Essa história está apenas começando

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 18 de junho de 2013

Ontem, quando participei da manifestação em São Paulo que começou no Largo da Batata e se estendeu por diversos pontos da cidade, fiquei emocionado ao ver as ruas tomadas por milhares de manifestantes exercendo sua cidadania. Os protestos, que já se estendem por todo o Brasil, começaram tendo como mote inicial o aumento das passagens de ônibus, mas a repressão absurda cometida pelos PMs na quinta, dia 13 de junho, virou uma cola que uniu pessoas lutando por causas diversas como o combate à PEC 37 (que, diga-se de passagem, deverá ir para votação no dia 26 de junho), o Estatuto do Nascituro, os gastos bilionários com os estádios da Copa, problemas com educação, saúde, segurança pública, e por aí vai.

Escolado depois dos incidentes de quinta-feira, fui para o evento levando máscara e uma garrafinha com vinagre. Que bom que as levei à toa e elas só fizeram um passeio, numa bela noite em que cidadãos caminharam pacificamente pela Avenida Paulista, cantando o Hino Nacional e sendo recebidos por uma chuva de papéis picados. Foi emocionante, mas ao mesmo tempo tamanha tranquilidade me deixou com a preocupação de que as pessoas saíssem com a sensação de dever cumprido, desmobilizando todo esse engajamento.

Ao contrário do que muitos disseram, a gente mal começou a fazer cócegas na História. O gigante pode até ter acordado, mas ainda está sonolento, com remela nos olhos e altamente tentado a voltar para a cama da inércia, pensando em ficar só mais uns dez minutinhos dormindo.

Pensando no vinagre, que se tornou símbolo das manifestações, lembrei de “Jogos Florais”, um poema escrito por Cacaso na época da ditadura militar.

Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.
Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.

Há muita coisa a se fazer. E a absurda aprovação, na Comissão de Direitos Humanos na Câmara, da proposta sobre a “cura gay”, mostra que as batalhas estão apenas começando. É bom ver que saímos de uma pasmaceira letárgica que dominava este país desde os movimentos pelo impeachment de Collor, mas é preciso fazer muito, muito mais antes de podermos começar a insinuar que realmente estamos fazendo história.

* * *

P.S. 1: A ilustração deste post é de Adriano Kitani, do Pirikart, que se inspirou em um discurso feito por Slavoj Zizek no Occupy Wall Street.

P.S. 2: Vinícius Macedo Ramos criou um infográfico que dá um panorama geral sobre a política tarifária dos transportes de ônibus em São Paulo, permitindo uma melhor compreensão do valor atual das passagens.

Transporte SPPorcentagem sobre a tarifa daquilo que o usuário final paga. Desmembrando a Tarifa.Críticas e sugestões para melhorias | Create infographics
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Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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