O primeiro passo

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 10 de maio de 2006

O primeiro passo, o mais árduo e sofrido de todos. Como começar? Esta é sempre a dúvida que me inquieta. “Entre o sim e o não, existem inúmeros talvez“, sentenciou mestre Cortázar. Mas permanece a questão: como começar uma página do nada, como desvirginar este branco na tela e em minha cabeça?

Sempre detestei redações com tema livre; perdia ao menos um terço do tempo buscando algum assunto interessante pra escrever. Pode parecer paradoxal queixar-se da liberdade total para escrever, mas é que sou um cara que precisa de limites pré-definidos para produzir melhor. Não sei, se eu tivesse disponível todo o tempo do mundo para escrever, provavelmente deixaria meus neurônios jogando papo fora na mesa de bar do meu cérebro. Como todos sabem, papos de barzinho nunca chegam a nenhuma conclusão. E, se chegam a algum lugar, está todo mundo bêbado demais para se lembrar de alguma coisa no dia seguinte.

Essa dificuldade transparece em minha vida amorosa. Como abordar uma menina por quem estou a fim, e que não conheço? Sou um cara desajeitadamente tímido, e só Deus sabe o quanto isto atrapalha minha vida. Nunca sei como dar o primeiro passo, ou seja, como passar uma cantada em uma mulher que nunca vi na vida. Afinal de contas, o que dizer? “Oi, você vem sempre aqui?” Não, necas de pitibiriba: jamais teria a cara de pau suficiente pra dizer algo tão bóbvio. Mas e aí, perguntar o quê? Qual o telefone do cachorrinho?

Só sei que foram raríssimas as cantadas que dei na minha vida. Mesmo porque só passo uma quando sei que terei 101% de chances de dar certo. OK, eu nunca levei um fora, e fui correspondido todas as vezes que pus pra fora o Don Juan que existe dentro de mim. Mas vou me gabar do quê? Pois sabe-se lá quantas boas e deliciosas oportunidades já perdi na vida por conta da inaptidão e falta de cara-de-pau pra paquerar incautas mundo afora. Um dia preciso incutir em minha mente a sabedoria adquirida através de certa letra de pagode cujo refrão nos ensina: “relaxa, senão não encaixa“. Sábias palavras. Afinal de contas, pensar demais enlouquece.

E assim, de elucubração em elucubração, tergiversando como quem não quer nada, feito aqueles cronistas que faziam da falta de assunto o assunto de suas colunas, eis que o texto se escreveu com a naturalidade de quem caminha sem pensar na distância a ser percorrida.

- Oi, você vem sempre aqui?

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Comentários do Blog

  • Fernando

    tudo tem sempre que terminar com mulher, né? Mas uma coisa é certa, pensar enlouquece. Principalmente depois de um fora.

  • Ian.

    fazendo um testículo.

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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