Artigos da categoria: Cotidiano

Pílulas

Por Alexandre Inagakisexta-feira, 05 de dezembro de 2008

Tom Zé e Caetano Veloso andaram discutindo feio em seus respectivos blogs, em um trelelê que repercutiu na Rolling Stone e no blog do meu amigo Gravatai. O imbróglio foi muito bem resumido pela Ericka: “Caetano e Tom Zé bancando Camus e Sartre via blogs”. E o Ronaldo Evangelista fechou esta discussão de boteco lembrando da faixa final do álbum Todos os Olhos (sim, é aquele mesmo da polêmica capa), gravado por Tom Zé em 1973. Trata-se da genial “Complexo de Épico”, cujos versos dizem:

Capa de Todos os Olhos, álbum de 1973 do Tom Zé

Todo compositor brasileiro é um complexado
Porque então essa mania danada
Essa preocupação de falar tão sério
De parecer tão sério
De ser tão sério
De se sorrir tão sério
De se chorar tão sério
De brincar tão sério
De amar tão sério?
Ah, meu Deus do céu
Vá ser sério assim no inferno

Alguma coisa há em comum entre compositores brasileiros e blogueiros. :P

A Defesa Civil de SC pede a suspensão de doações de alimentos e roupas por falta de espaço físico para armazenamento nas centrais de arrecadação e distribuição. Bom saber que, apesar da crise econômica, o espírito de solidariedade permanece entre os brasileiros. Mas, enquanto Santa Catarina busca sua reconstrução com o auxílio de todo o país, que tal lembrar que em Campos dos Goytacazes mais de 17 mil pessoas perderam suas casas por causa de fortes chuvas que também caíram no estado do Rio de Janeiro?

Se você já havia separado roupas e alimentos para doar para os catarinenses, por que não destiná-los para as vítimas das enchentes em Campos? Dê um pulo no blog coletivo Urgente!, escrito por jornalistas da região Norte fluminense, que informa endereços e telefones de diversos locais que recebem e encaminham doações para as milhares de famílias desalojadas e desabrigadas em Campos.

Em tempo: nos dias 6 e 7 de dezembro a Secretaria de Estado de Cultura de SP promoverá uma Virada Cultural em prol de Santa Catarina. Mais informações neste link.

Após uma conversa que tive no Twitter com a Lucia Malla, gravei um áudio no Gengibre no qual tergiverso sobre a estranheza de ouvir minha própria voz. Gostei da experiência de gravar um mini podcast, mas não do som da minha voz. |-|

A lista dos 40 melhores videoclipes de 2008 feita pela Pitchfork é boa, mas como toda lista que se preze cometeu alguma injustiça. No caso, esqueceram de citar a excepcional Amanda Palmer, vocalista do Dresden Dolls, cujo primeiro álbum solo, o saudavelmente anárquico Who Killed Amanda Palmer, certamente constará na minha lista de melhores do ano. Ao menos dois clipes mereciam menção: “Oasis”, ironicamente dedicado a Sarah Palin, e o vídeo a seguir, da música “Leeds United”, dirigido por Alex de Campi.

Eis alguns textos que andei publicando fora deste blog: Saudades antecipadas do trema, Títulos de filmes na vida real, Arquitetura, música, jóias e Oscar Niemeyer, A morte oficializada de Richey James Edwards, Capitu, os Mil Casmurros e a Globo na Web e Top 5 Começos de Romances.

Há um provérbio francês que afirma: “No mundo dos espertos, quem anda voa”. Prefiro contrapô-lo a um outro, de origem hindu, que diz: “O bem que se faz na véspera torna-se felicidade no dia seguinte”. Que assim seja.

Como ajudar os desabrigados pelas enchentes em Santa Catarina

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 26 de novembro de 2008

Quando soube das enchentes que assolaram o estado de Santa Catarina, me lembrei de uma lembrança marcante da minha infância: em 1983, quando vi pela TV as imagens de uma cidade quase submersa, com pessoas em cima dos telhados de suas casas, acenando desesperadas para os helicópteros que sobrevoavam a região catarinense. Na minha cabeça de criança, ainda inocente a respeito dos fatos sobre aquecimento global e desastres ambientais, foi surreal testemunhar uma situação assim. E agora, ao ver que enchentes novamente transformaram cidades de Santa Catarina em um cenário diluviano com mais de 50 mil pessoas desabrigadas, a desagradável sensação de déjà vu me veio à cabeça.

Chico Lima, leitor deste blog e morador da cidade de Blumenau, enviou-me ontem um relato da situação em seu estado, criticando ainda a cobertura midiática sobre as enchentes em SC. Leiam, a seguir, as suas palavras.
“A situação aqui em Blumenau (SC) ainda está bem complicada. Anteontem (24/11) tivemos o estado de calamidade pública decretado pelo Prefeito. Houve muita chuva nos últimos dias, tornando o solo um ‘sorvete derretido’. Na última sexta, sábado e domingo as chuvas caíram com mais intensidade. Com isso, tivemos muitos deslizamentos, desbarrancamentos, muita gente desabrigada e pessoas mortas. O cenário era de caos mesmo (sem exagero). Parecia o ‘Ensaio sobre a Cegueira’!
Ontem - felizmente - está tudo melhor graças à chuva que parou, e também por conta da ação eficiente da Defesa e de um órgão fundamental para a cidade chamado Centro de Operações do Sistema de Alerta da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu (CEOPS). Enfim. Muito da cidade está sob lama. O fornecimento de energia elétrica voltou em alguns bairros, assim como o transporte público. Isso ajuda bastante o fluxo da cidade. Mas estamos sem água e sem coleta de lixo!!! A previsão otimista é de que ela volte na sexta. A universidade e as escolas continuam sem aula. O comércio está voltando aos poucos (bem aos poucos).
Felizmente tudo está bem comigo, minha namorada e amigos. Porém, ressalto que a população da região do Vale do Itajaí está precisando de muita coisa. Existem vários abrigos espalhados pela cidade com idosos, crianças e famílias desabrigadas. Mas, ao mesmo tempo que existe uma belíssima rede solidária, há também comerciantes que estão aumentando os preços e os sem-coração (e sem cérebro) que estão saqueando lojas e mercados (é vero!!!).
Nesse momento, um dos problemas mais preocupantes é saber que as estradas que dão acesso a SC estão bloqueadas. Sem esse acesso, poderemos ficar sem abastecimento de itens básicos como combustíveis, comida e medicamentos. Vemos movimentação do exército para a distribução de cestas básicas por helicópteros ou cargueiros.
Já em Itajaí o problema foi bem distinto (porém não menos grave). Lá a enchente foi devastadora. Três rios encheram. A cidade está funcionando com barcos. 90% de Itajaí está submersa. Também não rola água nas casas que não foram atingidas.
Sobre a cobertura da TV (redes nacionais)
Alexandre, na boa, não entendo porque a Rede Globo não considera isso uma pauta tão importante como outros casos. Não sou jornalista (nem quero ser; sou só um mero redator publicitário - um faxineiro prostituto das palavras), mas só esclarecendo algumas coisas: a Globo, via RBS (sua repetidora aqui em SC), não está fazendo a cobertura decente do caso (há até um “email corrente” sendo difundido por aqui no qual uma pessoa expõe sua insatisfação). Só vi um flash-plantão interrompendo a programação normal.
Na parte “nacional” o pouco que ela está dando limita-se a Blumenau e Floripa (correspondentes da Globo - Ricardo Von Dorf e Kiria Meurer). Acredito que a Globo não publicou nada sobre Itajaí porque sua repetidora (RBS) não tem sucursal com efetivo suficiente por lá, por isso ela não tem material sobre essa região. Ou não teve condições de mandar seus super-repórteres catarinenses para lá.
Com a Record - via RIC, sua repetidora local - é o inverso. Ela tem sucursal regional em Itajaí, e nao em Blumenau. Portanto, você verá a Record (via Roberto Cabrini e equipe) falando sobre a situação em Itajaí, e não em Blu. Já a Band ficou fora do ar de sábado até ontem (25/11) de manhã. Entao não sei o que se passa. Nem sei se o Datena tá batendo na mesa, berrando e babando (rs)!
Sabendo desses tristes acontecimentos, e pensando na cobertura televisiva, deixo aqui uma pergunta sobre o que realmente vale para nós, humanos: salvar vidas, divulgar vida ou promover o show do horror da morte. O que dá mais audiência??”


Se a cobertura das TVs deixa a desejar, como bem ressaltou meu leitor Chico Lima, a quem agradeço pelas informações, devo ressaltar que os blogs têm feito a sua parte. Recomendo em especial uma visita ao coletivo Alles Blau, criado durante estes dias de enchentes, que tem feito uma cobertura fundamental de como está a situação em Blumenau, com intensa participação de internautas enviando notícias, fotos e vídeos destes dias difíceis na cidade.
Por último, mas não menos importante: caso você queira ajudar os desalojados e desabrigados em SC, faça um depósito nas contas que a Defesa Civil de Santa Catarina abriu especialmente para receber doações: no Banco do Brasil (conta 80.000-7, agência 3582-3) ou no Banco do Estado de Santa Catarina (conta 80.000-0, agência 068-0). Os depósitos podem ser feitos em qualquer quantia. E, no caso de doações de alimentos não-perecíveis e materiais de higiene, clique aqui para saber quais são as necessidades mais urgentes dos desabrigados catarinenses. Mais informações também estão disponíveis nos blogs Sétima Arte, Uhull, Diarinho na Chuva e Soco na Costela.

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P.S. 1: O instituto Voluntários em Ação procura por blogueiros voluntários interessados em auxiliar na divulgação de suas campanhas. Caso você queira tornar-se um “blogueiro divulgador”, clique aqui, aqui e aqui para buscar mais informações a respeito.
P.S. 2: A respeito da especulada agonia da blogosfera, respondi ao Secco do Bitpapo a pergunta da vez: os blogs estão morrendo?
P.S. 3: Ainda sobre o assunto, recomendo fortemente a leitura de um artigo do New York Times que cita um movimento com o qual me identifico totalmente: o “Slow Blogging”. Cito uma frase perfeita reproduzida na matéria: “Blog to reflect, Tweet to connect”.
P.S. 4: Você já votou no meu mano Enloucrescendo no Desafio LG?
P.S. 5: A leitora Larissa Tietjen, que encontra-se ilhada na cidade de Itajaí, divulgou a URL de mais um endereço útil: o Blog dos Desabrigados de Itajaí.

Ideologia S/A

Por Alexandre Inagakisexta-feira, 16 de maio de 2008

Li uma notícia no jornal O Globo que chama a atenção tanto pela comicidade involuntária quanto pela pateticidade de nossos parlamentares. Eis a manchete: Troca de palito por fio dental em restaurantes é rejeitada. O texto comenta um projeto de lei apresentado pelo deputado estadual João Pedro, que propunha que os restaurantes cariocas trocassem a oferta de palitos por fio dental. Esta importantíssima proposição por pouco não foi aprovada por aclamação; o pedetista Paulo Ramos puxou o freio de mão ao afirmar, num arroubo de bom senso, que a Assembléia seria ridicularizada caso o projeto fosse aprovado.

Tão bizarra quanto a lei foi a justificativa dada pela deputada Beatriz Santos para votar contra a proposta: “Não tenho certeza se é fio dental pra ir à praia ou fio dental para os dentes. Por isso, voto não”. |-|

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Outro projeto de lei que anda dando o que falar foi apresentado pelo deputado federal Jorge Bittar, que trata do mercado de TV por assinatura. O trecho mais polêmico diz respeito à implantação de cotas destinadas a “incentivar o conteúdo audiovisual brasileiro”. O projeto criaria duas cotas: uma sobre os pacotes fechados vendidos aos assinantes, propondo que 25% dos canais obrigatoriamente sejam programados por empresas brasileiras, com veiculação expressiva de conteúdo nacional; a outra incidiria sobre todos os canais, estipulando que estes deverão exibir três horas e meia semanais de conteúdo brasileiro, sendo metade desse período obrigatoriamente preenchido por programas feitos por produtoras independentes. Tais cotas deverão ser implementadas ao longo de 4 anos.

Não me agrada nem um pouco esse tipo de proposta que impõe regras a fórceps. Mas devo dizer que fiquei mais irritado ainda com as falácias propagadas pela campanha Liberdade na TV, fartamente divulgada em intervalos comerciais. Segundo o site oficial do “movimento”, nós, clientes de TV por assinatura, devemos nos engajar contra esse projeto de lei por vários motivos simplesmente risíveis. Vide este argumento patético: “AMEAÇA DE UM FUTURO CHEIO DE REPRISES”. Pelamordedeus. Há anos filmes e episódios de séries são reprisados ad nauseam, que o digam telespectadores de canais como TNT, Sony, Fox e Warner. Porém, pior ainda é ter de agüentar aquelas chamadas infames da Sony falando de “mentes perigosas” e “machos de respeito”, que são marteladas a cada bloco comercial.

A tal campanha, patrocinada pela “Associação Brasileira de Televisão por Assinatura”, também fala que estão “ameaçando nossa liberdade de escolha”. É mesmo, cara pálida? Hmm, que tal se a ABTA der um bom exemplo e permitir que nós, assinantes, possamos escolher quais canais queremos adquirir, em vez de sermos obrigados a comprar pacotes fechados repletos de documentários tediosos, desenhos desanimados, programas de telecompras e outros entulhos que nos são empurrados goela abaixo? Não seria interessante também ver novos assinantes livres de imposição de firmar contratos de no mínimo 1 ano, sendo obrigados a pagar multa rescisória caso desejem exercer seu direito legítimo de reprovar os serviços oferecidos por uma operadora e cancelar suas assinaturas antes desse prazo?

É incrível constatar como certos grupos banalizam a palavra “liberdade” e ainda tentam usar pessoas como massa de manobra de seus interesses. Não à toa, o site Liberdade na TV não possui qualquer fórum de discussões ou espaço livre para que internautas possam discutir o assunto. Também é significativo o uso constante de verbos no modo imperativo: “ASSISTA. MOBILIZE-SE. PROTESTE!”. O que mais faltou ordenar ao seu rebanho de ovelhas apascentadas? FAÇA BIQUINHO? DÊ A BUNDA? NÃO CORRA, NÃO MATE, NÃO MORRA? TOQUE RAUL?

Mais decente foi a atitude de Jorge Bittar, relator do polêmico projeto, que criou um blog com diversas informações para todos que quiserem compreender melhor suas propostas e debater o assunto. Por mais que eu discorde de vários posicionamentos do deputado Bittar, ao menos encontrei lá um espaço aberto para críticas. Enquanto isso, aguardo desesperançoso pelo dia em que esse pessoal da ABTA decidir criar um espaço efetivo para discussões, implementar serviços decentes de atendimento por telefone e, enfim, oferecer a opção de assinarmos apenas os canais que nós desejamos assistir.

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É difícil não tornar-se cético e cínico diante de certas notícias. Por exemplo, quando soube que Ziraldo (chamado por Ivan Lessa de “o subversivo da caneta Pilot”) e Jaguar ganharam o direito de receber indenizações milionárias, às custas dos cofres públicos, sob a justificativa de “reparação e indenização pelos traumas que sofreram como vítimas da ditadura militar”, não pude deixar de concordar com a observação que Millôr Fernandes fez: “Eu pensava que eles estavam defendendo uma ideologia, mas estavam fazendo um investimento”.

Nestes tempos nos quais a imagem de Che Guevara virou ícone banalizado de camiseta, percebo que é difícil criticar essa juventude despolitizada que, ao contrário do que apregoava a letra de Cazuza, não está nem aí para a busca de ideologias. Parafraseando Drummond, constato que as utopias de 1968 tornaram-se apenas um retrato na parede (ou, pior ainda, uma mera foto num álbum de Orkut). E isso dói.

Razões (e emoções) para amar São Paulo

Por Alexandre Inagakisexta-feira, 09 de maio de 2008

São Paulo é uma cidade que me desperta sentimentos ambivalentes. Anos após ter afirmado que Sampa é uma cidade poluída, estressante e instigante que amodeio e odeiamo de coração, permaneço assinando embaixo, em cima e dos lados da afirmação de Carlito Maia: “Amo São Paulo com todo o ódio”. Mas um fato é inequívoco: não há como não admirar uma cidade que me deu a oportunidade de assistir a um show histórico como o que Luiz Melodia deu no Teatro Municipal, cantando todo o repertório de sua obra-prima Pérola Negra durante a Virada Cultural recentemente promovida pela Prefeitura.

Ter caminhado pelas ruas do Centro velho de Sampa às duas da manhã, me deparando com exibições de dança do coco no Viaduto do Chá, shows de rock no Pátio do Colégio ou discotecagens eletrônicas na XV de Novembro é o tipo de coisa que quase me fez conseguir abstrair as ruas sujas e cheirando a mijo tão características desta metrópole amarfanhada e maltratada. Não posso, ademais, me queixar de viver em um lugar tão multifacetado e pluricultural. Desajeitadamente comparo São Paulo a uma mulher feia e charmosa que, por algum motivo que não saberia explicar, me agrada aos olhos e à libido de tal maneira que seria incapaz de trocá-la pela mais bela das top models.

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Desde Fogo e Paixão, filme dirigido em 1988 pela dupla de arquitetos Isay Weinfeld e Marcio Kogan, não via uma obra cinematográfica que retratasse a cidade de São Paulo de modo tão fascinante como faz o desconcertante Otávio e as Letras. A direção é de Marcelo Masagão, idealizador e coordenador do Festival do Minuto.

Otávio e as Letras é uma obra abstrata como um poema repleto de espaços em branco e entrelinhas em cada estrofe. Filme sobre o dilúvio de informações que inunda nossos sentidos na poluição de imagens, palavras, sites e slogans cotidianamente, narra (ou melhor, sugere) as histórias de três personagens: Otávio, um sujeito que ronda sebos e consultórios de dentistas e coleciona livros, revistas e folhetos publicitários repletos de palavras que ele, metodicamente, risca uma a uma com sua caneta Bic; Arthur, um taxista que estampa mapas das ruas de São Paulo no teto de seu Fusca e fotografa a cidade em imagens nas quais nenhuma presença humana possa ser vislumbrada; e Clara, mulher de solidão refratária que coleciona rostos pintados por artistas como Munch e Matisse e fotos que tira de pessoas que voyeuriza da janela de seu apartamento.

Não é filme para as massas. Pois, como bem desexplicou Jean-Claude Bernadet em seu blog, Otávio e as Letras é “extremamente inquietante, verbalmente irrecuperável”, uma obra que “ao desestruturar a narrativa, ao eliminar propostas explicativas, coloca um desafio psicanalítico, social e poético”. E, provavelmente, não perdurará muito tempo em cartaz (quando o assisti, na Reserva Cultural, estive na companhia de outros 7 espectadores). Em um circuito cinematográfico invadido por dezenas de cópias de Homem de Ferro e outros blockbusters, deixo aqui, pois, o convite para os paulistanos que desejarem variar sua dieta cinéfila com um biscoito fino de difícil deglutição. Aos que moram em outras cidades, recomendo que fiquem de olho no site do Masagão.

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Let’s Lomo é uma exposição coletiva de imagens fotográficas capturadas por câmeras lomo (máquinas analógicas de origem russa), cujas fotos exibem cores saturadas, obtidas sem quaisquer correções digitais. Nas palavras de Larissa Ribeiro, autora da fascinante imagem que ilustra este post, “fotografar com câmeras precárias significa a busca de um olhar mais aberto ao mistério, negando a ilusão de que o homem pode dominar a natureza e apreender o real de forma objetiva e clara”.

Mais de 1.000 lomografias tiradas por 40 fotográfos de todo o Brasil foram reunidas em uma exposição aberta para visitação até o dia 24 de maio no Coletivo Galeria, na Rua dos Pinheiros, 493, em Sampa City. E neste sábado, dia 10, será promovido um Congresso Lomográfico, que incluirá atividades como um sensacional “Workshop de Gambiarra” e uma Lomowalk. Despertei sua curiosidade? Então visite o site do projeto Let’s Lomo. ;)

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O título deste post meio que parafraseia “50 razões para amar São Paulo em 2008″, matéria de capa da recém-lançada revista Época São Paulo. Mais do que bem-vinda novidade editorial, trata-se de uma publicação de periocidade mensal editada por Alexandre Maron, cuja proposta é a de fazer uma revista que seja capaz de refletir a complexidade paulistana por meio de reportagens de fôlego entremeados por extenso roteiros culturais e gastronômicos. A julgar por matérias como “Vá com Deus, Rafa”, reportagem de Lira Neto que narra os desdobramentos do crime que Fábio Nanni cometeu ao assassinar Rafael Fortes, colega do curso de Jornalismo, no estúdio da Rádio USP, em 14 de outubro de 2005, creio que os objetivos foram plenamente atingidos nesta primeira edição, ainda nas bancas.
Também gostei de constatar, ao visitar o site da Época SP, que há diversos blogs mantidos pela redação, complementando e amplificando o conteúdo publicado na revista. E não posso deixar de destacar que um dos colaboradores da Época SP é Cristiano Mascaro, um dos meus fotógrafos prediletos ao lado de nomes como Henri Cartier-Bresson.

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P.S. 1: O suíço Markus A. Hediger, um dos criadores do Litblogs, que reúne alguns dos principais blogs literários em língua alemã, depois de ter passado a infância no Nordeste do Brasil decidiu voltar a morar no Brasil após ter casado com uma carioca. E criou, ao lado do escritor Luiz Alberti, o site e_spaços, revista literária online que objetiva revelar novos escritores em língua portuguesa. Recomendada para autores que ainda não conquistaram visibilidade e internautas interessados em literatura de ficção.

P.S. 2: Enquanto isso, Mario Amaya publicou em seu Flickr uma ilustração mostrando seis razões convincentes para odiar São Paulo.

P.S. 3: Confiram no site do Itaú Cultural “Forma, função e beleza na internet”, matéria que escrevi para a versão online da Continuum, revista editada pelo instituto, cujo tema desta edição de maio é design. Em tempo: você não gostaria de criar uma capa para ser publicada na edição de junho?

P.S. 4: Toda vez que termino um post fico com a sensação de que esqueci de escrever algo que gostaria de compartilhar. Imagino que seja o equivalente virtual à mesmíssima sensação de quando termino de fazer as malas para uma viagem, sabendo que certamente esqueci de botar alguma coisa na bagagem…

A origem da Lei de Gérson

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 08 de abril de 2008

Gérson de Oliveira Nunes foi um dos melhores meio-campistas de toda a história do futebol brasileiro e teve participação fundamental na conquista da Copa do Mundo de 1970. No entanto, terá seu nome imortalizado não apenas por suas contribuições esportivas, mas também por ter batizado uma das poucas leis que são regiamente respeitadas no Brasil, ao lado da Lei da Gravidade e da Lei de Murphy.

A malandragem, a esperteza e o tão propagado “jeitinho brasileiro” ganharam seu enunciado definitivo graças a uma frase que Gérson pronunciou em uma propaganda de televisão veiculada em 1976, para os cigarros Vila Rica. No comercial, o ex-armador do São Paulo discorre sobre várias vantagens do cigarro que anunciava: “É gostoso, suave e não irrita a garganta”. Continue Lendo

O mundo não é para inocentes

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 07 de abril de 2008

A humanidade me cansa. Ao ver a enxurrada de matérias em jornais, revistas e programas de televisão sobre a morte de Isabella Nardoni, não posso deixar de sentir um certo incômodo com toda a exploração midiática em torno do crime. O prédio de onde a menina foi supostamente jogada virou “atração turística”. Previamente condenados pelos noticiários e pela opinião pública, tanto o pai quanto a madrasta de Isabella tiveram seus nomes e rostos expostos publicamente. Não sabemos ainda se eles são realmente os responsáveis pelo covarde assassinato.

Alguém ainda se lembra de Daniele Toledo do Prado, 21 anos, a mulher que foi detida pela acusação de ter matado seu bebê com uma overdose de cocaína, passou 37 dias na cadeia, foi espancada pelas presidiárias, teve o maxilar quebrado e quase morreu na prisão? Pois bem, o laudo definitivo constatou que não havia cocaína no organismo de sua filha. E Daniele, que ganhou a alcunha de “monstro da mamadeira”, era, vejam só vocês, inocente. Saldo dessa história: Daniele perdeu seu bebê, foi vilipendiada publicamente, quase foi linchada e só pôde visitar o túmulo de sua filha dois meses depois de vê-la morrer.

Não, não estou afirmando que o pai e a madrasta de Isabella são inocentes. Se for provada a participação de um ou de outro no crime, espero que haja exemplar punição a ser aplicada pelo Estado. Porém, creio que ninguém deveria julgar o casal e afirmar peremptoriamente sua culpa com base apenas no que andou lendo e assistindo por aí. Inocentemente, eu só gostaria que houvesse um pouco mais de respeito e bom senso neste mundo. Mas enfim, tecer pré-julgamentos e apontar o dedo para outras pessoas em tribunais públicos compostos por palpiteiros desinformados, moralistas de ocasião e linchadores em potencial é algo que faz parte de nossa condição humana, demasiadamente humana. Afinal de contas, é muito mais fácil para todos nós reconhecer as fraquezas, maldades e mazelas alheias, não?

Encerro este post com uma recomendação expressa de leitura: A Vida dos Outros, artigo no qual o jornalista Guilherme Fiuza relata o dia em que seu filho Pedro caiu do oitavo andar do prédio em que morava, no dia 2 de julho de 1990. Como bem afirma Fiuza, a vida dos outros não é um Big Brother.

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P.S. 1: Luiz Antonio Magalhães, no Observatório da Imprensa, questiona: O caso Isabella Nardoni é uma nova Escola Base?

P.S. 2: A edição de hoje do caderno Link do Estadão tem como principal assunto os dez anos de blogs em português. Gustavo Miller ouviu vários blogueiros, dentre eles este que vos escreve.

Para não esquecer

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

Há exatamente um ano o menino João Hélio Fernandes Vieites, que na época tinha 6 anos de idade, morreu após ter sido arrastado, por longos e inacabáveis sete quilômetros, por criminosos que haviam roubado o carro de sua família. Eu e minha amiga Luciana escrevemos sobre a morte de João Hélio na época. Não deixemos que mais este caso caia no mero esquecimento.

* * * * *

Meu camarada Raphael Perret comentou, muito apropriadamente, a capa da edição de hoje do jornal O Globo, que ao falar da vitória da Beija-Flor no carnaval carioca de 2008 ressaltou que Anísio Abraão David, bicheiro, contraventor e presidente de honra da escola de samba de Nilópolis, foi acusado de praticar os crimes de tráfico de influência, corrupção passiva e ativa, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, e só está em liberdade graças a um habeas corpus.

Mesmo assim, Aniz é constantemente paparicado por políticos como o atual Ministro do Trabalho Carlos Lupi, e comemorou a conquista da Beija-Flor em cima de um carro de bombeiros, como se fosse um herói ou um medalhista olímpico. Coisas típicas deste país do ôba ôba. Enquanto isso, a Viradouro do polêmico e brilhante carnavalesco Paulo Barros foi relegada a um mero sétimo lugar. Tsc, tsc.

Outra capa de jornal que merece ser destacada é a do diário El Tiempo, da Colômbia, que conheci graças a um post da Daniela Bertocchi, e que por sua vez soube da ousadia gráfica do diário graças a um blog interessantíssimo, o Innovations in Newspapers. A primeira página do El Tiempo exibe fotos de pessoas dando costas e o texto invertido, como se estivesse sendo visto através de um espelho. À primeira vista, soa como se alguém da gráfica tivesse cometido uma tremenda presepada. Porém, na metade inferior da capa, uma caixa de texto revela o motivo da inovação gráfica. Ontem foi marcado um dia de protestos contra as guerrilhas FARC. No box, a mensagem clara e cristalina do jornal: “Virar as costas ao problema não fará ele desaparecer”. Idéia e concepção simplesmente brilhantes da equipe do El Tiempo, que me fizeram lembrar dos bons tempos em que o Correio Braziliense (na época em que Ricardo Noblat trabalhava lá) e o Caderno 2 do Estadão freqüentemente bancavam ousadias gráficas em suas capas.

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Enquanto nas hordas republicanas John McCain está praticamente sacramentado como o candidato à Presidência do partido de Bush Júnior, a disputa entre Barack Obama e Hillary Clinton pela vaga dos democratas está cada vez mais acirrada. Tenho acompanhado os desdobramentos da corrida presidencial norte-americana através de blogs. No Brasil, Idelber Avelar e Jefferson Guedes têm sido minhas fontes prediletas de informação.

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Não, não esqueci. Despacharei nesta sexta-feira os prêmios referentes à promoção Coração de Pedra. Ah, sim: após ter visto dezenas de vídeos referentes à promoção Heroes fazendo piadas com a Claire fazendo xixi na cama ou sacaneando meu santo nome em vão, tenho o prazer de anunciar que, após ter assistido a 166 vídeos enviados para a minha caixa postal, o nome do ganhador do box de DVDs é… Leandra Postay. Em tempo: Leandra, acabei de mandar um e-mail a você solicitando suas coordenadas geográficas. Obrigado a todos que participaram, e aguardem: novas promoções estão a caminho!

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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