O Dia da Pizza
Por Alexandre Inagaki ≈ segunda-feira, 10 de julho de 2006
Ah, a pizza. A fim de celebrar a existência deste maravilhoso quebra-galho que, via delivery, sacia diariamente a fome de milhares de pessoas como eu (um cara que na culinária segue à risca a máxima de jamais gastar mais tempo cozinhando do que comendo), instituiu-se em São Paulo o Dia da Pizza, comemorado neste dia 10 de julho. Sim, eu sei que essa efeméride é mais uma invencionice de políticos que pouco fazem além de batizar ruas e criar comemorações esdrúxulas. Porém, há certo sentido em se comemorar uma data como esta, dedicada a este singelo prato que representa salvação dos inaptos de fogão, mote de congregação das famílias nas noites de domingo, motivo de perdição dos gulosos de plantão.
Para além do lugar-comum de se afirmar que em Sampa as pizzas são até melhores que as preparadas na Itália, as estatísticas da cidade são impressionantes: São Paulo possui cerca de 6 mil pizzarias, responsáveis pelo preparo de aproximadamente 43 milhões de discos por mês, que equivalem ao consumo de uma tonelada de massa por dia.
Existe certa polêmica acerca da origem da pizza. Embora quase todos pensem que o prato é invenção italiana, registros históricos apontam os egípcios como pioneiros ao criarem uma massa à base de farinha com água. Babilônios, gregos e hebreus também assavam massas misturando farinha de trigo e água em fornos rústicos ou tijolos quentes. No entanto, foram os napolitanos os primeiros a acrescentar temperos como manjericão a um disco de massa assado.
A pizza, no formato que conhecemos hoje, surge no século XVI, quando os tomates, oriundos da América, são introduzidos na culinária européia. Considerado alimento dos pobres do sul da Itália, era preparado com ingredientes baratos como alho, peixes e queijo. No começo do século XX imigrantes italianos trazem para a América o disco que nunca sai das paradas. Em 1905, surge a primeira pizzaria nos EUA: a Lombardi’s. No Brasil, diversos nomes são apontados por historiadores como os primeiros pizzaiolos destas plagas, dentre eles o napolitano Carmino Corvino, que abriu sua Dom Carmenielo no bairro do Brás, o espanhol Valentín Ruiz e o também napolitano Giovanni Tussato, cuja pizzaria, a Babbo Giovanni, mantém atividades até hoje.
Após aterrissar na Terra Brasilis junto com os imigrantes italianos em tempos nos quais esta nação começava a se urbanizar, a pizza, típico alimento de cidades industrializadas, acompanhou as transformações pelas quais passou o país ao longo das décadas. À semelhança da miscigenação racial que caracteriza este país, as pizzas produzidas por aqui passaram a ser conhecidas pela incrível variedade de formatos e sabores que acompanham as características de cada região brasileira. Na Bahia, por exemplo, a Companhia da Pizza serve pizzas de rapadura. Em Curitiba, o Avenida Paulista Pizza Bar oferece a seus clientes uma versão coberta com farofa crocante, sorvete de creme e, creiam-me, pétalas de rosas. Em Belém, estabelecimentos como Santa Pizza e Xícara da Silva incluem em seus cardápios pizzas de jambu com camarão. Em Manaus, ingredientes como tucumã e cupuaçu entram na composição.
As inovações não se limitam às receitas, que incluem ainda as indefectíveis bordas recheadas com ingredientes como catupiry, presunto, alho frito, gergelim, goiabada e doce de leite, dentre outras invencionices. Restaurantes como a Pop Pizza de Belém e a Casa Buzzi de Curitiba servem pizzas quadradas. O Pedal e Graminha vendem pizzas por metro. No Margherita, a atração principal é a double decker, pizza de dois andares.
No entanto, não encontrei ainda nenhum lugar capaz de reunir tantos sabores e combinações inusitadas como a Pizzaria York, do Rio de Janeiro. Seu rodízio de pizzas ficou notabilizado pela variedade expressionante de sabores: a York oferece aos seus clientes pizzas de: lasanha, bobó de camarão, strogonoff de carne (e de frango), mousse de maracujá, coração de galinha, carne seca com catupiry, hambúrguer com fritas, morango com chantily, cachorro-quente (com direito a batata palha), churrasco, paçoca, queijo minas e, pasmem, Chokito (imagino que deva ser, pois, uma pizza coberta com leite condensado caramelizado coberto com flocos crocantes e o delicioso chocolate Nestlé). Pergunta que faço encarecidamente aos leitores deste blog: alguém que conhece a York poderia deixar seu testemunho nos comentários??
Para encerrar este post, nada mais adequado do que comentar esta típica expressão brasileira: “tudo acabou em pizza”. Reza a lenda que a origem dela remonta à década de 50, e envolve os diretores da Sociedade Esportiva Palmeiras, time criado pela colônia italiana paulistana. Certo dia, após calorosa discussão envolvendo os diretores do clube, todos acabaram indo parar em uma pizzaria no Brás. Muitos cálices de vinho e fatias de pizza depois, os envolvidos na briga acabaram por deixar a confusão para trás, sem maiores conseqüências. Provém daí o significado popular da expressão “acabar em pizza”: algo que desemboca em nada e não chega a lugar algum. Qualquer semelhança com fatos reais…
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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