu utilizo pro meu petit gateau. Anotado? Sete, ou, preferencialmente, nove centímetros de boca. Forminha de louça branca.
Inagaki diz: Anotado. Ou melhor, copyandpasteado para ser posteriormente impresso.
Gustavo diz: Antes de colocar a massaroca na fôrma, unte-a com manteiga sem sal. Mas unte sem recato, unte como se fosse o anão costumeiramente usado em orgias - aquele besuntado de óleo.
Inagaki diz: Ôpa! Besuntar é comigo mesmo!
Gustavo diz: Deixe beeem untada de manteiga. Por quê? Porque o petit gateau precisa sair fácil, depois de assar. Já perdi alguns, que grudaram e sairam quebrados, tortos. Então se esbalde em untar. Depois de untar, coloque a massa nas forminhas. Essa receita dá pra quatro formas grandes - de 9 cm - e ainda sobra um pouco pra uma ou duas de 7cm. Detalhe importante. Não coloque, em hipótese alguma, a massa até a borda da fôrma. Na verdade, encha a fôrma até a metade, ou dois terços. Nunca, NUNCA algo mais que isso. Pq? Pq a massa cresce! Que nem um bolo! Mesmo sem fermento. Por que não explicam isso nas aulas de química?
Inagaki diz: Caraca. Quanto tempo vou levar pra fazer tudo isso?
Gustavo diz: Eu faço em uma hora sem pressa. Já fiz em meia, correndo. tem que ter espírito esportivo, Ina. E, bom, faz uma melecada da porra. chocolate, ovo, manteiga. Já viu. Agora vem o segundo segredo de Brokeback Mountain.
Inagaki diz: Já sei: o Jack morre no meio do filme. Assassinado.
Gustavo diz: Não, esse é o terceiro segredo de Fátima. O meu é: o tempo de assar. A receita diz para deixar as fôrmas por cerca de oito a doze minutos no forno, numa temperatura de 200 a 220 graus - ligue antes o forno, para esquentar. Qual o problema? Quatro minutos de diferença para um petit gateau é muito. Pq? Nós temos que tirar a forminha antes de o centro da massaroca assar. O centro da massaroca tem que ficar cru. Essa é a calda interna do petit gateau, nada mais nada menos que a massa que não assou.
Gustavo diz: E o que o cru tem a ver com as calças? Bom, oito a doze minutos é uma janela muito grande, vc pode perder o momento de tirar o bichinho, e ele pode assar por completo, perdendo a “calda” interna. Nada contra, não fica ruim, mas perde a graça do pequeno gato - tradução impecável.
Inagaki diz: Infante felino!
Gustavo diz: Lindo. Isso mesmo.

Gustavo diz: Logo, a partir de oito minutos, vc tem que ficar esperto. Olhe para o bichano a todo momento, de minuto em minuto. Vai ter um momento em que a massa vai ter crescido perto da borda, e haverá uma depressão no meio. E, se vc prestar atenção, a massa vai parecer diferente tb. A parte que cresce lembrando mais um bolo mesmo, e a parte de dentro lembrando um mousse.
Inagaki diz: E é aí que o gato começa a miar?
Gustavo diz: Isso. Nesse momento - entre oito e doze minutos, dependendo do tipo do forno, da temperatura, da forminha, do chocolate que vc usou, do alinhamento de Júpiter e Netuno, da umidade do ar e da quantidade de raios gama na atmosfera - vc tira o petit gateau do forno. Cuidado. Não sei se vc sabe, mas, infelizmente, a forminha estará quente. Não pegue-a com a mão nua.
Inagaki diz: Anotado. Vou ver se acho na Tok & Stok uma luvinha do Garfield, que é pra manter esse clima felino.
Gustavo diz: Pois é, isso é um problema. Pq? Pois a parte interna está meio líquida, pode entornar. Mas as luvinhas de proteção são lisas, e a fôrma é de louça, pode escorregar. Já perdi pequenos gatos que entornaram dentro do forno, qdo eu tentei tirar.
Inagaki diz: Putz, uma verdadeira chacina de gatos. Que desperdício, por Tutatis!
Gustavo diz: Pois é. O bichinho pronto, vc doido pra comê-lo, e ele resolve se suicidar no forno.
Inagaki diz: Optaram por escolher a própria morte. Felinos com síndrome de lemingues.
Gustavo diz: Bom, tirando o bichano, pegue uma faca. passe a faca entre a massa e a borda da fôrma, para descolá-la-lha-la. Coloque, antes, embaixo da fôrma, um prato. Vai te ajudar. Pq? Pq depois de descolar a massa com a faca, vc põe um outro prato em cima da fôrma. Para quê? Para virar a forminha sem queimar os dedinhos! Vc segura o prato de baixo, o de cima, como se fosse um sanduíche-íche, e vira. Tcharan!! A forminha vai ficar com a boca virada para baixo. Eu criei esse procedimento totalmente original. Sou um gênio. Um gênio. Note bem, totalmente original. Se alguém faz isso por aí, me imitou.
Inagaki diz: Rapaz, eu tô te falando que vc precisa publicar essa receita no blog. Você já está fazendo um live posting aqui no MSN!
Gustavo diz: :-) Virada a fôrma, segure-a com delicadeza e a levante. Com cuidado. Teoricamente ela sairá, e o petit gateau restará lindo e belo no prato. O prato que vc colocar na boca da fôrma será o prato em que vc vai servir. Use um belo prato. Eu uso minha louça tailandesa, do dia a dia. :-)
Inagaki diz: Agora entra a parte do sorvete?
Gustavo diz: Sim. Sirva com sorvete. Pode ser de baunilha ou nata. Sugestão, se vc encontrar, use de tapioca. Fica muito bom. E, sim, para sua menininha se apaixonar: compre morangos. Bons morangos, realmente saborosos.
Inagaki diz: Morangos? Morangos. Ok!
Gustavo diz: E fatie-os-lhos. Beeemm fininhos. Delicadas fatias de morangos. Coloque-os no prato qual um leque.
Inagaki diz: Informação relevante: antes de se chamarem Kid Abelha & os Abóboras Selvagens, um dos nomes cogitados por Paula Toller e companhia para o grupo foi Morangotangos.
Gustavo diz: Putaquapareo. Abóboras selvagens é muito melhor. De um bom gosto incrivel. Bem, ok. Sirva. Lá estará seu petit gateau, servido com sorvete de tapioca e morangos fatiados. Por fim: sirva o bolinho quente, ou seja, leve logo à mesa.
Inagaki diz: DILIÇA!
Gustavo diz: Tenho uma receita de couli de laranja - ou de tangerina - que pode ser usada por cima de tudo, do sorvete, do bolo, fica foda. mas não te dou. :-) Couli é o nome gay pra calda.
Inagaki diz: Pô, mas eu queria tanto o seu couli… Uma coisa bem brokebackiana.
Gustavo diz: Meu couli é docim. Sirvo quente.
Inagaki diz: Ui!
Gustavo diz: Bom, é isso. A calda, sério, tenho receita não. Mas não precisa, com o sorvete e os morangos vc come quem vc quiser. Juro.
Inagaki diz: Ok. Não há nenhuma mulher que possa resistir ao meu charme japaraguaio e à sua receita de petit gateau!!!
gustavo diz: Sim, é verdade. Juntos, comeremos o mundo. Huahuahuahua - risada psicótica e tresloucada.
Inagaki diz: Boa é a risada do Pateta: iac, iac, iac!!!
Gustavo diz: Mas, se vc tiver realmente paciência, tente achar uma receita de couli de laranja na internet. Eu faço em casa, mas no olho. Não tenho coragem de te dizer como é. Sério. Tô te dizendo pq fica absurdamente bom. A combinação de calda de laranja, morango, sorvete de creme e petit gateau é o paraíso. Tô até emocionado, snif.
Gustavo diz: E, como diria o Gaguinho, é isso aí pe-pe-pessoal!
Petit gateau - Photo by Neechee
P.S. 1: Observações que Mr. Weber fez após nossa conversa pelo MSN: “Ina, esqueci de te dizer: antes de desenformar o pequeno gato, cubra as forminhas com filme e deixe-as descansar de meia hora a duas horas na geladeira. Depois disso, qdo for assar o gatinho, retire as fôrmas da geladeira uns quinze minutos antes – mais ou menos o tempo que vc deixar o forno pré-aquecendo. A massa pode ficar de três a quatro dias na geladeira sem estragar. Logo, se vc quiser, tenha a trabalheira toda uns dias antes do seu romântico jantar. Et bon ap!”
P.S. 2: Estive sábado no primeiro dia do BarCamp Sampa. Um evento muito bacana, pena que tive de sair às pressas de lá por causa de uma entrevista que fiz para uma matéria que será publicada em breve. Para quem perdeu a oportunidade de participar desta “desconferência”, fica aqui a dica: conferir a ótima cobertura que Tiago Dória fez do evento. Destaques especiais: as “frases inesquecíveis” e os “grandes momentos” do BarCamp. :>>
P.S. 3: Mr. Danzig, obrigado por ter indicado o Pensar Enlouquece como blog da semana no Tarja Preta!
P.S. 4: Recado deixado por Ernesto Diniz debaixo da minha porta: “Ina, nóis é pobre. Nóis iscrevi. Nóis é limpu e legalzin. http://naselva.com. ‘Cause publicity is never enough. Dá uma força? Abração!”

O Dia da Pizza

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 10 de julho de 2006

Foto de Renata Diem.Ah, a pizza. A fim de celebrar a existência deste maravilhoso quebra-galho que, via delivery, sacia diariamente a fome de milhares de pessoas como eu (um cara que na culinária segue à risca a máxima de jamais gastar mais tempo cozinhando do que comendo), instituiu-se em São Paulo o Dia da Pizza, comemorado neste dia 10 de julho. Sim, eu sei que essa efeméride é mais uma invencionice de políticos que pouco fazem além de batizar ruas e criar comemorações esdrúxulas. Porém, há certo sentido em se comemorar uma data como esta, dedicada a este singelo prato que representa salvação dos inaptos de fogão, mote de congregação das famílias nas noites de domingo, motivo de perdição dos gulosos de plantão. Continue Lendo

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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