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Apneia, o filme

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 06 de novembro de 2014

São Paulo já foi retratada nos cinemas por meio de muitos bons filmes, dentre os quais meus favoritos são O Grande Momento (pequena obra-prima neo-realista de 1958, dirigida por Roberto Santos), o incrível São Paulo S/A (filmaço de 1965 de Luiz Sergio Person, com Walmor Chagas, Eva Wilma e Otelo Zeloni) e a comédia cult Fogo & Paixão (de 1988, da dupla Isay Weinfeld e Marcio Kogan), longa que talvez melhor tenha explorado as arquiteturas singulares desta metrópole. No entanto, é uma cidade que não é tão explorada quanto poderia ser na tela grande. Foi ótimo constatar, pois, que Apneia, o belo longa-metragem de estreia de Mauricio Eça - diretor habituado a mostrar SP em videoclipes como “Diário de um Detento” (Racionais MCs) e “Regina Let’s Go” (CPM 22) -, narra uma história urbana atual e relevante.

Não se trata, porém, de uma obra das mais palatáveis. Contrariando as lógicas predominantes do singular mercado cinematográfico tupiniquim, Apneia não é comédia nem cinebiografia com apoio da Globo Filmes, e tampouco se trata de filme de sertão ou favela. Sua temática é urbana, com foco em uma geração niilista, desfocada e consumista. Suas personagens principais são jovens da classe média alta, bonitas e entediadas, que buscam driblar a rotina praticando atos inconsequentes, na procura desordenada por algum sentido na vida. Porém, você não verá no filme de Mauricio Eça uma sombra sequer de julgamentos moralistas sobre os atos protagonizados pelo ótimo trio de atrizes composto por Marisol Ribeiro, Thaila Ayala e Marjorie Estiano. O olhar aqui é quase documental, como que buscando simplesmente registrar as inquietações e dilemas de uma geração que abraça sua passagem por este mundo com volúpia indigesta, intuindo que viver é uma sucessão de equívocos que não devem ser repetidos. Afinal, experiência é a sabedoria de evitar perpetrar os mesmos erros de sempre, já que há tantos novos a serem cometidos.

Como era de se esperar em uma obra conduzida por um diretor de alguns dos melhores videoclipes brasileiros de todos os tempos, Apneia é um filme com fotografia (a cargo de Marcelo Corpanni) belíssima e trilha sonora impecável. Mas o destaque incontestável é para o seu elenco. Que, em meio a participações especiais de nomes como Maria Fernanda Cândido, Rodrigo Fernandes e Supla, possui seu pilar na entrega generosamente comovente de Marjorie, Thaila e, especialmente, Marisol Ribeiro a seus papéis. E, do mesmo modo que suas personagens perambulam reticentes pela corda bamba do equilíbrio pessoal em busca de amor, torço para que Apneia encontre, ao longo do tempo em que estiver em cartaz, o público que merece ter.

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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