Campus Party #1: Sobre luz e liberdade
Por Ana Carolina Moreno ≈ quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Prólogo: Essa que voz fala bate à porta e entra bem devagarinho no Pensar Enlouquece, carregando uma enorme caixa cheia de admiração pelo blogueiro e amigo excepcional que é Alexandre Inagaki, e de gratidão pelo convite para conhecer a Campus Party e relatar aqui algumas impressões sobre ela. Se você tem algum comentário, sugestão ou crítica, ou se precisa de um adaptador para o novo padrão de tomadas, me procure nesse post, pelo Twitter (@anarina) ou na barraca D99 (siga pela avenida principal, vire à direita no hidrante 45 e primeira à esquerda depois da lixeira).
Mal começou e a 4a. Campus Party já será eternamente marcada pelos apagões. O primeiro foi às 3h da madrugada de segunda para terça. O show do Seminovos já tinha terminado e as únicas atividades eram o download frenético, o streaming das bancadas e o “ooOoooOOOooo” que ecoava em intervalos de cinco minutos. Felizmente (desculpem os que reclamam, mas o grito vem ganhando cada vez mais espaço no meu coração), o blecaute só impediu dois dos três eventos noturnos. Mas fiquei com pena dos campuseiros que tomaram açaí para virar a primeira noite e de repente se viram forçados a dormir depois de um banhozinho gelado. Já o segundo apagão considerei grave, porque durou mais tempo e atrapalhou o cronograma vespertino da festa. Os nerds reagiram com bom humor e até certo ponto não havia muito do que reclamar, pois ambos os eventos foram provocados por fatores externos.
Quem sabe ainda é possível transformar essa edição na Campus Party da liberdade, do open data e dos protestos contra leis abusivas de controle da Internet. Afinal, boa parte da programação está dedicada ao software livre e à segurança de redes, incluindo palestras com os principais ativistas brasileiros e ícones mundiais como Tim Berners-Lee, o pai da World Wide Web, Jon “Maddog” Hall, presidente da Linux International, e Kul Wadhwa, um dos diretores da Wikimedia, a fundação responsável pela Wikipédia.
Maddog e Wadhwa ainda não chegaram, mas quem perdeu a conversa de Berners-Lee com o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, mediada pelo editor da Wired UK Ben Hammersley, não precisa chorar, porque eu estive lá e vou resumir aqui alguns dos principais pontos levantados pelos dois:
Em defesa da Internet
Quem já ouviu Tim falar, ou pelo menos conhece sua história de vida, sabe que ele é uma pessoa fora do comum. É um visionário, é um nerd, e pela sua fala é possível ver como o cérebro dele funciona em uma velocidade diferente (ou seja, é mais difícil de acompanhar). Mas ele foi bem enfático no final de sua introdução quando fez um apelo em prol da autonomia da Internet em relação aos governos.
Al Gore, que é formado em Comunicação e tem prática de sobra no quesito discursos, encerrou sua primeira fala dizendo a mesmíssima coisa que o cientista, mas de maneira muito mais eloquente:
O papo não se afastou muito da neutralidade na rede, um tema no qual ambos concordavam em gênero, número e grau. Tim sugeriu que, para defender a liberdade, era necessário agir gradualmente: protestar contra a empresa de Internet em questão, boicotá-la, reclamar junto ao governo, juntar amigos e eventualmente sair às ruas. “Garanta que onde você for você mantenha a Internet aberta”, afirmou, antes de contar sobre o projeto de open data que ele realiza desde 2009 com o governo britânico.
O vencedor do Oscar e do Nobel da Paz, por sua vez, aproveitou para ressaltar que “os governos ainda não estão adaptados às possibilidades da rede mundial de computadores” e que “a Internet aumenta o seu poder de fazer qualquer coisa”. Ele completou ainda sua posição contrária a qualquer lei que ameace esse poder.
Até aí tudo bem, mas o assunto caminhava inevitavelmente à ovelha negra da família da Internet aberta. Wikileaks subiu ao palco e logo foi enxotada com uma desculpa que não conseguir disfarçar a contradição. Disse Gore: “A revisão e publicação de informação deve ser feita segundo a lei”. Berners-Lee completou avisando que defende a publicação de dados governamentais “que não identifique indivíduos e que sejam conseguidas seguindo as regras”. Eu, pessoalmente, acho que o discurso engajado e ativista do parágrafo anterior contrasta com o conformismo em relação às leis citadas nesse parágrafo que encerro aqui.
Foto de @KaduGazeteiro
Transformando sistemas
Tim aproveitou sua passagem pela Campus Party para inspirar os campuseiros e campuseiras a pensar além de suas necessidades individuais. “Apenas 20% da população mundial está online, 80% não usam a internet. Vocês precisam pensar no que podem fazer para transformar também a vida dessas pessoas”, explicou o cientista.
O ex-vice americano também sugeriu um desafio para enfrentar a apatia dos alunos: “Já passou da hora da civilização inventar um modelo educacional baseado na pesquisa, onde o aluno é movido pela curiosidade e o professor atua como um guia.” Segundo ele, esse sistema ainda não existe, apesar das várias tentativas implementadas por todo o mundo.
Ana Carolina Moreno
Ana Carolina Moreno (1982) é graduada em jornalismo pela Universidade de São Paulo (2006), com especialização em Edição em Jornalismo pela Universidade da Coruña (2009). Já trabalhou em jornais, revistas e sites de notícias no Brasil e na Espanha, além de ter experiência como correspondente internacional na Argentina, Cabo Verde, Chile, França, Suécia e Turquia.
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