Quem é Rei nunca perde a majestade
Por Alexandre Inagaki ≈ sábado, 28 de fevereiro de 2009
Carnaval é legal. E não afirmo isso só por causa do feriado prolongado ou das farras orgiásticas. Em meio ao corre-corre desenfreado da vida nas metrópoles, creio ser cada vez mais necessário conseguir viver um momento de tecla pause, com direito a dias de ócio descompromissado. Ignoro, pois, os chatonildos de plantão que entoam monocordicamente a ladainha de que há muitos feriados no Brasil, de que por conta disso o país não vai pra frente, blá blá blá. Lamento por esses workaholics resmungões, e a eles recomendo doses contínuas de Máscara Negra, marcha composta por Zé Keti e Pereira Matos em 1967, cujo refrão é uma das melhores traduções deste espírito leve, banhado em confete e serpentina, que toma conta daqueles que sabem como se divertir: “Vou beijar-te agora/ Não me leve a mal/ Hoje é carnaval”.
Foi bacana ver a animação saudável do carnaval de rua em vários lugares do país, que, embora não chamem tanta atenção da mídia, que prefere paparazzar celebridades siliconadas por aí, promoveram arrastões de foliões reunidos anarquicamente em blocos com nomes impagáveis como “Largo do Machado, Mas Não Largo do Copo”, “Tudo Certo pra Dar Merda”, “Suvaco de Cristo” (que quase foi chamado de “Divinas Axilas”), “Se Eu Não Lembro Eu Não Fiz”, “Regula Mas Libera”, “Simpatia é Quase Amor“, “Sou Hetero, Mas é Carnaval”, “Apôis Fum”, “Cordão Agoniza Mas Não Morre”, “Se Melhorar, Afunda” e “Não Trema na Linguiça“. E a criatividade não parou na hora de batizar blocos, vide as fantasias originais flagradas pela câmera de Bruno Natal, do blog URBe, durante a passagem do bloco Cordão do Boi Tatá.
Porém, creio que o grande destaque foi mesmo a passagem do bloco Exalta Rei, que desfilou pelas ruas do bairro da Urca, no Rio, cantando em altos brados as composições de mestre Roberto Carlos. As fotos tiradas por Dodô Azevedo e os posts emocionados escritos por pessoas de sorte como Liv Brandão, Claudio de Souza e Renata Victal, que testemunharam in loco o momento em que o Rei acenou para seus súditos da varanda de seu apartamento, documentaram esse instante histórico do carnaval de rua carioca.
Em seu site oficial, Roberto Carlos ainda publicou uma nota agradecendo pela homenagem calorosa do bloco Exalta Rei: “Vocês me deram uma alegria muito grande. Que coisa maravilhosa! Fiquei emocionado com tanto carinho e com tanto amor”.
Quem optou por ver o carnaval pela televisão teve de aturar a cobertura monótona que a Band fez dos eventos em Salvador, ou a transmissão que a Globo fez dos desfiles das escolas de samba no Rio e em São Paulo, e que me fez sentir saudades dos tempos em que a finada Rede Manchete televisionava os eventos do Sambódromo, com locução de Paulo Stein e comentaristas do naipe de Fernando Pamplona, Mestre Marçal e Roberto da Matta.
Em meio ao modo um tanto quanto burocratizado com que a Globo transmitiu os desfiles, o destaque na TV ficou por conta da cobertura trash que a Rede TV! fez dos bailes, em especial do Gala Gay. O destaque ficou por conta da participação de Nelson “ok, ok” Rubens como o âncora das transmissões, fazendo o merchandising das camisinhas Gózzi (pronuncia-se “Gódzi”), melhor nome de produto de todos os tempos da última semana. E isso pra não citar a gabaritada equipe de repórteres da Rede TV!: Léo Áquila, Monique Evans, Tatiana Apocalipse (alcunha que me fez lembrar de chacretes como Leda Zeppelin, Fernanda Terremoto e Regina Polivalente), Robaldo Ésperman e Christian Pior.
Mas enfim, como diz aquela música, todo carnaval tem seu fim. Feliz ano novo! ;)
P.S. 1: Enfim tirei a camada de pó que já cobria os posts deste blog, fazendo com que muitos pensassem que eu já havia trocado em definitivo este espaço pelo meu Twitter. Não darei desculpas. Afinal de contas, elas soariam tão sinceras quanto aquelas justificativas surradas que participantes do Big Brother dão ao indicarem alguém para o paredão: “Bial, não tenho nada contra essa pessoa. Eu só vou votar nela porque é com quem eu tenho menos afinidade aqui dentro da casa”. :P
P.S. 2: Vem aí o youPIX, um evento que trará o melhor da web para o mundo real. Confira toda a programação que rolará no Espaço Gafanhoto, não deixe de assegurar a sua inscrição e reserve desde já sua agenda para os dias 9, 10 e 11 de março!
P.S. 3: Seria bom se criassem um Gerador Automático de Desculpas aos moldes do sensacional Excuse-O-Mat…
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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