Os nomes de ruas mais bizarros no Google Street View
Por Alexandre Inagaki ≈ segunda-feira, 06 de fevereiro de 2012
Em 1986, quando o Cometa Halley passou próximo do planeta Terra, foram grandes as expectativas de que sua passagem renderia um espetáculo visual inesquecível. Lembro bem da decepção daquele verão, quando meu pai levou a mim e a meus irmãos para uma chácara em Ibiúna, onde teoricamente conseguiríamos ver o Halley com mais nitidez, já que o céu era menos poluído que em São Paulo. No fim, o cometa passou em brancas nuvens. Mas, pelo visto, não para quem foi o responsável por batizar uma rua com o nome de Verão do Cometa, extraído de uma canção de Sá & Guarabyra. Deve ser interessante morar nessa região de Itaquera, já que outras ruas próximas são homônimas de músicas como Sempre Brilhará (Celso Blues Boy), Eternas Ondas (Zé Ramalho), Cores Vivas (Gilberto Gil) e Cavaleiro da Lua (Almir Sater).
E quem diria que Rock Estrela, nome do filme de 1985 dirigido por Lael Rodrigues e da música-tema composta e interpretada por Léo Jaime, viraria nome de rua? Curti, e creio que há muita música do rock brasileiro dos anos 80 que poderia seguir esse bom exemplo: sugiro as ruas Codinome Beija-Flor, Perdidos na Selva, Ursinho Blau-Blau, Bete Balanço e, claro, Infinita Highway.
Não concordo com o nome dessa travessa, Somos Todos Iguais, que fica localizada no Iguatemi. Até poderia dizer que foi ideia de algum comunista utópico, mas a julgar pelos nomes das travessias vizinhas (com nomes como Sete Cores da Aliança, Raios de Luz, Xangrilá, Doce Presença e Pegadas na Areia), diria que o batismo desses lugares foi responsabilidade de um fã riponga do Ivan Lins.
A Rua das Variações Musicais fica localizada no Jardim Ângela. Que, se depender de suas ruas, deve ser o mais musical dos bairros de São Paulo. Afinal, em suas imediações também estão localizadas a Rua das Modulações, a Rua dos Compassos, a Rua das Fermatas, a Rua dos Menestréis e a Rua dos Minuetos.
A princípio, pensei que a pessoa que teve a ideia de batizar uma rua com o nome de Neve na Bahia (que fica no Conjunto Residencial José Bonifácio) seria um amante de ficções científicas e situações impossíveis de se acontecer. Mas, depois que vi no Google Maps que esse logradouro era vizinho das ruas Águas de Março, Fascinação e Aquarela do Brasil, desconfiei de que se tratava de algum nome de música. Dito e feito: não conhecia ainda essa composição do Gilberto Gil.
A Travessa Maravilha Tristeza poderia ser confundida com o arroubo de algum bipolar achando que seria um nome para um logradouro. Mas, segundo o excelente Dicionário de Ruas da Prefeitura de SP (fonte imprescindível de informações para este post), Maravilha Tristeza é “uma planta balsaminácea, espécie de malmequer”.
E eis que na Cidade Tiradentes encontro a curiosa Rua dos Pensamentos Poéticos. Vizinha das também singelas Rua Canção da Indiazinha, Rua Reinado do Cavalo Marinho e Rua Velho Tema. Fato que consolida minha teoria de que, se você se deparar com alguma rua de nome sui generis, certamente vai encontrar outras tão originais quanto em suas proximidades.
Alguns podem pensar que a Rua Borboletas Psicodélicas foi obra de algum fã do Pink Floyd na fase Syd Barrett. Mas, creiam-me, a origem é o trecho de uma peça musical composta por Henrique Morozowicz, que tem esse singelo nome. E que fica localizada no bairro do Jabaquara, cruzando a Avenida Leonardo da Vinci.
Embora a foto não seja das mais animadoras, eu acharia bem legal morar numa travessa que se chama Na Paz do Seu Sorriso, uma das mais bacanas canções do Rei Roberto Carlos. Ou nas outras travessas que ficam nessa região do Iguatemi, todas com nomes de clássicos antigos da MPB: No Rancho Fundo, Noite Cheia de Estrelas, Nega Manhosa, Tristeza do Jeca, Ébrio de Amor, País Tropical…
Taí outro bom exemplo de nome inspirado pelo título de uma música. A Travessa Viola Enluarada fica na mesma Iguatemi que abriga as ruas Planeta Água, Pierrot Apaixonado, Zazueira e Vereda Tropical.
A Rua Minie, em Ferraz de Vasconcelos, fica próxima das ruas Mickey, Clarabela, Gastão, Pato Donald e Tio Patinhas. E da Praça Peter Pan. E, é claro, da Rua Walt Disney. Não contesto a homenagem, mas acharia muito justo encontrar por aí uma Avenida Mauricio de Sousa que fosse cruzada pelas ruas Mônica, Cebolinha, Penadinho, Bugu, Xaveco, Capitão Feio e Floquinho.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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