Amor e imaginação são as forças que tornam este mundo um pouco mais mágico. E foi assim, juntando estes dois ingredientes, que Stephanie e Jonathan casaram-se de uma das maneiras mais bacanas possíveis, numa cerimônia inspirada pelos quadrinhos geniais de Bill Watterson.
Achei bastante significativo que uma das fotos do casal o retrate com o metamorfoseador das tiras de Watterson: uma simples caixa de papelão que transformava um objeto ou pessoa nas mais prodigiosas invenções, graças à prodigiosa imaginação de Calvin. Especialmente para quem acredita que o amor tem essa mesma capacidade de transformar o cotidiano.
Como todos sabem, homens não são muito providos de inteligência natural. Apaixonados, então, tornam-se mais abobados ainda. Quando Alechandre viu Sessília pela primeira vez, seus olhos foram imediatamente fisgados. Nada como um belo par de pernas, cabelo chanel, mamilos querendo rasgar uma blusa justa e um sorriso sugestivo para ruir toda a racionalidade de um homem. Quando Alechandre encontrou Sessília pela primeira vez na pista de dança daquele barzinho, ele poderia jurar que todas as bocas se calaram, todas as estrelas se apagaram, o mundo todo caminhou na ponta dos pés e todas as rádios interromperam suas programações só para tocar The Killing Moon.
Mas enfim, amar é decretar uma chacina de neurônios. Continue Lendo
Por que o Dia dos Namorados é comemorado dia 12 de junho no Brasil, enquanto em países como os Estados Unidos e a maior parte da Europa (incluindo Portugal), o Valentine’s Day é celebrado em 14 de fevereiro?
Reza a lenda que 14 de fevereiro foi o dia da morte de São Valentim, bispo que, na época em que o Império Romano era comandado por Cláudio II, celebrava às escondidas casamentos de jovens apaixonados, em tempos nos quais o imperador havia proibido matrimônios por crer que homens solteiros eram melhores guerreiros. Ao ser descoberto, Valentim teria sido preso e condenado à morte. Essa história, que consta na Wikipedia em português, foi no entanto colocada em dúvida pela própria Igreja Católica, que em 1969 deixou de celebrar seu dia pela falta de provas da sua existência (o verbete em inglês da Wikipedia, bem mais completo, narra toda essa controvérsia).
No Brasil, a história é bem mais simples e objetiva. Continue Lendo
Perguntar não ofende. Já as respostas… Bem, resolvi consultar o grande oráculo de nossos tempos, Mr. Google, a fim de descobrir o que ele tem a dizer sobre as questões que dão título a este post.
Encontrei nesta semana um texto que me chamou a atenção: “Robô programado para amar tem ‘ataque obsessivo’”. Segundo a matéria, o robô Kenji, programado para simular emoções humanas e criado pela empresa japonesa Robotic Akimu, teria perdido o controle após passar um dia no laboratório ao lado de uma pesquisadora. Quando ela estava saindo do recinto, Kenji recusou-se a deixá-la ir embora, bloqueando a porta de passagem e exigindo abraços, em um súbito ataque de carência emocional. A história, que repercutiu em blogs como Gizmodo e acabou por ser reproduzida em dezenas de sites brasileiros, seria sensacional; pena que é falsa. A lorota do robô que amava demais foi criada pelo blog MuckFlash, cujo lema, sugestivamente, é uma citação de Mark Twain: “Consiga os fatos primeiro; depois, distorça-os como quiser”.
Não pretendo, porém, escrever mais um texto sobre como blogueiros e jornalistas são facilmente ludibriados pelo que encontram na internet, até porque já fiz isso no post “Sobre vídeos engraçados, risadas fora de hora e um ceticismo necessário”. A leitura deste hoax acabou, na verdade, tornando-se o mote para que eu recordasse de um singelo livro escrito por David Levy, especialista em inteligência artificial, que, em sua obra Amor + Sexo com Robôs - A Evolução das Relações entre Humanos e Robôs, vaticinou a seguinte previsão: humanos começarão a fazer sexo com autômatos daqui a 5 anos, e os primeiros casamentos, hmm, interespécies serão realizados em meados de 2050. Continue Lendo
Não sei porque decidiram celebrar o Dia Mundial do Beijo no dia 13 de abril. Terá sido o dia em que Robert Doisneau tirou sua famosa fotografia do beijo de um casal numa rua de Paris? Foi esta a data na qual Rodin terminou sua clássica escultura? Ou o dia em que estreou nos cinemas “A Dama e o Vagabundo”, o desenho da Disney que mostra a cena na qual os cachorrinhos beijam-se acidentalmente ao compartilhar um prato de espaguete?
Bem, o caso é que a resposta não importa tanto. Afinal de contas, assim como um beijo roubado é mais instigante do que um previamente autorizado, os pretextos para que uma data tão interessante como esta seja celebrada pouco importam. E o fato é que falar sobre beijos, embora não seja tão gostoso quanto o ato em si, é ingressar em um universo de curiosidades capazes de fazer a gente perder uma tarde inteira navegando por aí. Por exemplo: vocês sabiam que, na Índia, beijar em público é considerado um ato obsceno que pode ser punido com até dois anos de prisão e 33 euros de multa? O ator Richard Gere, que cometeu a “indecência” de beijar uma atriz indiana durante um evento público em Nova Délhi no ano passado, aprendeu às duras penas que isso não se faz por lá. Continue Lendo
Quando comecei a navegar pela internet, em meados de 1997, a primeira coisa que fiz foi tentar encontrar pessoas que compartilhassem dos mesmos interesses que possuo. Inscrevi-me, por exemplo, em fóruns e listas de discussão que falavam de Arquivo X, cinema brasileiro e quadrinhos em geral. Na época, eu ainda não havia abandonado o curso de Letras da USP e nutria em silêncio o sonho de um dia me tornar um escritor reconhecido, daqueles que lançavam anualmente best-sellers e freqüentavam a lista dos mais vendidos da Veja quando ela ainda merecia respeito.
Data desses tempos a época em que participei de uma lista de discussões intitulada “Escritas”, reunindo poetas inéditos que trocavam entre si mensagens com críticas, observações e versos das mais variadas métricas, formas e gêneros, num ambiente no qual a internet era como sempre deveria ser: um ponto de encontro online no qual conhecimentos são generosamente compartilhados. Por meio de listas como a “Escritas”, li pela primeira vez autores como Orlando Tosetto Junior, Lau Siqueira, Fred Matos, Maria Frô, Daniel Francoy, José Félix, AL-Chaer, Tatiana “Sweethell” Leão, Sara Fazib e Alyuska Lins, que vocês talvez não conheçam porque infelizmente o mercado editorial brasileiro nem sempre contempla os melhores escritores, em especial aqueles que se dedicam a versos. Ainda mais em um país estranho como o nosso, no qual há mais “poetas” (com ênfase nas aspas) do que leitores de poesia, e são raras as pessoas que dominam a arte da metrificação, têm noção do ritmo compassado das redondilhas ou são capazes de distinguir sonetos ingleses de sonetos italianos.
Eu, que há tempos abandonei a ilusão de virar um grande autor, deixei arquivado um livro de poesias intitulado Aprendizado - Rascunhos Definitivos, que está devidamente guardado na adega da minha gaveta até que o vinho um dia revele sua condição de mero vinagre. De vez em quando sucumbo à tentação de publicar alguns versos só para constatar que poesia definitivamente não dá ibope, vide os escassos comentários a poemas meus como “Sete Faces”, “Língua” e “Futebol”. Menos mal que atualmente me dedico a atividades capazes de garantir o meu nome fora do SPC e do Serasa, destinando o ofício da poesia a escribas mais qualificados. Contudo, quando recebi e-mails de antigos colegas da lista “Escritas” relatando a criação do blog coletivo Poetas Lusófonos com o intuito de reunir novamente amigos virtuais que se conheceram há mais de uma década, não pude deixar de resgatar certas lembranças. Para não deixar este post sem um verso sequer, segue abaixo um poema que escrevi há mais de oito anos. Ocasionalmente sinto saudades daqueles tempos em quis me tornar um escritor.
* * * * *
O Código Secreto das Estrelas
Leio nas entrelinhas do teu sorriso
rumores, canções que falam em pássaros.
Teus passos soletram pelas calçadas
sussurros de sombras por entre pétalas secas.
Falo de sonhos como quem tange nuvens,
galáxias, sintaxes de sons de estradas,
enquanto o tempo risca no vidro da memória
confusas lembranças que sibilam ferozes.
Hoje sei que tudo passa, embora ainda durma
com olhos de vigília e perfumes apócrifos.
Recordo com gosto agridoce de espelhos
na boca tua pele, teu sexo, teus olhos.
O tempo é turvo. O tempo é turvo.
Mastiga utopias, cospe sementes de névoa,
esparge fagulhas de luz no passado
- brinquedo imberbe nas mãos do acaso.
Mas não quero mais ser racional.
Deitado dentro de mim, hoje evoco
o momento único em que te encontrei,
e já começava a te perder.
* * * * *
P.S. 1: Peguei emprestados o título e a ilustração deste post de um livro de Luis Fernando Veríssimo.
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.