Ayrton Senna em Interlagos
Por Alexandre Inagaki ≈ segunda-feira, 23 de outubro de 2006
Ontem tive o privilégio de assistir a uma magnífica corrida de Fórmula 1. Michael Schumacher, o chucrute voador, mostrou em seu GP de despedida porque é um dos maiores pilotos de todos os tempos. Fernando Alonso, o talentoso marrentinho de Oviedo, sagrou-se bicampeão com todos os méritos. E Felipe Massa, o sósia do Zacarias, conseguiu em seu primeiro ano na Ferrari a façanha que Barrichello perseguiu inutilmente nas seis temporadas que disputou pela escuderia italiana: vencer em Interlagos.
Porém, devo confessar que, apesar da alegria em ver um piloto brasileiro ganhar novamente uma corrida no país após 13 anos de jejum, a emoção que senti não passou nem perto daquela que vivi quando vi, pela televisão, Ayrton Senna vencer o GP de 1991 de maneira épica. Por mais bacana que tenha sido a vitória de Massa, basta assistir ao vídeo abaixo para constatar que Senna mobilizou muito mais a torcida.
Pudera: em 1991 Ayrton já era bicampeão mundial. Em tempos nos quais o futebol estava em baixa e ainda amargava um jejum de 21 anos sem vencer a Copa, Senna era indiscutivelmente o maior ídolo brasileiro. Mas as circunstâncias de sua primeira vitória também colaboraram para aumentar a vibração catártica das arquibancadas de Interlagos. Após 8 tentativas frustradas de ganhar o GP Brasil, Ayrton ganhou a corrida fisicamente extenuado, com um carro nitidamente inferior às Williams de Nigel Mansell e Ricardo Patrese. Na ncedeu após a corrida, Senna explica que sua McLaren começou a perder uma marcha após a outra, até que, nas últimas sete voltas, prosseguiu na pista usando apenas a 6a. marcha, única que lhe restou. Literalmente foi obrigado a segurar seu carro no braço, com a pista molhada e um desgaste físico que pode ser visualizado na histórica cerimônia do pódio, na qual Ayrton quase não teve forças para levantar a bandeira do Brasil e o troféu de campeão.
Tão emocionante quanto sua vitória em 1991 foi o GP Brasil de 1993.
Nem as mais entusiasmadas reações dos tifosi ferraristas podem ser comparadas à invasão dos torcedores após a segunda consagradora vitória de Senna no Brasil, que mal puderam esperar o final do GP para correr sob o asfalto de Interlagos a fim de erguer Ayrton nos braços. É uma imagem que, 13 anos depois, ao revê-la mais uma vez, ainda é capaz de me emocionar e de mal disfarçar as lágrimas nos olhos. Poupem-me da suposta objetividade jornalística ou das estatísticas que bradam que Schumacão é o maior campeão de todos os tempos: Ayrton Senna da Silva é inigualável.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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