5 grandes baladas nacionais dos anos 00
Por Alexandre Inagaki ≈ sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Toda nostalgia é composta por memórias photoshopadas. É por isso que eu automaticamente abstraio afirmações como “no meu tempo as coisas eram melhores” ou “já não se fazem músicas tão boas como antigamente”. É até natural resgatarmos o passado com um certo olhar condescendente, recordando de tudo que ficou para trás com a memória seletiva de quem pinta lembranças com cores bonitas que nunca existiram na realidade (citando Drummond: “nos áureos tempos que eram de cobre”).
Não sou dessas pessoas que ouvem a produção musical atual e dizem que o rock morreu, pautados em bandas que ganham prêmios de popularidade e angariam multidões de fãs histéricos que xingam muito no Twitter. Pois, se as músicas que tocam nas rádios ou na TV não dizem nada de relevante sobre a minha vida (sugeriria Morrissey: “hang the DJ!”), o fato é que com a internet nunca foi tão fácil descobrir novos sons. Quem não tem o hábito de escarafunchar a rede em busca de bandas que não aparecem no Faustão ou no Top 10 MTV não reconhecerá a maior parte da lista de grandes baladas nacionais dos anos 00, feita por Marcelo Costa do Scream & Yell. Não por coincidência, posso apostar que boa parte dessa galera que ainda desconhece a maioria das gravações citadas pelo Marcelo integra o grupo de pessoas que reclama da decadência musical contemporânea.
Quanto a mim, devo dizer que bati o olho na lista do Marcelo e já comecei a pensar na minha lista pessoal de baladas favoritas. Coisa de quem convive há tempos com a Síndrome de Rob Fleming, o personagem de Nick Hornby com mania de fazer listas pop, e com o qual me identificarei até o resto da vida. Mas tergiverso, tergiverso, e sequer comecei a citar meu Top 5 Grandes Baladas Nacionais dos Anos 00. Vamos à minha listinha.
5. Ludov - Kriptonita. Em tempos audiovisuais, não posso deixar de citar que o videoclipe desta bela música, gravada no álbum “O Exercício das Pequenas Coisas”, de 2005, é um ótimo trabalho que não esconde a influência do gênio dos clipes Michel Gondry. Mas destaco também a letra, que ganha mais relevância ainda com a maviosa voz de Vanessa Krongold: “Eu tenho o mundo inteiro pra salvar/ E pensar em você é kriptonita”.
4. Tom Bloch - O Amor (Zero Sobrevivente). Taí uma canção que não recomendo a pessoas com cicatrizes abertas por causa de relacionamentos. Petardo gravado no álbum de estreia da Tom Bloch, em 2002, sua letra é uma das mais agudas do rock brasileiro dos últimos tempos: “Eu encontrei o amor/ E foi como quebrar os dentes/ O amor foi como um acidente (…)/ Eu desviei do amor/ Mas foi como bater de frente/ O amor foi como um acidente/ Foi cruel e inconsequente/ E ninguém se salvou/ Do amor”.
3. Violins - Gênio Incompreendido. Beto Cupertino cunhou aqui mais uma pérola do seu típico humor irônico, ao reverter o clichê das mulheres-objeto nesta jóia gravada pela primeira vez em 2006: “Eu sou só mais um homem culto e divertido/ Que você sempre vai levar pros bares pra impressionar amigos/ Pra se sentir madura/ Eu sou somente a armadura/ Na escuridão.” Mais uma prova de que o Violins é uma das grandes bandas brasileiras da atualidade. Que outro grupo é capaz de gravar uma música de versos como estes? “Eu quero ser o homem que você deseja/ Quando toma banho/ Ou quando se masturba/ Eu quero ser o corpo que você almeja/ Quando está com fome/ Ou quando está insone”.
2. Pitty - Me Adora. Nos anos 80, Cazuza (compositor de belas baladas como “Codinome Beija-Flor” e “Faz Parte do Meu Show”), declarou publicamente sua indignação com Herbert Vianna. O motivo? O lado B de Bora-Bora, álbum dos Paralamas do Sucesso gravado em 1988, no qual Herbert fez a catarse do fim de seu casamento com Paula Toller, por meio de faixas como “Quase um Segundo”, “Dois Elefantes” e “Uns Dias”. Em tom de brincadeira, Cazuza disse que Herbert havia “roubado” aquelas baladas dele. Pois bem: cito os dois para falar de Pitty porque creio que pertence a ela o posto de grande compositora de canções de amor do rock brasileiro dos anos 00. E, em meio a baladaças como “Equalize” e “Na Sua Estante”, optei por destacar aqui “Me Adora” (do álbum Chiaroscuro, de 2009) porque seu refrão é uma lição de como é possível usar um palavrão como “foda” com precisão liricamente certeira. E, claro, porque a música é pop/rock de alta qualidade, daqueles que colam com prazer no ouvido.
1. Pato Fu - Agridoce. Melancolia combina com beleza? Bem, o fato é que há canções que parecem pegar a gente pelo colarinho, sacudindo a gente enquanto as emoções caem pelas algibeiras da alma. Na letra inspiradíssima de “Agridoce” (gravada em Toda Cura Para Todo Mal, de 2006), John Ulhoa emula as melhores composições de Roberto & Erasmo Carlos em seu auge criativo, em versos de rasgar pulsos: “Saio em segredo/ Você nem vai notar/ E assim, sem despedida/ Saio de sua vida/ Tão espetacular”. Que ganham ainda mais força em contraste com a doce voz de Fernanda Takai.
P.S.: Daqui a pouco, às 10:30, participarei do BlogCamp PE, em Recife, dentro da programação da Expoidea. E, no dia 30 de novembro, falarei sobre a morte (?) dos blogs no Social Media Day em Porto Alegre.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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