Duro de Matar 4.0

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 24 de julho de 2007

Quando John McClane invadiu as telas do mundo inteiro pela primeira vez, Ronald Reagan era o presidente dos Estados Unidos, a expressão “Guerra Fria” ainda fazia algum sentido, a moeda brasileira era o cruzado, não havia Web e Ayrton Senna ganharia naquele distante ano de 1988 seu primeiro campeonato de Fórmula 1. A um ano da queda do Muro de Berlim, o mundo vislumbrava uma nova realidade na qual soviéticos pouco a pouco deixavam o posto de vilões. O protagonista interpretado por Bruce Willis trouxe um novo paradigma aos filmes de ação. John McClane não tinha físico de halterofilista bombado feito Stallone ou Schwarzenegger. E, ao contrário do glamourizado James Bond, John apanhava, sangrava e se estrepava o tempo inteiro, como se sua bondgirl fosse Lady Murphy, sempre ao seu lado concentrada na tarefa de fazer com que seu dia seja o mais infernal possível. Duro de Matar, ao apresentar um herói cínico, vulnerável, mais preocupado em resgatar sua mulher do que proteger as instituições ou o “american way of life” tão defendido por personagens como Rambo, influenciou todos os filmes e seriados de ação que o sucederam. Jack Bauer é seu irmão caçula.

Bruce Willis no papel de John McClane.

Duro de Matar 4.0 resgata o personagem de John McClane quase duas décadas após sua primeira aparição, novamente na pele de um sujeito envolvido à revelia em um dia de cão. Está mais desiludido, mais envelhecido, mais rabugento. Sem dinheiro no banco, divorciado e tendo um péssimo relacionamento com a filha, McClane desta vez é enredado em uma trama que envolve um colapso nos setores de trânsito, comunicações e energia, causado por um grupo de piratas de computador que se infiltra no sistema informatizado do governo americano. Com a ajuda de um parceiro inesperado, o desajeitado hacker Matt Farrell (interpretado por Justin Long, uma espécie de Keanu Reeves jovem e com mais senso de humor), John McClane conseguirá desbaratar essa quadrilha, movido por duas razões básicas: salvar a filha que foi seqüestrada pelos bandidos e matar todos os caras maus.

Maggie Q, intérprete da vilã Mai.

Aos 52 anos de idade, Bruce Willis está excelente no papel de herói durão e cínico. Timothy Olyphant, que interpreta o vilão principal, o líder da quadrilha Gabriel, não tem nem um quinto do carisma de Willis. Mas essa deficiência é compensada em parte pela sensual Maggie Q, que rouba cenas no papel de Mai, comparsa e namorada de Gabriel. Outro destaque do elenco é Kevin Smith, diretor de clássicos do cinema nerd como O Balconista, perfeita escolha de casting para interpretar o mestre hacker Warlock.

Duro de Crer

É claro que você não pode exigir verossimilhança de um filme como Duro de Matar 4.0. Há seqüências que se assemelham a comédias pastelão, de tão inacreditáveis. Destaco duas cenas em especial: a seqüência em que McClane derruba um helicóptero em pleno ar ao jogar o carro que dirige para cima dele, e outra na qual ele consegue escapar do ataque de um avião a jato que destrói um viaduto inteiro. Mas enfim, nada que um policial cinqüentão protagonizando um blockbuster hollywodiano não consiga fazer, a fim de salvar sua filha e poder ir pra casa reconciliado com ela. Se, no meio do trajeto de resgate, John McClane salvar os Estados Unidos de um apocalipse cibernético, que assim seja.

Duro de Matar 4.0, como diria aquele locutor do “Domingo Maior” da Globo, é ação do começo ao fim. O espectador mais atento não deixará passar desapercebido um certo clima de xenofobia (explicitado nas ofensas à “magrela asiática” cometidos por McClane) e o fato de o chefe dos vilões citar uma frase de Lênin. Mas o filme não pretende defender nenhuma grande tese sociológica. Quem for ao cinema buscando por diversão descerebrada certamente se refestelará com primorosas cenas de explosões e pancadarias. Jack Bauer que se cuide: John McClane voltou com tudo e não está nada prosa…

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Comentários do Blog

  • hermes

    alguem sabe o nome desse jato

  • http://megalopolis.blogarium.net Fabiane

    Só faltou dizer que o “Keanu Reeves jovem e com mais senso de humor” é o “cara do Mac”.
    Hacker… garoto propaganda de comercial de informática… Faz sentido!

  • http://netocury.com Neto Cury

    Belo texto, bela crítica!
    Abração

  • simone sacha

    O filme duro de matar 4.0, parece ser tdb, posso avaliar somente pelas ce nas do trailer que assisti, como sempre sera um sucesso. Bons filmes como esse deveria estar sempre em evidencia nas telonas, uma vez que o filme: Quarteto Fantastico/Surfista Prateado deixou a desejar; mas foi compensado
    por Transformers, e, até o lançamento de Duro de Matar 4.0, foi o melhor das férias.
    Sacha….

  • http://www.calerdoses.blogger.com.br/ calene

    muita ação me deixa sem ação…

  • http://augustoyoh.wordpress.com Guto

    Sejamos francos, de vez em quando um filme com “ação do começo ao fim” salva o domingo!

  • http://attu.typepad.com/ tina oiticica harris

    Alexandre Inagaaki:
    Só uma resenha perceptiva assim para me tirar do inferno kármico — e meu comentário é # 13 u-u.
    Gostei das suas observações sobre Duro na Queda IV e do comentário sobre xenofobia. O Clint Eastwood, aliás, Dirty Harry, aponta o Magnum 45 para um negro que es†á no chão. Dá leitura racista. Mas o Clint Eastwod sempre apoiou os negros e sua música.
    Tenho pouca tolerância para comentários racistas mas tem vezes que a gente releva. Para ver um Die Hard IV legal, relevo de montes. Boa noite.

  • Rô.

    Penso que não só o amor , mas também a idéia da felicidade são os “produtos” que nos fazem consumir.Assim a tarefa de viver parece ficar menos penosa e continuemos a caminhada cada vez mais crédulos no poder dos filmes que nos anestesiam por alguns fugazes instantes.
    Um abraço e obrigada pelo texto que me fez conhecer!

  • http://www.rosebudeotreno.com Anderson

    As pessoas malharam tanto que o filme é PG13 e ia ser pra crianças, além do fato de não ter nenhum palavrão e na frase assinatura Yippe Kay Yay o ‘motherfucker’ é abafado por um tiro. Mas parece que a resposta foi positiva e o diretor de UNDERWORLD (medo!) deu conta do recado.

  • Anônimo

    O Imdb é meu mestre. Descobri que o hacker amigo de Bruce Willis é o mesmo moleque trekker que salva Tim Allen e Sigourney Weaver em Galaxy Quest. Coincidentemente, é a evolução do mesmo personagem, interpretado pelo mesmo ator!!!

  • http://onthetvshow.org Nathy

    :D adoro o bruce!
    \o//

  • http://www.ouseseridiota.blogspot.com João Pedro Ramos

    Acredita que não assisi NENHUM Duro de Matar?
    Auto-flagelarei-me.

  • Oi, Inagaki!
    Você nào me conhece, mas sei de você desde janeiro deste corrente ano e leio-o desde então. Além de seu blog, tento acompanhar outras escritas que aprecio muito, mas nunca me manifestei assim.
    Hoje acordei bem cedo. Queria ter mais tempo , imagine, para mandar um e-mail a uma amiga que está vivendo um momento ruim e logo em seguida ,li seu post sobre o John Maclane. Não resisti a este comentário que é o de que a ficçào, o entrenenimento descerebrado como diz, é algo valioso na conduçào desta nossa vidinha besta, não é mesmo?
    lembro-me do primeiro filme da série em que fiquei maravilhada quando num aeroporto , nosso herói manda um fax a um amigo policial e também quando fala de um celular com sua mulher de dentro do avião. Fiquei pasma e imaginei algo meio surreal. Olha só…

    Olá Rô, obrigado pelas leituras e pelo comentário. :) Sobre o primeiro filme da série, ficou marcada nas minhas memórias a cena em que John McClane, após todos aqueles tiroteios e pancadarias no edifício, finalmente salva sua esposa e, mesmo com os pés sangrando após ter pisado em cacos de vidro, carrega-a em seus braços. Essa cena em especial me inspirou a escrever um texto intitulado Teoria Maquiavélica do Amor, no qual digo: “carros batem, prédios explodem, pessoas morrem, toda uma gama de desgraças perpassa nossos sentidos em aproximadamente duas horas, e tudo isso para quê? Para que o filme acabe em um beijo apaixonado. Ou seja, o fim (no caso, o happy end amoroso) justifica os meios. Como se os roteiristas piscassem os olhos para a gente, nas entrelinhas, afirmando que toda sorte de desgraças humanas e materiais exibidos na tela grande se justifica em nome do tal do Amor. Porque nós, incautos espectadores, precisamos de um justo quinhão de diversão lobotomizante, coroada, invariavelmente, com a cereja de um beijo enamorado no final. E assim, todos vivem felizes para sempre. Bem, ao menos até que seja rodada a próxima continuação”.

  • kleber duarte

    Olá, não é nada relacionado ao post, eu tenho uma estamparia e gostei da idéia do” Pensar enlouquece.(pense nisso)”. E gostaria de saber se posso usar sua imagem em uma de nossas estampas? Agradeço a atenção.

    Kleber, enviei um e-mail a você. Mas já lhe adianto que, como o logotipo do blog foi criado pela Renata Maneschy, o uso dele em estampas não pode ser simplesmente concedido. Um abraço!

  • http://cave.zip.net Roberto Queiroz

    John Maclane é um dos poucos personagens que não me canso de rever no cinema. Talvez pela maneira como o ator Bruce Willis tenha conduzido seu personagem ao longo de otoda a franquia. Diferente de outros personagens célebres como o exterminador do futuro de Schwarzenneger e seu Hasta la vista, baby! (não aguentei ver o terceiro até o final), no caso de Duro de Matar ele consegue manter o ritmo sem sentir o peso da idade. Como aconteceu, por exemplo, com Stallone em sua última incursão como Rocky Balboa (que me surpreendeu muito!). Espero que Lucas e Spielberg consigam ditar esse mesmo ritmo no novo filme do Indiana Jones.

    (http://claque-te.blogspot.com): Últimos Dias, de Gus Van Sant.

    P.S: acho que é a primeira vez que entro aqui e gostei logo de cara. Pretendo voltar mais vezes. Abraços do crítico da caverna ou contra-regra (dependendo do blog que você visite).

    Valeu pelo feedback, Roberto. Assim como você, torço para que o novo Indiana Jones honre o excelente legado dos 3 primeiros filmes da franquia. Pena que Sean Connery não foi convencido a voltar atrás em sua aposentadoria e não fará o quarto filme da série… []‘s!

  • Paulo

    Como diriam Joey e Ross: “Die Hard!”

  • http://www.moviesto.blogspot.com Gustavo

    John McC-fuckin’-Lane é um dos melhores heróis de ação desde sempre. Gosto de todos os filmes da série, apesar de achar apenas o primeiro um clássico. Estou meio desconfiado em relação a esse novo, principalmente por causa do diretor, que só fez porcaria até agora. Mesmo assim, ainda quero conferir, afinal de contas, é o McClane pô! heheheh

  • http://prosaico20mg.wordpress.com Celinho

    Ah, nao ha vilão como Alan Rickman..
    “now I have a machine gun.. ha ha ha”
    :-D

  • http://www.azaroseuquerida.wordpress.com ju

    No one dies harder than John McClane!!
    É o maior! É o maior! É o maior!
    \o/

  • http://fudeblog.zyakannazio.eti.br Cesar Cardoso

    John McClane is back, baby! E a série Duro de Matar sempre foi conhecida por levar a falta de verossimilhança ao “limite extremo”, talvez pra dar mais chance do McClane apanhar um pouco mais (como se não apanhasse o suficiente).

    Cesar, taí um título brasileiro que se justifica plenamente: John McClane é realmente duro de matar. Os filmes, por sua vez, são duros de crer, mas quem seria chato a ponto de exigir verossimilhança nesse tipo de produção?

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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