Sorria, você está no YouTube
Por Alexandre Inagaki ≈ sexta-feira, 17 de novembro de 2006
O surgimento do YouTube e o aumento do número de usuários com banda larga de Internet fizeram com que a quantidade de vídeos virais, ou seja, aqueles que você recebe por e-mail, MSN ou Orkut e não resiste à compulsão de passar para a frente, tenha multiplicado mais que Gremlins na chuva. Se você passa ao menos duas horas na frente do computador, provavelmente já se cansou de receber links para vídeos como o do Sílvio Santos e a piada do poste, da mulher e do bambu, da briga entre João Gordo e Dado Dolabella, a apresentação de Joseph Climber no Programa do Jô ou a animação feita com base em um teste de fonoaudiologia na qual um paciente imortaliza a frase “as árveres somos nozes“.
Para que um vídeo apresente maior teor de “viralidade”, tanto melhor que ele seja (ou soe) espontâneo, feito o dia em que Fernando Vanucci apresentou um programa aparentemente bêbado. Ou que ele seja engraçado ou curioso suficiente a ponto de desejarmos compartilhar nossas sensações com toda a nossa lista de contatos, como é o caso do vídeo mais assistido na história do YouTube, “Evolution of Dance“, visualizado mais de 35 milhões de vezes, ou a cover que dois irmãos argentinos (um de 9 e outro de 13 anos) fizeram de uma música do Sepultura, que recebeu mais de 1 milhão de visitas em um mês.
Internautas, marqueteiros, publicitários perguntam-se: é possível produzir um vídeo viral? A clássica resposta que sou obrigado a dar é: depende. Você pode pegar uma cibercelebridade, por exemplo, e tentar explorá-la em uma nova produção. Foi o caso de Gary Brolsma, que se tornou famoso ao filmar-se com sua webcam dublando a música “Dragostea Din Tei” (regravada por Latino como “Festa no Apê”). Quase dois anos após o primeiro vídeo, Gary reapareceu.
Seu novo vídeo é nitidamente bem produzido. A espontaneidade cedeu lugar a uma produção com direito a efeitos de animação, “bailarinos” acompanhando as coreografias desajeitadas de Brolsma e trilha sonora a cargo do mesmo compositor de “Dragostea Din Tei”, tudo meticulosamente feito com o intuito de divulgar o site New Numa e divulgar um concurso que oferece um prêmio de US$ 25 mil ao internauta que produzir o melhor vídeo de redublagem de Gary. Não se pode dizer que a iniciativa foi um fracasso, até porque a nova produção foi visualizada mais de 3 milhões de vezes, mas é indiscutível constatar que este remake não chegou nem aos pés da repercussão do primeiro vídeo, até porque seria impossível repetir o efeito surpresa do original.
No Brasil, iniciativa semelhante foi feita com a campanha da BrasilTelecom “Eu Vim em Paz“, que contratou os comediantes da companhia Os Melhores do Mundo (responsáveis pelo vídeo de Joseph Climber) para criarem e estrelarem diversos curtas ficcionais envolvendo OVNIs e os produtos da empresa.
É lógico que, pelo fato de o vídeo ter sido produzido com evidentes fins publicitários, seu alcance acaba sendo limitado. Vale a pena acompanhar as discussões nos comentários do Brainstorm 9, blog especializado em publicidade, a fim de compreender as perspectivas, limitações e o potencial de alcance do marketing viral.
Mas, polêmicas à parte, uma constatação é inequívoca: o YouTube já garimpou seu lugar no inconsciente coletivo. Que o diga Jane Skinner, âncora da rede de televisão Fox News, que ao apresentar uma matéria ao vivo sobre policiais assassinados no Afeganistão, cometeu um lapso pra lá de freudiano ao dizer “top cock” em vez de “top cop“. As gargalhadas do cô-âncora e a reação de Skinner, que, ciente de que aquilo ia parar na rede de qualquer maneira, diz para a câmera “You tube me now, just do it“, provam que, nestes tempos youtubísticos, quem sabe faz ao vivo e quem não sabe verá tudo ad nauseam na Web. A propósito, já está no ar uma montagem do vídeo tendo como trilha sonora “You Shook Me All Night Long“, do AC/DC. Recomendo. :)
Posts relacionados: All your memes are belong to us, Ruth Lemos, Gary Brolsma e Adolar Gangorra e Orkut, dor-de-cotovelo e música sertanerd: conheça Ewerton Assunção.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
Categorias:
Artigos relacionados:
- Orkut, dor-de-cotovelo e música sertanerd: conheça Ewerton Assunção
- Como um vídeo de 2008 fez uma música de 1986 do Bon Jovi chegar ao Hot 100 da Billboard em 2013?
- Ouça as quatro músicas indicadas ao Oscar 2014 de Canção Original
- Do tempo em que Michael Jackson era negro e fazia boas músicas
- Adele em Paris: show completo no YouTube
Comentários do Facebook
Comentários do Blog
-
marcelo
-
edi
-
http://www.youtube.com/watch?v=aCwwTJk_DTQ rodney dy
-
Flávio
-
Daniel
-
http://www.hipocritas.mus.br/ Hipócrita
-
http://www.contaoutra.wordpress.com marie.
-
http://bion.blogspot.com Bion
-
http://www.oficinadeestilo.com.br/blog Fernanda
-
http://netocury.com Neto Cury
-
http://www.nenhum.com.br morales
-
http://www.ignoranciaefogo.blogspot.com Felipe
-
http://www.ocabulosodestino.net Israel Barros
-
onarixtopa
-
http://donizetti.wordpress.com Donizetti
-
Dona Daslu Góes
-
http://jccbalaperdida.blogspot.com JULIO CESAR CORRÊA
-
http://enquantoseublognaovem.wordpress.com Carla