Natal antecipado e meu fio de Ariadne
Por Alexandre Inagaki ≈ quarta-feira, 26 de abril de 2006
A vida é, definitivamente, boa e cheia de possibilidades. Pois e não é que meu Natal foi antecipado, graças à generosidade de uma leitora deste blog?
Há algum tempo, quando o Orkut criou um espaço nos perfis pessoais para a publicação de listas de presentes, eu, que não tinha mesmo nada a perder, criei uma wishlist no Submarino. Na época, comentei a lista en passant neste blog sem fomentar maiores expectativas, e fui surpreendido com presentes de dois leitores especialíssimos, que me deram, respectivamente, uma camiseta e o livro O Caçador de Pipas. Fiquei, ao mesmo tempo, feliz pra burro (por constatar que haviam leitores que achavam que eu realmente merecia ganhar alguma coisa pelos textos deste blog) e desconcertado com tamanha generosidade. Mas nada poderia me preparar para a surpresa que me aguardava no dia de hoje.
Pois a Srta. M., que mora nos Estados Unidos, mandou-me o melhor pacote-surpresa que já recebi na vida: uma caixa contendo quatro CDs, dois DVDs, um mini-pôster de cinema, diversas fotos, uma lanterna king size e um carinhoso cartão me agradecendo pelos textos que venho publicando na Internet nestes anos. E aí eu me pergunto: como fazer jus a tamanha generosidade? Porque os presentes foram escolhidos a dedo, a saber:
a) Grace, o primoroso álbum que Jeff Buckley, a quem dediquei este artigo publicado no Burburinho, lançou em 1994. Mas não ganhei uma edição qualquer; fui agraciado com a edição especial de 10 anos do lançamento do CD, que inclui um CD extra com bonus tracks, out-takes e duas maravilhosas versões alternativas de “Dream Brother”, uma das melhores canções de Buckley. De quebra, esta “legacy edition” veio com um DVD que inclui cinco videoclipes, imagens das gravações de Grace e entrevistas com o produtor e os músicos da banda. Quem conhece a obra deste músico precocemente falecido aos 30 anos de idade certamente está babando de inveja com este presente, que inclui ainda um encarte com textos do jornalista Bill Flanagan, que faz uma precisa definição de Grace: um álbum inspirador e, mais do que isso, fomenta aspirações artísticas, uma vez que é o tipo de obra que faz com que músicos busquem superar seus limites, a fim de comporem canções tão poderosas quanto “Last Goodbye”, “Eternal Life” ou “Lover, You Should’ve Come Over”.
b) The Forgotten Arm, de Aimee Mann, considerado por mim o melhor álbum internacional de 2005. Como tudo que veio neste pacote, o CD que recebi veio em edição especial, incluindo livreto em formato americano reproduzindo o belíssimo encarte, no qual as letras são transcritas como se fossem capítulos deste verdadeiro filme sonoro que narra a história de amor protagonizada por John, um boxeador alcoólatra, e Caroline. Difícil não acompanhar esta trajetória musical esculpida com esmero por Mann sem se emocionar, principalmente diante dos capítulos 9 (“That’s How I Knew This Story Would Break My Heart”) e 12 (“Beautiful”).
c) E como se não bastasse, não é que fui presenteado também com Live at St. Ann’s Warehouse, box composto por um CD e um DVD que registram o show no qual Aimee Mann resgata as pérolas de sua carreira solo desde a saída do grupo Til Tuesday? Depois de sua audição, é fácil compreender porque o cineasta Paul Thomas Anderson buscou inspiração nas crônicas musicais de Mann a fim de criar os plots e personagens de sua obra-prima Magnólia.
d) diversas fotos da belíssima atriz italiana Monica Vitti (na foto ao lado, em A Noite, de Michelangelo Antonioni), que eu havia citado em um velho texto intitulado Questões de Timing, além de um mini-pôster de As Rainhas, comédia de 1966 em que Vitti simplesmente rouba a cena, e isso em um filme co-estrelado por outras musas como Claudia Cardinale e Raquel Welch .
e) uma lanterna king size, de cor azul, da marca Maglite, sobre a qual tergiversei em e-mail que mandei para a Srta. M. logo após ter aberto esta verdadeira caixinha de surpresas: “quando eu estiver imerso no abismo da noite e o rastro da minha lanterna traçar o fio em que eu, equilibrista bambo, caminhar na escuridão, pensarei na senhorita como se fosse Ariadne a me salvar do minotauro“.
Depois de receber um kit maravilhoso desses, o mínimo que poderia fazer é dedicar um post à Srta. M, a quem agradeço publicamente. E, enfim, voltar a atualizar este espaço após semanas de completo sumiço. Até porque preciso fazer jus a uma das melhores surpresas que já tive em toda a minha vida, e que me deixou mais bobo e desconcertado do que o habitual… :)
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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