80 clipes brasileiros dos anos 80 (parte 1 de 8)
Por Alexandre Inagaki ≈ domingo, 29 de outubro de 2006
Ritchie - “A Mulher Invisível” - Depois de ter vendido mais de 1 milhão de cópias de Vôo de Coração (1983), seu álbum de estréia, o inglês radicado no Brasil Richard Court partiu para a gravação do segundo disco cercado de grandes expectativas. E foi assim que, em 1984, a gravadora CBS lançou … E a Vida Continua, com direito a um generoso orçamento para a filmagem do videoclipe da música de trabalho, “A Mulher Invisível”. Em entrevista concedida a Ricardo Alexandre para o livro Dias de Luta, Ritchie narra a saga deste clipe: “Gastamos uma fortuna para rodar em 35 milímetros, com uma equipe enorme, cenários, diretor de arte, extras. Ao todo, gastamos US$ 42 mil. Tudo para o Fantástico falar: ‘Não segue o padrão Globo, não vamos passar’“. Em tempos pré-MTV e pré-YouTube, um cantor não ter seu videoclipe exibido no Fantástico era sinônimo de desastre. De fato, seu segundo álbum não obteve nem um quinto das vendagens do primeiro, e o LP seguinte, Circular (1985), seria o último de Ritchie com a gravadora CBS.
RPM - “Louras Geladas” - O sucesso foi meteórico. Bastaram alguns meses tocando no circuito das danceterias de Rio e São Paulo (formado por casas como Radar Tantã, Mamute, Dama Xoc, Aeroanta e Mamão com Açúcar) para que a gravadora CBS oferecesse um contrato ao grupo formado por Paulo Ricardo, Luiz Schiavon, Fernando Deluqui e Paulo Pagni. O primeiro fruto da associação entre RPM e a gravadora foi o single “Louras Geladas”, promovido por um compacto com remixes distribuído a rádios e DJs, e por um clipe cuja locação principal, como não poderia deixar de ser, era uma danceteria. O vídeo conta com a participação de Eliana Fonseca, atriz que anos depois passaria para o outro lado das câmeras, dirigindo longas-metragens voltados para o público infantil como Ilha Rá-Tim-Bum - O Martelo de Vulcano e Eliana em O Segredo dos Golfinhos.
Paralamas do Sucesso - “Meu Erro” - Embora já existisse um clipe oficial da música, Herbert, Bi e Barone gravaram outro vídeo especialmente para a Globo. Era uma prática comum na época, uma vez que o Fantástico recusava-se a exibir videoclipes que não estivessem enquadrados no “padrão Globo de qualidade”. Sendo assim, os diretores Carlos Magalhães e Jodele Larcher filmaram outro clipe para este que foi o segundo sucesso do álbum O Passo do Lui (1984). Dirceu Rabelo, locutor global, faz a seguinte introdução para o vídeo: “Brigas de amor num cenário de muita ação. Uma pista de motocross é a história de “Meu Erro”, com os Paralamas do Sucesso. Participação especial de Cláudia Magno“.
Barão Vermelho - “Bete Balanço” - Descrito pelo indefectível texto de apresentação de Dirceu Rabelo como “um conjunto que ganha cada vez mais prestígio e popularidade em todo o Brasil“, o Barão filmou para “Bete Balanço” mais um vídeo com participação de Cláudia Magno. A música, tema do filme homônimo de Lael Rodrigues assistido por mais de 300 mil espectadores em 1984, foi lançada no álbum Maior Abandonado. Cláudia, que participou de novelas como Final Feliz e O Dono do Mundo, morreu em 1994, aos 34 anos de idade, devido a complicações respiratórias oriundas do HIV. Dez anos antes ela havia perdido o namorado, vítima do mesmo vírus.
Xuxa - “Tindolelê” - Depois do megahit “Ilariê”, carro-chefe do álbum Xou da Xuxa 3 (que vendeu 3,3 milhões de cópias em 1988), Maria da Graça Meneghel recorreu a outra composição de Cid Guerreiro a fim de tentar repetir a fórmula do sucesso. E foi assim que, em 1989, as rádios e TVs foram invadidas por “Tindolelê”. Cid sequer escondeu a origem da inspiração para criar o novo sucesso da apresentadora infantil: “Ilariê eu inventei. Tindolelê eu inventei pra rimar com Ilariê“. Para a (in)felicidade dos baixinhos que viveram aquela época, Guerreiro lavou os cérebros de milhões com versos deste quilate: “Eu quero ver/ Tindolelê/ Nheco nheco, chique chique/ Balancê“. Vale a pena conferir também o vídeo de Xuxa cantando “Tindolelê” em inglês (“Ilariê” também ganhou versão para os little kids). Em tempo: se você sofre com vergonha alheia, recomendo que você não assista a esta apresentação de “Brincar de Índio”…
Titãs - “Insensível” - Depois do tremendo sucesso de “Sonífera Ilha” em 1984, os Titãs resolveram gravar um disco no qual cada faixa fosse radicalmente diferente da anterior. Fecharam o conceito batizando esse álbum de Televisão (1985) e concebendo cada música como um canal a ser zapeado pelo controle remoto do ouvinte. A música de trabalho do disco, produzido por Lulu Santos, foi “Insensível”. Uma faixa claramente pop, que fez com que a crítica da época comparasse a banda paulistana com outra pertencente ao casting da WEA, mesma gravadora dos Titãs: Kid Abelha & os Abóboras Selvagens. A comparação, claramente equivocada, cairia de vez por terra com o lançamento, no ano seguinte, de Cabeça Dinossauro. Mas esta é outra história…
Barão Vermelho - “Maior Abandonado” - Eis mais uma típica produção para o Fantástico. Desta vez a atriz convidada é Júlia Lemmertz, que contracena com Frejat (como a mulher que dá um pé na bunda nele) e Cazuza (sofre assédio dele em um bar). No fim do vídeo, aparece vestida de noiva (esses roteiros de clipes dos anos 80 são uma maravilha).
Raul Seixas - “Cowboy Fora da Lei” - Gravado no disco Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béim-Bum! (1987), “Cowboy Fora da Lei” é a segunda versão de uma música originalmente intitulada “Anarkilópolis”, composta em 1984 e lançada postumamente em uma coletânea homônima de 2003. O videoclipe conta com a participação de Wilson Grey, o ator coadjuvante mais famoso da história do cinema brasileiro (consta que ele participou de mais de 250 filmes). Bonus tracks: a participação de Raulzito no Clube do Bolinha e uma reunião dos clipes que Raul fez para o Fantástico nos anos 70 (incluindo “Gita”, de 1974, primeiro musical gravado em cores para a Rede Globo).
Barão Vermelho - “Eu Queria Ter uma Bomba” - Este é o derradeiro trabalho de Cazuza com o Barão Vermelho. “Eu Queria Ter uma Bomba” sequer integra algum álbum de carreira do Barão: foi lançada unicamente em compacto e na trilha sonora nacional da novela A Gata Comeu (1985). Sobre o roteiro do vídeo, que segue o mesmo, hmm, padrão de qualidade dos clipes anteriores do Barão, merece um especial destaque a sugestão que Frejat dá para o garçom: pendurar batatas fritas em um… varal.
Afrodite se Quiser - “O Que Que Ela Tem Que Eu Não Tenho?” - Grafite, Cinema a Dois, Degradée, Nico Rezende, O Espírito da Coisa, Egotrip, Os Eletrodomésticos, Brylho, Neusinha Brizola, Obina Shok, Telex. Os anos 80 foram pródigos em produzir one-hit wonders, e o grupo Afrodite Se Quiser, que surgiu em 1987, é um deles. Trio formado exclusivamente por mulheres (Emilinha, compositora do único hit da banda, Karla Sabah, que posaria para a Playboy em outubro de 1989, e Patrícia Maranhão), suas músicas possuíam conteúdo razoavelmente feminista (uma de suas canções diz: “Seu desejo pra mim é só um/ Mas eu não sou só peito e bumbum/ Eu quero alguém que goste de mim/ E não só do recheio do meu jeans“).
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A segunda parte desta série está aqui: 80 clipes brasileiros dos anos 80 (parte 2 de 8).
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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