Como um vídeo de 2008 fez uma música de 1986 do Bon Jovi chegar ao Hot 100 da Billboard em 2013?

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 26 de novembro de 2013

Em 26 de dezembro de 2008, um torcedor do Boston Celtics, chamado Jeremy Fry, ouvia “Livin’ on a Prayer”, hit do Bon Jovi que estava sendo tocado nos alto-falantes durante o intervalo de um jogo da NBA. Quando se viu flagrado pelo telão do ginásio, se empolgou e começou a dançar ao som da música, de um jeito animadamente descoordenado.

Sua performance caiu na rede e virou viral, daqueles que são repassados empolgadamente para os amigos, trazendo a um personagem até então anônimo um reconhecimento inesperado. E assim, Jeremy tornou-se mundialmente conhecido como o fã mais empolgado de Bon Jovi de todos os tempos da última semana. Em maio de 2009, uma entrevista com aquele estudante do ensino médio, residente em New Jersey, foi postada no YouTube.

Os 15 minutos (ou 15 gigabytes) de fama de Jeremy Fry pareciam ter acabado. Afinal de contas, fama virtual é algo que se dissipa tão rapidamente quanto surge, que o digam Guilherme Zaiden, Sônia Iutubiu, Tapa na Pantera, Ruth Lemos do sanduíche-íche, Stefhany Absoluta, Pedro “cadê meu chip” e outros personagens que se popularizaram na rede, mas andam mais sumidos que o Belchior. Porém, contrariando a lógica que costuma reger memes de web, a performance de Jeremy ganhou nova popularidade ainda maior do que há cinco anos, após o vídeo ter sido republicado no YouTube, pelo usuário José Durán, com um título chamativo: “One Man Dances Like Nobody’s Watching While Everyone Is He’ll Crack You Up!” (algo como “Um Homem que Dança como se Ninguém Estivesse Vendo, Embora Todos Estivessem, e Fará Você Morrer de Rir!”). E assim, graças a esta republicação feita em 17 de outubro de 2013, a coreografia desajeitadamente sensacional daquele estudante de New Jersey alcançou um nível inédito de popularidade.

O resultado? Além de ter recebido mais de 13 milhões de visualizações em pouco mais de um mês, o vídeo causou um revival surpreendente de uma música lançada originalmente em 1986, do álbum Slippery When Wet. E assim, graças ao sucesso da dança de Jeremy Fry, “Livin’ on a Prayer” foi parar na 25ª posição do Hot 100 da Billboard.

Ok, as mudanças implementadas há algum tempo pela Billboard no cálculo de sua parada principal, incluindo dados de downloads digitais e estatísticas de músicas ouvidas via streaming, certamente ajudaram a promover o retorno inesperado dessa faixa do Bon Jovi às paradas. Mas, para mim, o aspecto mais interessante dessa história foi o resgate de um vídeo que havia feito um considerável sucesso na internet há cinco anos, contrariando a lógica de que hits wébicos têm prazo de validade limitado. O fato do vídeo com Jeremy Fry ser marcado por dois dos ganchos virais mais pegajosos, música e humor, ajuda a explicar essa sobrevida.

Lembro também que, numa era na qual todos nós somos impactados por muito mais conteúdos do que somos capazes de consumir, vídeos que foram uma grande sensação há semanas, meses ou anos, podem ter escapado do nosso radar de atenção por causa do ruído informativo de timelines e inúmeras abas abertas simultaneamente em um navegador. Se há algum tempo ninguém mais aguentava ver a frase “misturei Actívia com Johnnie Walker e saí cagando e andando” de tão retuitada que foi por aí, é possível que você, que está conferindo este post agora, tenha lido esta piada pela primeira vez agora. E assim, nesta era de excesso de informações, velhas novidades acabam sendo renovadas no rodízio permanente de pessoas consumindo conteúdos na internet.

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Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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