Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
Sonhei que estava num barzinho no terraço de um prédio parecido com o Copan, no centro paulistano, com amigos entretido num típico papo de boteco. Houve uma hora, porém, em que notei uma movimentação incomum no céu. “Deve ser tempestade”, disse um amigo. Não era.
A impressão que dava é de que alguém estava fazendo street art no céu, com grafites no mesmo estilo daqueles feitos por Osgemeos. Só que os desenhos se mexiam, e começaram a tomar a forma de homens montados em cavalos. Quando notamos que aqueles vultos estavam se aproximando, alguém deu um berro de alerta:
Soube, através do Trabalho Sujo do Matias (e do Vitralizado do Ramon Vitral), que o Neil Gaiman deu recentemente uma palestra na London Book Fair, sobre o futuro dos livros e da indústria cultural em geral. Sua fala está disponível no vídeo abaixo.
Ano passado, Gaiman já havia feito um discurso simplesmente magnífico aos formandos de uma turma na University of the Arts da Filadélfia, conhecido com o nome de “Make Good Art” (e que já virou livro). Pelo visto, o criador de Sandman está se especializando em dar ótimas palestras também. E assim, graças ao trabalho de Cíntia Citton, que a meu pedido transcreveu e traduziu a fala de 30 minutos de Neil na Digital Minds Conference da London Book Fair, publico a seguir o relato de Gaiman sobre o futuro dos livros impressos, suas experiências com internet e suas reflexões sobre os rumos da indústria cultural.
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Em 1976 eu era um roqueiro punk e tinha uma banda, porque é isso que se costumava fazer. Fomos convencidos pelo homem que nos vendeu os instrumentos de que seria uma boa nos sindicalizarmos. E tudo que lembro sobre pertencer ao sindicato dos músicos é que eles nos davam adesivos amarelos, para serem colados nos instrumentos, com esta frase: “Gravações caseiras estão matando a música.” O que esses adesivos queriam dizer é que a possibilidade do público reproduzir em cassetes a mesma música que estava sendo vendida na forma de vinis tiraria os músicos do negócio e faria com que parassem de ganhar dinheiro. E, é claro, gravações caseiras realmente mataram a música. Ou algum tipo de música. E foi uma morte incrivelmente demorada e saudável. Continue Lendo
Há coisas que escapam do plano racional. O medo de viajar de avião, por exemplo. Toda vez que estou a bordo de um vôo, sinto que estou sendo confrontado com a minha mortalidade.
Ok, eu sei que posso bater as botas, ir para a terra dos pés juntos, subir no telhado, vestir pijama de madeira, comer capim pela raiz, ir desta para melhor, a qualquer momento. Mas a existência de tantos eufemismos para a morte é uma das provas de que não é fácil encará-la de frente. E eu, quando estou em um avião que começa a decolar, não consigo deixar de pensar uma série de bobagens. “Que última impressão eu gostaria de deixar ao mundo? A última palavra que eu disse às pessoas que amo foi bacana? Deixei de fazer muitas coisas das quais me arrependo? Disse alguma bobagem vexaminosa em meu último tweet? Espero que minha morte seja rápida e que eu não sofra muito. Bah, que seja uma explosão repentina, assim eu nem vou saber o que me aconteceu.” Continue Lendo
Em sua coluna na Galileu, Débora Nogueira tergiversa sobre o desligamento de vínculos em tempos de redes sociais: “(…) você provavelmente já conheceu alguém pela internet e depois o levou para a vida real. Esse texto é sobre o passo seguinte. O unfollow na vida. Seja por qual motivo você julgou que aquela pessoa não valia estar ‘entre seus amigos’ é possível cortá-la. Apagá-la. Excluí-la. As relações estão a um clique de serem rompidas (tirar a pessoa da cabeça já são outros quinhentos…). Esse rompimento do unfollow é como dizer ‘não quero mais saber o que está fazendo, ou se vai mandar indiretas para mim’. (…) Romper a relação de receber atualizações e fotos que no fim significam sentimentos para a gente. Ver o que a pessoa está fazendo sempre nos afeta após um rompimento, certo? Na internet isso é mais explícito. Por mais que você não ande na mesma região da cidade que a pessoa, você vai saber que ela está tomando um sorvete, em tal lugar e se bobear até o sabor!”Continue Lendo
Se você conseguir despregar, por alguns momentos, os olhos do impressionante palco giratório que dá à plateia uma visão de 360° de Corteo, novo espetáculo do Cirque du Soleil que recém-entrou em cartaz no Parque Villa Lobos, em São Paulo, verá ao seu redor dezenas de olhares magnetizados e sorrisos boquiabertos. Pudera: Corteo é uma superprodução que envolve 136 pessoas de 25 nacionalidades diferentes, utilizando mais de 260 peças de figurinos e mais de 1.000 toneladas da estrutura do espetáculo, que foram trazidos ao Brasil em cerca de 100 containers. O resultado final é a imersão em uma experiência artística que se torna quase indescritível: você precisa conferir com seus olhos e sentidos. E entenderá perfeitamente porque Corteo, show que estreou em Montreal, Canadá, em 2005, já passou por 48 cidades antes de chegar em São Paulo, tendo sendo visto por mais de 6,5 milhões de espectadores ao longo destes anos. Continue Lendo
Algumas vidas não vividas são alternativas descartadas pela inércia da nossa história ou porque o desejo da gente é dividido, e escolher implica perder o que não escolhemos. Outras são acasos que não aconteceram (é possível passar pela vida sem encontrar ninguém ou encontrando muitos, mas todos na hora errada). Também, mais dolorosamente, as vidas não vividas são caminhos pelos quais não ousamos nos enveredar (na inscrição para o vestibular, na decisão de voltar de um lugar onde teríamos começado outra vida, nos conformismos de cada dia).
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.