Artigos da categoria: Cotidiano

Desafio Rayovac (publieditorial)

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 18 de maio de 2010

Em meio ao dilúvio de informações que nos bombardeiam diariamente, a gente acaba deixando de prestar atenção em coisas que fazem parte do nosso dia-a-dia. É até natural: atos cotidianos como abrir uma porta, ligar o computador, tomar um copo d’água são realizados de forma mecânica e corriqueira. O perigo, porém, reside na hora em que deixamos de prestar mínima atenção em certas atitudes que cometemos sem atentarmos para as possíveis consequências. Nessas horas, sempre lembro daquela história da Teoria do Caos e do Efeito Borboleta (sim, aquele filme com o Ashton Kutcher foi baseado nessa tese) que diz que o bater de asas de uma borboleta no Oceano Pacífico catalisa uma série de pequenos grandes eventos que pode resultar no surgimento de um tufão do outro lado do planeta. Quem já leu o conto “Um Som de Trovão”, de Ray Bradbury, também está familiarizado com essa teoria.

Pois bem: foi preciso que eu fosse contatado por uma agência para que eu buscasse por mais informações a respeito de algo tão trivial quanto uma pilha. Dê uma olhada ao seu redor e note cada objeto que está no seu campo de visão. Eu, por exemplo, vejo neste exato momento um copo, um toy art de um bonequinho ninja, uma caneta, um estojo com CDs, um dicionário, meu smartphone. Quais foram os caminhos trilhados por cada um dos objetos que vejo à minha frente? Quantos anos de pesquisas foram gastos no desenvolvimento de cada peça que compõe o meu celular? Como será a fábrica que produziu este boneco ninja que minha namorada comprou porque o olhar sério dele fez com que ela se lembrasse de mim? Onde ficam as árvores que deram origem às páginas deste dicionário? Quantas pessoas devem tê-lo folheado na livraria antes que viesse parar na minha casa? Enfim, são as viagens maionésicas, ao melhor estilo “Ilha das Flores”, que começaram a se passar na minha cabeça quando pesquisei um pouco mais sobre as pilhas Rayovac, sobre as quais fui contratado para falar. Deverá ser a última vez em que me chamam pra fazer isso, aliás: estou tergiversando e enrolando tanto quanto nas vezes em que comecei a puxar papos antes de convidar alguma mulher bonita para sair. :)

Mas o caso é que fiquei besta ao descobrir que, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, nada menos que 1,2 bilhão de pilhas e 400 milhões de baterias de celular são vendidas anualmente no Brasil, movimentando mais de R$ 900 milhões. E, ao ler o release da campanha, outras informações interessantes me chamaram a atenção. O leigo aqui sempre comprou pilhas alcalinas levado pelo (des)conhecimento comum de que elas são melhores porque duram mais. E não sabia, por exemplo, que em equipamentos que requerem descargas leves e contínuas, como controles remotos, relógios de parede e rádios portáteis, pilhas comuns são as mais recomendadas. Pois as alcalinas são a melhor opção apenas no caso de aparelhos que exigem descargas de energia rápidas e fortes, como aparelhos de som e brinquedos. Ou seja: por causa da minha falta de curiosidade em me informar decentemente sobre o assunto, por décadas tenho gasto dinheiro com pilhas mais caras sem necessidade.

Outro dado relevante: cerca de 40% das pilhas vendidas no Brasil são falsificadas, produzidas e vendidas sem o controle das autoridades. Ou seja, ao contrário das pilhas Rayovac, que atendem às normas do Conselho Nacional do Meio Ambiente e não contêm metais pesados como mercúrio e cádmio, esses produtos piratas que você encontra em qualquer barraca de camelô, além de serem contrabandeados e não gerarem impostos, contaminam a natureza com uma série de matérias-primas cujos efeitos colaterais são de tirar o sono de qualquer consumidor desavisado.

A opção ideal é, sem dúvida, o uso de pilhas recarregáveis, que podem ser reutilizadas centenas de vezes. No Brasil, elas ocupam ainda um nicho pequeno. Segundo dados do Instituto Akatu, as recarregáveis, indicadas para aparelhos de alta tecnologia como câmeras digitais e tocadores de Mp3, representam não mais do que 5% do mercado. Aproximadamente 65% das vendas são de pilhas comuns; e as demais, de alcalinas.

Por desconhecimento, acabamos por adquirir produtos inadequados. Sem um consumo devidamente consciente, gastamos dinheiro com produtos mais caros e desnecessários. E aí cito uma declaração de Thiago Melo, gerente de produtos da Rayovac, que afirmou: “Do ponto de vista do consumidor, ainda há muito que se esclarecer em relação à categoria de pilhas. Algumas indústrias costumam divulgar informações desencontradas em campanhas publicitárias. Assim, ao contrário do que se pensa, as pilhas alcalinas nem sempre são a melhor opção”. É nessa hora que meneiei a cabeça, pensando em todos esses anos gastando mais e de forma errada.

Visite o site de Rayovac para ver a tabela completa de comparação entre pilhas comuns e alcalinas

Há um mês a Rayovac lançou uma campanha ousada, intitulada Desafio Rayovac, que foi parar na Justiça (vide matéria do jornal O Globo) por reclamações feitas pelo seu concorrente direto, a Duracell. Pudera: a campanha foi baseada em testes realizados pelo laboratório sueco Intertek (e devidamente reconhecidos pelo Inmetro), que comprovam que as pilhas alcalinas Rayovac duram tanto quanto as da Duracell. Porém, com um singelo detalhe: cada pilha Rayovac, em média, custa R$ 0,50 a menos. A campanha segue à toda. Pois, segundo decisão da 6ª Vara Civil do Rio de Janeiro, “a propaganda comparativa é, na realidade, um instrumento do consumidor, pois através dela terá opções de decisão”.

Eu, que antes de aceitar fazer este publieditorial pesquisei por informações disponibilizadas em todos os links deste post, não poderia concordar mais com a decisão judicial que aprovou a continuidade da campanha Desafio Rayovac. Informação é poder. Principalmente nestes tempos em que você, que lê este texto, tem condições de fazer suas próprias apurações graças a todo um mundo de informações, podendo contestar o que lê, vê e ouve por aí baseado em dados disponíveis nestes tempos de blogs e redes sociais. Navegue pelos links deste texto, faça suas próprias pesquisas em outras fontes, conteste este post ou a Rayovac à vontade. Mas, principalmente, não faça de seus atos de consumo algo automático, movido unicamente por impulsos primários ou campanhas publicitárias. Citando uma música antiga dos Engenheiros: “Ouça o que digo, não ouça ninguém”.

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P.S.: Informe-se melhor sobre a questão do lixo eletrônico neste site: http://www.lixoeletronico.org.

Editorial de Páscoa

Por Alexandre Inagakidomingo, 04 de abril de 2010

“1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 - então o 11, e você começa tudo outra vez”. Onze, a renovação da dezena: assim interpreta Joseph Campbell em O Poder do Mito. Viver é começar de novo, e de novo, e de novo. Nada mais apropriado, pois, do que uma edição número onze no dia em que se celebra a ressurreição de Cristo: morte e renovação.

Toda mudança carrega em si um pouco de morte e mais um tanto de renascimento. Como o adulto de hoje, que precisou matar muitas atitudes e ilusões da infância para se tornar o que é. Como eu, que assassinei, a sangue frio, muitos dos mitos que carreguei comigo em meus “wonder years“: o Papai Noel, o coelhinho da Páscoa, o “bom selvagem” de Rousseau, a minha futura carreira de cantor de rock, os amores que um dia se foram (sempre me identifiquei com o Charlie Brown, em seus constantes desencontros com a garotinha ruiva).

Hoje sou um homem mais cínico e cético do que gostaria, mas acredito que dentro da dosagem necessária para sobreviver a um mundo que vem sem manuais de instrução ou botes salva-vidas. Sei um pouco a respeito das engrenagens sujas que movem o teatro da vida, o bastante para acreditar que um pouco de ignorância é pressuposto fundamental para ser feliz no mundo em que vivemos. Mas, acima de tudo, tenho esperanças.

Sim, tenho esperanças. Não que eu seja um daqueles caras que acreditam que basta juntarmos nossas mãos e cantar “Imagine” para mudar o mundo: meu lado cínico não resiste a fazer piadas sobre hippies emaconhados (não aqueles mauricinhos da novela das seis, assépticos e domesticados como o som de uma boy band), ou esquerdistas que guardam suas camisetas com a foto do Che Guevara penduradas ao lado de suas calças Fórum e t-shirts Nike.

Minhas esperanças não estão atreladas a nenhum credo ou religião. Não tenho ídolos nem líderes a seguir, que pudessem me guiar em meio à alienação, ao tédio e ao torpor de um mundo devastado por guerras estúpidas, preconceitos acéfalos, desigualdade social e falta de amor. Não leio livros de autoajuda, não sigo paradas de sucesso, não faço doações à LBV, não sei qual é o sentido de nossa passagem por aqui e, por favor, não desejo receber nenhum anexo de Power Point com mensagens edificantes sobre a humanidade.

Tampouco sei porque fui acometido com estas reflexões. Talvez seja porque não ganhei nenhum ovo de Páscoa.

* * *

P.S. 1: O texto acima foi publicado originalmente na edição 011 do SpamZine, em 15 de abril de 2001. À guisa de contextualização: o SZ foi um fanzine, distribuído semanalmente por e-mail para mais de 3.500 assinantes previamente cadastrados, que durou 93 edições e circulou de fevereiro de 2001 a novembro de 2003. Criação minha e do cumpadi Ricardo Sabbag, o SpamZine surgiu na esteira do seminal CardosOnline, mailzine criado por André Czarnobai, a.k.a. Cardoso, que influenciou toda uma geração de novos autores que encontrou na internet o espaço ideal para divulgar seus trabalhos e achar novos comparsas.

Ao longo de pouco mais de dois anos, o SpamZine publicou textos de autores do naipe de Orlando Tosetto Junior, Nicole Lima, José Vicente, Eduardo Fernandes, Suzi Hong, Cecilia Giannetti, Índigo, André Machado, Ian Black, Mateus Potumati, Ione Yoshida de Moraes, Fábio Fernandes e Daniela Abade. Porém, como tudo que está na internet é volátil feito fama de ex-participantes de reality show, o site do Spam Zine saiu do ar, deixando poucos vestígios na web. Do mesmo modo, diga-se de passagem, que outros ezines contemporâneos daqueles tempos pré-blogs, como o Tijolão, o Alfinete, o MOL e o Ogden (o Givago é um dos raros que ainda mantém um site).

Mas enfim, como diz aquele clichê amarfanhado, recordar é viver. Citei o SpamZine em uma entrevista que dei a Augusto Nunes para o site da Veja. Bom pretexto para resgatar este texto sobre a Páscoa e lembrar dos bons tempos em que fui editor de um fanzine rodado em um mimeógrafo virtual. B)

P.S. 2: Sobre a época dos fanzines por e-mail, vale a pena ler este artigo do Pedro Doria: “Quando Cardoso inventou a internet”.

P.S. 3: Minhas opiniões sobre a Páscoa, escritas há nove anos, são essencialmente as mesmas. Mas houve ao menos uma diferença essencial neste ano de 2010: ganhei um ovo de Páscoa. ;)

Mais amor, por favor

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Neste final de ano resolvi fazer algo diferente. Ao invés de publicar uma retrospectiva pessoal, como faço desde 2002, decidi publicar as fotos acima, que retratam uma frase cunhada pelo grafiteiro Ygor Marotta e pichada em vários lugares de São Paulo, como um desejo de que em 2010 a gente tente seguir esse conselho à risca.

Mais amor, mais civilidade, mais compreensão, mais disposição em ouvir as pessoas, mais serenidade, mais espaços para que toda essa gente fina, elegante e sincera que eu sei que povoa este planeta sofrido possa continuar fazendo deste mundo em que vivemos um lugar um pouco melhor: é este o meu desejo para todos nós neste novo ano que já está batendo à porta.

Xô, 2009. Que venha 2010! Feliz Ano Todo. ;)

Há 3 anos

Por Alexandre Inagakisexta-feira, 15 de maio de 2009

Três anos é o prazo após o qual cadáveres que estão em sepulturas individuais vão para covas coletivas, conforme procedimento padrão adotado nos cemitérios públicos de São Paulo. Arual Martins, promotor criminal que trabalha na zona Sul da capital, região que concentrou o maior número de casos no já distante mês de maio de 2006, declarou: “Qualquer apuração criminal, o tempo vai apagando e deixando tudo muito longe. À medida em que o tempo vai passando, tudo vai sumindo. A memória se perde.”

Há 3 anos, São Paulo sofreu a maior onda de ataques contra o Estado em toda a sua história. Tudo começou na noite da sexta-feira, dia 12 de maio de 2006. Cerca de 12 mil detidos foram liberados das cadeias, graças ao indulto concedido por causa do Dia das Mães. Muitos desses homens saíram com uma missão a cumprir: iniciar uma série de atentados, catalisados pela transferência de oito dos principais líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital), dentre eles Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, para a sede do DEIC (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) em São Paulo, e depois para a penitenciária de segurança máxima em Presidente Bernardes.

Presos rebelaram-se nas cadeias, ônibus foram queimados, bancos e postos policiais foram metralhados. Mas o auge do pânico que assolou a incauta população paulista ocorreu na segunda-feira, dia 15 de maio, quando uma onda de boatos espalhou-se por São Paulo, amplificada pelos noticiários sensacionalistas na TV. Resultado: a maior cidade da América do Sul simplesmente parou. Escolas cancelaram aulas, o comércio fechou as portas, e-mails espalharam o boato de que haveria um “ataque de violência às 18 horas” e São Paulo foi tomada por um inusitado megacongestionamento no meio da tarde, com pessoas aflitas por chegar às suas casas. À noite, William Bonner apresentou o Jornal Nacional fora do estúdio, tendo a marginal do Rio Pinheiros ao fundo, entrevistando ao vivo Cláudio Lembo, governador de São Paulo na época. É um momento significativo: Bonner nitidamente mostra irritação com as respostas de Lembo, interrompendo e contestando as falas do governador em diversos momentos da entrevista.

No dia seguinte, ignorando as declarações apaziguadoras de Lembo, a cidade parou, conforme relatou Bob Fernandes na matéria “Eles venceram”. Em artigo publicado na Folha de S. Paulo no mesmo dia, o dramaturgo Mário Bortolotto desabafou ironicamente a respeito do toque de recolher autoinfligido pelos paulistanos: “Sacaram? Vocês que agora estão escondidos em suas casas, com medo de saírem às ruas pra tomar uma inocente cerveja ou pra ir a um cinema depois de um dia cansativo de trampo e pavor? Vocês sacaram que isso que vocês estão passando nesse momento é rotina nas favelas cariocas? O toque de recolher, o abaixar as portas, o rezar baixinho pra que ninguém ouça. Às vezes tão baixinho que nem Deus ouve. E a gente faz de conta que tá acontecendo longe daqui, num país distante de alguma fábula de terror. E agora você tá vendo os busões incendiados, as estações de metrô metralhadas, e você tá dentro do trem fantasma.”

Três anos se passaram. 63% dos assassinatos de civis ocorridos durante os dias 12 e 20 de maio de 2006 foram arquivados. Rodrigo Bertolotto, que fez uma excelente matéria resgatando os acontecimentos daqueles dias conturbados, entrevistou Domingos Pessoa, perueiro que trabalha na cidade de Guarulhos. Na época, Domingos havia montado uma lan house junto com Anderson, seu filho mais velho, que respondia em liberdade a uma acusação de roubo. No dia 17 um homem encapuzado invadiu a lan house procurando por Anderson. Após se identificar, o filho de Domingos levantou as mãos e pediu misercórdia. Foi ignorado; recebeu um tiro na queima-roupa e morreu, aos 24 anos de idade, deixando dois filhos. Seu algoz jamais foi identificado e provavelmente nunca será. Afirma Domingos: “A gente, que vive na periferia, exposto a tudo, tem garantia de quê? Só de Deus. Garantia de Deus.”

Sofremos uma miopia histórica e esquecemos rapidamente de acontecimentos que não poderiam cair no oblívio. Por causa disso, e movido por saber que em outubro estreará Salve Geral, o primeiro longa de ficção passado durante aqueles dias de maio de 2006, dirigido por Sérgio Rezende, comecei a escrever no Twitter uma série de posts com a hashtag #ha3anos. Muitos compartilharam lembranças sem sequer saber do contexto original, e por isso convidei alguns amigos blogueiros para escreverem, neste dia 15 de maio de 2009, textos resgatando o dia em que São Paulo parou, aproveitando também para discutir a segurança pública no país. Estes são os posts que já foram publicados sobre o assunto:

- Idelber Avelar - Três anos de uma matança e a falência de uma política de segurança

- Marcelo Soares - Três anos dos ataques do PCC: dois dias de caos, 170 mortes insolúveis e R$ 722 mil

- Danillo Ferreira - Ataques do PCC em São Paulo: 3 anos

- Orlando Tosetto Júnior - Eles não são uma espécie de solução

- Roger Franchini - 3 anos dos ataques do PCC

- Gabriela Franco - Toda forma de poder

- Luiz Biajoni - Há 3 anos, o terrível ataque do PCC e a mais terrível ainda postura do PFL

- Gabi Bianco - Há três anos…

- Rafael Pereira - “Há três anos”, o movimento pela memória de uma tragédia

- Flávia Penido - Há 3 anos tivemos toque de recolher

- André - O dia em que São Paulo parou

- Luma Rosa - Cobras e Lagartos

- Hugo Albuquerque - Reflexões sobre a Violência e a Criminalidade

- Mario AV - Três anos desde o terrorismo em SP

- Gabriela Silva - O terror continua à espreita

À medida em que novos textos sobre o tema #ha3anos forem sendo publicados, eles serão devidamente linkados neste post (deixe um comentário ou trackback para que eu publique seu link aqui). Participe! Afinal de contas, o assunto é importante demais para ser relegado ao esquecimento, voltando a ser debatido apenas quando algum ataque acontecer ao lado da sua casa.

Desabafo sobre a declaração do imposto de renda

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 30 de abril de 2009

“Neste momento, agora, empresários, lojistas, operários, trouxas, TROUXAS estão pagando o imposto de renda. Estão pagando imposto de renda para gente que não tem vergonha na cara mandar amigos sirigaitear em Miami, Paris, Roma, aonde quer que seja. E não vai lhes acontecer nada, porque este é um povo estúpido que não reage.”

Hoje é o último dia de entrega da declaração de imposto de renda. E eu, um brasileiro que não desiste nunca de deixar tudo para a última hora, cá estou correndo para finalizá-la e enviá-la para a Receita Federal aos 44 minutos do segundo tempo. A todos que estão passando pelo mesmo perrengue, recomendo fortemente que assistam ao vídeo abaixo, que encontrei no blog do Marcelo Tas. Trata-se do desabafo de Luiz Carlos Prates, comentarista do Jornal do Almoço, exibido na RBS de Santa Catarina, que fala sobre o recente escândalo no Congresso Nacional referente ao abuso no uso das cotas de passagens aéreas para os parlamentares.

Confesso que nunca havia ouvido falar no nome de Luiz Carlos Prates antes de assistir a esse vídeo. Mas, após ver o seu catártico comentário, quis saber mais a seu respeito. Prates mantém um blog no site do Diário Catarinense e tem dedicado a ele um verbete na Wikipedia que parece descrevê-lo com precisão: “É famoso por em alguns comentários dar fortes socos na mesa ou erguer o tom de voz. Segundo ele mesmo, já quebrou uma mesa durante um de seus ataques. Também mantém uma concorrida agenda de palestras motivacionais, principalmente para estudantes.”

Deixo aqui um agradecimento público a Prates, porque ele expressou, com contundência alborghettiana, o sentimento idiotizante de se trabalhar feito jegue o ano inteiro para depois dispender um tempo precioso preenchendo a modorrenta declaração do IR. Com gosto amargo na alma, por saber de antemão que todo esse trabalho é devido a impostos que jamais nos darão um justo e efetivo retorno.

Visto a carapuça: sim, eu sou um trouxa.

* * * * *

P.S.: No vídeo, Luiz Carlos Prates cita um deputado que usou a desculpa de que “a família é sagrada” para justificar o uso indiscriminado de sua cota de passagens aéreas. Importante saber: o nobre parlamentar que soltou essa tirada é ninguém menos que o ex-presidente da Câmara dos Deputados Inocêncio Oliveira (PR-PE), que usou recursos públicos para financiar a viagem da esposa, das filhas e da neta para a Europa e Nova Iorque entre agosto e dezembro de 2007. Mais informações sobre esse escândalo das passagens aéreas estão disponíveis no excelente site Congresso em Foco.

Por aí

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 09 de março de 2009

Filmes, músicas, séries de TV, livros. Cultura pop é um tema que inspira apaixonadas e intermináveis discussões, em especial na Web. Qualquer um que já fez uma lista dos cinco piores seriados sobre advogados, dez músicas para curtir fossa ou sete melhores adaptações cinematográficas de livros certamente se deparou com comentários indignados sobre a citação ou o esquecimento de algum “injustiçado”. Não à toa, pois, o gráfico The Trilogy Meter, de Dan Meth, foi visualizado mais de 140 mil vezes em duas semanas.

A ideia é genial. Porém, como não poderia deixar de ser, discordo em ao menos uma avaliação: não acho que O Poderoso Chefão 3 seja tão ruim quanto se apregoa por aí. Acho magníficas tanto a sequência na ópera quanto a cena final mostrando o destino de Michael Corleone. Mas sei que faço parte de uma minoria que abstraiu o desempenho dramático de Sophia Coppola no filme.

* * *

Peter Sebastian especializou-se em dar forma gráfica a frases e aforismos extraídos de filmes e de suas experiências pessoais. Por conta disso, tornou-se o autor de ilustrações fartamente reproduzidas em blogs e, especialmente, no Tumblr, embora nem sempre com os devidos créditos dados, tornando-se mais um caso de “autor desconhecido” na internet. Uma pena: Peter Sebastian faz por merecer todo reconhecimento possível.

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Brock Davis, além de ser autor de algumas das estampas mais bacanas das camisetas da Threadless, possui um currículo dos mais respeitáveis. Mas ele veio parar neste post por causa de uma de suas atividades mais recentes: ilustrar, usando M&Ms, piadas de… pontinhos.

Eu, como membro da comunidade Infâmia Lovers no Orkut, não poderia deixar de destacar a imagem acima, justamente intitulada “Papai Smurf fica bravo e transforma-se no Incrível Hulk”.

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Dos “memes” que pululam por aí, um dos mais interessantes, surgido originalmente no Facebook, é aquele que conclama internautas a postarem 25 coisas aleatórias a seu respeito. Enquanto não publico a minha lista, destaco uma tira do genial David Malki satirizando esse meme.

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P.S. 1: Qualquer efeméride perde seu sentido se não resgatamos o motivo pelo qual determinada data está sendo celebrada. Não vejo diferenças, pois, entre a criança que ganha um presente de Natal sem saber o que a data tem a ver com Jesus Cristo, ou entre a mulher que ganha uma rosa murcha no dia 8 de março, acompanhada por um chavão do tipo “parabéns pelo seu dia”, em geral pronunciado por um homem que desconhece os motivos da criação do Dia Internacional da Mulher e sequer sabe quem é Maria da Penha Maia, a biofarmacêutica que empresta seu nome à lei federal 11.340/2006, que endureceu as punições a quem comete violências físicas e psicológicas contra mulheres.

P.S. 2: Recomendo dois textos em especial sobre o Dia da Mulher: Dispenso Esta Rosa!, de Marjorie Rodrigues, e Mensalão do Aborto, de Marcelo Rubens Paiva. E a quem interessar possa, alguns posts que escrevi anteriormente: Dia internacional das homenagens infames às mulheres e Entre o moderno e o eterno.

“Tome seu veneno silenciosamente”

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Tem coisas que a gente não pode deixar passar em branco. Este incidente ecológico, por exemplo: no dia 18 de novembro a empresa Servatis Agro & Fine Chemicals, que fabrica inseticidas, fungicidas e fertilizantes, adquirida pela BASF em 2001, foi a responsável pelo vazamento de pelo menos 1,5 mil litros do inseticida Endosulfan no Rio Paraíba do Sul, no estado do Rio. Em nota publicada na tarde do dia 19/11 no site da Servatis, a empresa tratou de “tranquilizar” a população, afirmando: “O produto em contato com a água entra, imediatamente, em processo de hidrólise (decomposição pela água), não oferecendo nenhum risco de contaminação a seres humanos. De acordo com a gerência de meio ambiente da empresa, análises realizadas nesta quarta-feira apontaram que a concentração do endosulfan no Rio Paraíba do Sul caiu para zero, não oferecendo mais riscos à fauna”. Pelo jeito, a zelosa empresa Servatis esqueceu de avisar os animais da região de que eles já estavam a salvo. Nove dias depois, em 28 de novembro, o blog do professor Roberto Moraes, que mora em Campos dos Goytacazes, publicou fotos de animais encontrados mortos às margens do Rio Paraíba do Sul.

O pesticida Endosulfan, que segundo a Servatis trata-se de um produto que se decompõe com a água, foi banido na União Européia devido ao seu alto potencial tóxico. E a empresa que, diga-se de passagem, é reincidente e já havia sido multada anteriormente em R$ 307 mil há alguns meses pelo vazamento de gases tóxicos, desta vez recebeu uma multa de 33 milhões de reais devido a esse desastre ecológico que matou milhares de peixes e outros animais, deixando ainda várias cidades do Rio sem abastecimento de água potável. A Servatis protestou, como já era de se esperar, dizendo que esse valor comprometerá a existência da empresa. E propôs assinar um “Termo de Ajustamento de Conduta” ao invés de pagar essa multa. É como explicou ironicamente Xico Vargas: “Ou se aceita essa gracinha ou a empresa vai para o beleléu, põe uma penca de empregados na rua, deixa de recolher impostos e aumenta a crise. É mais ou menos como o marido que quebra toda a louça, hospitaliza a mulher de tanta pancada e sugere ao juiz comprar um novo aparelho de jantar e dar umas cestas básicas para alguma casa de caridade”.

Saiba mais sobre os efeitos nocivos do Endosulfan nos sites da Pesticide Action Network North America e da Environment Justica Foundation. Paula Góes escreveu um artigo fundamental sobre o incidente da Servatis no Global Voices em Português. E Não se esqueça de enviar o seu recado para que o pessoal do Ministério do Meio Ambiente não deixe passar mais este incidente em branco.
UPDATE: Paulo Fehlauer e André Deak produziram para a Revista Fórum a reportagem “Crônica de uma Reportagem Ambiental”, um exemplo excepcional de jornalismo multimídia e open source, explorando os recursos oferecidos pela internet, com textos, fotos, vídeos e Google Maps que narram os fatos e desdobramentos desta tragédia ecológica. Além disso, foi disponibilizado todo o conteúdo na íntegra das entrevistas de apuração realizadas pelos repórteres na região, possibilitando que novas edições a partir desse material bruto possam ser feitas.

* * * * *

P.S. 1: O título deste post é uma referência a uma música dos 10.000 Maniacs chamada “Don’t Talk”, cujos versos dizem: “Don’t talk, I will listen/ Don’t talk, you keep your distance/ For I’d rather hear some truth tonight than entertain your lies/ So take you poison silently”.
P.S. 2: Rafael Galvão escreveu um artigo relembrando um incidente ocorrido no dia 6 de dezembro de 1928 que eu, confesso, desconhecia até então.
P.S. 3: No dia 10 de dezembro de 1948 a ONU adotou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, como uma resposta às crueldades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. A fim de celebrar os 60 anos da Declaração, a TV Cultura criou um site e um blog divulgando a programação especial da Fundação Padre Anchieta.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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