Save Ferris! Save Hughes!

Por Alexandre Inagakisexta-feira, 07 de agosto de 2009

Todos aqueles que cresceram tendo a TV como babá eletrônica e assistiram a filmes como Curtindo a Vida Adoidado, Mulher Nota 1000, Clube dos Cinco e A Garota de Rosa Shocking acordaram um pouco mais tristes e envelhecidos na manhã de hoje, depois de assimilar o baque da morte inesperada de John Hughes, diretor e roterista de clássicos da Tela Quente e da Sessão da Tarde. Creio que Kevin Smith, cineasta e nerd de carteirinha, falou por todos nós ao escrever, em seu perfil no Twitter: “John Hughes, o homem que falou para geeks de uma maneira que ninguém havia feito antes.”

Hughes não dirigia filmes desde 1991, ano em que Bill Carter escreveu uma reportagem para o New York Times na qual o roteirista e produtor de Esqueceram de Mim, sugestivamente, queixava-se dos estúdios e do modo como eles divulgavam e exploravam suas obras e personagens. Um dos maiores motivos da decepção de Hughes com a indústria foi o modo como seu filme de cunho mais autobiográfico, Ela Vai Ter um Bebê, de 1988, foi lançado nos cinemas. Ao contrário de suas obras mais conhecidas, não é uma comédia voltada a adolescentes; o filme é focado no cotidiano de um jovem casal, interpretado por Elizabeth McGovern e Kevin Bacon, buscando sair do abrigo das asas de seus pais, procurando empregos e, ao final, embarcando na aventura de ter o primeiro filho.

Embora tenha fracassado nas bilheterias, Ela Vai Ter um Bebê é apontado como o melhor filme de Hughes por nomes como Chris Columbus e o supracitado Kevin Smith. Eu, pessoalmente, ainda prefiro Curtindo a Vida Adoidado e Clube dos Cinco. Mas, em homenagem a John, posto aqui um vídeo que mostra sua cena mais emocionante: o momento em que o personagem de Kevin Bacon toma conhecimento de que sua esposa está enfrentando complicações no parto e aguarda, angustiado na sala de espera do hospital, por notícias sobre seu filho e a mulher que ama. Hughes, o mesmo homem que resgatou os Beatles para toda uma nova geração ao colocar Ferris Bueller para cantar “Twist and Shout” nas ruas de Chicago, e que garimpou bandas como Simple Minds, Psychedelic Furs e Sigue Sigue Sputnik para suas produções, mais uma vez acertou na mosca ao usar “This Woman’s Work”, belíssima canção de Kate Bush, como trilha sonora daquela que talvez seja a sequência mais pungente de toda a sua carreira.

P.S. 1: Leituras recomendadas: “A adolescência acabou” (André Takeda), “John Hughes era o Antonioni da comédia juvenil” (Ricardo Kalil), “Morre John Hughes!” (Tiago Cordeiro), “Top 5 lições que aprendi com os filmes de John Hughes” (Denis Pacheco), “Obrigado, John Hughes” (Gustavo de Almeida) e “John Hughes” (Chico Fireman).

P.S. 2: Alison Byrne Fields foi amiga de pen pal de John Hughes por dois anos, e publicou em seu blog trechos de algumas cartas que recebeu dele.

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Comentários do Blog

  • Pingback: Salve Ferris! | Pensar Enlouquece, Pense Nisso

  • http://www.jmc-material-eletrico.com.br/ Benneti

    fez parte de minha adolescencia, nunca esquecerei

  • Simulateur De Pret

    I am definitely bookmarking this page and sharing it with my friends.

  • http://www.etil.com.br Marcos

    Para quem tem menos de 25 anos, a década de 80 foi o paraíso do mau gosto aquela época saudosa em que John Hughes (nascido em 1950), diretor de Gatinhas e Gatões e outras bobagens inesquecíveis, era o mestre do riso inconseqüente e da banalidade inspirada.
    Muitas tardes foram salvas do tédio pela hipnótica tolice de Curtindo a Vida Adoidado. Hughes já foi chamado de filósofo da puberdade elogio quase desmerecedor, pois o maior atrativo de seus filmes é a ausência de preocupações existenciais. Flertando por Chicago ou perambulando por uma universidade, seus personagens jamais pensavam na vida.
    No início dos anos 90, Hughes e seus heróis haviam mergulhado no ostracismo. Esvaneceram-se, lentamente, no limbo dos coadjuvantes despercebidos e levaram consigo, intocado, todo o charme de nossa idílica ignorância.
    Ficará na lembrança! Sentiremos muito sua falta.

  • http://anndixson.blogspot.com Adriana

    Inagaki,
    Os filmes do John Hughes fizeram minha adolescência…queria ser a Molly da garota rosa shock…mas o mais curioso foi ter reencontrado o André Takeda (depois de 20anos)aqui,rs…queríamos ser escritores, e oras, aqui estamos….rs
    você fez dois serviços, 1) o ótimo texto, a informação do John H.,uma pena
    2) Me mostrar por onde anda o Takeda

    R: Pois é, Adriana. Bom saber que o grande Takeda permanece, firme e forte, blogando. :D

  • Jottae

    O que seria de mim sem Sessão da Tarde e Tela Quente? Puxa vida. Com certeza o cara merece respeito. Curtindo a vida adoidado é um clássico da tv aberta. Não me lembro quantas vezes vi esse filme, más foi umas cinco. Já John Hughes, o cabeça da coisa, não conhecia, mas ta ai o meu respeito pelo cara. Eu ainda vou comprar filmes como esse para guardar e quem sabe mostrar para meus netos e dizer: Era com isso que seu avó se divertia pela tarde. Existem muitos filmes bons, anos 80 e 90, filmes naturais sem efeito Matrix mas com história envolvente. Valeu pelo post Inagaki, me fez lembrar de momentos muito bons. =D

    R: Valeu, Jottae. Mas os méritos vão todos para John Hughes, que inspirou e influenciou toda uma geração ao fazer filmes para adolescentes que não se restringiam a falar só de adolescentes abilolados e emaconhados com hormônios à flor da pele. Um abraço!

  • http://confissoesdoexilio.blogspot.com Engraçadinha

    Eu não vi Clube dos 5 até hoje. Mas o restante vi.
    Cara, e ele morreu de quê?

    Abraço.

    R: Engraçadinha, o Hughes morreu de um ataque cardíaco enquanto visitava parentes. Uma morte súbita e inesperada; bem, ao menos foi na companhia de sua família…

  • http://www.sovimpraescrever.blogspot.com Petit.Gabi

    Humm… Já vi esse filme! Essa cena que que escolhestes é deveras muito bela. Você é um homem realmente sensível! =) Tinha até esquecido desse ator, faz um tempão que não o vejo em filmes.
    E o Hughes… Poxa, não vi todos os filmes citados ainda, mas Curtindo a Vida Adoidado é um dos meus favoritos da Sessão da Tarde. Vou procurar todos esses outros que você citou.

    Grande abraço! Adoro seus textos!

    R: Brigadão, Gabi. Na verdade o Kevin Bacon aparece em um monte de filmes, mas passa quase desapercebido na maior parte deles. Estranhamente, porque mau ator não é. Um beijabraço!

  • http://www.leak.com.br vazamentos

    Caraca que saudade dos tempos de Curtindo a vida a doidado, lembro como se fosse hoje quando assisti na seção da tarde, morava com meus pais e meus irmãos,tempos bons…. nossa deu saudade!!! Videocassete ainda era novidade…..

    R: Putz Renata, é verdade. E hoje minhas fitas VHS, enquanto não digitalizo as imagens, estão acumulando pó…

  • http://www.novoaemfolha.com christiana

    Boa semana, querido. Twist and shout!

    R: Thanks, Ms. Nóvoa! :D

  • http://vaitrabalhar.interbarney.com/ chico barney

    não conhecia esse filme do Kevin Bacon. o clipezinho com a música da kate bush ficou, diria inagaki, mesmerizante. abs

    R: Mais do que isso, Chico: diria que ficou acachapante! ABS AI

  • andréa Godoy

    Muito bom o texto, já estava com saudade deles por sinal. Acho que estou começando a entrar em nostalgia, pois muitos bons momentos dos meus saudosos anos 80 estão sendo lembrados, infelizmente pela morte dos seus responsáveis. Perdi a conta de quantas e quantas vezes assisti “curtindo a vida adoidado”, adorava o filme, a música, tudo!

    R: Andréa, minha produtividade no Tumblr anda bem maior. Mas tenho vários posts no rascunho que em breve entram no ar, se minha procrastinação assim o permitir. ;)

  • http://www.palavraspequenas.myblog.com.br Fábio Alves

    Esses filmes marcaram minha adolescência e a de qq um na casa dos 30. Foi uma grande perda. Mas, a vida segue…
    Curti o blog, não o deixe morrer! Rs…
    Tb tô ressuscitando o meu agora, passa lá pra visitar.
    FUI!

    R: Fala, Fábio! Valeu pela visita. Ah, e boa sorte com a ressurreição do seu blog. É como disse o Philip Larkin: “começar de novo, e de novo, e de novo”, o constante ciclo da vida. E que assim seja. B) Aquelabraço!

  • http://cinemagia.wordpress.com Tommy Beresford

    Não chego a pular de alegria pela filmografia, mas “Curtindo a Vida Adoidado” definitivamente é um clássico…

    … e que fez muita gente pensar se, colocando o carro em marcha ré, o odômetro (é esse o nome /) do mesmo diminuía a kilometragem marcada. Inesquecível. :)

    Alguma emissora deveria reprisar “Curtindo…” ao invés de insistirem nos “Todo Mundo em Pânico” da vida.

    Um abração e bom fim de semana,
    Tommy
    http://cinemagia.wordpress.com

    R: Pois é, Tommy. Eu sinceramente esperava que a Globo fosse dedicar todas as Sessões da Tarde desta semana a um de seus maiores apóstolos. Perderam o timing. XX( Aquelabraço!

  • http://www.cybelemeyer.com.br/falandosobre cybelemeyer

    Olá, Inagaki

    Venho lhe convidar para participar da Blogagem Coletiva “Consumo Consciente”. Não podemos ficar inertes diante de tanta agressão ao nosso Planeta. Precisamos mudar os maus hábitos e propiciar um Planeta melhor para nossos filhos.
    Aguardo a sua participação.
    Link http://migre.me/4QqU Deixe sua confirmação nos comentários
    Abraços

    R: Olá Cybelemeyer, valeu pelo seu convite, cujo texto encontrei nos comentários de diversos outros blogs bacanas por aí. Independentemente do caráter patrocinado ou não da iniciativa, penso que falar de ecologia e consumo consciente é fundamental nos dias de hoje. Recomendo em especial uma visita ao excelente blog coletivo Faça a Sua Parte, que há mais de 2 anos discute questões ambientais na blogosfera. Este texto no site do Greenpeace também é uma boa leitura: “Seja um consumidor responsável”. Abraços!

  • http://topismos.blogspot.com Denis Pacheco

    Engraçado, lembro de ver “Ela Vai Ter um Bebê” na sessão da tarde lembro de não ter entendido como aquele filme se relacionava com os outros de Hughes, hj em dia assisto e cada vez mais entendo seus personagens…

    R: Denis, a reportagem do NY Times que linkei entrevistou em 1991 o Neal Gabler, um dos maiores experts em cultura pop. Na matéria, ele afirmou que os filmes de Hughes um dia haveriam de ser valorizados pela crítica à medida em que rolasse aquela distância temporal necessária pra gente avaliar o valor estético de uma obra sem aquele apego emocional que inevitavelmente rola. E, olhe, te digo que, fora toda aquela história de retrato geracional, sou fã do modo como os filmes do John são tão bem editados. Além disso, curto pacas os enquadramentos que fogem do óbvio, a filosofia que move personagens como Bueller e o uso preciso de músicas como na sequência que linkei de “Ela Vai Ter um Bebê”. Gabler estava certo: o cara era realmente bom.

  • http://www.floresnajanela.com Nathália

    Admito, meio que envergonhada, que não conheço a obra de John Hughes. Nunca achei Curtindo A Vida Adoidado, por exemplo, nas prateleiras das locadoras da minha cidade. O Clube dos Cinco idem. Mas só de perceber que seus filmes definiram gerações inteiras dá pra notar a grande perda que o cinema sofreu. Até porque hoje não temos muito além dos Kevin Smiths e Cameron Crowes da vida.

    R: Que puxa, Nathália. Você realmente está perdendo muito com isso. Compre os DVDs, baixe os filmes, mas não deixe de assistir os filmes do Hughes. Aliás, não só dele; há muitos cineastas contemporâneos sensacionais, dentre os quais destaco Paul Thomas Anderson, Wong Kar-Wai, Julio Medem, Eduardo Coutinho… Um abraço!

  • http://www.pitombo.wordpress.com Pattricia

    Gostei muito do texto. Expressa muito do meu sentimento a respeito dos filmes do John Hughes. Quem viveu os anos oitenta, sabe o que é isso. Seus filmes me comoviam e melhorava o meu mundo de adolescente…Parabéns

    R: Faço minhas as suas palavras, Patticia; os filmes de John Hughes melhoraram o meu universo adolescente também.

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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