A fim de encerrar uma semana pra lá de corrida (e gripada), removo as teias de aranha que já ameaçavam ocupar este blog desatualizado com uma série de links ao melhor estilo da série de posts “Vadiagem Malemolente” do Jacaré Banguela (que, a propósito, está divulgando um projeto social bem bacana). Thank God It’s Friday!
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Perdi a conta de quantas vezes me enviaram, seja por MSN ou por e-mail, a sensacional animação que o italiano Donato di Carlo produziu adaptando a genial tira Calvin & Haroldo, de Bill Watterson.
Carlos Cardoso resgatou das catacumbas de minha memória as lembranças de uma musa de minha pré-adolescência: Íris Lettieri, notabilizada por ser a “voz” dos aeroportos de Guarulhos, Congonhas, Galeão e Santos Dumont. Mas, muito antes de saber que era ela a dona daquela voz aveludada, Íris me seduziu ao estrelar uma antológica série de comerciais na TV Manchete, fazendo uma contagem regressiva para o Carnaval. Com a palavra, Cardoso:
“A cada dia ela aparecia ‘Lubrax informa. Faltam XX dias para o Carnaval 84′ (não lembro se era 84, estou chutando). Só que ela falava isso, com sua linda e sexy voz de locutora de aeroporto, e em seguida tirava uma peça de roupa. No primeiro dia um brinco, depois outro. Quando passou a abrir um botão da blusa por dia, TODO MUNDO estava comentando, meu colégio era de tarde. Saíamos correndo pra não arriscar perder o comercial“.
O site oficial de Íris Lettieri infelizmente não disponibiliza toda a série de comerciais da mais viágrica contagem regressiva de todos os tempos. Menos mal que lá se encontra o vídeo final da campanha, no qual é possível conferir a excelente forma em que Íris, na época com 42 anos de idade, se encontrava.
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Jabá camarada: neste final de semana vai rolar sessão dupla da balada mais bacana de Sampa City, Gente Bonita, capitaneada por meu colega de blog Alexandre Matias. São duas as oportunidades de se esbaldar até as pernas cansarem neste fim de semana, naquele clima aconchegante de paquera ao melhor estilo da temporada Outono/Inverno 2007. Nesta sexta, dia 25, a festa rola no Studio SP, com direito a show do Cidadão Instigado. No sabadão, dia 26, a balada vai acontecer no Audio Delicatessen, com direito a participação do DJ convidado Dodô Azevedo. Show de buela! Pra melhorar, só mesmo ganhando aqueles descontos camaradas: clique aqui, concorra a dois pares de ingresso na faixa para a noite de sexta e ainda seja automaticamente inscrito na lista de descontos do sábado. Demorô!
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Luiz Carlos Merten está cobrindo o Festival de Cannes para O Estado de S. Paulo. Porém, a melhor parte dessa cobertura, as histórias de bastidores e as impressões pessoais do crítico, são diariamente publicadas no blog de Merten, excelente exemplo de como um blog pode enriquecer o conteúdo de um site, oferecendo os “extras do DVD” que não encontram espaço no jornal.
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Luiza Voll linkou a excelente compilação que o blog Daily Film Dose fez das melhores cenas em apenas um plano-seqüência da história do cinema. Sou obrigado a trazer um desses vídeos para cá: a seqüência final de “Passageiro: Profissão Repórter”, dirigido por Michelangelo Antonioni em 1975. Ela guarda um dos maiores mistérios que intrigam cinéfilos desde o momento em que assistiram a essa cena: como é que a câmera atravessou as grades da janela do quarto de Jack Nicholson? É olhar para crer.
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Felizmente Idelber Avelar voltou a postar diariamente em seu O Biscoito Fino e a Massa. Dois exemplos que provam o porquê de seu blog representar leitura obrigatória: a entrevista exclusiva que ele fez com Paulo César de Araújo, autor da biografia censurada de Roberto Carlos, e o quarto post de sua série “Times Inesquecíveis Que Eu Vi”, dedicado ao esquadrão que venceu o Campeonato Brasileiro de 1978: o glorioso Guarani de Campinas.
O que internautas chamam de “memes de blogs” na verdade deveriam ser mais apropriadamente denominados de correntes: convites para escrever sobre determinado mote que são passados adiante de blog para blog. Citando as palavras de mestre Mario Amaya: “Meme é uma coisa muito mais abrangente que um spam ou post de blog. Meme é uma idéia que as pessoas propagam espontaneamente. As regras gerais da propagação do meme têm paralelo com o processo evolutivo conforme descrito por Darwin. Assim, em essência, a cultura de uma comunidade é uma coleção de memes selecionados“. Tergiversei mais sobre o assunto aqui.
Após esta necessária introdução, eis o motivo deste post: quatro blogs (Papo de Homem, de Guilherme Nascimento Valadares, Universo Anárquico, de Tina Oiticica Harris, A Grande Abóbora, de Marcus Alexandre Nunes, e Blog da Sabedoria, de JG) concederam ao Pensar Enlouquece um certo Thinking Blogger Award, honraria dada a “blogs que fazem você pensar”. Lembranças gentis e que agradeço, aliás. Porém, fiquei intrigado com a origem do prêmio: quem foi o criador desse selo?
Como já desconfiava, o Thinking Blogger Awards (que nada mais é do que uma variante do BlogDay) surgiu com a intenção de se tornar mais um desses memes/correntes que se espalham blogosfera afora feito Gremlins molhados. No post em que lançou esse prêmio, publicado em 11 de fevereiro, Ilker Yoldas sugestivamente tergiversa a respeito dos propósitos de memes de blogs: eles são criados com o objetivo de fomentar a propaganda boca-a-boca, incrementar a Search Engine Optimization ou como uma maneira, cof cof, “inocente” de se trocar links? Pesquisando um pouco mais sobre a misteriosa figura de Ilker, que supostamente mora na Turquia, é fácil constatar que se trata de alguém que alimenta um certo mistério sobre sua identidade (não se sabe ao certo se Ilker é mulher ou homem) e que se especializou em propagar “memes” (por exemplo: “adicione meu blog nos favoritos do Technorati e eu farei o mesmo com o seu“) e usar sites como o MyBlogLog para propagandear seu blog.
No entanto, para além desses propósitos marqueteiros, não posso deixar de reconhecer que o blog de Ilker é bem redigido, e que a idéia de escrever um post divulgando cinco blogs que estimulam meus neurônios é das melhores. De nada adiantaria tantas jogadas de divulgação se o Thinking Blog não possuísse um conteúdo realmente interessante, e se ele está na posição 257 do Technorati em pouco menos de 6 meses no ar, certamente tem méritos para tanto. É um case para ser estudado por aspirantes a probloggers.
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Digressões à parte, aproveito o mote do Thinking Blogger Awards para indicar cinco blogs que leio e recomendo (citando a alcunha do “meme” respondido por Leonardo Fontes, que também indicou o Pensar Enlouquece em um post no seu BlogueIsso). Ei-los:
- Favoritos - A idéia deste blog mantido por Luiza Voll (que também posta bissextamente no Zoom!) é tão simples quanto bem concretizada: reunir sites que, seja pelo design, pela utilidade ou pela navegação, merecem constar no bookmark de qualquer internauta.
- Oficina de Estilo - Do mesmo modo que Carlos Merigo tornou o seu Brainstorm #9 um ponto de referência obrigatória para profissionais e estudantes de publicidade, Cristina Zanetti e Fernanda Resende trilham o mesmo caminho ao fazerem do espaço virtual da Oficina de Estilo o principal blog de moda do país. Fê Resende, de quebra, capitaneou a cobertura da última edição do São Paulo Fashion Week no blog coletivo Moto-à-Porter, e ainda está à frente do Updaters Moda & Estilo: admirável.
- Atmosfera - Blog coletivo dedicado ao assunto clássico daqueles que não sabem sobre o que falar: “e o clima, hein?“. Aberto a qualquer internauta que queira enviar posts e fotos mostrando o céu de sua cidade (vide instruções aqui), o Atmosfera é um interessante mosaico de breves relatos de diversas partes do mundo.
- Fiapo de Jaca - O veterinário e músico Tuca Hernandes mantém em suas horas vagas um blog com crônicas bem-humoradas, ao melhor estilo dos textos que oxigenam os jornais tradicionais, embora devidamente adaptadas a estes tempos virtuais. Um bom exemplo é o post As Pessoas Que Deixam de Comentar em Seu Blog, no qual Tuca elenca cinco desses tipos de leitores, dentre eles O Sensível, O Ressentido e O Que Arranjou Trabalho.
- Locutório - Eu, que tenho enormes dificuldades em atualizar regularmente este blog por falta de tempo e, principalmente, falta de disposição em encontrar idéias, palavras e neurônios disponíveis depois de escrever diariamente por motivos profissionais, não posso deixar de admirar o blog de Simone Iwasso, que em meio a suas atividades como jornalista d’O Estado de S. Paulo redige posts que amalgamam lirismo, bom humor e observações perspicazes do cotidiano.
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P.S.: A Cris o que é de Cris. Surgiu a intérprete do clássico instantâneo conhecido pelos íntimos como “VTNC“: a atriz Cris Nicolotti, que interpreta a música na comédia teatral “Se Piorar Estraga”. Conforme informações da sempre atenta Rosana Hermann, a música foi composta por Cacá Bloise, Cris Nicolotti e Guido Malatto e interpretada por Cris e Lelo “Bob Dylan” Andrades, com arranjos de Eduardo Filipovich. Agradeço também aos leitores Mauricio, Carol, Rafael Farah e Gica, que deixaram comentários informando a autoria da canção que ilustra meu post anterior.
Idéias pouco representam enquanto não são concretizadas. Durante um longo tempo acalentei a idéia de reunir, em um mesmo portal, amigos e blogueiros que admiro. Mas a idéia só começou a ganhar forma quando me encontrei pela primeira vez, há mais de um ano, com Edney Souza.
Eu sabia que ele era a pessoa certa para construirmos os alicerces debaixo daquele castelo no ar, graças ao seu know how e toda a estrutura que fez do InterNey.Net o blog mais linkado do Brasil. Mas, mais importante, em todas as reuniões ao longo desse tempo, seja na Galeria dos Pães, no Burger King, no Fran’s Café ou no Pinheirinho, fomos consolidando uma amizade e uma confiança imprescindíveis para que pudéssemos levar esse projeto adiante.
Mas essa empreitada teve a companhia imprescindível de outros dois comparsas: meus colegas de Virunduns e amigos de longa data Ian Black e André Rosa de Oliveira.
Soube da “morte” de Maria Elisa Guimarães no dia 14 de janeiro, ao receber um e-mail enviado por Milton Ribeiro, que também publicou um post intitulado A Pior das Notícias. Milton tomou conhecimento da notícia por intermédio de seu colega Paulo José Miranda, escritor português residindo atualmente em São Paulo, que na ocasião apresentou-se como o namorado de Meg. Paulo relataria as circunstâncias da suposta morte no post Minha Mulher Morreu, afirmando, por exemplo, que enviou-lhe mais de 4.000 e-mails, e que estiveram juntos apenas uma vez fisicamente, em julho de 2006 (Meg teria viajado de Belém, aonde residia, para encontrar-se com ele em São Paulo). Ainda segundo o relato, pouco tempo após esse encontro Maria Elisa foi até o Hospital Monte Sinai, em Nova Iorque, fazer um tratamento de câncer, tendo a companhia da amiga Tereza Quetzal (que teria interrompido um pós-doutorado em Oregon a fim de acompanhar a internação). Os dois teriam conversado pela última vez cinco minutos antes do falecimento de Meg, notificado a Paulo por intermédio de Tereza.
Não se pode dizer que a notícia tenha surpreendido os amigos de Meg. Desde que comecei a trocar e-mails com ela, em idos de 2001, ouvia relatos acerca de sua saúde frágil. Na entrevista concedida a Elis Monteiro para o jornal O Globo em maio de 2002, Meg declarou: “O que me levou a blogar, sempre escrevo isso, foi a dor causada por duas doenças graves: câncer e severíssima depressão“. Elis, em seu blog pessoal, escreveu a respeito das circunstâncias dessa entrevista: “Fiquei alguns anos tentando conhecê-la pessoalmente. Meg vivia dodói e era de uma timidez impressionante“. Mais adiante, revela: “Nunca mais consegui encontrá-la. Além das viagens constantes à sua terra natal, Meg sofria com uma doença que a deixava cada vez mais isolada“. Ao contrário da Elis, nunca conheci Maria Elisa pessoalmente: mantive, ao longo desses anos, uma correspondência bissexta (em e-mails nos quais Meg constantemente intermediava por amigos, divulgando blogs pouco conhecidos que mereciam maior atenção), além de ter recebido dois ou três telefonemas dela.
Abatido pela notícia, e após encontrar diversasrepercussões na Web (no total, cerca de 50 blogs dedicaram posts a Maria Elisa Guimarães, inclusive em Portugal), escrevi um post em sua homenagem. Diversas manifestações de pesar foram deixadas nos comentários, inclusive um relato de Marcus Pessoa, que revelou ter sido aluno, há cerca de 20 anos, das aulas de filosofia ministradas por Meg na Universidade Federal do Pará. Marcus escreveu: “Ela tinha problemas de depressão e às vezes faltava várias aulas seguidas, mas as demais que dava durante os períodos de boa saúde compensavam, e muito, as ausências. A turma toda gostava dela“.
No dia 21, recebi e-mail de uma amiga da Meg que manifestava dúvidas sobre sua morte. Meu primeiro pensamento, naturalmente, foi de ceticismo e perplexidade quanto à veracidade da mensagem. Porém, dois dias depois, Sergio Fonseca me procurou manifestando estranheza pelo fato de um recado, assinado por Meg no perfil que ela mantinha no Orkut (perfil que acabou sendo apagado no sábado), ter sido deixado no scrapbook de um certo Flávio S. no dia 19 de janeiro. Ou seja, cinco dias após ela supostamente ter falecido. A partir daí, iniciou-se uma troca de e-mails entre diversos amigos de Meg, compartilhando indícios cada vez mais crescentes de que, parafraseando a famosa frase de Mark Twain, as notícias acerca da morte de Maria Elisa haviam sido exageradas.
Tereza Quetzal, a amiga que teria acompanhado Meg no hospital em Nova Iorque, deixou comentários em diversos blogs que lamentaram os acontecimentos. Não foi difícil constatar, rastreando seu IP, que ela acessava a rede não dos Estados Unidos, onde teoricamente deveria estar, e sim de algum lugar cujo provedor de Internet é a Telemar Norte (Belém do Pará, por exemplo). E basta um olhar atento à “última foto“, publicada no blog de Paulo José Miranda, para constatar que a imagem foi grosseiramente manipulada. Além disso, a foto exibe um rosto que não corresponde, de modo algum, às feições atuais de uma mulher cujo primeiro emprego na Universidade Federal do Pará foi de bibliotecária na Biblioteca Central da UFPA, cargo para o qual foi admitida por intermédio de um concurso realizado em 1973. No qual, diga-se de passagem, foi aprovada em primeiro lugar.
Maria Elisa Guimarães não ficou muito tempo na função de bibliotecária. Após finalizar um curso de Letras e um mestrado em Filosofia, tornou-se uma das mais qualificadas professoras da UFPA. No entanto, foi aposentada da universidade alguns anos depois, após sofrer um processo administrativo no qual foi considerada incapacitada para trabalhar, devido a constantes ausências provocadas por crises desencadeadas pelo transtorno bipolar afetivo, doença na qual uma pessoa oscila entre euforia e depressão com raríssimas escalas no meio-termo, vivendo uma montanha-russa emocional extremamente desgastante e periculosa. Livros como o excelente Uma Mente Inquieta, de Kay Redfield Jamison, ou a entrevista que Drauzio Varella realizou com Valentim Gentil Filho, professor de Psiquiatria na USP, dão uma noção deste mal que, se não é diagnosticado e tratado com precisão, destrói a vida não apenas do paciente, como também das pessoas de convívio mais próximo (eu, que namorei por 4 anos uma mulher que sofre de transtorno bipolar, senti na alma a gravidade dessa doença).
Após conversar por telefone com alguns amigos que conhecem Meg pessoalmente, além de acionar colegas que moram em Belém a fim de apurar fatos e montar esse quebra-cabeça, posso afirmar: Maria Elisa Guimarães não se divertiu (como algumas pessoas insinuaram maldosamente por aí), nem um pouco, com a morte que acabou por forjar. Meg, que após os desastrosos acontecimentos dos últimos dias deletou seu blog Sub Rosa, mora atualmente em um dos apartamentos do prédio da foto ao lado, na companhia de sua fiel amiga, a professora de Matemática Selma S. (chamada por Meg de “irmã”). Sobre os motivos que levaram Maria Elisa Guimarães a criar esse drama burlesco, tomo emprestadas as palavras de Luiz Antônio Gravatá, talvez a voz mais serena a se pronunciar sobre o caso, ao comentar determinadas reações virulentas a uma morte forjada que, se não pode de maneira alguma ser justificada, foi criada por uma pessoa que indubitavelmente sofre de “um supremíssimo cansaço“:
“O que mais me impressiona é a falta de sensibilidade do ser humano. Quanta coisa se escreve de maneira fútil, quando não se conhece a verdade? Cora acertou na mosca. Onde estão as ‘maldades’ de Meg? Da Magali, com muita razão, todos sentimos pena. Mas, e se Meg tivesse entrado em contato com a Magali, uma senhora sofrida, e dela recebesse compreensão? Na segunda ‘maldade’ há que se explicar mais: seria, talvez, garantia de empréstimos, favores prestados? E se Meg tivesse querido se afastar de Paulo, como aventou Cora, e não tenha imaginado tal repercussão? Meg é inteligente, culta, tem a doença, foi uma pessoa bonita e pode estar em situação que nem eu, nem ninguém gostaria de estar: sem recursos, presa a uma cama, carente, com amigos virtuais somente. Nós somos felizes e não sabemos“.
Quem souber ler nas entrelinhas não necessita de mais esclarecimentos sobre o caso. Eu, que não conheço a Meg pessoalmente, e que dela só recebi amizade, carinho e compreensão durante os anos em que trocamos e-mails, fiquei em um primeiro momento extremamente aborrecido quando constatei a farsa de sua morte. Mas foi uma raiva egoísta, movida unicamente pelo sentimento de ter sido ludibriado. Reitero: não justifico o que ela fez, principalmente as lágrimas alheias que provocou em muitas pessoas. No entanto, não há ninguém que tenha sido mais prejudicada do que Maria Elisa Guimarães. Eu tenho, nós temos a grande sorte de não estarmos no lugar dela. Somos humanos: erramos, julgamos, condenamos outras pessoas. Mas quantos de nós fazem o esforço sobre-humano de se imaginar na pele do outro a fim de tentar, genuinamente, compreendê-lo?
Toda essa história me fez lembrar de uma composição do genial Noel Rosa, “Fita Amarela“, na qual o Poeta da Vila imagina como seria o seu funeral. A estrofe final diz: “Meus inimigos/ Que hoje falam mal de mim/ Vão dizer que nunca viram/ Uma pessoa tão boa assim“. De fato. Mas ninguém expressou melhor toda essa situação do que César Miranda, outro escriba que me obriga a assinar embaixo, em cima e do lado de suas palavras:
“Eu já desconfiava que o povo tem essa tese, de que defunto bom é defunto morto. É só saber que o defunto não morreu, que o povo desce o cacete no coitado. Antes, quando estava morto, era a melhor pessoa do mundo, agora que renasceu, não vale nada. Parece que o grande defeito da Meg teria sido não ter morrido. Se eu fosse a Meg, agora é que eu não morria mesmo, só de pirraça. (…) Mesmo se for uma farsa, continuarei amando a Meg e reafirmando que o fato de ela ter morrido, não a impede que desmorra, pois é direito de todo defunto deixar de sê-lo. Defunto bom é defunto ressuscitado. Oi, Meg!“
O ano mal começou, mas uma constatação já pode ser feita: a blogosfera brasileira está fazendo barulho e ganhando crescente visibilidade em todas as esferas, seja na considerada “mídia tradicional” ou, como mostra esta matéria do site Comunique-se, nas grandes empresas. A seguir, alguns exemplos do que digo.
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O São Paulo Fashion Week, maior evento de moda da América Latina, acaba de reconhecer a crescente importância dos blogueiros como produtores de conteúdo com credibilidade e qualidade, emitindo credenciais de imprensa para o Oficina de Estilo, capitaneado pela dupla Fernanda Resende & Cristina Zanetti, e mais 11 blogs brasileiros, incluindo Apocalipse Motorizado, vencedor da mais recente edição do prêmio The BOBs na categoria Melhor Weblog em Português. A Motorola, um dos principais anunciantes da SPFW, bancará ainda a vinda de alguns dos principais blogueiros de moda do exterior (dentre eles, Face Hunter e Coolhunting), que, ao lado dos blogs brasileiros (veja aqui a relação completa dos participantes) serão responsáveis pelo conteúdo de um “superblog” que fará a cobertura de todo o evento.
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Daniella Cicarelli, em entrevista ao Jornal da Globo concedida ontem ao repórter Alan Severiano, afirmou com todas as letras, sobre a desastrosa ação que culminou no bloqueio do YouTube, que a decisão de entrar com o processo na Justiça foi de responsabilidade exclusiva do seu namorado, Renato Malzoni. Disse a modelo: “Eu não tenho nada a ver nem com esse pedido, nem com a decisão da Justiça. Ele (Renato) está fazendo o que acha certo, eu não vou me intrometer na decisão dele. Afirmou ainda que, por não estar envolvida com a ação, sequer terá direito a participação em possíveis indenizações por danos morais à sua imagem. Para arrematar, afirmou a respeito de sua participação em todo o imbróglio jurídico: “Eu não posso pedir desculpas por algo que não tenho culpa“.
A emissora em que a protagonista do vídeo trabalha, a MTV, recorreu ao te para divulgar um comunicado oficial sobre o caso que fez com mais de 80 mil e-mails de protesto fossem enviados ao canal. Nele, afirma:
O problema dessa história é que tanto as afirmações de Daniella Cicarelli quanto da MTV são desmentidas pelo cabeçalho do agravo Nº 472.738-4, que mostra quem foram os autores do pedido judicial que acabou por censurar o YouTube no Brasil:
Os créditos dessa descoberta vão para o atento blogueiro Carlos Cardoso. É de se perguntar: não seria muito melhor para a imagem pública da senhorita Daniella Cicarelli Lemos se ela admitisse sua parcela de culpa neste episódio?
UPDATE:Edney Souza levantou a seguinte lebre: o primeiro agravo, em nome do casal Renato e Daniella, concedeu a proibição da veiculação do vídeo na Internet. Teria sido o segundo agravo, portanto, de Nº 488.184-4/3 (no qual o único agravante é Renato Malzoni), o responsável pela concessão do bloqueio do site YouTube. Teoricamente, portanto, Daniella não teria realmente responsabilidade pela censura na Internet, ao menos sob o ponto de vista jurídico. É o que afirma também Cynthia Semíramis, mestre em Direito.
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A edição desta semana da revista Isto É apresenta como matéria de capa uma reportagem com os “100 brasileiros mais influentes de 2007″. Pois não é que, dentre personalidades como Lula, José Serra, Bernardinho, Rodrigo Santoro e Juliana Paes, aparece lá o nome de Antonio Pedro Tabet, melhor conhecido pela alcunha de Kibe Loco? Pudera: Mr. Tabet criou um blog que, surgido em abril de 2002, possui atualmente média diária de 100 mil visitantes. Mas ele não é o único blogueiro elencado entre os 100 mais: Bruna Surfistinha, que é leitora (ainda que por vias tortas) dos meus textos, também está na lista. Estranhei, no entanto, a afirmação feita pela matéria: “Para 2007, ela é uma das pessoas na qual críticos e editores apostam as suas fichas“. Ahn… críticos?
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E pensar que todo esse burburinho já está ocorrendo sendo que ainda não entraram no ar três projetos coletivos, que estão em pleno andamento, reunindo alguns dos mais conhecidos blogs brasileiros…
Qualquer um que acompanha atentamente a blogosfera tupinambá já leu algum site hospedado no Insanus.org, coletivo que reúne alguns dos melhores blogs brasileiros. Pois bem, na madrugada de segunda-feira o mentor e coordenador do Insanus, Gabriel Pillar, morreu em um acidente de carro, aos 22 anos de idade.
Não cheguei a trocar e-mails com o Gabriel, mas admirava de longe o seu trabalho, uma das principais fontes de inspiração de um projeto no qual estou trabalhando. Ao saber da notícia, há alguns minutos, fiquei chocado e estarrecido. Como bem escreveu Daniel Galera, é difícil não tomar conhecimento de um fato como este sem recorrer a palavras como “tragédia” ou “estupidez”. Só posso lamentar, profundamente, a morte precoce deste cara, e recomendar a todos que leiam as entrevistas que ele concedeu ao blog de um grupo de estudantes da Fabico e ao Tiago Dória.
Alex Primo, orientador de Gabriel Pillar em sua monografia de graduação em Jornalismo que seria apresentada justamente hoje, disponibilizou-a em formato PDF no seu blog. Cisco Costa esclarece os motivos pelos quais os membros do Insanus deixaram de atualizar seus blogs. Mariza Lacerda Gomes, historiadora e mãe de Gabriel, desabafou: “Acho que aconteceu isso porque o Gabriel, de alguma forma, cruzou o sinal. Independentemente disso, ele deixa um significado para a vida da gente, pela iluminação e criatividade que sempre teve. É muito difícil ter certeza de como será a partir de agora, mas o impacto dessa violência não só contém sonhos. Contém esperanças. Tira o sorriso do rosto“.
Saíram os resultados finais do prêmio The BOBs. na categoria Melhor Weblog em Português, o prêmio do júri foi para o engajado Apocalipse Motorizado, blog “cicloativista” que critica a falta de planejamento urbano nas grandes metrópoles, em especial na cidade de São Paulo, que não dá condições para que seus habitantes troquem seus carros por bicicletas. Já o premio dos usuários foi, merecidamente, para as Garotas que Dizem Ni, minhas vizinhas de Gardenal.org. A blogosfera tupiniquim levou a melhor em mais duas categorias com o voto do público: Melhor Blog Corporativo (com o blog de mestre Marcelo Tas) e Prêmio Repórteres Sem Fronteiras (merecidíssimo reconhecimento ao trabalho da Alcinéa Cavalcante). De minha parte, agradeço a todos os leitores de Pensar Enlouquece que deixaram o meu blog em um significativo terceiro lugar, na frente de concorrentes do mais alto nível. Valeu! Continue Lendo
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.