Nada a Declarar
Por Alexandre Inagaki ≈ terça-feira, 02 de dezembro de 2008
Em 2003, o cineasta e músico Gustavo Acioli dirigiu um curta-metragem chamado “Nada a Declarar” que encena uma entrevista realizada com um artista, interpretado por Bruce Gomlevsky, que verbaliza um discurso cínico, desconcertante, provocativo. É um filme que ao mesmo tempo é espelho - distorcido ou cristalino - de seus espectadores e estímulo para reflexão sobre nossas atitudes diante da barafunda da sociedade brasileira.
Ressalto, em especial, este trecho: “Toda vez que tentei me adequar à realidade fui extremamente infeliz. Você começa a pensar nas dificuldades, em tudo que pode dar errado… É a sabedoria dos medíocres. A segurança, o bom senso. Você não pode ousar, tentar fazer diferente. Quando você depende do reconhecimento alheio é uma merda. Você não pode simplesmente existir, a sociedade é que tem que dizer que você merece existir e ser feliz. E é nisso aí que os medíocres dominam, porque eles são a maioria. Então, isso aqui virou o Império da Mediocridade. Bom é ser igual, bom é ser ruim. É por isso que rapidamente o sujeito tem que ser capaz de desenvolver um certo cinismo pra poder sobreviver. O cinismo é como uma vacina. Na vacina, a pessoa é infectada por um vírus inócuo pra desenvolver a imunidade contra o vírus de verdade. O cinismo é assim: você fica meio acanalhado pra poder não adoecer no contato com a canalhice. O sujeito chega aos 30 anos e já é um amargurado, pelo simples fato de ser brasileiro. Porque ele vive numa realidade que é antibiótica, massacrante”.
Discorde-se ou não das falas sarcasticamente arrogantes do protagonista de “Nada a Declarar”, uma coisa é certa: o curta de Gustavo Acioli é uma obra extremamente necessária de ser vista e discutida nestes tempos céticos e cínicos, repletos de gente que enche a boca para reclamar do governo, das instituições e de outras pessoas, mas não faz simplesmente porra nenhuma no objetivo de tornar este mundo um lugar um pouco mais decente e habitável.
P.S. 1: O roteiro completo deste curta-metragem está disponível no site da revista Caros Amigos.
P.S. 2: Recomendação de leitura que fiz no Twitter, e que faço questão de reiterar aqui: “Nós e nossas pequenas sinas”, texto de Pedro Jansen sobre sofrimentos injustificados, umbiguismos e histerias.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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