Por que você deve ver Gravidade nos cinemas?
Por Alexandre Inagaki ≈ domingo, 13 de outubro de 2013
Assistir a um bom filme numa tela de cinema é um momento quase religioso. O ato de entrar em uma sala escura, desligando-se do mundo lá fora a fim de imergir em uma outra realidade, inebriando olhos, ouvidos e neurônios com uma história capaz de nos enredar, ainda é para mim uma experiência inigualável. E, quando um cineasta do talento de Alfonso Cuarón consegue usar as tecnologias mais avançadas em prol de uma boa narrativa, criando uma obra visualmente mesmerizante, mas que ao mesmo tempo é uma fábula envolvente sobre como pessoas podem estar preparadas para morrer, sem se conscientizarem de que o medo mais paralisante é o de viver, ver “Gravidade” torna-se uma experiência que precisa ser apreciada na melhor sala de cinema 3D que você puder ir.
Sim, eu sei que muitas pessoas que buscam informações sobre um filme no Google procuram por links para download. Não vou ser moralista e condenar essa prática: diante do preço salgado dos ingressos, da pipoca e do estacionamento, dá para compreender porque cinéfilos de sofá desencanaram de ir a uma tela de cinema, preferindo baixar arquivos e economizando algumas dezenas de reais. Mas é uma pena, porque um filme como “Gravidade” é daqueles que justificam cada centavo gasto em uma sala IMAX 3D. Seu plano-sequência inicial (de aproximadamente 17 minutos de duração) entrará para a história do cinema como um dos mais impressionantes (junto com a abertura de “A Marca da Maldade” ou as one-shot sequences fantásticas de “Soy Cuba”). Mas também chamo a atenção para o modo como a câmera usa habilmente alternâncias de foco, em enquadramentos belíssimos que mostram a terra vista do espaço, depois exibem a solidão de uma astronauta que se perde na poeira cósmica, ou uma gota de lágrima condensada na gravidade zero.
“Gravidade” é um filme sobre solidão e renascimento, que transita entre o particular e o infinito, a claustrofobia e a agorafobia, com a mesma habilidade técnica da câmera de Alfonso Cuarón, este diretor magistral que, sete anos após ter dirigido “Filhos da Esperança” - que falava do milagre da gestação de forma até literal -, nos leva até a infinitude espacial para que reaprendamos a pôr os pés no chão.
P.S. 1: Links relacionados: uma entrevista com Emmanuel Lubezki, diretor de fotografia de “Gravidade” e colaborador de longa data de Cuarón, um vídeo fantástico que compila todos os planos-sequência com mais de 45 segundos de duração de “Filhos da Esperança”, e algumas declarações de Alfonso Cuarón sobre a metáfora do final de um dos melhores filmes deste ano.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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