As sessões de cinema que marcaram minha vida
Por Alexandre Inagaki ≈ quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Bernardo e Bianca (The Rescuers, 1977) - Foi o primeiro filme que assisti na tela grande e que, hmm, tirou o meu hímen cinematográfico. Tinha quatro anos e não me recordo de quase nada daquela sessão. Da trama, só sei que é um desenho da Disney; o resto mal foi assimilado pela minha memória. Recordo que fui ao cinema levado pela minha tia Emilia e pelo namorado dela na época, e que após a sessão fomos até a casa dele. Fiquei na sala, distraído com um monte de brinquedos, enquanto eles deviam estar ocupados com outras coisas que eu, infante completamente inocente, mal tinha idéia do que poderiam ser.
Os Trapalhões na Serra Pelada (1982) - Quem assiste ao constrangedor Turma do Didi, exibido atualmente nas manhãs de domingo da Globo, não é capaz de imaginar que houve tempos em que Renato Aragão, ao lado dos colegas Dedé, Mussum e Zacarias, já foi um humorista engraçadíssimo. Aliás, o primeiro filme dos Trapalhões visto no cinema ninguém que pertença à minha geração é capaz de esquecer. Fomos eu, meu pai e meus irmãos, Carla e Ronaldo, a uma sala que nem existe mais: o finado Cine Hawaii, que ficava localizado na Rua Turiassu, em Perdizes. Na época, já era raro encontrar salas de bairro em São Paulo. Mas, pra ser sincero, não sinto falta desses cinemas. Complexos como Cinemark e UCI substituíram com vantagem esses tipos de salas, caracterizadas por poltronas puídas e som mono digno de rádios AM. Haja romantismo pra sentir falta desse tipo de sala.
A Insustentável Leveza do Ser (The Unbearable Lightness of Being, 1988) - Uma das coisas mais bacanas do Colégio Bandeirantes, onde cursei o segundo grau, eram as sessões gratuitas de cinema promovidas aos sábados de manhã no Cine Astor, no Conjunto Nacional. Dureza era ter de acordar cedo para encarar as sessões das 10 da madrugada, um tremendo sacrifício para adolescentes acostumados às baladas das sextas à noite. Mas quase sempre o esforço era recompensado, inclusive porque era comum entrar na sala e se deparar com uma artilharia pesada de rolos de papéis higiênicos, devidamente surrupiados dos banheiros do Astor, jogados para o alto e avante e garantindo o pleno despertar daquele bando de bagunceiros. Daquela época de zoeiras cinéfilas, a adaptação do romance de Milan Kundera foi o mais marcante de todos os filmes que vi. Saí da sala irremediavelmente apaixonado por Juliette Binoche, relevando o fato de que sua personagem não depilava as axilas, em uma cena recebida com risos perplexos por aquela platéia juvenil.
Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso, 1988) - Graças a este filme dirigido por Giuseppe Tornatore, descobri a maior utilidade dos créditos finais: servir para que cinéfilos chorões como eu possam se recompor. Feito eu, que fiquei em estado lastimável depois da torrente de lágrimas derramadas com a cena em que a sala de cinema que marcou a infância de Totó foi derrubada e, logo depois, com a seqüência que reúne os beijos cinematográficos censurados pelo padre do vilarejo. Apenas um filme em toda a minha vivência de espectador foi capaz de me desidratar ainda mais: As Pontes de Madison, o belíssimo filme que Clint Eastwood dirigiu em 1995.
O Indomável - Assim é Minha Vida (Nobody’s Fool, 1994) - Este é indubitavelmente o melhor filme que eu não vi em toda a minha vida. Pelo melhor dos motivos: eu e minha companheira de cinema ficamos nos agarrando durante toda a sessão, entretidos com atividades muito mais interessantes. Aliás, só descobri o nome deste filme graças ao IMDB e à vaga lembrança que tinha de que Paul Newman atuava nele.
A Palavra (Ordet, 1955) - Palavras são instrumentos imperfeitos com os quais tentamos, na maior parte das vezes em vão, traduzir nossos pensamentos, sentimentos, experiências. Como expressar, por exemplo, a magnitude da experiência que foi assistir a esta obra-prima? A Palavra infelizmente nunca foi exibido comercialmente no Brasil. Tive, pois, a sorte de assisti-lo graças a uma cópia com legendas em inglês fornecida pela Embaixada da Dinamarca, que viabilizou uma mostra especial dedicada à obra de Carl Th. Dreyer, exibida na Sala Cinemateca, que na época (1991) era localizada em Pinheiros. A Palavra só foi lançado em DVD no Brasil em 2006. Foi quando pude enfim revê-lo, constatando em definitivo que este filme é, em diversos sentidos, um verdadeiro milagre.
P.S. 1: Nota para os mais de dois mil assinantes do feed de Pensar Enlouquece, que recebem meus posts por e-mail ou lêem meu blog por agregadores de RSS: há alguns dias estou destacando, na coluna direita do meu blog, os textos mais interessantes que encontro, em um “post-it” intitulado “O Melhor da Blogosfera”. As atualizações são quase diárias, e para quem não viu ainda os posts que destaquei recentemente, ei-los:
- - O problema de Veja, em Pedro Doria Weblog;
- - Eu seqüestrei e matei minha ex-noiva, em Nossa Via;
- - O grande problema da web como plataforma, em Techbits;
- - Anotações sobre o BlogCamp MG, em BlogCamp Brasil;
- - Haicai, em Ter Par Pra Trepar;
- - Porque a Lei de Murphy existe: dez filmes que comprovam a teoria, em Meu Doppelgänger Perdido;
- - Novos e médios, em Bloda;
- - O artigo patrocinado, a hipocrisia e a Blogosfera!, em Dinheirama;
- - O destino, esse fanfarrão, em Fiapo de Jaca;
- - O site Celebration Fantasias está de volta!, em Ressaca Moral;
- - Os blogs já eram, em Martelada.
Os destaques são constantemente modificados, de acordo com as leituras e navegações que faço, e por isso deixo aqui a recomendação para que os leitores que optam por receber meus posts via delivery, no conforto proporcionado pelo Feedburner, dêem um pulinho de vez em quando no meu endereço virtual. A casa é simples, mas é limpinha. ;)
P.S. 2: A relação de “blogs da semana”, também localizada na coluna direita do meu template, foi atualizada hoje.
P.S. 3: Ótima definição de Abel Gance: “cinema é a música da luz”.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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