Uma moeda por seu vazio
Por Nathalie Trutmann ≈ segunda-feira, 03 de fevereiro de 2014
O meu vazio costuma ser bem grande, escuro e bastante imprevisível.
O trabalho do artista não é sucumbir ao desespero, mas encontrar um antídoto para o vazio da existência. (Woody Allen)
Ele tem um senso de humor estranho e normalmente escolhe me surpreender quando menos imagino. Até pode chegar a dar sinais de aviso prévio (o volume e quantidade das minhas preocupações ou tarefas aumentam repentinamente), mas na maioria das vezes me pega desprevenida, bem na sequência de alguma coisa que eu considerava boa, como alguma conquista - aliás, quase sempre aparece depois de alguma conquista - como se ele esperasse esses momentos de vitória, quando estou me sentindo bem no topo do mundo, para me puxar de volta ao chão e me lembrar que, por mais alto que consiga voar e por mais coisa que consiga conquistar, nada conseguirá me tirar da minha frágil e irremediável condição de ser humano.
Nesses momentos, meu mundinho egocêntrico se desmorona como um bolo mal feito.
De um instante ao outro a aparente ordem na minha vida se desfaz, o colorido se escurece e o meu pique e otimismo habitual (e que normalmente acho tão caídos do céu) desaparecem em um piscar de olhos. Uma densa nuvem de desânimo se apodera de mim e a única coisa que quero fazer é ficar refugiada na cama. Nesse vazio ou buraco preto (como resolvi chamar essa sempre tão imprevisível condição), me pego tendo que me esforçar para fazer até as coisas mais simples.
Alguns chamam esses sintomas de depressão e rapidamente procuram terapia ou algum outro remédio para aliviar essa sensação desestabilizante que atropela o ritmo produtivo das nossas vidas. Outros podem sair às compras, viajar ou procurar amigos. Já eu, sou normalmente pega tão de surpresa (depois de tudo, como pode ela, uma pessoa tão feliz, cair numa dessas?!) que antes de perceber que estou caindo, já me entrego à minha geladeira e livros e me distancio das pessoas. Se por alguma sorte consigo perceber a tempo, ainda saio voando para a academia fazer uma hora de esteira - minha querida liberação de adrenalina nunca me falha em resolver momentaneamente o desconforto e curvar esse vazio que parece tão fundo e escuro.
Mas por que falar de algo tão deprimente, não é?
A vida é tão bonita, tem tanta coisa boa para a gente curtir e agradecer e de qualquer jeito esse negócio de depressão e vazio é para os outros - os perdedores, os fracos, os que desistem porque não têm a disciplina suficiente, porque não conseguem se automotivar para encarar a vida do jeito que ela é.
Pois é, é fácil falar isso. O mundo é para os ganhadores, não é?
Só que eu (sem tentar me engrandecer) sou dos que costumam andar no tal do outro lado do muro, com a turma que, para o olhar inocente de muitos, parece estar fazendo acontecer (bendita personalidade triple A que nunca me deixou descansar ou sentir bem se não estava conquistando alguma coisa), mas a verdade é que, por mais que eu tente, não consigo me blindar 100% e de vez em quando (e não tão raramente assim) me sinto engolida por esse poderoso vazio que mora dentro de mim (Darth Vader, alguém?). E não seria honesta se não falasse dele, já que tenho uma forte suspeita de que ele está diretamente ligado ao meu enigmático relacionamento com minha conta bancária.
P.S.: Você acabou de ler um trecho do capítulo 11 de O Misterioso Significado do Dinheiro, novo livro de Nathalie Trutmann. Nesta obra, Nathalie aborda o tema do dinheiro sob outra perspectiva, buscando entender, de forma lúdica, o complexo mundo por trás de nossas contas bancárias em tempos tão consumistas. Quer saber mais a respeito do livro e adquirir seu exemplar, seja ele impresso ou digital? Então visite o site da Nathalie. :)
Nathalie Trutmann
Nathalie Trutmann se autointitula uma sonhadora, mas seu trabalho tem tudo a ver com colocar as coisas na prática. É Chief Magic Officer da FIAP, e está comprometida com motivar mais o empreendedorismo e o protagonismo pessoal na educação, assim como com a procura de implementar iniciativas que transformem a experiência educacional dos jovens.
Categorias:
Artigos relacionados:
- Procrastinação é como masturbação
- O que você quer ser quando você morrer?
- Como Tootsie fez Dustin Hoffman mudar sua maneira de ver as mulheres
- Perguntar não ofende (já algumas respostas…)
- Como Fazer Amigos e Influenciar Homens de Marte, Mulheres de Alpha Centauri e Chorões às Margens do Rio Piedra (ou: Seja Feliz e Ajuda-te a Ti Mesmo Sozinho e Sem Ajuda de Ninguém, Mexendo no Queijo Alheio de Acordo com os Princípios do Feng Shui)