Dando o exemplo

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 23 de agosto de 2012

Gostaria de questionar o axioma máximo do cinema novo! Chega de ideias na cabeça, câmeras na mão e merdas na tela. Essa postura já nos foi útil, foi. Tecnologia disparou e trouxe a popularização de câmeras funcionais para a realização cinematográfica, forçou um aumento na velocidade da narrativa e Hollywood reforçou as novas modalidades, com grande qualidade e o esmero habitual. A realidade do cinema atual é: sem qualidade visual, nada vai para a frente. Sem a pluralidade narrativa e a mentalidade descaradamente comercial, nosso cinema continuará no mesmo lugar. Às vezes agradando ao público brasileiro, às vezes ganhando prêmios, mas nunca se estabelecendo como linguagem e, acima de tudo, produto rentável. Quebrar esse ciclo mortal, sempre reabastecido por cineastas deslumbrados e com aquela vontade tresloucada de fazer crítica social, de usar o cinema como arma contra o sistema, é algo que o Brasil precisa. Mas só o trabalho de base é capaz de mudar. Só o surgimento de uma nova geração, treinada com a mentalidade comercial, disposta a contar histórias variadas, a servir o roteiro pelo que ele é, ou seja, cineastas capazes de transformar essa prática de extremos – entre os robustos filmes independentes e a força Global – em um verdadeiro negócio. Já tem gente fazendo isso. Quero ser um deles e liderar pelo exemplo.

Estudar cinema em Hollywood reforçou algumas certezas, quebrou vários castelinhos de cartas e abriu os olhos para nossa grande falha. Cinema aqui é negócio, gira uma cidade inteira com seus vídeo clipes de rap, boybands, curtas-metragens e uma enormidade de longas indies. O cinema nunca pára, pois não é opção, é algo lucrativo. As grandes produções dos estúdios de cinema e TV são relevantes, entretanto, perdem em número e volume para esse miolo habitado por diretores, cantores, atores, técnicos e roteiristas promissores (ou não). Com orçamentos bem menores, ou inexistentes, todo mundo precisa gastar uma coisa e aí entra a estrutura ideal de Los Angeles. Centenas de empresas alugam equipamento, fornecem extras (parece pizzaria, você pede o número desejado, vem o orçamento, você paga e as pessoas aparecem para, simplesmente, fazer nada no seu set), serviços de iluminação, alimentação, transporte, segurança, absolutamente tudo.

Por conta do alto volume, e da mentalidade do “prefiro receber menos e girar meu inventário do que cobrar os olhos da cara e só atender grandes produções”, o mercado tem opções mais baratas e acessíveis para todos os níveis de demanda. O exemplo mais clássico: a “tarifa fim de semana”. Basicamente, você pode alugar equipamento de ponta – o mesmo dos estúdios grandes – durante um fim de semana pagando apenas uma diária, ou seja, pega o equipamento na sexta-feira e devolve na segunda-feira cedinho pagando um terço do valor. Desnecessário dizer que esses são os dias mais produtivos da cidade, com filmes saindo pelo ladrão, especialmente pelo fato de as grandes produções não filmarem aos sábados e domingos.

Precisamos de bons exemplos e, acima de tudo, de gente disposta a brigar – e levar porrada no processo – para mudar o jeito como o cinema é feito por aí. Tudo aqui é procedimento. Por que não fazemos o mesmo desde as aulas nas, ainda poucas, escolas de cinema?

Tolice comparar Hollywood com o Brasil? Não! É aprendizado para vislumbrar as possibilidades e compreender como ajudar o nosso mercado a se desenvolver melhor. Estive no Brasil em janeiro e tentei alugar equipamento. Recebi orçamentos entre R$ 15 e R$ 30 mil POR DIA para algo que, em LA, custaria US$ 3 mil por 3 dias. A grande fluxo de produção aqui só é possível por conta da compreensão das empresas e do interesse em gerar clientela a longo prazo. E aqui não há a separação burra do Brasil: produções de comerciais de TV, com orçamento gigantesco, e o resto. Tentei argumentar sobre ser um curta, para a escola, sem orçamento e não houve papo. “Ah, mas a companhia tal pode querer em cima da hora e não posso deixar contigo, vou ficar no prejuízo”. É um direito da empresa, porém, pode apostar que nunca mais ligo para eles. Aqui é o oposto, o dono da locadora de equipamento quer te ajudar para que, num próximo filme, independente do tamanho, você volte a trabalhar com ele e continue a encher os bolsos dele de dinheiro. Um ponto a favor dos paulistanos, porém, muitas dessas locadoras brasileiras têm pouco equipamento, às vezes apenas um único set, e optam por manter o armazém cheio na esperança da chegada de um trabalho grande, em vez de incentivar a produção de curtas. Isso também faz a diferença. Aqui há disponibilidade de equipamento em grande escala. Isso é inegável, por conta das décadas de aperfeiçoamento e investimento.

Em termos práticos, o que pode ser feito? Primeiro, espalhar essa modalidade de negócio e esperar que chegue aos ouvidos de quem pode mudar, ou nos de quem precise da mudança e modifique as conversas e as exigências. Segundo, mostrar o resultado desse sistema quando ele funciona em benefício da obra e do mercado brasileiro. E como fazer isso, se as locadoras estão em LA e não em São Paulo, Rio, BH, PoA ou Fortaleza? Fazendo bons filmes em Hollywood e mostrando no Brasil!

E é isso que estou fazendo. Apostei todas as fichas num projeto financiado por crowndfunding brasileiro. The Flower Shop (Pétalas Urbanas) é um drama de época, com equipe internacional (Brasil, Itália, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos) que será filmado em Los Angeles entre os dias 20 e 23 de setembro. Uma breve sinopse: “Nesse cativante drama familiar, acompanhamos um dia na vida de Caesar, um jovem seduzido por uma tulipa misteriosa e lançado numa jornada que vai lhe reunir com sua amada avó e permitir que sua vida comece para valer.”

A arrecadação tem sido muito boa e graças a mentes criativas e corajosas como o Inagaki e o Pensar Enloquece, tenho a oportunidade de explicar as razões malévolas por trás desse curta-metragem. Precisamos de bons exemplos e, acima de tudo, de gente disposta a brigar – e levar porrada no processo – para mudar o jeito como o cinema é feito por aí. Tudo aqui é procedimento. Por que não fazemos o mesmo desde as aulas nas, ainda poucas, escolas de cinema? Optei por uma história de época, que começa na Segunda Guerra Mundial, para defender a tese de nosso cinema pode, e deve, se aventurar em outros gêneros, em outros assuntos, que demos parar de pensar apenas nas nossas fronteiras. Não deveria haver nada de errado com o desejo de ser comercial, mas sempre esbarramos nisso. A crítica pede isso. E todo mundo acredita. O Brasil é grande mais para um único tipo de cinema (de sucesso, digo). Algumas anomalias têm quebra isso, felizmente, mas Tropa de Elite e O Palhaço – assim como seus contemporâneos – fazem pouco para iniciar a mudança. O problema está na base. E a base é o curta-metragem.

Entretanto, como todo idealista devoto a uma causa muito maior que ele, fazer tudo sozinho é impossível. Tenho a vontade, a história certa, a equipe profissional e o preço a meu favor. Falta o orçamento e, por isso, aproveito para pedir sua ajuda. Há uma série de prêmios – todo mundo ganha alguma coisa, desde nome nos créditos até Curso Particular de Roteiro de Curta-Metragem, no qual o aluno escreverá seu próprio roteiro e o deixará pronto para ser filmado – para cada faixa de colaboração. Essa mudança não pode nem começar a acontecer se só uma pessoa acreditar nela. Esse é o espírito. É assim que The Flower Shop vai alçar voo e atingir todos os seus objetivos, com o envolvimento do cinéfilo brasileiro, da pessoa que quer ver o fim do preconceito nativo ao filme nacional, daquele simples espectador que quer uma boa história vista pela sua ótica.

Cada cena tem um objetivo. Cada símbolo uma função. Cada filme precisa ter uma meta. Eu quero começar algo belo e transformador. Quero dar o exemplo e ver inúmeros outros terem mais sucesso do que The Flower Shop e quero ter orgulho de ver isso acontecer. Entretanto, sozinho, não vou a lugar algum. Abandonado aos velhos dogmas e ao monopólio da Globo, o cinema brasileiro também não vai. Sou apenas um diretor disposto a fazer a sua parte. Até onde você está disposto a ir para melhorar esse quadro? Conto com a sua ajuda! Não só com meu filme, mas com todos os outros filmes que você puder ajudar e incentivar! O like do Facebook não basta, somente sua AÇÃO conta!

* * *

P.S. do Inagaki: Quando o Fábio me falou desse projeto, não pensei duas vezes em apoiá-lo. Afinal, na condição de leitor há anos de suas excelentes matérias e entrevistas sobre o universo do cinema, publicadas em veículos como a Veja e o Brainstorm 9, boto fé no sucesso do projeto The Flower Shop. E, assim, convido todos os leitores do Pensar Enlouquece a apoiarem esta empreitada. Visite http://soshollywood.com.br/theflowershop/colabore.php, saiba como se tornar um produtor do filme e conheça as recompensas oferecidas a quem doar valores. Dependendo da quantia que você doar para o projeto, você ganhará coisas bacanas que vão da inclusão de seu nome nos créditos finais até um jantar com a equipe brasileira do filme em 2013, convite VIP para a estreia em um festival de cinema no Brasil e o crédito de Produtor Executivo. :)

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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