O mar e eu

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 09 de junho de 2009

A primeira lembrança que tenho do mar é de uma manhã numa praia em Salvador, cidade em que minha irmã, legítima japaraguaia baiana, nasceu. Meu pai trabalhava no polo petroquímico de Camaçari, e eu tinha uns quatro anos de idade quando nossa família passou uma manhã numa das praias do litoral baiano. Mas a minha primeira recordação é muito vaga. As ondas levaram o baldinho azul que eu usava para brincar; elas nunca o devolveram para mim.

Naquele já distante ano de 1977, meu pai mudou de emprego e nossa família se mudou para São Paulo, esta cidade caótica onde moro até hoje. Nos dias de trânsito, rotina básica de qualquer paulistano, sinto que estou ilhado no meio de um mar de carros sem horizonte. Meu convívio com o mar, pois, é bissexto e atém-se às viagens que faço de vez em quando a lugares geograficamente mais privilegiados, nos quais é possível vislumbrar uma paisagem em que a gente pode sentir a brisa sem passar pela barreira de prédios e outras construções que bloqueiam os nossos sentidos.

Apesar de a minha primeira experiência direta com o mar ter sido um pouco traumática, não tenho qualquer motivo para me queixar. Muito pelo contrário; lugares como Porto de Galinhas, a praia de Copacabana e a Ilha do Mel ou recordações como as do cruzeiro em alto mar que fiz no final do ano passado pagariam com juros e correção monetária qualquer balde que as ondas porventura levassem de mim. Pois é nas oportunidades em que descanso meus olhos no horizonte sem fim do mar, enquanto caminho por areias macias muito mais convidativas aos pés do que a dureza de asfaltos e calçadas rachadas, que repouso ouvindo o barulho das ondas indo e vindo e percebo o quanto o mar é fundamental para nossas vidas. Intuitivamente, quase sem recordar que três quartos deste planeta são cobertos por oceanos cada vez mais poluídos e vilipendiados, com peixes e outras espécies marinhas ameaçadas de extinção.

* * * * *

P.S. 1: 8 de junho é o Dia Mundial dos Oceanos. Foi o mote para que minha amiga Lucia Malla convidasse blogueiros para relatarem histórias pessoais nas quais o mar fosse cenário ou personagem. Citando suas palavras: “O nosso intuito: trazer para a esfera pessoal, da nossa vida diária, os oceanos. Mostrar o quanto eles estão próximos da gente. A sobrevivência saudável dos mares do mundo depende do quanto a gente se importa com eles hoje - e para se importar, precisamos estar conectados de alguma forma.” Confira outras histórias sobre o mar no blog Faça a Sua Parte.

P.S. 2: O vídeo que ilustra este post integra o documentário HOME - O Mundo é a Nossa Casa, resenhado por Alex Primo em seu blog.

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Comentários do Blog

  • Elisa

    A um ano e alguns meses atrás minha vida era o mar. Morava no litoral, em Santos e sempre q podia ia na praia.. agora, morando do outro lado do mundo.. só dpois de um ano inteirinho eu pude visitar a praia novamente, eu não imaginava o quanto gostava de tudo isso.. e o quanto aquele cheirinho de praia me faz falta.. aiai..

    Hm.. e falando em mar me lembra do filme: “Waterworld - O Segredo das Águas”.. um filme de 1995 q mostra a vida de seres humanos vivendo no mar.
    É um filme bem legal.. mais não acho que eu gostaria de viver assim.. rs

    bjs

    R: Elisa, eu definitivamente não gostaria de viver como os personagens de “Waterworld”. ;)

  • http://www.novoaemfolha.com christiana

    Legal ver o seu depoimento e o da Lucia,a intimidade dela e o convívio quase quase diário, só interrompido em algumas fases da vida, e você, justamente o contrário. Eu, carioca e filha de marujo, que às vezes passa meses sem ir à praia e às vezes se larga no mar até enrugar a alma, fico em algum ponto entre vocês; nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
    Hoje tá nublado, mas bem deu vontade de dar um mergulho.
    Beijos.

    R: Christiana, você está no meio termo que ainda quero atingir. Um beijo!

  • http://metamofosepensante.wordpress.com _Maga

    Mar é uma coisa legal, né? Eu que tenho Mar até no nome não poderia achar algo diferente. O Mar nos liga com algo ancestral, é uma delicia poder refletir ao seu som, ao seu toque… Você citou praias perfeitas, onde o Mar se apresenta com toda a sua magia, expandindo pelas pessoas que passam pela orla. Se tem algo transcedente neste mundo, o Mar, com certeza, encabeça a lista.
    Um grande abraço

    R: Disse tudo, Marcela. E em maiúsculas mais do que justificadas!

  • http://boorntobewild.blogspot.com/ Mariana

    Eu moro em Camaçari, emoção. Hahaha

    R: Mariana, você tem sorte. :P

  • http://www.adrianaviaro.blogspot.com Dri Viaro

    Passando pra conhecer o blog, e desejar um otimo feriado
    bjssss
    aguardo sua visita :D

  • http://www.downloadbr-d.blogspot.com/ Irineu

    Muito interessante essa postagem, valeu.

  • http://www.floresnajanela.com Nathália

    Eu fiquei sabendo do convite a escrever sobre o mar no dia do oceano, mas, mesmo que parecesse uma oportunidade perfeita para dar vida ao meu cada vez mais parado blog, não teria como fazê-lo: eu nunca vi o mar. Sim, já o vi na tevê, mas nunca de perto. Oportunidades já tive, mas nunca senti a necessidade de conhecê-lo. Tenho é medo de água. Não sei nadar. Isso nos separa. Mas lendo seu texto eu até tive vontade de ir a uma praia um dia. Quem sabe?

    R: Nathália, não deixe que seu blog torne-se um lago estanque! Sobre praias, confesso que não sou grande fã de águas salgadas; me satisfaço em caminhar pela orla, pisando meus pés na areia e vendo a paisagem sem fim. Pra nadar, sou muito mais uma piscina. Aliás, nunca é tarde para aprender a nadar, moça! :D

  • olé

    Só queria partilhar convosco este texto:

    http://vaipaselva.blogspot.com/2009/06/meu-brasil-brasileiro.html

    R: Obrigado por sua narrativa sobre o seu “Pedro Bala”.

  • http://www.twitter.com/diegogoes Diego Goes

    As imagens do documentário são belíssimas. Assisti a um (pequeno) trecho on YouTube. Acho totalmente válido ele ter sido disponibilizado na íntegra no site.

    Em relação ao mar, não sou normal. Não me lembro de jeito nenhum nem da primeira vez que eu fui à praia e nem a última. Sinal de que não vou com tanta frequência assim, infelizmente.

    Abração!

    R: Diego, não siga o meu péssimo exemplo. Se eu passo 20 dias por ano em contato direto com o mar, é muito para a minha média habitual. :| Um abraço!

  • http://poucaspalavras.wordpress.com Jazz

    Existem sim. E lindas e de olhos claros. São raras, mas existem.

    Existem também as naturalmente burras, o que não significa que são loiras.

    À propósito, uma outra dúvida paira… existem Andrés inteligentes? Já me disseram que sim, mas que nunca conheci nenhum…

    :P~~~~~~~~~~~~~~

    R: HAHA! Jazz, deixo o espaço dos comentários aberto para as manifestações dos Andrés, sejam eles loiros ou não. ;)

  • http://www.ressacamoral.com Tylon Maués

    Tinha uns dois ou três. Colocaram eles no zoo, mas infelizmente não se reproduziram.
    Dizem que uns exemplares foram vistos na floresta, mas sabe como esse pessoal do interior é?, inventa cada coisa.

    R: Senhoras e senhores, para quem ainda não o conhece apresento-lhes o nobilíssimo Tylon Maués. B)

  • http://blogdovinny.wordpress.com/ Vinny

    Eu sou um cara de hábitos predominantemente noturnos. Não é segredo que não sou fã de praias, não na forma como a maioria das pessoas as desfrutam (torrando debaixo do sol, destruindo a pele e se predispondo ao câncer).

    Mas eu sou carioca, inclusive nasci numa ilha, a Ilha do Governador. Não há coisa mais prazerosa e relaxante do que andar descalço na praia, sentindo a areia nos pés e ouvindo a arrebentação das ondas. Mesmo sendo alguém da noite, para mim não há visão mais bonita do que o pôr-do-sol numa praia.

    R: Vinny, creio que poder caminhar de noite em uma praia é uma das melhores coisas da vida.

  • André

    Imagino que Camaçari nos anos 70 fosse uma coisa engraçada para uma família nipônica. Um amigo de meu irmão conta sobre uma amiga da mãe dele que foi morar em Salvador na referida década. Era só ela andar na rua que era parada por uma multidão de baianos, curiosos com a visão de uma japonesa na boa terra. Paravam, tiravam foto e provavelmente muitos ganharam aposta com aqueles que duvidavam que houvesse japonês na Bahia.
    Meu pai conta também um fenômeno semelhante quando ele e um colega nissei foram fazer um trabalho em Santana do Livramento nos anos 60. Bastava verem o cara nas ruas que gaúchos e uruguaios paravam-no na rua, tiravam foto, essas coisas.

    Uma de minhas primas pernambucanas teve aula no colégio com um professor que adorava ver o sol nascendo no Atlântico. Esse era um fenômeno engraçado, pois o cara foi morar no sertão pernambucano quando era criancinha. Para ela e o resto do pessoal do colégio não chamava atenção, mas ver um japonês no Recife ainda hoje é algo como enterro de anão. Imagine então um japonês falando com forte sotaque pernambucano…
    Na Copa de 58, Pelé experimentou fenômeno de curiosidade alheia muito parecido, pois era bem difícil ver um negro ao vivo na Suécia. Aonde quer que fosse aquele que seria rei, um monte de gente juntava para vê-lo, mesmo sem saber quem era e apenas pela curiosidade. E que não confundamos essa curiosidade, que é inocente e envolve apenas a surpresa de ver alguém de fenótipo bem diferente da média do lugar, com racismo.

    Quando estive no Pará, ficava uma dúvida entre todos nós ao ver o pessoal de lá: existe alguma paraense naturalmente loira? Não vi nenhuma, muito menos o pessoal que comigo estava. Já ouvi falar que existe, ainda que não tenha visto. Se comprovações existirem, que aqui sejam passadas. Grato.

    R: André, é verdade. Japoneses morando nos anos 70 em Salvador eram poucos. Só não sei se o pessoal chegava ao ponto de pedir para tirar fotos ao lado da gente, porque minhas lembranças desse período são escassas. Só recordo de coisas pontuais, como um dia em que quebrei um copo na sala e levei uma baita bronca do meu pai, ou dos gritos que eu dava na frente de casa, só pra ouvir o eco da minha voz no bairro em que morávamos. Quanto à sua observação sobre paraenses loiras, espero que os leitores deste blog que moram na terra de Remo e Paysandu esclarecem melhor a sua dúvida. []‘s!

  • http://cartadaitalia.blogspot.com Allan

    Dez anos depois que o mar levou o seu balde azul e vocês foram morar em São Paulo, eu casei, saí daí e fui morar em Salvador. Por um lapso de tempo não nos cruzamos.
    [Sim, lapso, pois depois de uma certa idade tudo é relativo. Só o mar continua no lugar.]

    R: Sábias palavras, Allan. Tudo passa; mas o mar permanece, em meio ao lapso de tempo da nossa passagem por estas bandas.

  • aninha

    Minha primeira experiência com o mar foi muito cedo, pois eu morava no Rio quando nasci. Não lembro da primeira vez. Mas lembro de uma cena bem antiga: eu no colo do meu pai lá no fundo, onde as ondas se formam. Meu pai em pé e eu achando as ondas gigantescas! E eram mesmo, pelo menos para mim. Eu amo o mar. Meu sonho é morar no litoral, como meus pais hoje em dia. Como diria Chico Buarque: “A cidade não mora mais em mim”. Beijos, meu amor :]

    R: Um dia a gente precisa ter uma casinha na praia. ;)

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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