A surpreendente (ao menos para mim) lista das 50 músicas mais tocadas nas rádios do Brasil em 2013
Por Alexandre Inagaki ≈ terça-feira, 17 de dezembro de 2013
A impressão que tive quando vi a lista das músicas mais tocadas nas rádios do Brasil em 2013, segundo levantamento feito pela Crowley Broadcast Analysis, foi similar à perplexidade que tenho naquele momento In Memoriam da cerimônia do Oscar, quando são homenageados todos os profissionais da indústria cinematográfica que faleceram em determinado ano, e me surpreendo ao descobrir que certo ator ou diretor havia morrido e eu nem sabia ainda. Do mesmo modo, fiquei realmente surpreso ao constatar que só conhecia 31 das 50 músicas que constam no Top 50 das rádios brasileiras.
A matéria do G1 destacou a queda de popularidade do rock. Entre as 50 mais tocadas, só “Meu Novo Mundo”, do Charlie Brown Jr., representa o rock nacional. No Top 100, aparecem apenas duas outras faixas: “Anjos (Pra Quem Tem Fé)”, do Rappa, e “Tempos Modernos”, regravação do hit de Lulu Santos feita pelo Jota Quest para a trilha sonora de Malhação. À primeira vista, uma constatação simples: o rock mainstream brasileiro nunca esteve tão em baixa, dependendo de arroubos de inspiração de bandas surgidas nos anos 80 e 90 para se destacar nas rádios. Mas, em tempos de YouTube, Deezer, Soundcloud, Spotify e inúmeros sites e blogs dedicados à música, será que novos grupos ainda precisam tocar em AMs e FMs para divulgarem seus trabalhos? Vale a reflexão.
Salta aos olhos também o predomínio da música sertaneja no Top 50. São 28 canções do gênero na lista, interpretadas por Bruno & Marrone, Luan Santana (3 músicas), Jads & Jadson, Leonardo, Michel Teló (2 faixas), Victor & Léo (também 2 vezes), Gabriel Valim, Thaeme & Thiago, Paula Fernandes (que canta uma faixa e faz participações especiais em outras duas), Eduardo Costa (2), Gusttavo Lima, George Henrique & Rodrigo, João Bosco & Vinícius, Fernando & Sorocaba (2), João Neto & Frederico (2), Zé Ricardo & Thiago, Marcos & Belutti, Cristiano Araújo (2), Munhoz & Mariano e Zezé di Camargo & Luciano.
Dois gêneros aparecem representados com quatro músicas cada um: o funk (com dois hits de Anitta e outros dois de Naldo) e o pagode (através de sucessos de Thiaguinho, Grupo Revelação e duas faixas do Sorriso Maroto). O rap emplacou a 4ª. posição com o Pollo, a MPB aparece com “Esse Cara Sou Eu”, do rei Roberto Carlos, e a lista é completada com 11 hits internacionais. E, diga-se de passagem, a mais executada (“Don’t You Worry Child”, da Swedish House Mafia, que ficou no 6º. lugar) é uma música que me torrou o saco o ano inteiro sem que eu sequer quisesse saber o nome desse poperô.
A conclusão? Que bom viver em tempos privilegiados nos quais não dependo mais de rádios para descobrir novos sons e nutrir meus fones de ouvido. Aquela música dos Smiths nunca me soou tão atual:
Hang the blessed DJ
Because the music that they constantly play
It says nothing to me about my life
P.S. 1: Vi pela primeira vez essa lista em uma postagem feita pelo Bruno Capelas no Facebook. Vale a pena conferir os comentários deixados por lá.
P.S. 2: Nunca tinha ouvido “Vidro Fumê” até ver essas listas. Sinceramente? Eu, que gosto bastante de música sertaneja, não desgostei da canção, típica representante do gênero corno-urbano-universitário. Em primeira pessoa, um homem relata que, através de um telefonema anônimo, recebe a denúncia de que sua mulher anda lhe traindo. Faz uma rápida investigação e constata, com seus próprios olhos, a verdade nua e crua, “na hora em que eu te vi entrando num carro importado de vidro fumê”. O refrão dessa música merece ser transcrito na íntegra:
Quando você chegou em casa
Eu te tratei naturalmente
E quando fiz amor contigo a noite inteira, lentamente
Foi a canção da despedida
Foi de verdade, diferente
Foi a última noite de amor da gente
Enfim: creio que este sucesso de Bruno & Marrone faz jus ao posto de música mais tocada nas rádios em 2013. Afinal de contas, trata-se de um clássico instantâneo da MCB: Música Corna Brasileira.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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