Cinco cenas musicais inesquecíveis no cinema

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 08 de janeiro de 2013

Cinema e música, taí uma combinação mágica. Quando fui convidado pelo Bruno Capelas para participar de uma eleição sobre os melhores momentos musicais da sétima arte, me diverti muito pensando em quais são as minhas cenas favoritas. É lógico que esqueci de muita coisa boa, e o resultado final, com as 25 melhores sequências musicais escolhidas por 43 pessoas, ficou bem bacana e acabou por resgatar algumas cenas ótimas que me haviam escapulido da memória. De qualquer modo, creio que vale a pena postar aqui quais foram os cinco momentos cinematográficos um tanto quanto inusitados nos quais votei. :)

5. “Ela Vai Ter um Bebê” (1988), de John Hughes.

Além de ter sido o mestre dos filmes adolescentes dos anos 80, tendo dirigido clássicos da Sessão da Tarde e da Tela Quente como “Curtindo a Vida Adoidado”, “Clube dos Cinco” e “A Garota de Rosa Shocking”, John Hughes também foi especialista em garimpar músicas bacanas para embalar suas trilhas sonoras. E, embora a cena musical mais famosa de sua carreira seja a de Ferris Bueller dublando “Twist and Shout” no meio das ruas de Chicago, preferi destacar uma sequência menos óbvia, que integra o seu filme mais autobiográfico (sobre as desventuras de um jovem casal protagonizado por Elizabeth McGovern e Kevin Bacon). Nessa cena, Bacon acaba de descobrir que sua esposa sofreu complicações no parto. Sem saber se sua mulher e seu filho sobreviverão, lágrimas descem de seu rosto na sala de espera da maternidade, enquanto cenas de flashback do cotidiano feliz do casal são embaladas pela voz de Kate Bush cantando os versos de “This Woman’s Work” (“I should be hoping, but I can’t stop thinking/ Of all the things I should’ve said, that I never said/ All the things we should’ve done, that we never did”). Uma sequência infalível para fazer ninjas invisíveis aparecerem do seu lado, cortando cebolas.

4. “Xanadu” (1980), de Robert Greenwald.

O filme, que narra a abilolada história de uma deusa grega que desce à Terra na forma de Olívia Newton-John, no auge da forma, a fim de inspirar um incauto a abrir uma discoteca que também é espaço artístico com rinque de patinação (??!), é uma bomba. E até hoje me pergunto o que fizeram para conseguir convencer Gene Kelly, de “Cantando na Chuva”, a topar atuar e andar de patins neste musical com cenas dignas dos videoclipes mais toscos do Fantástico dos anos 80, incluindo-se aí coreografias de gosto duvidoso e defeitos especiais que justificaram com sobras a indicação ao prêmio Framboesa de Ouro na categoria “Pior Musical dos Últimos 25 Anos”, recebida em 2005. No entanto, o tema musical homônimo é uma preciosidade pop composta pelo grande Jeff Lynne, e o arranjo, com a voz de Olívia Newton-John emoldurada pelos sensacionais arranjos de cordas típicos das melhores músicas disco da época, é totalmente excelente. E faz por merecer uma citação no meu Top 5, com a sequência final do filme que começa com Gene Kelly andando de patins e termina com a musa grega se despedindo da Terra e voltando ao Olimpo em grande estilo.

3. “Bonequinha de Luxo” (1961), de Blake Edwards.

O escritor interpretado por George Peppard datilografa as primeiras linhas de um texto sobre sua vizinha de apartamento, mas interrompe o texto ao ouvi-la tocar uma música ao violão. E, pudera, quem não interromperia tudo que estivesse fazendo para ouvir Audrey Hepburn cantar “Moon River”, a composição de Henry Mancini e Johnny Mercer que ganhou merecidamente o Oscar de Melhor Canção Original? Taí uma sequência que mostra que não é preciso usar efeitos musicais mirabolantes ou coreografias apuradas para ficar marcada nas lembranças de toda uma geração de cinéfilos. Basta uma atriz carismática e uma bela música capaz de mostrar que “there’s such a lot of world to see”.

2. “Footloose” (1984), de Herbert Ross.

Herbert Ross, cineasta subestimado responsável pela direção de produções bacanas como “A Garota do Adeus” (que deu o Oscar de Melhor Ator a Richard Dreyfuss) e “Sonhos de um Sedutor” (o melhor filme em que Woody Allen só atuou como ator), realizou uma jóia rara de junção entre som (o hit grudento homônimo cantado por Kenny Loggins) e imagens, na cena do baile que encerra “Footloose”. Kevin Bacon entrando em cena para gritar “LET’S DANCE!!!!”, os efeitos de luz, as pessoas dançando como se não existisse amanhã, coreografias inusitadas despertando berros alucinados das mocinhas… Poucas vezes a sétima arte foi capaz de traduzir com tanta empolgação o clima de uma festa para qual todo mundo gostaria de ter sido convidado (pena que o vídeo embedado neste post é dublado em espanhol, pois todos os vídeos com o som original foram removidos do YouTube por questões de direitos autorais).

1. “Noites de Cabíria” (1957), de Federico Fellini.

Giulietta Masina interpreta Cabíria, uma prostituta sonhadora que, após ter sido enganada mais uma vez por um cliente, perdeu as esperanças e a fé na vida. Porém, ao caminhar pela estrada, encontra um grupo de músicos tocando uma composição maravilhosa de Nino Rota. Ela, com os olhos marejados, se deixa levar pela alegria daqueles jovens, reencontra o sorriso e, ao virar seu rosto diretamente para a câmera (em um dos closes mais belos de toda a história do cinema), deixa também os espectadores com os olhos cheios de lágrimas. Esta cena é para mim a melhor tradução da capacidade catártica que a música possui de alimentar espíritos esmorecidos.

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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  • Junior

    A minha cena predileta é um clichê, mas duvido que alguém não fique ao menos sensibilizado com ela: “As Times Goes By”, de Casablanca.
    Outra cena inesquecível envolvendo música é a cena final de “Cinema Paradiso”, com a belíssima música do maestro Enio Morricone.

  • Luiz Patriota

    Que bom seria uma página do virunduns aqui…

  • Assis Alves

    faltou o DIO COMO TE AMO com a Gigliola Cinqueti

  • http://www.facebook.com/andre.alvarez.754 André Alvarez

    Excelente Ina! A lista das 25 no Pergunte Ao Pop também tá deliciosa. Dá vontade de rever tanta coisa. No meu Top Five também entram outras duas de filmes “menores”, mas que gosto muito: “I Say A Little Pray for You”, no Casamento de Meu Melhor Amigo e também “Sweet Caroline” no Brincando de Seduzir.

  • http://www.facebook.com/daniela.venske Daniela Dvori

    Noites de Cabíria realmente é top! Cada um tem o seu top 5, no meu caso, top 6 e tenho certeza que estou esquecendo algum muito importante:

    6. Duelo de Banjos no filme Amargo Regresso
    5. Twist and Shout no “Curtindo a Vida Adoidado”
    4. Singin´ in the Rain com Gene Kelly
    3. Closer (The Blower´s Daughter) http://www.youtube.com/watch?v=1796DA1fItA
    2. A Dupla Vida de Veronique http://www.youtube.com/watch?v=TEVlDb43v-4
    1. O Poderoso Chefão (tema) http://www.youtube.com/watch?v=kvKXt3Surlk

  • Camila Pavanelli de Lorenzi

    Que demais que você incluiu Cabiria! Meu filme preferido. Mas confesso já tê-lo visto várias vezes interrompendo o filme na penúltima cena, a do roubo - precisa coragem pra rever aquilo, é de uma tristeza infinita. Mas aí, né, tem o final. Sempre associei esse final ao de Crime e Castigo, sabia? São as duas obras em que vi a redenção ser tratada com maior profundidade - a redenção do criminoso, num caso, e da vítima de um crime, no outro. Mas, nos dois casos, aquele sentimento esperançoso e ingênuo de que dali pra frente a vida será uma página em branco. (Desculpaê a divagation.) :-P

  • Vladimir Batista

    Ina, como te falei no facebook, adorei sua lista, especialmente seu Number 1, me emocionei muito com essa cena de Noites de Cabíria. Mas fiz também minha lista, veja se gosta:

    5. I’m Through With Love, do filme Todos Dizem Eu Te Amo, onde Woody Allen faz Goldie Hawn bailar flutuando ao estilo de O Tigre e o Dragão às margens do Sena em Paris. Precisa de mais algum elemento?

    4. Try a Little Tenderness do filme The Commitments: Momento de sedução de palco logo após um quebra pau nos bastidores.

    3. Amigo estou aqui - Toy Story: Pilar emocionante para uma trilogia histórica da animação. (e achei a versão brasileira melhor que a original).

    2. Mirsilou - de Pulp Fiction: Logo após a troca de carinhos de Pumpkin e Honney Bunny, vem logo um “I’ll execute every motherfucking last one of ya!” e esse petardo de surf rock que dá o tom dessa obra prima.

    1. Cheek to Cheek, do filme Top Hat (O Picolino) - Não dá para não incluir Fred Astaire e Ginger Rogers na cena mais onírica e maravilhosa da sétima arte. “Heaven, I’m Heaven…”

  • http://www.facebook.com/profile.php?id=636891861 Regina Rossito

    Xanadu foi o Glee dos anos 80, awesome!

  • http://twitter.com/marselle karine marselle

    ótima seleção. :)
    A trilha sonora do Xanadu é muito boa! (o filme é uma bomba mesmo) Acho que o Gene Kelly estava entediado em casa e ele quis mostrar que sabia andar de patins. Só pode.

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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