Se homenagear as mulheres neste dia 8 de março é sinônimo de presenteá-las com rosas murchas ou escrever textos dizendo que elas são as “pétalas do mundo” ou “jóias da raça”, só para citar duas expressões que li por aí, então incluam-me fora dessa. Do mesmo modo, se eu fosse do sexo feminino não me sentiria muito gratificada se me deparasse com sentenças como “mulheres são demais, porque como bem disse o grande poeta Milton Nascimento (sic), todas elas possuem a estranha mania de ter fé na vida”, “amo as mulheres, afinal de contas vim de uma”, “nada se compara à jornada e à grandeza dos seres femininos” ou “quero que uma mulher ganhe o Big Brother”. A impressão que tenho é de que o dia de hoje tornou-se álibi para que projetos de poetas libertem-se de seus superegos a fim de trilhar convictamente a estrada dos clichês. E, como todos sabem, boas intenções tornam o caminho para o inferno mais congestionado do que estradas para o litoral em feriados prolongados.
Para a felicidade geral da nação, resta o consolo de saber que não somos obrigados a aturar tais retóricas infames durante toda a expressionante quantidade de efemérides dedicadas à temática feminina. Eis alguns exemplos de datas dedicadas à Mulher, que encontrei em por aí:
- 24 de fevereiro - Dia da Conquista do Voto Feminino no Brasil
- 30 de abril - Dia Nacional da Mulher
- 28 de maio - Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher e Dia de Combate à Mortalidade Materna
- 21 de junho - Dia Nacional de Proteção ao Direito de Amamentar e Dia Internacional da Educação Não-Sexista
- 25 de julho - Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha
- 29 de agosto - Dia da Visibilidade Lésbica
- 6 de setembro - Dia Internacional de Ação pela Igualdade da Mulher
- 7 de setembro - Dia dos Direitos Cívicos das Mulheres
- 8 de setembro - Dia dos Direitos Cidadãos das Mulheres
- 23 de setembro - Dia Internacional Contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças
- 28 de setembro - Dia de Luta pela Descriminalização do Aborto na América Latina e Caribe
- 10 de outubro - Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher
- 11 de outubro - Dia Internacional da Mulher Indígena
- 15 de outubro - Dia Mundial da Mulher Rural
- 25 de novembro - Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher
Sem dúvida nenhuma concordo com a total relevância de várias das causas defendidas. Afinal de contas, aos que defendem a falácia de que homens e mulheres já convivem em igualdade de condições, resgato uma frase que encontrei no blog da Marina W., que como de praxe manda bem ao citar Mariza Tavares, diretora nacional de Jornalismo da rádio CBN: “Só acredito em direitos iguais no dia em que mulheres medíocres também ocuparem grandes cargos em empresas”. Mas questiono: será que toda essa profusão banalizada de datas politicamente corretas não acabará por levar entidades feministas a proporem celebrações como o Dia de Proteção às Anãs Albinas, o Dia Internacional de Proteção ao Direito de Discutir a Relação ou o Dia Mundial de Luta Contra as Piadas de Loiras?
Posso até estar errado ao estranhar a existência de tantas efemérides, mas encaro-as com a mesma perplexidade que nutriria se me dissessem que alguma Câmara de Vereadores institucionalizou o Dia do Orgulho Heterossexual, o Dia Nacional dos Blogueiros ou o Dia dos Jornalistas de Origem Nipônica. Todas essas datas me fizeram lembrar da inusitada Associação dos Maridos Devotados do Japão, que instituiu o Dia da Esposa Amada no dia 31 de janeiro, data na qual seus membros promovem o comovente esforço de chegarem em casa às 20 horas, a fim de jantar com suas famílias e dizer às suas respectivas patroas o quanto eles gostam delas por tudo que suas companheiras fazem para eles próprios. Pfuf! De boas intenções…
O anúncio que ilustra este post, criado pela Ag407, afirma em tom provocativo: “Vamos propor um dia especial dos homens, um dia só pra eles fazerem depilação, unha, a lição de casa com as crianças, a comida, o supermercado, cuidar do cachorro. E no final do dia, a gente dá um botão de rosa de lembrança. Inesquecível”. Mais reflexões pertinentes sobre esta data? Recomendo a leitura do texto “Os machistas no Dia Internacional da Mulher”, de Cynthia Semíramis. E, principalmente, dos blogs de mulheres inteligentes, bem-humoradas, sensíveis e/ou saudavelmente sarcásticas, dos quais dou apenas dez de muitos exemplos que eu poderia citar: Boing Boom Tschak, As Coisas De Que Eu Gosto (onde encontrei um dos textos mais sensacionais que li nos últimos tempos, escrito por “Dra. Vodca” do Bolhas, Champanhe, Cowboy), O Outro Lado do Arco-Íris, Scriptease, No Provador, Cris Sem Crise, Isto Não é um Blog, Chiqueiro Chique e Cyn City.
Costumo dizer que você só conhece verdadeiramente uma pessoa entre quatro paredes. Afinal de contas, é só na intimidade que ela se despirá, não apenas das roupas como também das convenções sociais que impedem que a sua até então circunspecta colega da firma jogue você no chão feito um saco de batatas, pedindo para que você a penetre como se fosse um vibrador tailandês duplo de cinco velocidades. Descontando-se a sutileza paquidérmica da comparação, creio que não há nenhum problema em se fazer isso, desde que ninguém lhe peça pra fazer golden shower ou pegar um espanador a fim de se fantasiar de galo. Mas as coisas começam a ficar estranhas quando sua parceira coloca um Toblerone na vagina e pede pra que você faça uma degustação, não?
Pois bem, essa “dica” do recheio de chocolate é só uma dentre tantas bizarrices que encontrei no site 1001 Idéias de Sexo, da revista Nova. É de se ficar pensando: será que as leitoras da Nova que resolvem pôr em prática dicas esdrúxulas como essas perderam seu bom senso no mesmo lugar em que a Britney Spears guarda suas pílulas anticoncepcionais? Como bem afirmou meu amigo Cafa, que bloga no Manual do Cafajeste Para Mulheres, uma matéria como essa deveria se chamar “Como Perder um Homem em Algumas Noites”. Fico imaginando, por exemplo, um casal que vai pela primeira vez a um motel. A mulher, a fim de impressionar o cara, resolve seguir a dica “descolada” da revista, e faz como a leitora Marlene, que enviou a seguinte idéia: “Ele me penetrou por trás, fiz xixi e o cara ficou maluco, tão maluco que a gente reatou o namoro e agora sempre sou convidada a repetir essa prática”. É, eu também ficaria doido se minha parceira resolvesse se inspirar nessa sugestão abilolada. A ponto de pensar: “é, devia estar maluco quando resolvi sair com essa mulher”. Continue Lendo
Inteligência combina com felicidade? Há tempos essa questão se debate no trapézio dos meus pensamentos. Por vezes penso que ignorar todas as engrenagens que movem as sujeiras deste mundo é condição imprescindível para ser feliz, e que o ideal é ser alienado feito um participante de Big Brother ou uma dançarina de axé, ignorando notícias sobre cartões corporativos, chacinas na África ou os embates entre judeus e palestinos, como se vivêssemos no mundo edulcorado de uma propaganda de margarina. Em outras ocasiões, lembro da ilusão dessas felicidades etéreas, tão fantasiosas quanto as risadas forçadas das claques de programas de TV. Mas enfim, tergiverso.
Bem, o caso é que me deparei com um livro com o provocador título de “O Poder da Ignorância”, que afirma, logo na sua capa: “Seja mais feliz, seguro, confiante e amado. Esqueça suas limitações. Aumente a sua ignorância e promova o bem-estar geral”. Achei excelente a provocação, inclusive porque tem tudo a ver com o nome deste blog (se pensar enlouquece, por que pensar?), e comecei a ler um volume que poderia despertar dúvidas acerca de sua verdadeira natureza. Trata-se de uma contundente sátira a toda a, hmm, “literatura” de auto-ajuda, ou é uma obra que fala sério ao batizar capítulos com títulos como “Da Ignorância Nasce a Confiança”, “Inspiração é 99% Ignorância e 1% Transpiração” e “Declare a Falência da Mente”? Mas enfim, o que pensar nestes tempos estranhos em que a nação mais poderosa do mundo é presidida por um consumado imbecil? Continue Lendo
Top 5 Cenários de Amor:
1. “Eu era lixeiro e você empregada/ A gente se olhava e se encontrava na mesma calçada/ E todos os dias você vinha sorrindo/ E eu às pressas contente/ Pra você lhe pedindo/ Um abraço e um beijo/ Você não pode negar/ Pois sua lata de lixo/ Sou eu quem vou carregar” (“O Lixeiro e a Empregada”, Amado Batista)
2. “Quem dera ser um peixe/ Para em teu límpido aquário mergulhar/ Fazer borbulhas de amor pra te encantar/ Passar a noite em claro/ Dentro de ti/ Um peixe para enfeitar de corais tua cintura/ Fazer silhuetas de amor à luz da lua/ Saciar esta loucura/ Dentro de ti” (Fagner na regravação de “Borbulhas de Amor”, singelíssima composição de Juan Luís Guerra, conforme bem lembrou o Gravatai)
3. “Se de repente/ A gente encontra alguém na rua/ Pode acabar até envergonhando a lua/ Num desses lances muito loucos/ Que acabam num quarto de motel/ E às vezes basta/ A porta aberta do banheiro/ Uma tremenda brincadeira no chuveiro” (“Escancarando de Vez”, Elymar Santos - o título dessa música é simplesmente demais)
4. “Então eu corro e abro a porta quase seminua/ A roupa transparente ali mesmo na rua/ Me agarro nele e espanto a solidão/ Então a gente logo entra na boléia/ É um velho costume, uma nova idéia/ A gente faz amor no caminhão” (“Amor e Paixão”, Beth Guzzo - também conhecida como a filha de Valentino Guzzo, o ator que interpretava a saudosa Vovó Mafalda do programa do Bozo)
5. “Minha vida é um flash/ De controles, botões anti-atômicos/ Olha bem, meu amor/ No final da odisséia terrestre/ Sou Adão e você será/ Minha pequena Eva/ O nosso amor na última astronave/ Além do infinito eu vou voar/ Sozinho com você…” (“Eva”, versão cometida originalmente pelo Rádio Táxi a partir de uma música composta pelo italiano Umberto Tozzi)
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Top 5 Mar de Metáforas:
1. “Você na foto toda nua/ Num banho de lua/ Meu cartão postal/ Meu corpo deu sinal” (Exaltasamba, numa imagem de elegância primorosa cometida em seu “Cartão Postal”) Continue Lendo