Grandes figuras brasileiras: Nelson Piquet
Por Alexandre Inagaki ≈ domingo, 18 de fevereiro de 2007
Toda vez que esbarrava com Nigel Mansell a caminho dos boxes, Piquet caprichava no sorriso e cumprimentava o piloto inglês com uma calorosa frase:
- Oi, panaca!
Mansell, ingenuamente, retribuía a saudação com o melhor de seus sorrisos. Até que um dia o inglês perguntou aos jornalistas brasileiros que cobrem a Formula 1 o que significava “panaca”. Quando descobriu, foi tomar satisfações com o bon vivant brasileiro que, como não poderia deixar de ser, riu à beça durante toda a discussão.
Conforme atestado pela foto acima, essa não foi a primeira nem a última vez que Mansell penou com as traquinagens desta figuraça chamada Nelson Piquet Souto Maior. Outro “causo” entre os dois: na noite anterior aos treinos de qualificação para o GP México de 1986, Nigel abusou da comida mexicana. Consequentemente, foi acometido de uma violenta crise de caganeira que o obrigava a ir diversas vezes ao banheiro entre uma e outra volta. Piquet, que só espiava as idas e vindas do inglês com o rabo do olho, foi sorrateiramente até o banheiro usado por Mansell e surrupiou o rolo de papel higiênico. Não convém dizer em que estado o inglês ficou quando percebeu o furto tarde demais…
Não é difícil compreender porque os feitos de Piquet, piloto que em 204 GPs disputados venceu 23 corridas e conquistou 3 títulos mundiais (em 1981, 1983 e 1987), foram eclipsados pelo fenômeno Ayrton Senna. Enquanto Senna esmerava-se em ser um exemplo de profissional dedicado, temente a Deus e atencioso com jornalistas e patrocinadores, Piquet nunca se preocupou em refrear sua língua viperina ou pensar duas vezes antes de tomar atitudes como a do antológico episódio retratado na foto que ilustra este parágrafo. À guisa de explicação: o piloto brasileiro liderava o GP Alemanha de 1982 quando um retardatário, o chileno Eliseo Salazar (que bateu seu carro em 7 das 24 corridas que disputou em toda a sua carreira), atingiu sua Brabham por trás, tirando ambos da pista. Indignado, Piquet desceu do carro e agrediu Salazar.
Mas nada supera a repercussão obtida por suas bombásticas declarações. Por exemplo, sobre Ayrton Senna: “O negócio dele é garotões. Eu nunca o vi com mulher“. A respeito de Alain Prost, vaticinou: “Não entendo porque apelidaram o Prost de Professor, se ele foi o cara que mais fez cagada na F-1“. Sobre a Formula Indy, detonou seu regulamento que prevê a interrupção das corridas com bandeira amarela e entrada de um safety car na pista a cada situação de perigo com esta pérola: “O cara roda, é bandeira amarela. Passarinho cagou na pista, é bandeira amarela“. Em outra ocasião, questionado sobre a existência de pilotos homossexuais na F-1, não relutou em dizer: “Se tiver eu como!“. Pouco antes de disputar o último GP da temporada de 1983, no qual conquistaria seu segundo título, afirmou: “Se vencer o campeonato vai ser sensacional. Se não vencer também está bom. Pelo menos não vou ter que enfrentar aquele monte de jornalistas que cercam um campeão mundial“.
E no entanto, a declaração que melhor exemplifica as diferenças entre os dois tricampeões brasileiros de Fórmula 1 talvez seja esta: “Bom é viver um dia depois do outro. Isso basta como troféu. Ganhar não é tão importante“. Ao contrário de Senna ou Michael Schumacher (o chucrute voador), Piquet jamais nutriu obsessão pela conquista de recordes, preferindo gastar seus milhões angariados na F-1 com iates e mulheres, feito o Pica-Pau naquele episódio clássico. Sua fama de enfant terrible, conjugada com a morte precoce de Senna, explicam o porquê do ex-piloto da Brabham ter sido relativamente esquecido pela mídia. Contudo, quem assistiu a suas corridas e viu performances como sua inolvidável ultrapassagem sobre Ayrton no circuito de Hungaroring em 1986 (se não viu, clique aqui) sabe que Nelson Piquet é um dos maiores pilotos de todos os tempos, comparável apenas aos grandes como Fangio, Clark, Stewart e Fittipaldi, e lamenta até hoje o acidente durante os treinos para as 500 Milhas de Indianópolis de 1992 que encerrou sua carreira.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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