“Querida Foto”: como transformar uma velha fotografia em uma máquina do tempo

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 13 de novembro de 2013

Fotografias são momentos que capturamos de um tempo presente, cristalizando-o em uma imagem que sempre guardará a emoção daquele instante. E, embora aquele momento esteja aparentemente recortado no tempo e espaço, dentro de uma moldura limitada, retendo apenas a breve fração de um cenário ou paisagem, o fato é que um retrato é capaz de transcender tais fronteiras dentro de nós, expandindo lembranças, sons, cheiros, sentimentos no baú das memórias que é aberto cada vez que revemos determinada imagem.

Dear Photograph é um site que foi criado pelo publicitário canadense Taylor Jones em maio de 2011, com um conceito simples e brilhante: tirar a foto de alguma outra fotografia do passado, sobreposta ao momento presente. Desde então, recebe colaborações de pessoas que enviam suas contribuições, acompanhadas por um breve relato descritivo, contextualizando fotografias e recordações. E assim, nesta era de câmeras digitais, Taylor estimulou os visitantes de seu site a tirarem de gavetas e álbuns seus retratos antigos, transportando-os para estes tempos de selfies e instagramadas.

É difícil não se emocionar com as fotos compartilhadas no Dear Photograph. Não estranhe, pois, se ninjas invisíveis cortando cebolas ou soprando ciscos em seus olhos subitamente aparecerem do seu lado durante a leitura deste post.

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“Querida Foto,

Obrigado por tudo que nós tivemos.

@jonathanstampf

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“Querida Foto,

Nunca haverá uma idade na qual não precisarei de minha mãe… Ou de sua mão para segurar. Amor antes, amor agora, amor sempre,

Sara”

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“Querida Foto,

Estes são meus adoráveis avós em seu dia de casamento, há 60 anos, em 1953. Recentemente fizemos uma viagem, recordando o passado. A igreja não existe mais, mas estes dois permanecem fortes, depois de todo esse tempo. Felizes Bodas de Diamantes!

Louise”

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“Querida Foto,

Pessoas me perguntam por que amo fotografias, e ao longo dos anos cheguei à conclusão que é simplesmente porque não gosto de mudanças. Pessoas e circunstâncias mudam ao longo dos tempos, mas memórias e fotografias não. E creio que é exatamente por causa disso que as colocamos em todos os lugares. Porque, ainda que por um breve momento, em meio ao caos das mudanças da vida, as coisas aparentam estar bem novamente quando olhamos para uma foto; mesmo que seja apenas naquele instante. Creio que amo fotos porque elas nunca mudam, mesmo quando cada pequena coisa muda. Nossa casa é um lugar calmo agora que minha irmã e eu nos mudamos, mas quando olho para esta fotografia, eu tenho 6 anos de idade novamente, minha família está sempre a apenas alguns quartos de distância e volto a ter fé em tudo.

- Sarah”

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“Querida Foto,

Tenho tanto orgulho dos meus filhos, cujos sonhos de infância eram feitos de coragem, honra e valores. Quinze anos depois, seus sonhos se tornaram realidade.

Nancy”

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“Querida Foto,

Aqui estamos eu e minha bisavó há exatos 20 anos. Ela estava me ensinando a fazer “pirozhki” (tradicional torta russa). Eu ainda os cozinho de vez em quando, mas eles nunca foram tão bons. Ela se foi há seis anos e, lamento, nunca cheguei a perguntar qual era o ingrediente secreto da receita. Amor, creio eu. Carinhosamente,

Masha”

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“Querida Foto,

Soltar a mão da minha mãe no primeiro dia da escola foi o momento mais difícil.

Liz”

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“Querida Foto,

Meu pai não pode mais me segurar no colo. Agora sou eu que embalo meu filho, e ele tem o nome do seu avô. Papai, espero que exista mar no lugar em que você está… Feliz Dia dos Pais. Amor sempre,

Marta.”

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“Querida Foto,

Ainda lembro cada momento que passei com você naquele verão. Você acreditava que éramos apenas amigos, mas para mim, você sempre significou muito mais. Um ano e meio depois, você é minha namorada. Feliz Dia dos Namorados!

Seu namorado,
Louis”

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“Querida Foto,

Estou chorando enquanto escrevo isto. Esta é minha mãe, minha melhor amiga. Fizemos juntas uma viagem em 1996 para Machu Picchu, no Peru, por impulso. Naquela época, eu tinha 16 anos. E, embora aquela tenha sido a maior coisa de todos os tempos, 17 anos depois aqui estou novamente, com meu marido, carregando seu espírito. A cada viagem que faço eu sei que ela está comigo. Te amo, mamãe. Sinto sua falta e sempre lembrarei de você.

Sua pequena viajante,
Silvia”

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“Querida Foto,

Eu disse a você que haveriam dias melhores.

Joel Witte”

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“Querida Foto,

Haverá sempre um pequeno super-herói escondido, em algum lugar, dentro de todos nós. É o que você faz com seus poderes que faz você voar.

Jenny”

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P.S. 1: Gostou deste post? Eis algumas leituras relacionadas: Quando eu era criança, Criança tem cada uma e Escrevendo com luz.

P.S. 2: Dear Photograph deu origem a um livro homônimo, que reúne alguns dos retratos e histórias mais bonitas compartilhadas no site.

P.S. 3: Em um artigo para o The Guardian, o fotógrafo Martin Parr fez uma recomendação que vale a pena ser lida, nestes tempos de cliques digitais:

Estamos correndo o risco de ter uma geração inteira - e isso se perpetuar no futuro - sem álbuns de família, porque as pessoas simplesmente deixam suas fotografias no computador, e então subitamente elas são deletadas. Você precisa imprimi-las e colocá-las em um álbum ou uma caixa, caso contrário elas podem se perder. E escreva legendas. Você deve achar que lembrará do que aconteceu naquela foto, mas provavelmente não recordará de tudo daqui a dez anos.

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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