21 palavras e expressões incríveis de outros idiomas que dão inveja à língua portuguesa

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 29 de abril de 2014

Palavras são tijolos com os quais tentamos construir, através de frases, os pensamentos abstratos que vagam pela nossa mente. Quase nunca, porém, somos capazes de encontrar os termos mais apropriados para externarmos a visão de mundo e os sentimentos que surgem cá dentro. Bem dizia o Drummond: “Lutar com palavras/ é a luta mais vã/ Entanto lutamos/ mal rompe a manhã.” Mas é um combate fascinante, e é por isso que me interesso tanto em conhecer palavras novas, sejam elas da língua portuguesa ou de outros idiomas. Afinal, cada nova palavra que ingressa em meu vocabulário representa uma nova possibilidade de expressão, de aumentar as chances de conseguir comunicar o que às vezes parece ser indizível.

O título deste post pode dar a impressão de que a língua portuguesa deixe alguma coisa a desejar: ledo engano. Embora seja um idioma complicadíssimo, com conjugações e normas quase impossíveis de se decorar (as regras do hífen e o comportamento das mulheres, duas coisas que jamais conseguirei compreender direito), é um idioma sonoro e poético que possui palavras mesmerizantes como “cafuné”, “diáfano”, “acalanto”, “serelepe” e “saudade”. Porém, a intenção deste artigo é citar algumas palavras e expressões, de outros idiomas, capazes de sintetizar sensações ou experiências que demandariam o uso de frases inteiras em outra língua.

* * *

1) Komorebi (japonês): uma palavra poética que descreve a luz do sol filtrada pelas folhas das árvores antes de atingir o chão, criando aquelas sombras lindas.

2) Gumusservi (turco): o luar brilhando nas águas.

3) Razbliuto (russo): o sentimento de afeição, ao mesmo tempo carinhoso e dolorido, que sentimos por uma pessoa que deixamos de amar.

4) Plimpplamppletteren (holandês): a capacidade de jogar uma pedra e fazer com que ela ricocheteie na superfície da água o maior número de vezes possível.

5)

6) Ilunga (do dialeto tshiluba, falado no Congo): uma pessoa capaz de perdoar um desaforo pela primeira vez e de tolerá-lo numa segunda ocasião, mas que nunca, jamais irá aceitá-lo pela terceira vez. Detalhe: segundo matéria da BBC News, esta é a palavra mais difícil de ser traduzida.

7) Nedovtipa (tcheco): pessoa incapaz de entender uma indireta (ou seja: taí uma palavra ótima para ser utilizada em redes sociais).

8) Bakkushan (japonês): uma jovem que aparenta ser atraente quando vista de trás, mas pode não ser quando olhada de frente. No Brasil, até há um termo maisoumenosmente similar a esta singela palavra nipônica: raimunda.

9) Gigil (filipino): a compulsão irresistível de apertar ou beliscar algo que seja cuti-cuti demais.

10) Umjayanipxitütuwa (aimará, idioma falado na Bolívia e Peru): palavra sensacional que sintetiza em um único termo a expressão “eles me fizeram beber”. Ou seja, trata-se de um sinônimo para desculpas esfarrapadas do tipo “o cachorro comeu minha lição de casa”.

11) Ya’arburnee (árabe): a tradução literal desta palavra é “você me enterrará”. Mas seu significado é mais profundo: representa a esperança de que você morra antes da pessoa que ama, porque seria incapaz de prosseguir vivendo sem ela.

12) Prozvonit (tcheco): o ato de ligar para um celular e deixá-lo tocar só uma vez, para que a outra pessoa retorne a chamada e você economize a grana de um telefonema. Certamente seria uma das palavras favoritas do Tio Patinhas.

13) Jayus (indonésio): uma piada ruim e que, contada de modo mais tosco ainda, faz com que a única opção ao infeliz que a ouviu seja gargalhar.

14) Kertek (malaio): o som de quando se pisa sobre folhas secas ou galhos finos.

15) Tartle (escocês): o momento constrangedor no qual você vai apresentar alguém e constata que esqueceu o nome da pessoa.

16) Kapau’u (havaiano): o ato de bater na água com um galho, assustando peixes, a fim de que eles fiquem presos em uma rede de pesca.

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18) Buksvåger (sueco): alguém que fez sexo com uma pessoa com quem você havia transado em uma ocasião anterior.

19) Aki ga tatsu (japonês): a tradução literal desta expressão é “começou a soprar a brisa do outono”, mas seu significado, mais melancólico, é o esfriamento de ambas as partes envolvidas em uma relação amorosa após o fim da paixão.

20) Cualacino (italiano): a marca deixada em uma mesa por uma taça ou copo gelado.

21) Mamihlapinatapei (fueguino, dialeto falado no arquipélago da Terra do Fogo): deixei para o final o meu termo favorito dentre as palavras que deveriam existir na língua portuguesa. Afinal de contas, não é todo dia que a gente encontra algo com este significado: “o ato de olhar nos olhos do outro, na esperança de que o outro inicie o que ambos desejam, mas ninguém tem coragem de começar”.

* * *

P.S.: A fonte principal de informações deste post foi o saboroso livro “Tingo – O Irresistível Almanaque das Palavras”, escrito por Adam Jacot de Boined, com ilustrações de Sandra Howgate. As outras ilustrações, por ordem de aparição, são de autoria de Mark Cuyos, Fuchsia MacAree, Ella Frances Sanders e Anwesha Bose.

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Comentários do Blog

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  • Tays

    Post maravilhoso, deveria escrever mais 21 palavras

  • Zeus da Silva

    Tem ainda palavras que não existem em nenhum idioma, como exemplo temos a expressão “dar bom dia a cavalo” que é diferente do chinês do item 17 que está relacionado a falar coisas que nada tem a ver com o público ou a situação. O “dar bom dia a cavalo” está relacionado a falar mais do que o necessário a respeito da situação ou do acontecido, deixando brechas para que o interlocutor possa se armar contra quem fala. Se baseia em “ter cuidado com o que fala” pois “tudo poderá e será usado contra você”.

    Outro termo que com certeza não existe em nenhum idioma é o fato do sorriso (ou gargalhada) inclusivo. Você faz parte de um grupo qualquer (trabalho, estudantes, etc.) está em um ambiente concentrado em alguma coisa e não ouviu o gracejo, a gracinha ou mesmo uma piada e todos (menos você que estava alheio) riem e até gargalham. Você ri (as vezes com “sorriso amarelo”) mesmo não sabendo do que se trata para não se sentir ou ser excluido (na esperança que os gracejos continuem ou alguém se refira ou comente a piada ou ao assunto que proporcionou a gargalhada ou as risadas).

  • Zeus da Silva

    Acabei de criar uma tradução para a palavra tcheca Nedovtipa (item 7): pessoa incapaz de entender uma indireta (ou seja: taí uma palavra ótima para ser utilizada em redes sociais). — eu associei a ignorância das massas quando pronuncia o termo “idiota” ou “ignorante” a questão da indireta que tem gente não entende ou “não quer entender”. Seria a caracterização do ignorante ou idiota que não consegue entender as indiretas : INDIOTA ou INGNORANTE. kkkkkkkkkkk

  • http://irradiandoluz.com.br Gabriel Dread

    Eu gosto muito de uma que todo mundo conhece, mas acho o significado lindo: namastê, do sânscrito “a divindade que há em mim saúda a divindade que há em você”.

    • http://www.pensarenlouquece.com/ Alexandre Inagaki

      Excelente lembrança, Gabriel. :)

    • Zeus da Silva

      Pena que essa palavra, na minha opinião, é mais ou menos como o nosso “bom dia”. Só falada por mera educação social, na medida em que há pessoas em que, com certeza, a divindade que existe neles é do mal.

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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