10 clipes do rock brasileiro dos anos 90
Por Alexandre Inagaki ≈ sexta-feira, 11 de julho de 2008
A onda nostálgica em torno dos anos 90 chegou com tudo. Você já deve ter recebido anexos de Power Point ou o link de algum Tumblr recordando com saudade dos “bons” tempos em que o É o Tchan ainda era chamado de Gera Samba, todo mundo queria morar em Beverly Hills e ser amigo da Kelly, do Brandon e do Steve, o pessoal ia pras baladas dançar poperô ao som de Ace of Base, Jon Secada, Londonbeat, Corona ou Erasure, ápice da tecnologia era ter conta em BBS, depois teclar no mIRC e ficar “invisible” no ICQ, ainda havia Mappin, Mesbla, fichas telefônicas e TV Manchete, objetos de desejo eram Kinder Ovos, tamagotchis e Mega Drives, duplas sertanejas e grupos de pagode invadiram as FMs, as manhãs de domingo eram embaladas pelas vitórias do Ayrton Senna, Astrid, Cuca, Thunderbird e Gastão eram os principais VJs da MTV Brasil e os maiores escândalos da década foram Lilian Ramos sem calcinha ao lado de Itamar Franco, Sharon Stone cruzando as pernas em Instinto Selvagem e Monica Lewinski quase derrubando um presidente dos EUA por causa de um fellatio.
A década da ovelha Dolly, das propagandas de facas Ginsu e meias Vivarina, do movimento grunge, da conversão dos cruzeiros reais em URVs, dos caras pintadas protestando contra Fernando Collor e do ET de Varginha já está sendo recordada em festas temáticas, posts do Fred Fagundes e livros sobre a década. Dentro dessa pegada, segue abaixo uma compilação de 10 músicas que marcaram o Brock tupinambá dos anos 90. Como diria Cissa Guimarães, aquela tal “garota que quebra o coco, mas não arrebenta a sapucaia” (e que saiu na capa da Playboy em agosto de 1994), estes clipes vieram direto do túnel do tempo…
Chico Science & Nação Zumbi - “Manguetown” - Francisco de Assis França fez história na MPB ao idealizar e liderar, ao lado de outros nomes da cena musical pernambucana como Fred Zero Quatro do grupo Mundo Livre S/A, o movimento manguebeat. Em 1994, Chico Science & Nação Zumbi gravou seu primeiro álbum pela multinacional Sony: Da Lama ao Caos. O disco projetou a banda nacionalmente, revitalizando a cena musical tupinambá com a fusão da guitarra sincopada de Lúcio Maia à percussão que juntou o ritmo do maracatu com o rock. O segundo álbum, Afrociberdelia, saiu em 1996, com uma pegada mais pop e influências da música eletrônica. Seu primeiro single, “Manguetown”, recebeu um videoclipe duca dirigido pelo cenógrafo Gringo Cardia, e a boa recepção de crítica e público indicava que Chico Science & Nação Zumbi teriam uma longa e brilhante carreira ainda a percorrer. Mas, lamentavelmente, em fevereiro de 1997 Chico Science morreu em um acidente de trânsito, devido ao rompimento do cinto de segurança que ele usava no momento da batida.
Skank - “Garota Nacional” - O Samba Poconé, álbum gravado pelo grupo mineiro em 1996, chegou às lojas catapultado pelo estrondoso sucesso de “Garota Nacional”. Seu vídeo, estrelado por modelos e atrizes globais como Carla Marins, Paula Burlamarchi, Ingra Liberato, Vanessa de Oliveira e Paloma Duarte, não é recomendável para visualização em ambientes de trabalho. No entanto, ou talvez por isso mesmo, foi eleito o melhor clipe de 1996 segundo a audiência da MTV. O Samba Poconé acabou vendendo 1,8 milhão de cópias só no Brasil, graças também a outros sucessos como “Tão Seu” e “É uma Partida de Futebol”. Além disso, o Skank fez sucesso na Espanha e demais países da América Latina, emplacando nas paradas a versão em espanhol desta música: “Chica Nacional (Te Quiero Probar)”.
Paralamas do Sucesso - “Tendo a Lua” - O começo da década de 90 foi inusitado para o trio formado por Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone. Os Grãos, álbum gravado em 1991, vendeu pouco e quase não repercutiu nas rádios brasileiras. Em compensação, foi nessa época que os Paralamas consolidaram seu sucesso na Argentina e outros países da América Latina, graças ao menosprezado Os Grãos (do qual “Tendo a Lua” é a faixa 3) e a uma coletânea trazendo os maiores hits do grupo cantados em espanhol, lançada em 1992, cujo carro-chefe foi “Inundados”, versão para “Alagados”. Curiosidade: a inspiração inicial de “Tendo a Lua” foi um bilhete que Tetê Tillet, ex-namorada de Herbert, deixou para o cantor, comentando que o céu de Ícaro teria muito mais poesia que o do cientista Galileu Galilei.
Pato Fu - “Sobre o Tempo” - Formado em 1992 na cidade de Belo Horizonte, o grupo por muito tempo teve de conviver com a pecha de ser insistentemente comparada aos Mutantes, pelo fato de ser um trio composto por uma mulher nos vocais, Fernanda Takai, e dois homens, o guitarrista John Ulhoa e o baixista Ricardo Koctus, tal qual o grupo originalmente formado por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. Mas os mineiros nunca pareceram ligar para isso, tendo inclusive regravado a composição dos Mutantes “Qualquer Bobagem” no primeiro álbum lançado por uma grande gravadora, Gol de Quem?, em 1995. Pertence a esse disco o sucesso “Sobre o Tempo”, que projetou merecidamente o Pato Fu para todo o Brasil.
Os Virgulóides - “Bagulho no Bumba” - Lançados pelo selo Excelente da finada gravadora Polygram, este grupo paulistano oriundo da Zona Sul, formado por Beto Demoreaux (baixo e voz), Henrique Lima (violão, guitarra e apitos) e Paulinho Jiraya (bateria, cavaco, surdo, pandeiro, triângulo e teclado), emplacou o refrão “Eu acho que o bagulho é de quem tá de pé” com seu rock-samba engraçadinho, vendendo mais de 40 mil cópias de seu álbum de estréia, de 1997, produzido por Carlos Eduardo Miranda. Que, hoje em dia, é mais conhecido por ser um dos jurados do reality-show Astros, do SBT. Os Virgulóides viriam a lançar mais dois álbuns, Só Pra Quem Tem Dinheiro? e As Aventuras dos Virgulóides. Depois, sumiram na poeira na estrada, ao lado de dezenas de outras bandas que estouraram nos anos 90 e desapareceram, como Akundum, Os Ostras, Bel, Maria do Relento e Jorge Cabeleira & o Dia em que Seremos Todos Inúteis.
Vinny - “Heloísa Mexe a Cadeira” - Nascido no interior paulista, mais especificamente na bucólica cidade de Leme), o jovem Vinícius Bonotto estudou Psicologia e Direito antes de decidir investir a sério em sua carreira musical. Foi um dos integrantes do desconhecido grupo Hay Kay no início da década. Depois, deu um upgrade em sua carreira ao adotar o nome artístico de Vinny, lançando em 1995 seu primeiro álbum como artista solo. O sucesso chegou de vez em 1997, com seu segundo disco, intitulado Todo Mundo, que tomou de assalto as FMs com o hit dançante “Heloísa Mexe a Cadeira”. Foi aí que Vinny, também conhecido como o sósia masculino da Marília Gabriela, ganhou os holofotes da mídia. Ao longo dos anos, Vinny emplacaria outros sucessos como “Shake Boom”, “Uh Tiazinha” e “Te Encontrar de Novo”. Mas nada se compararia ao furor de seu primeiro hit.
Planet Hemp - “Queimando Tudo” - O conjunto já causava polêmicas a partir do seu nome, extraído de um artigo publicado pela revista americana High Times, cuja especialidade é a polêmica planta Cannabis sativa. Após o lançamento de seu polêmico e bem-sucedido álbum de estréia Usuário (1995), o “planeta maconha” ressurgiria em 1997 com seu segundo CD intitulado Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára, que já dizia a que veio com o verso inicial de seu carro-chefe, “Queimando Tudo”: “Eu canto assim porque eu fumo maconha”. O clipe, dirigido por Raul Machado, foi maciçamente veiculado pela MTV. Mas o ápice da polêmica se daria em novembro daquele mesmo ano, quando os integrantes do grupo, após apresentarem-se em um ginásio em Brasília, foram presos em flagrante por apologia às drogas, e escoltados até uma delegacia na qual ficaram detidos por uma semana. O resultado de toda essa exposição? Um álbum que chegou à marca de mais de 500 mil cópias vendidas.
Raimundos - “Nega Jurema” - Grupo brasiliense cujo nome é uma homenagem aos Ramones, foi o criador do gênero “forrocore”. Primeira contratação do selo Banguela, criado pelos Titãs e por Carlos Eduardo Miranda em 1994, estouraram logo de cara, emplacando sucessos como “Nega Jurema”, “Puteiro em João Pessoa” e “Selim”, todos caracterizados por letras sacanas, som pesado e influências nordestinas, em especial do baião de duplo sentido. Graças a este e outros álbuns como Lavô Tá Novo (1995), Lapadas do Povo (1997) e Só no Forevis (1999), os Raimundos ocuparam por um bom tempo o posto de mais popular banda de rock brasileiro dos anos 90, até que o vocalista Rodolfo anunciou sua saída do grupo em 2001, devido a um súbito episódio de conversão religiosa, quando criou uma banda de rock gospel, o Rodox.
Vange Leonel - “Noite Preta” - Após ter sido vocalista da banda Nau nos anos 80, Vange Leonel lançou-se em carreira solo e começou com o pé direito, emplacando na MTV o belo clipe que Cilmara Bedaque e Luiz Ferré dirigiram para o carro-chefe de seu primeiro álbum. O próximo passo da conquista nacional foi quando “Noite Preta” foi escolhida para ser o tema de abertura da novela Vamp, da Rede Globo, em 1991. Vange lançaria mais um álbum, Vermelho, em 1996. Embora não tenha abandonado sua carreira musical, atualmente é mais conhecida pela coluna “GLS” que assina na Revista da Folha, e pelos livros de crônicas e ficções que publicou de lá pra cá. A propósito, Vange também mantém um blog.
Mamonas Assassinas - “Vira-Vira” - O maior fenômeno musical de toda uma geração foi um grupo de Guarulhos, SP, composto por Dinho (vocalista, animador de auditórios e sex symbol da banda cujo nome verdadeiro era Alecsander Alves), Bento Hinoto (um japonês de peruca rastafári, o talentoso guitar hero do grupo), Julio Rasec (tecladista cujo sobrenome artístico nada mais era do que o seu segundo nome, César, escrito ao contrário) e os irmãos Samuel e Sérgio Reoli (respectivamente baixista e baterista). O primeiro nome do grupo era Utopia, e naqueles tempos o quinteto cantava músicas de cunho social a la Legião Urbana, porém sem a mesma densidade das letras de Renato Russo.
Só quando Dinho & companhia passou a não se levar a sério, trocando versos engajados por letras repletas de trocadilhos infames e o sumo do besteirol, é que eles encontraram a chave do sucesso. Após titubearem entre sugestões como Os Cangaceiros do Teu Pai, Tangas Vermelhas e Coraçõezinhos Apertados, o grupo finalmente encontrou um nome mais apropriado para sua nova fase: Mamonas Assassinas. Em 1995, lançaram pela EMI-Odeon seu álbum de estréia, que vendeu mais de 2,3 milhões de cópias. No auge do sucesso, no dia 2 de março de 1996, o jato particular em que viajavam chocou-se contra a Serra da Cantareira, matando todos os integrantes do grupo e deixando o país inteiro estarrecido. Discos póstumos, álbum de figurinhas, biografia do grupo e DVD foram apenas alguns dos muitos produtos lançados após o acidente.
P.S. 1: Atendendo a um convite irrecusável, escrevi um texto exclusivo para um de meus blogs prediletos, o Garotas que Dizem Ni. Confiram lá: “Eu Me Recordo”.
P.S. 2: Tina, descanse em paz.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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