It’s the End of the World as We Know It (And I Feel Fine)

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 24 de outubro de 2007

O vazamento do filme “Tropa de Elite”, o Radiohead dizendo que você pode pagar o quanto quiser (“it’s up to you”) para baixar o novo álbum deles, as discussões sobre a blogosfera realizadas pelos BarCamps e BlogCamps promovidos por todo o país, tudo está interligado a um novo cenário de mudanças que serão cada vez mais constantes daqui por diante.

Estes são tempos nos quais álbuns de canções já não precisam existir fisicamente. Mas será que a música e (principalmente) os artistas um dia independerão em definitivo de quaisquer suportes físicos, sejam eles CDs, vinis, fitas K-7 ou qualquer coisa que venham a inventar um dia desses? No excelente dossiê sobre música digital que Alexandre Matias e Marcelo Ferla escreveram para a Bizz (finada revista que, sinal dos tempos, só existe atualmente em formato de site) em novembro de 2006, o cantor Wado, que disponibiliza em sua página oficial todos os seus álbuns completos para download, afirmou: “CD é como uma festa de 15 anos, uma legitimação, um pedigree. Serve mais pelo status necessário para te levarem a sério. E no fim do show muita gente compra disco. Isto é um fato”.

A declaração de Wado me fez lembrar da experiência do pessoal do site de cultura pop Omelete. Há mais de sete anos no ar e com uma média de 700 mil visitantes únicos por mês, lançou sua versão impressa em março deste ano. Em entrevista concedida a Gustavo Miller para o jornal Estado de S. Paulo, a dupla de editores do Omelete, Érico Borgo e Marcelo Forlani, afirmou: “A revista deu mais status para nós. Muita gente que não acredita no poder da internet mudou de idéia assim que viu a versão impressa nas bancas de jornal”. Borgo comentou ainda que, com a revista, muita gente que ignorava o Omelete passou a convidar o staff do site para lançamentos e eventos: “Graças a ela, parece que só agora perceberam que a gente existe. É louco, mas a gente está jogando as regras do mercado”.

Não creio que esse estado de coisas descrito por Érico Borgo perdurará por muito tempo. A polêmica Estadão x blogs foi a face mais exposta de um embate que, na realidade, não possui razão de ser: o futuro reside na convergência e integração de mídias, e está intrinsecamente ligado à internet. Hoje em dia todos os principais sites de jornais como Folha de S. Paulo, O Globo e Zero Hora possuem sua área de blogs. Veículos que antes mantinham áreas fechadas a assinantes agora estão disponibilizando todo o seu conteúdo gratuitamente, vide o americano The New York Times e o espanhol El País. O periódico hispânico deu mais um passo adiante: também criou La Comunidad, serviço gratuito de hospedagem de blogs. Tolas e ultrapassadas serão as assessorias de imprensa ou distribuidoras de filmes que regularem credenciais para um Omelete, um Judão (audiência de mais de 3 milhões de pageviews por mês) ou um Jovem Nerd (visitado diariamente por cerca de 40 mil usuários únicos) “só” porque são blogs ou sites e não publicações impressas.

Julio Daio Borges, criador e editor do Digestivo Cultural, revista cultural eletrônica no ar desde setembro de 2000, é autor do artigo “Publicar em papel? Pra quê?”. Nele, Julio fala especificamente do desejo que jovens escritores possuem de ter um livro publicado por uma editora, mas creio que suas palavras podem ser aplicadas a blogueiros, músicos, videomakers e quaisquer outras pessoas que encontraram na rede virtual a interface ideal para a divulgação de seus trabalhos:

Desde os anos 90, existe um negócio chamado internet (não sei se você sabe…). E desde os anos 2000, ou desde antes, existe um negócio chamado blog. O autor, qual seja, não precisa mais esperar por um editor para ter seus escritos publicados. Nem precisa de alguém para distribuir, para divulgar. Só precisa ter leitores; ou seja, como qualquer escritor (publicado ou não), precisa ir conquistando leitores aos poucos. E esse é hoje o verdadeiro teste para dizer se um autor é bom ou não (se quiserem, publicável ou não): a audiência on-line. Na internet, no blog, ninguém está olhando para a embalagem que envolve seus escritos; ninguém está ligando para o local onde sua obra foi exposta. Se você for bom, você vai ter leitores, ponto.

Estes são tempos nos quais você precisa estar constantemente preparado para as mudanças. Basta lembrar, citando alguns exemplos de sites e gadgets que soam essenciais mas inexistiam há pouco tempo, que o iPod foi lançado em outubro de 2001, o MySpace surgiu no final de 2003, o Orkut em janeiro de 2004 e o YouTube, em fevereiro de 2005. É necessário, pois, saber se adaptar constantemente, e os músicos sabem bem disso. Os (bons) exemplos são muitos: Radiohead dando aos seus ouvintes a opção de pagarem quanto desejarem pelos downloads de seu álbum “In Rainbows” e faturando entre US$ 6 a 10 milhões com as vendas. Trent Reznor anunciando no blog do Nine Inch Nails que sua banda está livre de contratos com gravadoras após 18 anos de carreira. Prince distribuindo seu novo álbum gratuitamente aos leitores de um jornal inglês. Madonna largando a Warner após 25 anos para assinar com uma empresa organizadora de shows, a Live Nation.

Mas e se você não é nenhuma Madonna ou Radiohead? Bem, aí que tal se pautar nos cases de Lily Allen, cantora inglesa que ganhou reconhecimento por causa do seu MySpace, Ok Go, que graças ao clipe de “Here It Goes Again” no YouTube angariou fama mundial e mais de 23 milhões de visualizações de seu vídeo, Fresno, banda gaúcha que contabilizou mais de 250 mil downloads de suas músicas em mp3 no site Trama Virtual e hoje tem shows marcados em todo o Brasil, ou Terminal Guadalupe, que seguiu o exemplo dos canadenses do Barenaked Ladies e vende seu álbum mais recente “A Marcha dos Invisíveis” no formato de pen drive?

Estes são tempos nos quais independemos de intermediários. Escritores formam leitores através de seus blogs e publicam seus livros de forma independente, em iniciativas como a d’Os Viralata. Vídeos feitos por gente como a trupe brasiliense do VaiVc, ou o brasileiro mais visto no YouTube, Guilherme Zaiden, cujas nove produções foram visualizadas mais de 8 milhões de vezes, ganham reconhecimento sem necessitar de Rede Globo. Blogs sustentam-se prescindindo de patrocínios, evitando incorrer na mesma dependência financeira que decretou o final do No Mínimo. E assim são as coisas. Não adianta, pois, chorar por causa da pirataria derramada, como fez José Padilha, diretor de “Tropa de Elite”. Eu me pergunto por que os produtores do filme brasileiro mais visto e comentado dos últimos tempos não aproveitaram o hype, lançando produtos como camisetas e bonés (que muitos espectadores certamente teriam comprado se houvesse uma “barraquinha” próximo às bilheterias dos cinemas) ou o boneco do Capitão Nascimento concebido pelo Silveira.

Na mesma matéria em que Matias e Ferla falam da música na era pós-CD, Adriano Cintra, frontman da banda brasileira atualmente mais conhecida no exterior, Cansei de Ser Sexy, afirma: “Quero mais é que as pessoas troquem minhas músicas. Dinheiro eu faço com editora e show. Não com venda de disco”. E Gabriel, dos Autoramas, complementa: “Fazemos shows em lugares onde nossos CDs nunca chegaram e todo mundo cantou as músicas. Quando ficou mais fácil o acesso ao nosso som, a quantidade de shows aumentou muito”.
Inspire-se no exemplo do movimento punk: “do it yourself”. O mundo definitivamente mudou, e eu me sinto muito bem com isso.

* * * * *

P.S. 1: Publiquei no Overmundo um texto que fala especificamente sobre a mudança do status quo musical: “O CD Agoniza, Viva a Música!”.

P.S. 2: O título deste artigo foi surrupiado de um clássico do R.E.M., faixa 6 do álbum “Document”, gravado e lançado em 1987. Confira aqui um vídeo no YouTube que exibe a letra de Michael Stipe, certamente uma das mais difíceis de se cantar em todos os tempos.

P.S. 3: O Digestivo Cultural promoveu uma série de quatro mesas de debate intitulada “A Palavra na Tela: Jornalismo, Literatura e Crítica Depois da Internet”, com a intenção de discutir os impactos da internet na produção escrita do Brasil. O último encontro ocorrerá hoje, a partir das 19 horas, na Casa Mario de Andrade. Clique aqui para ouvir o áudio dos três debates já realizados e informar-se sobre como participar da mesa de discussões desta noite.

P.S. 4: Edney e Knuttzclicaram aqui e votaram em Pensar Enlouquece como Melhor Weblog em Português no prêmio The BOBs. E você? ;)

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

Categorias:

Comentários do Facebook

Comentários do Blog

  • João Alves

    O que importa não são os valores, tipos e estilos mas sim o porque

    das coisas o modo que ela serão apresentadas e onde encontra-las. O importante e
    a interação que se forma dentro de cada receptor.

    Tudo vai depender da variavel emocional. E comum encontrar
    individuos que não se manifestam diate de tantas novidades.

    Mas o melhor de tudo isso e saber quer o ser se movimenta
    seja fisicamente ou ou dentro do seu proprio universo criativo

  • Humberto de C.Rezende

    Ina,

    Um prazer concordar e discordar de você.

    Pretendo continuar nos debates.

    Discussão de alta qualidade. Fico MUITO FELIZ.

    Obrigado pela oportunidade de discussão e parabéns pelo blog.

    Valeu, Humberto. Espero que você continue concordando e discordando à vontade, é um prazer encontrar leitores esclarecidos que possuam a capacidade de incitar discussões sem perder as estribeiras, como costumeiramente acontece em blogs. B) Um abraço e volte sempre!

  • http://www.velhasvirgens.com.br Alexandre Cavalo

    O artigo do Alexandre é pertinente.

    Nòs das Velhas Virgens, liberamos as músicas no site a mais de 10 anos em sistema de rodízio. Quem tiver um pouco de paciência grava tudo sem precisar pagar o cd e isso nunca atrapalhou as vendas. Só aumentou o número de shows.

    Hoje com isso nós temos 100 shows por ano, uma Griffe de roupas com a marca velhas Virgens (que corresponde a 50% do nosso faturamento), todos os cds em catálogo, 3 dvds, vários CDrs e DVDr a preço de pirata pra quem quiser uma mídia barata, 2 livros, muitos acessórios (canecas, chaveiros, palhetas, abridores etc) e um site com mais de 50 mil visitações/mês.

    Tudo isso sendo vendido numa loja na internet criada por nós e na loja itinerante (levamos uma loja e montamos em todos os shows).

    Falo isso pra que quem trabalha com música possa visualizar o momento de muitas oportunidades em que vivemos.
    Claro que o CD tem sua morte mais que anúnciada, mas em nenhum momento
    vivemos tão bem de música como agora e parece que a tendência é melhorar.

    Fazemos nosso trabalho sem precisar necessariamente de uma distribuidora ou gravadora. Cuidamos de tudo no nosso negócio. Transformamos a banda das Velhas Virgens numa marca e numa empresa sustentável e rentável para todos os músicos.

    Persistência, trabalho e um bom show podem resolver a vida de um músico!

    Uau, show de buela! Bacana encontrar alguém do Velhas Virgens interagindo neste post: um ótimo exemplo de banda que mostra que não é preciso ter o suporte de uma gravadora para continuar produzindo sons de qualidade e mantendo um negócio merecidamente rentável. Parabéns, xará, a você e a todos do grupo!

  • Társis

    Muito bom o post, Alê. E vou te contar. O próximo nessa lista de “foda-se” vai ser o Windows.. hohoho..

    Abs! PS: Esse teus comments sem formatação continuam uma droga… Culpa do teu amigo Ediney? Tsc tsc..

    Társis, mea culpa: preciso dar uma ajeitada na formatação destes comentários realmente… :oops:

  • Humberto de C.Rezende

    Ina,
    Acho que você não foi ao ponto da parte da discussão por mim proposta.

    Uma produção para sustentar todo um mercado industrial tem sim que ser de alto orçamento. Hoje em dia no Brasil há dois problemas básicos quanto às produções ruins, ou somente cults do cinema. A maioria delas não se paga em nenhuma das janelas de exibição. Uma delas é o cinema de autor. Não há uma diferenciação do cinema de autor e cinema comercial no país. Ambos são extremamente necessário. Mas um parque industrial cinematográfico e sustentável só é possível construir em cima de um cinema comercial. Vide Bollywood (cinema extremamente barato, mas comercial). E o outro fato é o cinema de baixo orçamento. A qualidade dos filmes de baixo orçamento deixa a desejar para a fruição do espectador, que simplesmente não a consome. Quantos filmes você vê de Bollywood, sendo um dos maiores centros de produção cinematográfica do mundo?

    Quanto à música, é válido observar o meu comentário. Ela sim pode ser compartilhada. Eu me inclinei no meu comentário anterior à produção literária e à produção audiovisual, e não à produção musical. COmo eu mesmo citei e repito aqui com outras palavras: o mp3 não é o produto final do músico. A performance é que paga o cachê. Com isso o argumento do Radiohead, que fizeram uma alta grana com doações entra dentro do esperado, ou ainda na classe dos Fait Divers. Duvido que Pato Fu consiga 1/2 e doações disponibilizando seus mp3 na internet ( a receita da banda virá somente de shows).

    Voltando às suas citaçõe de réplica ao meu comentário. Os filmes que você cita, os não blockbusters, não alimentam uma indústria de produção capaz de se manter. Os exemplos americanos que você cita são compreensíveis e dignos de nota, no entanto, são fenômenos. Fenômenos, mais do que capacidade de criação em série para se manter um vencimento de centenas de funcionários todo mês. OU cinema não pode ser um emprego?

    Quanto aos exemplos brasileiros e de baixo orçamento citados todos eles serviram para que o indivíduo fosse lançado para o MAINSTREAM da produção. Visibilidade. Quanto à isso não há como negar a possibilidade do Youtube e dos blogs. Web 2.0 dá sim possibilidade de divulgação, olha lá o Guilherme Zaiden, também.

    Concordo que orçamento milionário não substitui talento. É tudo conteúdo. “It is all about content” como é a máxima americana. Mas existe uma qualidade mínima de exigência que o consumidor de audiovisual necessita para que ele pague o produto e isso não se limita à uma câmera de alta qualidade vendida em qualquer esquina por 10 mil reais. Existe uma produção de adereços e de treinamento de profissionais que custa caro. MUITO CARO e que via internet ainda não se encontrou um modelo de negócio que permita isso, no audiovisual.

    Agora uma coisa é válida quanto ao Andrew Keen em relação ao Culto ao Amadorismo. Se o consumidor médio se inclinar totalmente para as plataformas via internet e não for encontrado um modelo de negócio para sustentar a indústria do AudioVisual(CINEMA) a máquina de sonhos se retrairá e viveremos de filmetes de fundo de quintal feitos com orçamento de mesada do papai. Adeus Star Wars ( de Facto como já disse G.Luccas em relação ao cinema), Olga ( filme brasileiro), Shrek e toda a sua saga.

    Quanto à literatura você nem sequer replicou. Aqui há uma possibilidade do “Pague o que quiser” funcionar, visto que não há um corpo de centenas de pessoas por trás da ESCRITURA de um livro. O autor ou autores podem se beneficiar sem a mediação da editora ou do papel impresso.
    Agora Cinema? É aqui que mora a questão central da minha preocupação e do meu ganha pão mensal.

    Um grande abraço, e um prazer em debater com você.

    Humberto, creio que você comete um equívoco ao afirmar que produções de qualidade são necessariamente ligadas a altos orçamentos. Não são filmes com ursos polares falantes que sustentam um grande estúdio, até porque blockbusters demandam altos custos com publicidade no cabo-de-guerra para que esses filmes vultosos consigam se pagar. Basta recordar o caso de “O Portal do Paraíso”, produção que custou US$ 40 milhões, rendeu “ínfimos” US$ 3 milhões nas bilheterias e levou à bancarrota a United Artists em 1980. Outro exemplo: a finada Orion Pictures, que produziu “O Exterminador do Futuro” e “Platoon”, filmes que não impediram a falência de mais um estúdio. Creio que é um raciocínio simplificador afirmar peremptoriamente que apenas longas com grandes orçamentos sustentam uma indústria cinematográfica. Se fosse assim, todo o cinema independente norte-americano não sobreviveria e não existiria Festival de Sundance. E isso pra ficarmos apenas no cinema dos EUA.

    Não sei se você chegou a conversar com algum músico: a renda principal deles, muito antes dos tempos de Mp3, nunca foi oriunda dos royalties de vendas de álbuns. A grande fonte de renda de qualquer banda vem dos shows. Não apenas dos ingressos, mas também dos produtos vendidos na hora, dos quais 100% são destinados aos músicos (ao contrário das porcentagens exíguas em cima do preço final, no qual a parte mais substancial vai para a gravadora). É por isso que bandas como Violins, Terminal Guadalupe e Teatro Mágico disponibilizam suas músicas em arquivos Mp3 em seus sites: não é porque eles são generosos ou estão podendo rasgar dinheiro, e sim porque eles sabem que, quanto maior for a divulgação de suas canções, maior é o número de shows agendados e de fãs angariados graças à internet.

    Já abordei o assunto literatura no post e em algumas réplicas aos comentários, Humberto. Não vou repetir as mesmas observações a cada comment. Até porque o caso é que é ingenuidade imaginar que todo escritor ganha para se dedicar aos seus livros. Em um país no qual Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes e João Cabral de Mello Neto, só para citar alguns exemplos, trabalharam como funcionários públicos a vida toda para garantirem seus sustentos, creio que nem é necessário comentar que a veiculação de obras literárias na internet auxiliará menos em termos financeiros do que em termos de veiculação de novos nomes, formação de leitores e feedback para que escritores possam aprimorar seu estilo e usar a rede como um laboratório literário online.

    Do mesmo modo, profissionais raramente vivem só de cinema no Brasil, e o cenário muda pouquíssimo com a proliferação da internet no país. Desde sempre o cinema brasileiro sobrevive de ciclos em ciclos (Vera Cruz, Atlântida, Cinema Novo, pornochanchadas, Embrafilme), e os profissionais da área buscam sustento em atividades correlatas como publicidade ou televisão. Não há o que perder, só a ganhar com a difusão de obras audiovisuais pela internet: mais pessoas passam a conhecer curtas-metragens graças ao YouTube ou ao excelente site Porta Curtas, enquanto antigamente só assistiriam a essas obras em mostras especiais de alcance limitado. Do mesmo modo, novos nomes são revelados sem depender das seleções de festivais que sempre obedecem a critérios subjetivos.

    O fato é que cada vez mais a indústria hollywoodiana recorre a outras fontes de renda a fim de sustentar seu modelo de negócios. Em especial no caso de blockbusters, os exemplos que são sempre citados por você: filmes como “Shrek” e “Star Wars” originam contratos de licenciamento de produtos milionários. Superproduções como “Homem-Aranha 3″ e “X-Men 3″ tiveram overdose de personagens a fim de propiciar mais action figures. E assim o mainstream sobrevive. Em compensação, basta assistir aos filmes que estão sendo exibidos atualmente na Mostra Internacional de Cinema de SP para constatar que felizmente a sétima arte não é composta apenas de blockbusters, e que cinema de qualidade não depende unicamente de orçamentos milionários. Um abraço e obrigado por suas contribuições para o debate.

  • http://boxdeideias.blogspot.com Andrea

    Você tocou em vários assuntos muito pertinentes e sobre cada um daria para ficar horas debatendo a respeito. Concordo com quase tudo sobre o que vc disse e acho ainda que a internet abriu frentes de mercado para muitos jornalistas, como eu. Os blogs, sites, fotologs, entre outros, são hoje a janela do mundo.
    Não é a toa que fico muito mais tempo navegando nos noticiários gerados pela web do que no jornal impresso que chega por baixo da porta.
    É a unificação da aldeia global chegando por aí.
    Bjs.
    PS: Fiz um link seu no meu blog.

    Obrigado pelo link, Andrea. E boa sorte: na condição de minha coleguinha de profissão, bem sei que a situação anda complicada… Um abraço.

  • http://macaxeirageral.net Bruno Alves

    Excelente texto, Inagaki!
    Cheguei aqui pelo título do post, que é de uma música do R.E.M. que adoro.
    Primeiro: também custo a acreditar que ainda não atinaram para a excelente oportunidade de negócios que poderiam ser gerados em cima do Tropa. Por isso os norte-americanos dominam o mundo do entretenimento…
    Segundo: essa choradeira de artistas contra a pirataria é ridícula. Certa vez, numa matéria de tv, vi gente como Alcione, Jorge Aragão e Zeca Pagodinho, entre outros, participando da destruição de cd’s e dvd’s piratas apreendidos. Meu primeiro pensamento foi: cacete, esses artistas são populares, tem um grande público, mas o preço dos seus produtos são inacessíveis para a maioria das pessoas - um dvd da marrom chega a custar 50 reais!!!
    Eles tinham mais era que discutir com suas gravadoras novas formas de baratear o produto, permitir downloads, sei lá. Aposto que ia ter mais resultado do que ficar vendo trator passar por cima de montanhas de mídias piratas e aplaudir no final.
    Ah, valeu pela dica do Wado. Fui lá conferir o som, gostei e já linkei no meu último post.
    Grande abraço!!!

    Valeu pelo feedback, Bruno! Aliás, Wado é um dos melhores compositores da nova geração. E excelente letrista: dá inveja criativa ver um verso como “uma raiz é uma flor que despreza a fama”, por exemplo.

  • http://www.dahoraonline.com.br/ Luana Lacerda

    Eu mesmo tenho diversos CDs da época em que eu comprava, mas hoje prefiro abaixa-los em mp3.
    Tenho o CD da minha música preferida, porém dá “muito trabalho” colocá-la para tocar, é mais fácil abaixa-la e ouvi-la em mp3, já que fico o tempo todo no micro.
    A música perdeu seu estado físico, as gravadoras têm que entender isto.

  • http://www.evelynmontesano.blogger.com.br Evelyn Montesano

    Olá, é a primeira vez que visito esse blog e gostei muito. Parabéns!!!!! Incrível sua capacidade de falar sobre mil assuntos ao mesmo tempo e conseguir linkar todos. Num tempo em que as pessoas falam, falam e muitas vezes não dizem nada ser lógico e coerente como você e conseguir colocar um ponto final nos assuntos da forma que você faz é louvável. Sou atriz e modelo e tenho um blog profissional através do qual divulgo a minha carreira, iria gostar muito se você visitasse o meu blog e me deixasse um conentário. Ele está repleto de fotos, notícias de jornal e comentários de fãs e amigos. Um grande beijo, Evelyn Montesano.
    http://www.evelynmontesano.blogger.com.br

  • http://jccbalaperdida.blogspot.com JULIO CESAR CORREA

    Depois do susto, agora é tempo de adaptação. A fase do deslumbre está passando. O momento requer maturidade e não devemos descartar os meios convencionais. Eles ainda têm força e servem como complemento.
    gd ab

  • Ana Paula

    Ina, super concordo com seu post. e não sei se gosto mais do post em si ou do debate que gera nos comentários. Excelentes reflexões.

    E fiquei toda assanhada com a menção à Gaiola de Tuins aí do lado! Cara, é uma honra e uma emoção. Eu sou uma tuim ainda sem nick, mas daqui a pouco pouso lá na gaiola pra piar um pouco com as companheiras.
    abraços

    Ana, você estará em excelente companhia por . Um abraço!

  • http://existologopenso.wordpress.com Nanci

    Inagaki,
    interessante o que você falou sobre distribuição de música atualmente. Isso era uma tendência que eu acompanhava de perto quando tive um blog sobre música.
    Lembro que George Michael também disponibilizou suas músicas para download em seu site oficial. Isso fora os que você citou.
    Eu honestamente fico muito feliz com isso. CD é uma coisa cara, é fácil de piratear por aí e não dá retorno quanto à qualidade musical X vendagem. Se desse, o Latino seria “o cara” da música.
    Tenho muito orgulho de carregar meu MP3 player por aí com músicas devidamente “downlodeadas”.
    Por isso que eu acho que esse é o caminho das pedras da música. Se salva quem melhor divulgar seu trabalho na Internê.
    Um abraço!

  • http://gabrielaz.blogspot.com Gabriela

    Talvez o maior problema seja querer tentar analisar as produções atuais a partir da lógica que imperava antes da popularização de Internet, blogs, p2p e tudo o mais. Os tempos mudaram. Novos tempos requerem novas lógicas para serem compreendidos.

    Sábias palavras, Gabriela. E novas lógicas que constantemente são desafiadas e precisam ser revistas diante das novas tecnologias.

  • http://www.dabusca.blogspot.com Fabio Rocha

    Caraca, mas quanto anúncio! :)

    Mea culpa, Fabio! Ando fazendo experiências por aqui… :roll:

  • Chrystianne Leite Pimentel

    Oi, Ina. Conheci seu blog há apenas três dias, mas já posso dizer que seus textos, além de bem escritos, são um estímulo ao debate sadio de idéias. Eu, mais do que muitos dos seus leitores, que acredito serem mais jovens, vivo a fase “o fim do mundo como nós conhecemos”. A diferença é que “ainda não me sinto bem com isso”. Não porque seja contra a democratização da cultura e ao mundo de possibilidades que surgiu com a internet, mas porque tem sido difícil absorver tantas mudanças em tão pouco tempo. A questão da pirataria, por exemplo, ainda me deixa confusa. Há poucos dias, tive esse mesmo debate que você manteve com o Ricardo com meu filho, de 20 anos, e estudante de cinema. Pra quem, como eu, sempre aprendeu a seguir a lei, fica difícil comprar um cd ou dvd pirata sem dor na consciência. Mas tenho que admitir, realmente não dá pra tampar o sol com a peneira. A internet veio pra ficar e pra democratizar os conhecimentos… e quem não respirar esses novos ares, vai morrer sufocado.
    Em tempo: Pretendo usar esse seu texto para um debate em sala de aula. Tudo bem?
    Em tempo 2. Essa é a primeira vez que participo de um debate na web. Sinal dos tempos.
    Um abraço.

    Chrystianne, eu não compro CDs nem DVDs piratas. Mas não tenho nada contra quem faz isso, e tampouco sou “santinho”: baixo, sim, filmes raros ou que estão fora de catálogo, em especial de diretores como Kenji Mizoguchi e Carl Dreyer, e episódios de desenhos que não encontro em lugar algum, como Dom Drácula ou Superaventuras. ;) Mas enfim, o caso é que tudo está mudando em uma velocidade tão vertiginosa que mal temos tempo de refletir com a necessária profundidade no dilúvio vertiginoso de mudanças e informações que ameaça nos afogar, e este artigo foi uma tentativa de botar a cabeça pra fora desse mar. Nenhuma conclusão pode ser definitiva, e os comentários postados têm sido valiosos para aprofundar estas questões da contemporaneidade. Seria um enorme prazer, pois, ver este post utilizado em uma sala de aula. E convide, por favor, seus alunos a participarem da discussão. Não chegaremos a nenhuma conclusão, mas um embate de idéias é sempre bem-vindo. =) Um abraço!

  • Humberto de C.Rezende

    Bem, o texto é interessante, mas há um equívoco quanto à produção audiovisual e literária.

    O alto valor agregado de um filme industrial e de valor competitivo no mercado não consegue ser pago com downloads a preços de pastel, ou ainda com doações “It’s up to you” em lugar nenhum no mundo, muito menos no Brasil.

    Um filme de alto valor mercadológico está sim relacionado à um grande orçamento. Tanto para ser gasto em publicidade ( nisso desenvolvendo a indústria dos licenciamentos) quanto para a própria produção. A alta capacidade de influenciar o mercado, principalmente através da livre concorrência, do cinema americano se dá à alta capacidade de investimento sobre os títulos, produzidos com uma qualidade impecável. Tenho uma máxima que é, “qualquer filme americano ruim é bom de você assistir, por isso que já passou tantas horas vendo sessão da tarde.”

    Um exemplo de filme de alto orçamento e que ainda virá a ser um grande sucesso de bilheteria é o “Golden Compass”. Estimado em 150 milhões de dólares o filme tem até Urso Polar FALANTE! E não um cenário pobre de uma loja de velharias do Cheiro do Ralo.

    Não se pode comparar nunca a indústria audiovisual com a indústria fonográfica. A indústria fonográfica ganha no giro não da mercadoria, mas a mercadoria é a própria máquina de divulgação para o produto final que são os músicos nos shows. A indústria Cinematográfica o produto é o próprio objeto do download, sem remeter a nenhuma outra instância de consumo ou de transferência de pagamento pelo objeto.

    Há tentativas de se fazer a distribuição audivisual em outras plataformas, como o Joost. Mesmo assim,a publicidade entrecorta a linguagem do filme, e ainda não é suficiente para criar receita para o investimento em novas produções de alto valor agregado.

    O mesmo pensamento serve para os livros. O livro lido pela internet não gerará receita para que o escritor se dedique a novos livros e pesquisas. O videomaker vai passar a vida fazendo seus experimentalismos sem poder se profissionalizar porque todo o seu conteúdo só tem vazão pelo tubo dos bits.

    Não é que tudo isso não seja contornável, mas não há, ainda, uma solução para o audiovisual de alta qualidade e de padrão elevado com grande valor agregado para que se coloque na internet produtos em lançamento. Vamos ver sim, séries dos anos 70. Filmes brasileiros sem carreira mercadológica no Joost, ou micro episódios feitos de fundo de quintal no Youtube.

    Não devemos esquecer que isso tudo pode destruir a máquina de fazer sonhos sim, pois a Web 2.0 pode rebaixar à mediocridade a produção artística, como sugere Andrew Keen.

    Humberto, se você acha poucos os 6 a 10 milhões de dólares que o Radiohead arrecadou com o modelo de “doações ‘It’s up to you’”, para citar sua expressão, eu realmente gostaria de saber qual o valor dos “pastéis” a que você se refere. ;)

    Outra ressalva que faço à sua linha de pensamento: você cita em suas argumentações filmes de altos orçamentos, na casa das centenas de milhões de dólares. E se esquece que o cinema não se limita a blockbusters. Mesmo entre as produções americanas é possível encontrar sucessos de bilheteria com orçamentos bem mais modestos para os padrões hollywoodianos. Um exemplo recente à mão: “Little Miss Sunshine”, que custou US$ 8 milhões (quase 19 vezes menor do que o supracitado “Golden Compass”) e arrecadou mais de US$ 100 milhões no mundo. US$ 8 milhões é muito? Ok, que tal lembrarmos de “El Mariachi”, filme de estréia de Robert Rodriguez, produzido com 7 mil dólares e que angariou mais de US$ 2 milhões nas bilheterias?

    Vamos pegar exemplos brasileiros? Ok, citemos Tapa Na Pantera, curta-metragem da Ioiô Filmes visualizado milhões de vezes no YouTube, que não somente tornou merecidamente reconhecido o nome da atriz Maria Alice Vergueiro (que graças ao vídeo foi contratada para fazer comerciais e ainda ajudou a divulgar suas atividades teatrais) como chamou a atenção para o nome do cineasta Esmir Filho muito mais do que o prêmio no Festival de Cannes que havia recebido pelo roteiro do curta de “Alguma Coisa Assim”? Recomendo ainda que você assista ao curta George Lucas In Love, outro bom exemplo de filme lançado por intermédio da internet, e que ajudou o diretor Joe Nussbaum a conseguir visibilidade e financiamento para seus projetos. Nenhum orçamento milionário, aleluia, é mais valioso do que talento.

    Felizmente a tecnologia tem tornado cada vez mais acessível a músicos, cineastas e artistas em geral produzirem obras de excelente qualidade técnica em suas próprias casas. Caso, por exemplo, do pessoal do Pato Fu, a quem entrevistei para uma matéria que fiz para a Rolling Stone, e que produz seus álbuns em um estúdio caseiro desde “Ruído Rosa”, de 2001. Se você precisar de outro exemplo, corra atrás das músicas do Peruano Saudita, projeto de Eduardo Fernandes que toca todos os instrumentos e produz suas músicas com o software Cubase SX3.

    Quanto a Andrew Keen citado por você, eis um teórico do apocalipse que gosta de falar mal de blogs e da internet mas vende as próprias obras por intermédio de um… blog pessoal. Difícil levar a sério um cara desses, ainda mais depois de assisti-lo tentando explicar suas muitas contradições de pensamento.

  • Brigatti

    Desculpa colocar água no ponche da festinha de vocês, mas… a banda toca num ritmo lento. Eu, como jornalista, não encontro o que procuro em blogs. Encontro em sites de publicações impressas consolidadas e um dos motivos é exatamente o que levou os caras do Omelete a migrarem para o papel: legitimidade. O conteúdo do Omelete impresso pode ser o mesmo do site, mas o mercado - e os profissionais que vivem em função dele - ainda enxergam com melhores olhos o que pode ser tocado. Retrógrado, mas real, gostem ou não. Porque o que se encontra ainda na maioria dos blogs é puro ego, achismo, repercussão do que já foi dito e sínteses do que já foi publicado na “velha” mídia que, acredito, está muito longe de ser substituída. As assessorias, por exemplo, podem não regular mais credenciais para sites, mas SEMPRE privilegiarão os veículos impressos consolidados, isso é fato. A capacidade dos blogs de causar ondulações nesse lago chamado opinião pública é mais limitada do que querem aqueles que se colocam como seus luminares. Por último, Julio Daio acha que vivemos o sonho socialista. Queridão, audiência de internet não dá dinheiro tampouco garante publicação - basta perguntar para o Bia e seu Sexo Anal, que é uma ótima obra, teve trocentos downloads e nem chegou perto de ser publicado por uma grande editora. É preciso comer muito feijão ainda para virar essa mesa.

    Brigatti, você que costuma ler blogs deve saber perfeitamente que há casos e casos. Citei nominalmente três veículos que fazem por merecer reconhecimento: Omelete, Jovem Nerd e Judão (que conseguiu, diga-se de passagem, credencial de imprensa para cobrir um evento no exterior como a Comic-Con). A carta aberta à Mostra de Cinema de SP que o site Cinética publicou (site de cinema devidamente “consolidado”, diga-se de passagem) é apenas mais um capítulo desta história. E o caso é que a mesa vai virar, inevitavelmente. Não por causa dos milhares de sites e blogs amadores, miguxos e de qualidade tão sofrível quanto centenas de publicações impressas que eu e você encontramos em qualquer banca de revista perto de sua casa, mas pelos Omeletes, Judãos e muitos outros blogs e sites que fazem por merecer um reconhecimento maior. Em tempo: se infelizmente o Biajoni não foi publicado, basta recordar os muitos outros casos de escritores que veicularam seus trabalhos na internet e que foram publicados por grandes editoras, como João Paulo Cuenca, Ana Maria Gonçalves, Cecília Giannetti, Daniela Abade e Daniel Galera, para lhe mostrar que a interface virtual dá visibilidade, sim, a muitos autores de talento. O ritmo desta banda não é tão lento quanto você tenta demonstrar, Briga.

  • http://infoideianahora.blogspot.com/ cris

    AMEIIIIIIIIIIIII
    SEMPRE POSSO ENTRO….ADOROOOOOOOO
    BJS

  • http://attu.typepad.com/universo_anarquico/ tina oiticica harris

    Já votei-ha-ha. E voltei ainda em tempo parcial. Gostava tanto do REM. Sou uma anta jurássica, “salsinha” mas acredito que meu legado seria em CD-ROM com links vivos, como se fosse um blog. Acho que daria o maior samba ou indie rock, como queira.

    Já havia lido no feed e voltei pra dar pitaco no post. Quero que meu blog registre a língua brasileira e sua história em CD-ROM. O custo se o :mestre: de rede cooperar é de menos de 2 dólares e poupa árvores.

    Vamos ver desta vez, ein, Alexandre Inagaki?

    Thanks pelo voto e pela volta, Tina!

  • http://www.gafieiras.com.br dafne

    olá alexandre,
    venho sempre no seu blog, mas nunca comentei nada. mas é que esse assunto muito me interessa. sou jornalista, trabalho bastante com músico e tenho um site, o Gafieiras (www.gafieiras.com.br), e acabamos de subir uma entrevista/conversa com alexandre matias, pedro alexandre sanches e ricardo alexandre (ex-bizz) sobre jornalismo, música e outras bossas. dá uma olhada lá. abraços e parabéns pello blog.

    Ótima matéria mesmo, Dafne, meus parabéns! Já havia recomendado a leitura dela no Twitter. =)

  • http://novo-mundo.org Rafael Slonik

    O pessoal do Garagem69 está dando CDs. Acho que até cabe citá-los por aqui.

    Com aquela história de falar mal deles e ganhar um CD, né? Xá comigo, tratarei do assunto em breve. Valeu pela dica, Pequeno Gafanhoto!

  • http://www.laedevolta.com.br/blog Ricardo

    Ei Ina, desculpa pelas palavras fortes usadas. Não quis ofender e acho que pisei na bola ao usá-las.

    Olha, eu concordo com o que você disse no texto e nos comentários mas acho que esta é só parte da resposta. Por isto questionei a solução dos brinquedos. Não que ela não vá ajudar mas sozinha talvez não mude muito as coisas.

    Não tenho números ou argumentos para discordar de seus fatos então vou absorvê-los por enquanto. Gostaria entretanto de ter mais tempo para saber se a pirataria está aumentando ou diminuindo no Brasil e se artistas estão mesmo sendo beneficiados com isto.

    No caso do technobrega, por exemplo, eles próprios avaliarem a experiência deles como positiva pode não significar muita coisa. Afinal eles podem não ter outro parâmetro de referência para buscar algo melhor.

    Eu nunca disse que a fonte de renda dos produtores de cinema deveria apenas ser oriunda das bilheterias. Aliás, dada a quantidade de patrocinadores que aparece no ínicio, eu acho que nunca foi. hehehe

    Só que apenas introduzir brinquedos no mercado também não vai resolver. Ou talvez resolva se estiver combinado a uma estratégia inovadora de comercialização do filme.

    É a mesma história do uso de Tecnologia da Informação nas empresas. Simplesmente comprar um monte de computador e instalar sistemas não tornará a empresa mais produtiva ou lucrativa. A empresa precisa mudar sua maneira de trabalhar ao usar a nova tecnologia para atingir estes objetivos.

    Encerro aqui. Não quero mais aborrecê-lo com este assunto.

    Abraços,
    Ricardo

    Ricardo, você não aborreceu não. Muito ao contrário, enriqueceu a discussão sobre a indústria cultural na era digital com suas observações. Se todos discordassem do que escrevo com argumentos como o seu, seria um prazer me envolver em debates dentro dos comentários. :) Um abraço.

  • http://www.itaucultural.org.br Marco Aurélio - Revista Continuum Itaú Cultural

    Inagaki, veja a mensagem que deixei em [email protected]. Aguardo seu contato, queria te convidar para uma colaboração na revista Continuum, do Itaú Cultural, da qual sou editor.
    Abraços,
    Marco

  • http://www.laedevolta.com.br/blog Ricardo

    Ina,

    Obrigado pela resposta (e pelo tempo dedicado a ela).

    Acho que não me fiz entender no meu ponto principal. De maneira alguma questiono o poder da onipresença da informação através da Internet e os exemplos brilhantes como o do Radiohead.

    Meu ponto é justamente o fato desta possibilidade exarcebar divergências sociais, culturais, econômicas e políticas que estão sendo ignoradas.

    O licenciamento de produtos de Hollywood existe desde antes da Internet. Não é por isto que ela o faz e sim pelo fato de aumentar a renda associada a um filme, o que interessa também ao governo pois beneficia outros setores da economia.

    Entretanto, isto incorre em diversos custos e riscos que nem sempre empresas no Brasil estão dispostas a arcar em função da mesma pirataria que assola o filme (mas pelo menos o filme se pagou com o financiamento do governo antes mesmo de ficar pronto).

    Eu pensei em falar da indústria das carteirinhas também pois é uma observação válida e concordo contigo. Eu sei que a indústria americana também pressiona. Do contrário estaríamos vendo mais filmes de outras nacionalidades tão bons quanto ou melhor que os americanos.

    A indústria Indiana de cinema, por exemplo, é maior que a americana em termos de filmes produzidos graças a políticas de governo que incentivaram a produção nacional através de PPPs. O dinheiro nem sai mais do governo ou de impostos aqui.

    Independente do motivo, entretanto, o fato dos ingressos terem este valor absurdo simplesmente impede muitos de irem ao cinema ou alugarem um filme. É ou não um estímulo a pirataria?

    Sobre a Internet, nem tinha entrado na questão. Mas já que você tocou no assunto, vamos a minha opinião: Os números estão melhorando, é verdade, mas é demagogia falar que os raros cibercafés que existem em favelas (quando existem) proporcionam uma experiência similar a do acesso banda larga em casa.

    Não só pelo acesso em si mas pela condição que estas pessoas possuem. A falta de conhecimentos de inglês (e até mesmo do português), o pouco dinheiro para pagar o acesso por hora, a falta de senso de propósito (acessar a Internet pra quê?), a necessidade de trabalhar em jornadas triplas, e diversos outros problemas simplesmente podam na raiz muitas tentativas de inclusão digital.

    O resultado é que só 22% da população brasileira utilizam a Internet de alguma forma e só 3% são assinantes de serviço de banda larga. Neste cenário, os números de comércio eletrônico no Brasil devem ser ínfimos. Como implementar uma idéia como a do Radiohead aqui atualmente?

    Como estes, existem muitos outros motivos que motivam e habilitam a pirataria (meu comentário anterior cita mais alguns que você não comentou). E é a origem deles que precisa ser atacada, não para resolver o problema em si mas para, como você bem disse, tornar viável o acesso a cultura a todos.

    Enquanto isto, continuo achando que idéias de produtos para filmes é uma falácia para justificar uma aparente incompetência dos empresários que não souberam ganhar dinheiro com o filme nos novos tempos.

    Abraços,
    Ricardo

    Olá Ricardo, desta vez minha réplica virá em formato de tópicos. :)

    a) o licenciamento de produtos é uma renda complementar, mas cada vez mais importante para a sobrevivência da indústria do entretenimento. Não vou papagaiar que é uma indústria anexa à do entretenimento que gera empregos, impostos, etc. O cerne da questão é o seguinte: diante do novo cenário mundial, um filme não pode depender exclusivamente da renda da bilheteria, assim como músicos há tempos não contam apenas com os royalties das vendas de discos e estão cientes de que sua principal fonte de renda são os ingressos de shows e a venda de seus próprios produtos sem quaisquer intermediários. Falácia pra mim é afirmar que, em tempos nos quais cada vez mais pessoas consomem cultura pela internet, basta “ganhar dinheiro” somente com a renda de bilheterias;

    b) dizer que a predominância dos filmes hollywoodianos no mercado é conseqüência da “pressão da indústria americana” é fechar os olhos para um fato óbvio: há mais filmes americanos em cartaz porque a demanda por eles é maior. Isso acontece aqui e no mundo inteiro. A conversa de que essa procura maior pelos enlatados americanos ocorre devido a pressões do governo americano poderia até ter um mínimo de sentido nos tempos de Nelson Rockefeller, mas vá dizer isso aos que buscam por produtos da High School Musical, CDs do My Chemical Romance e Avril Lavigne ou os filmes novos de Tom Hanks, Julia Roberts e Matt Damon. Ah, e cite um país ocidental onde as produções de Bollywood são sucesso de público. A questão na realidade é ligada ao quê o público busca, Ricardo;

    c) o sucesso do filme Tropa de Elite antes mesmo de entrar em cartaz, cujos diálogos tornaram-se bordões a ponto de viram gritos de guerra da torcida do Flamengo no Maracanã (um público no qual nem metade deles possui banda larga) mostra que a combinação internet + downloads + pirataria é capaz de popularizar qualquer item cultural que possua a capacidade de se comunicar com o grande público. Independe de supostas pressões políticas e/ou comerciais e poderia ter acontecido com qualquer produto cultural (lembrei do caso do rap “Whoop There It Is” que se transformou no grito de torcidas “Uh Tererê”).

    d) não, o caso Radiohead ainda não vingaria especificamente no Brasil. Mas, além de ter citado em meu post exemplos incipientes de bandas Fresno e Terminal Guadalupe (Ian Black cita aqui outros casos, como o do grupo Dance of Days), vale a pena falar aqui do caso do tecnobrega no Pará. Humberto Baraldi escreveu um artigo para o Guia da Semana falando da peculiar relação entre os músicos paraenses e os camelôs de Belém, principais distribuidores dos CDs que os principais artistas do tecnobrega gravam, independendo de gravadoras. Ressalto este parágrafo em especial:

    “Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas, entre agosto e novembro de 2006, prova que ao contrário da indústria fonográfica, o Technobrega não encara a pirataria como inimiga, e sim como parceira. Dos artistas do ritmo paraense, 88% nunca tiveram contato com gravadoras. E 59% avaliam que o trabalho dos ambulantes tem influência positiva em suas carreiras”.

    Ou seja: enquanto muitos teorizam sobre a pirataria como a grande vilã de toda a história, o pessoal do Pará (que tem na banda Calypso seu grande expoente a nível nacional) reverteu o processo de venda informal (vulgo “pirataria”) a seu favor. Artistas têm suas músicas divulgadas, agendam shows em vários locais do país, ganham uma porcentagem dos CDs vendidos por camelôs. O funk carioca é um outro excelente exemplo de democratização da cultura (sem julgar méritos artísticos) que passa muito ao largo de todas as discussões costumeiramente maniqueístas sobre o assunto. Mais informações sobre a “indústria do tecnobrega”, que faz da pirataria seu principal meio de divulgação, estão disponíveis aqui e aqui.

  • http://16bit.wordpress.com Fabio Bracht

    Rapaz, que aula de blog. Se todo mundo escrevesse que nem tu, essa evolução que tu diz já teria acontecido há tempos. Mandou muitíssimo bem, meus parabéns!

  • http://www.bacante.com.br Fabrício

    Oi Ina

    Legal ver você comentar das dificuldades com assessorias de imprensa que alguns veículos criados na intenet têm. Com seis meses de Bacante, temos muito boa abertura em quase todas as assessorias e os artistas que trabalham com teatro. Há uma diferenciação clara, no entanto, quando vamos a festivais internacionais de teatro, pra onde jornalistas e críticos dos jornalões são convidados e têm passagem, hospedagem e entradas para todos os espetáculos. Já a gente banca tudo, menos as entradas (e mesmo assim não é tão fácil consegui-las).

    Não julgo as assessorias. Elas trabalham com retorno financeiro mensurável na forma de clipping e, via de regra, não sabem mensurar o retorno financeiro de um veículo na internet. No entanto, já passamos por situações tão absurdas (mas ressalto, não são regra) que deixo aqui um link pra uma resenha em que a assessoria pediu que fizéssemos a crítica, antes de ver o espetáculo, para aí sim mandar convites.
    http://www.bacante.com.br/resenhas/2007/08/capito-gancho-pop-star.html

    Sobre as discussões que estão rolando aqui, acho que seria exagero vender bonequinhos do capitão nascimento. Não pq um filme não possa ganhar com isso. Mas é que acho que no Tropa de Elite, vender bonequinhos seria aproximar ainda mais o filme do universo infantil. E não acho que seja um filme pra ser visto por crianças.

    Sobre a sua discussão com o Ricardo, acho que você está certíssimo ao afirmar que na internet (independente do fato de não chegar a todas as classes e de outros problemas de democratização do meio) a informação circula (e tem que circular!) livremente. Mas discordo com veemência quando você diz que o problema dos cinemas é a carteirinha de estudante. Acho que o modelo todo do cinema como adorno de shoppings e indústria que tem que dar muito lucro é meio bixado. Acho inclusive que o cinema mal começou a sentir as dores da potência da internet. Deixa a Banda alargar mais que a jurupoca vai piar pra eles também. Ainda sobre a carteirinha, no teatro definitivamente não é o problema. Ao teatro “indústria cultural” (com artistas da globo, lei rouanet e super produções) é super incômodo a presença das carteirinhas. Tanto que a globo abriu campanha nos foyers maldizendo as carteirinhas.
    http://www.bacante.com.br/blog/2007/07/tragdia-na-comdia.html

    Mas estou mais com um texto do Sério Roveri, dramaturgo excepcional aqui de São Paulo, que comentou tudo isso no seu blog.
    http://roveriblog.blogspot.com/2007/08/cinema-mais-barato-duvido.html

    Acho que a questão é bem mais ampla que isso, mas é por aí que vai minha opinião.

    Abração, Ina

    Fabrício, antes de mais nada valeu mesmo pelo comentário. Já vi que este post renderá uns debates bem bacanas.

    Sobre a questão da mensuração de retorno das assessorias, você pode ter certeza de que, munidos do Analytics de sites como o Omelete ou o Jovem Nerd, elas conseguirão elaborar relatórios mais do que satisfatórios aos seus clientes. E isso pra não falar no retorno qualitativo de sites que atingem um nicho específico e qualificado.

    Boa a sua ponderação sobre os bonecos do Capitão Nascimento, mas na realidade eu e o Silveira nos referimos especificamente a um universo de compradores mais habituado a adquirir action figures de personagens de filmes e seriados como Lost, Star Wars, Heroes, Spawn, que não é diretamente voltado ao público infantil, e cujo público-alvo é exatamente aquele que faz compras na Nerdstore.

    Sobre o preço dos ingressos de cinema, encontrei um excelente texto sobre o assunto: Mais salas de cinema para o Brasil, escrito pelo diretor da ANCINE Nilson Rodrigues. Nele, Nilson expõe um histórico das salas de cinema no Brasil (em 1996 o Brasil tinha uma sala de cinema para cada 120 mil habitantes, enquanto os Estados Unidos têm uma sala para cada 10 mil, e o México, uma para cada 36 mil habitantes). Com o surgimento dos multiplexes e a proliferação dos cinemas em shoppings, houve um aumento do número de salas e hoje temos uma relação próxima de 30 mil habitantes por sala. Ou seja: se o cenário atual é ruim com o modelo “cinema como adorno de shoppings”, estaríamos muito pior sem ele. Não fosse por essa válvula de escape, teríamos bem menos salas, uma vez que os cinemas de bairro (com som mono e poltronas puídas) foram pro espaço diante da concorrência com a internet, as TVs por assinatura e, agora, com os DVDs piratas.

    Reitero: a meia-entrada serviu como álibi para o aumento de ingressos e penso com convicção que, se não há como fiscalizar a emissão de carteirinhas, é melhor que as meias-entradas sejam excluídas de vez. Creio que as sessões gratuitas ou a preços baixos promovidas nas salas de centros culturais, CEUs e SESCs cumprem a função de ajudar na democratização do acesso à cultura, e o preço dos ingressos para a população em geral, com a devida supervisão dos PROCONs da vida, deve ser reduzido pra todo mundo.

    Ótimas observações, Fabrício. Aquelabraço!

  • Diego Goes

    Muito bom o post, Inagaki. Concordo plenamente quando você fala que o ‘cd agoniza, viva a música!’. Nunca se ouviu tanto música como atualmente. Acho meio hipócrita os artistas dizerem que são contra a pirataria por que isso prejudica a carreira deles. Que nada! Faz é difundir ainda mais. Só ainda não entendi por que o preço do cd nunca cai, somente aumenta. Mesmo agonizando, o cd não quer demonstrar isso,rsrsrs.
    Abraço!

  • http://www.pessoaincomum.blogspot.com Jeferson Ulisses

    É Alexandre… esta é a humanidade, onde poucos vêem oportunidades onde a maioria vê loucura…
    Ainda bem que com o passar do tempo esta maioria percebe que na verdade não é tão loucura assim (principalmente as grandes organizações, que percebem que deixaram de ganhar muito dinheiro), e se abrem à novas oportunidades, permitindo que os mais medíocres também usufruam do que é realmente bom…

    Abraços

  • http://www.saberebomdemais.com Ester Beatriz

    Show de texto Inagaki!!!!
    O ponto que mencionou sobre o Radiohead disponibilizar downloads por alguma quantia, acho que deveria ser seguida por todos e inclusive para filmes. Acho que seria um grande passo pra dirimir a pirataria virtual. Sou totalmente a favor!!

    Ahhh, tomei outro baita susto com meu link aqui na lateral!!! :D
    Estou imensamente grata por tamanha honra!!!! Muito obrigada queridooo!!!Abração! ;)

    Link mais do que merecido, Ester. Um beijabraço!

  • http://www.laedevolta.com.br/blog Ricardo

    Ina,

    Acho que foi no Jesus me Chicoteia que também li este argumento do lançamento de produtos do filme Tropa de Elite como forma de minimizar os impactos negativos da pirataria.

    Entretanto, considero esta uma visão simplista que ignora os reais problemas de nossa sociedade. Lembre-se por exemplo que brinquedos, bonés, e camisas também podem ser facilmente pirateados, se é que já não foram.

    Este é só um exemplo. Colocar uma barraquinha com produtos ligados a um filme na porta do cinema passa por tantas questões que caberiam num livro.

    A questão da pirataria como um todo, aliás, envolve dimensões econômicas, culturais, sociais e políticas e precisa ser tratada considerando todas elas.

    É claro que a mentalidade jurássica das gravadoras e produtoras precisa incorporar as inovações tecnológicas mas estas, por sua vez, muitas vezes ignoram a condição social da maioria da população brasileira.

    O dilema da inovação pressupõe que é mais lucrativo adicionar novas recursos e funcionalidades a produtos já existentes (por um preço mais alto) do que baratear o produto e ampliar o mercado a uma classe que pouco pode pagar e é muitas vezes tão exigente quanto a classe mais rica.

    Há ainda o lobby da indústria americana que pressiona governo e empresas brasileiras e faz encarecer o acesso ao cinema. Quem é que pode pagar R$ 12,00 para ir a uma sessão de cinema?

    E a lei de incentivo a cultura embora louvável acaba beneficiando principalmente grandes empresas capazes de montar suas próprias fundações para obterem os recursos. Posso estar enganado pois não acompanho este mercado mas parece-me que a produção de cinema no Brasil ainda continua nas mãos de poucos.

    Tudo isto ainda é agravado pela cultura brasileira. Um exemplo típico e clássico é o famoso “jeitinho”. Como explicar o comportamento da classe média que compra DVDs piratas tendo recursos para comprar o original? Para estas pessoas, mesmo que todo o resto mude no Brasil, comprar piratas é quase uma droga, parece-me, que provoca o prazer de ter ludibriado algo ou alguém e ter se beneficiado sem ter sido “pego com a boca na botija”.

    Claro que mesmo aqui estou simplificando os fatos e ignorando diversos detalhes (por exemplo o tráfico de drogas freqüentemente associado à pirataria, o fato da Internet ainda ser um tecnologia das elites, e o fato da pirataria dar emprego a muita gente que não consegue emprego no mercado formal).

    O assunto, de fato, deveria ser levado a autoridades para que se transformasse em políticas públicas incorporadas principalmente à educação. Não acredito em soluções fáceis ou baratas mas, a longo prazo, uma bela solução pode resolver problemas em cadeia e a pirataria estaria no bolo.

    Ricardo, com todo respeito creio que simplismo é ignorar algo que é inevitável: a informação circula livremente pela internet. Músicas, filmes, seriados de TV e livros são compartilhados via Torrent e eMule, e querer conter a troca de arquivos na rede, repetindo aqui uma analogia que fiz em meu texto no Overmundo, é algo tão utópico quanto tentar curar um ferimento a bala com band-aid. Não será processando internautas escolhidos a esmo aqui e acolá que a indústria conseguirá refrear esse processo.

    O Radiohead, por exemplo, sabia que seu novo álbum ia parar na rede, da mesma maneira que o anterior “Kid A” vazou na Web antes mesmo do seu lançamento oficial. O que fez então? Em vez de querer tapar o sol com a peneira, decidiu oferecer suas músicas para download e, ao invés de impor um preço que nem sempre seria pago de bom grado pelos internautas, deu aos fãs a opção de pagarem o quanto desejassem. Além de ter sido uma excelente estratégia de marketing, estimulou pessoas que normalmente baixariam o álbum de graça a desembolsar valores que considerassem justos e que tivessem condições de pagar.

    Mesmo a indústria de Hollywood, por mais que combata a pirataria através de propagandas e ações coordenadas com o governo, já tratou de se adaptar a esta nova era e investe cada vez mais no licenciamento de produtos. Aliás, o Marcaurélio teve uma boa idéia no post que você citou: lançar “um game baseado no filme, com invasão de favela, interrogatório, perseguições”. Por mais que esse game e demais produtos criados fossem pirateados, te garanto que muita gente adquiriria os itens oficiais da Tropa de Elite se fossem disponibilizados para venda na bilheteria dos cinemas ou no site do filme, assim como os fãs de uma banda assistem a um show e, após o concerto, adquirem produtos como DVDs, chaveiros ou bottons em stands localizados na saída do espetáculo.

    Você afirma ainda que é o “lobby da indústria americana que pressiona governo e empresas brasileiras e faz encarecer o acesso ao cinema”. Não é verdade. O grande vilão atual chama-se “carteirinha de estudante”. Por causa de uma legislação defeituosa e uma fiscalização pior ainda, a praga da meia-entrada fez com que cinemas, teatros e casas de espetáculos aumentassem os preços (de forma muitas vezes abusiva, aproveitando-se desse álibi) a fim de compensar as perdas com a venda indiscriminada de meias-entradas para gente que, em considerável parte dos casos, falsifica com imensa facilidade carteirinhas a fim de pagar menos. Atitude até compreensível dos promotores: até parece que aluguéis, atores de teatro ou músicos topariam receber metade do cachê por um show composto exclusivo por “estudantes”, verdadeiros ou não.

    Sobre sua observação acerca da “Internet ainda ser uma tecnologia das elites”, diria que esta é uma meia verdade. O garoto que mora no Capão Redondo pode não ter banda larga em casa, mas acessa a internet numa lan house, ou conhece um amigo que tem boa conexão, ou pede a outro que faça uma cópia do DVD pirata de Tropa de Elite num DVD-R (que pode ser adquirido por preços cada vez mais baixos por aí ). Só posso concordar na íntegra, Ricardo, com o seu comentário, na conclusão que você fez: a solução definitiva para todos os problemas é educação. Não no raciocínio maniqueísta de que “pirataria é crime”, e sim no sentido amplo de proporcionar oportunidades efetivas de ascensão social e profissional a pessoas que um dia não precisarão depender dos preços mais acessíveis dos produtos piratas para poder consumir cultura neste país. Um abraço e obrigado pelo debate de idéias originado a partir do seu comentário.

  • http://marcuspessoa.net Marcus

    Muito bom o post.

    Já o site da Bizz é uma porcaria, não chega nem perto da qualidade que a revista já alcançou em diversos pontos de sua trajetória, inclusive na última encarnação, e nem mesmo de outros sites de música que tem por aí.

    Não sei por que eles ainda o mantém; talvez porque a Abril pretende manter a marca Bizz através de edições especiais. Mas sei que uma outra editora está me negociações para retomar a publicação da revista.

  • http://www.eupodiatamatando.com Silveira Neto

    Rapaz, e deviam abrir logo a franquia do filme tropa de elite mesmo. No Mercado Livre por exemplo há dezenas de produtos inspirado nos filme, bonés, camisas, bottons etc.
    Já o boneco do capitão nascimento, eu recebo emails quase diariamente de gente perguntando onde vende ele :D

  • http://liscomunello.blogspot.com Lis Comunello

    Do blog do Menezes venho para cá e encontro assunto afim. Melhor copiar as palavras dele:

    “Primeiro as damas. Pode soar antiquado, mas tem que ser assim. E digo mais: primeiro, e sempre, as damas. Sempre reconheci a minha (nossa?) inferioridade diante das mulheres, seres mais evoluídos, interessantes e inteligentes. Nem tente argumentar contra isso. Cresça, apareça e reconheça – é o melhor que você tem a fazer. Não perca tempo lutando contra o óbvio, sem contar a educação, a civilidade, a corte etc.

    Pelo que tenho lido e acompanhado em revistas especializadas (algumas das melhores do mundo), artigos e resenhas em jornais e sites, além de tudo o que tenho ouvido, as mulheres têm dominado a cena da música pop há, pelos menos, 10 anos. É claro que têm os fenômenos masculinos, as bandinhas imberbes, principalmente as que usaram a internet para algum tipo de buzz ou promoção. E nesse quesito, cada um tem a sua. É inútil falar dessa ou daquela.

    Diferentemente, as mulheres acontecem no mainstream, na mídia convencional. É mais um fenômeno que está para ser estudado. Os homens precisam da internet. As mulheres só precisam de uma boa coleção de canções lançadas em CD – o que parece não ser suficiente para os cuecas. Sinal dos tempos: o rock e o pop, também o blues e o jazz, sempre foram clubes e bares masculinos. As mulheres eram exceção. Na música, como em quase tudo, os sinais foram invertidos. Demorou.” [...]

    Na íntegra aqui.

    Talvez seja tudo uma questão hormonal, Ina. rsrsrs…

    Beijocas ;)

    Obrigado pela dica do post do Sergio Menezes, Lis. Um beijo! ;)

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

Parceiros

Mantra

A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.