Artigos doo ano de: 2009

O Homem que Amava as Mulheres

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 05 de novembro de 2009

Escrever não é tarefa das mais fáceis. Colocar em palavras todos os pensamentos, emoções e sentimentos que nos vêm à mente requer disciplina, dedicação, uma certa dose de talento e da tal da inspiração, essa musa arredia que volta e meia nos foge do alcance, acenando de longe para o nosso desconsolo enquanto páginas permanecem em branco.

Em outras ocasiões, me deparo com textos que parecem ter psicografado pensamentos que eu sequer sabia que tinham passado pela minha mente, tamanha é a capacidade de nos descreverem. Acontece com capítulos de livros, letras de música, diálogos cinematográficos. E eu, que já citei anteriormente o monólogo de Woody Allen em Hannah e Suas Irmãs, em que ele fala a respeito de como resolveu uma crise existencial revendo um filme dos Irmãos Marx, desta vez tomo a liberdade de pegar emprestadas as palavras que o mestre François Truffaut colocou na boca de seu personagem Bertrand Morane em O Homem que Amava as Mulheres.

Para mim não existe nada mais bonito de se ver do que uma mulher andando, desde que com um vestido ou saia que mexa no ritmo de seus passos. Algumas mulheres andam como se tivessem um objetivo; um encontro talvez. Outras apenas passeiam com ar despreocupado. Algumas são tão belas vistas por trás que hesito em ultrapassá-las, temendo ficar decepcionado. Porém, nunca me desaponto. Quando elas não me agradam de frente, me sinto aliviado de certa maneira; pois, infelizmente, não posso ter todas elas.

Milhares delas andam pelas ruas diariamente. Mas quem são todas essas mulheres? Para onde vão? Dirigem-se a algum encontro? Se o coração delas está livre, então seus corpos devem ser pegos, e creio que não tenho o direito de deixar passar essa chance. A verdade é que elas desejam a mesma coisa que eu: elas querem amor. Todo mundo quer amor. Todos os tipos de amor: amor físico, amor sentimental ou simplesmente a ternura desinteressada de alguém que escolheu outro alguém para a vida toda, e não tem olhos para mais ninguém. Não me encontro nessa situação; olho para todas.

Como alguns animais, as mulheres praticam a hibernação. Durante quatro meses elas desaparecem. Não são vistas. E então, no primeiro raio de sol do mês de março, como se tivessem combinado ou recebido uma ordem de mobilização, elas aparecem às dezenas nas ruas, com roupas leves e saltos altos. E a vida recomeça.
Uma bela perna é maravilhosa, mas não sou inimigo dos tornozelos grossos. Posso até dizer que me atraem: são a promessa de um alargamento mais harmonioso subindo ao longo da perna. As pernas das mulheres são compassos que percorrem o globo terrestre em todos os sentidos, dando-lhes equilíbrio e harmonia.

Recentemente percebi que no inverno sou atraído por seios grandes. Entretanto, no verão, gosto dos pequenos. Duas pequenas maçãs andando de braços dados. Mas o que têm todas essas mulheres? O que têm a mais do que todas as outras que conheço? Bem, justamente, o que têm a mais é isso: elas ainda me são desconhecidas.

* * * * *

P.S. 1: Antes que alguém leve a ferro e fogo as palavras de Bertrand Morane e possa pensar que sou um incorrigível mulherengo, vale a pena ressaltar: sou, felizmente, um cara muito bem comprometido. B) Nada, porém, que me impeça de admirar o texto de Truffaut, assim como a sequência do filme embedada neste post, que encontrei no canal de nataligarciavideos no YouTube.

P.S. 2: Para quem, feito eu, gosta de colecionar citações cinematográficas, recomendo fortemente uma visita a este site: Colin’s Movie Monologue Page.

P.S. 3: Já visitou a página de Pensar Enlouquece no Facebook?

Deixa Ela Entrar

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 02 de novembro de 2009

Não é fácil a transição da infância para o mundo adulto. Que o diga Oskar, um pré-adolescente solitário e tímido de 12 anos, vítima de bullying na escola e filho de pais separados. Imerso em seu mundo particular, alimenta fantasias de vingar-se um dia dos valentões do colégio ensaiando ataques com sua faca, enquanto cola em um caderno recortes de jornais com notícias sobre crimes cometidos na região em que mora, o subúrbio de uma cidade sueca coberta pela neve.

Oskar achará, enfim, companhia na figura de sua nova vizinha: Eli, uma menina pálida que aparenta ter a sua idade e, como ele, não tem amigos. Encontram-se casualmente no pátio do condomínio em que moram, quando Oskar empresta à garota seu cubo mágico, brinquedo que ela não conhecia e que a intriga. A partir disso, surge uma cumplicidade natural entre duas pessoas solitárias, que paulatinamente passam a compartilhar segredos e experiências. Eli mora junto com Håkan, um enigmático senhor de idade que cuida dela como se fosse seu pai. Mas nós, espectadores, logo descobriremos que essa figura paterna é um assassino que mata pessoas para levar sangue para aquela menina, na verdade uma vampira que aparenta ter 12 anos de idade há muito, muito tempo.

A partir desse plot, o diretor Tomas Alfredson faz de Deixa Ela Entrar um delicado filme sobre solidão e amizade. Possivelmente, quando for lançado em DVD, a maior parte das locadoras o catalogará como um filme de terror. Porém, apesar de certas sequências sanguinolentas (em especial o clímax numa piscina), creio que seria mais adequado classificar Deixa Ela Entrar como um drama focado nos temas universais: amor e morte, desejo e destruição. Trata-se de uma obra delicada, que pode até ser interpretada como uma fábula romântica pré-adolescente. Porém, quem atentar para o destino do personagem de Håkan, o senhor envelhecido que logo se mostra incapaz de sustentar os hábitos alimentares de Eli, poderá analisar o filme como uma parábola sobre a fugacidade dos homens diante da passagem inexorável do tempo.

Deixa Ela Entrar é um filme sutil sobre o ritual de preparação de um adolescente; também para o amor, mas especialmente para as regras de conduta de um mundo no qual é preciso destruir para sobreviver, pois o afeto conviverá lado a lado com as pulsões de morte. A partir do momento em que o personagem de Oskar compreende e aceita as particularidades da situação, está selado o seu destino e o seu crescimento definitivo: um menino que deixa suas vinganças imaginárias e sentimentos de autocomiseração de lado, em nome da entrega definitiva à solidão, agora compartilhada, de outra pessoa. Em outras palavras: um ato definitivo de amor, com tudo que ele possa implicar de mais generoso e destrutivo.

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P.S. 1: Foi um hiato de mais de um mês neste blog. Durante este período, andei trabalhando mais do que minha sanidade recomendaria. Mas foram dias bastante produtivos, relatados em meu Twitter ou na página que recém-criei no Facebook. Quem me acompanha por aqui já sabe, pois, onde me encontrar enquanto o blog junta poeira…

P.S. 2: Como tantos outros filmes europeus, o sueco Låt den Rätte Komma In ganhará um remake hollywoodiano, a ser dirigido por Matt Reeves, de Cloverfield.

P.S. 3: A página do IMDB de Deixa Ela Entrar, que cita várias informações extraídas do livro de John Ajvide Lindqvist, que deu origem ao filme, ajuda a compreender diversas situações e detalhes mostrados en passant no cinema.

P.S. 4: Um texto meu neste estranho dia de Finados em que não choveu em São Paulo: “Morte e vida digital”.

Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos

Por Alexandre Inagakidomingo, 27 de setembro de 2009

Filho, árvore, livro… Amor

Joseph Campbell, em um trecho de “O Poder do Mito”, afirma: “A vida é dor; e o amor, por ser a mais intensa manifestação da vida, é responsável por nossas maiores alegrias e tristezas.” Não posso tirar essa definição da cabeça quando penso nas famílias que, ao sabem que um parente querido já não está mais neste mundo, consentem que seus órgãos sejam destinados a outras pessoas que necessitam deles.

Haverá um dia em que não estarei mais neste mundo. Não terei a oportunidade de ver as cores se digladiando no céu de um pôr-de-sol. De sentir o frescor de uma brisa no rosto, de ganhar horas conversando com amigos sobre a Vida, o Universo e Tudo Mais, de ter o coração aquecido com a visão de um sorriso de mulher. Ao menos não neste corpo físico. Pensando sobre essas questões, uma pergunta me veio à cabeça: qual é o legado que deixaremos a este mundo? Há quem não dê a mínima, há que ache que sua permanência neste mundo será naturalmente continuada por seus filhos, há quem sonhe em perpetuar seu nome em uma praça, uma rua, um parque. Carlos Drummond de Andrade, em um soneto sobre essa questão, escreveu em um arroubo de humildade: “De tudo quanto foi meu passo caprichoso na vida, restará, pois o resto se esfuma, uma pedra que havia em meio do caminho.”

É inevitável recordar o chavão de que uma pessoa totalmente realizada é aquela que teve um filho, plantou uma árvore e escreveu um livro. Notem: são três atos que simbolicamente transcenderiam as limitações da minha existência física. Um filho asseguraria a transmissão de meus genes. Com uma árvore, perpetuo a vida em si mesma. E o livro garantiria a permanência de meus pensamentos. Mas tudo isso na teoria, é claro. Nada garante que meu rebento não poderia se tornar um misantropo egoísta e apolítico, que a tal árvore não tombaria no cocoruto de um desavisado ou que meu futuro romance não desembocaria num balcão empoeirado de encalhes. Recordo a excelente paráfrase de Stanislaw Ponte Preta sobre o assunto: “Tinha um filho, plantou uma árvore, o filho trepou na árvore, caiu e morreu. Só lhe restou escrever um livro sobre isso.”

Porém, à equação filho/árvore/livro acrescento um novo elemento, tão significativo quanto os anteriores: a doação de órgãos. É um gesto simples, mas capaz de salvar a vida de outras pessoas: basta avisar os seus pais, irmãos, esposa ou companheiro que você deseja que seus órgãos sejam destinados para doação. Uma atitude de amor, talvez a maior transcendência que podemos almejar neste mundo doido e por vezes sem sentido. E um ato heróico, no sentido cunhado por Campbell no livro que citei no primeiro parágrafo deste post, por ser capaz de salvar outras vidas.

Tenho poucas certezas nesta vida, mas uma delas é esta: amor é presença perene no coração. Porque há ocasiões em que dói, como se o coração fosse comprimido pela mão da ausência. Porém, penso que o amor será, sempre, um acalanto; a certeza de que existe alguma coisa além da fugacidade deste mundo, que seja capaz de perpassar o pó do qual viemos e ao qual voltaremos. Pois as pessoas que amamos permanecem em nossas lembranças. E, a cada instante em que evocamos um certo sorriso, um gesto de carinho ou o gosto ensolarado de uma tarde compartilhada de felicidade, elas tornam-se mais vivas ainda dentro de nós.

Amar é estender a mão aos que precisam. E falar de amor, para mim, é recordar a lição irretocável dos Beatles: “And in the end/ The love you take/ Is equal to the love you make.” Lembrando que, para cada fim, há também um recomeço.

* * *

P.S. 1: Dia 27 de setembro é o Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos. A fim de divulgar esta campanha a favor da doação de órgãos, eu e diversos outros nomes estamos compartilhando conteúdo com outros blogs. Visite o site da campanha para saber como se tornar um doador, avisar amigos e parentes sobre sua decisão e buscar mais informações sobre o assunto.

P.S. 2: Aos leitores que não visualizarem o post doado por Rafael Losso, cliquem aqui.

P.S. 3: O texto que escrevi para a campanha, intitulado “Filho, árvore, livro… Amor”, foi publicado no blog Viva, de Tatiane Ribeiro. Outros blogs que estão participando da campanha: A Partir de 1,99, Amálgama, Avenida de Escândalo, Blog da Luisa, Blog do Maestro Billy, Blog do Rafa, Casa da Gabi, Dica do Dia, Haznos, Homem na Cozinha, Minas de Ouro, Não 2 Não 1, Papo Econômico, #prontofalei e Vi Shows.

Procrastinação é como masturbação

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 26 de agosto de 2009

Há tempos estou para escrever um texto sobre o ato de procrastinar. Mas se há uma coisa que a gente não costuma adiar é o hábito de postergar, enrolar, deixar certas tarefas para o dia seguinte. Outro dia mesmo, ao pensar sobre o assunto, acabei tuitando uma frase que sintetiza bem essa história: “Procrastinação é como masturbação. No começo é bom, mas depois vc percebe que só está fodendo a si mesmo”. Continue Lendo

O lançamento de “ENTER - Antologia Digital”

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 10 de agosto de 2009

Foi graças à antologia 26 Poetas Hoje, publicada nos anos 70, que tomei conhecimento pela primeira vez dos versos de nomes como Cacaso, Ana Cristina César, Francisco Alvim e Roberto Piva, dando destaque a uma geração de poetas que recorriam a mimeógrafos e fanzines para difundir suas obras, até então ignoradas pelo mercado editorial. Esta coletânea, organizada pela ensaísta, escritora e professora Heloisa Buarque de Hollanda, cunhou o termo “poesia marginal”, que denominou aquela geração de autores que, em meio ao auge do regime ditatorial, arregaçou as próprias mangas para autoeditar seus versos coloquiais, desaforados e desengravatados.

Anos depois, Heloisa organizou uma nova coletânea de autores: Esses Poetas - Uma Antologia dos Anos 90. Na introdução à obra, que reúne autores do porte de Antônio Cícero, Augusto Massi e Cláudia Roquette-Pinto. Na introdução ao livro, publicado em 1998, afirma Heloisa: “Diante de qualquer formação de consenso a respeito de quedas de vitalidade na produção cultural, sinto-me impelida a organizar uma antologia de novos poetas. De tempos em tempos, portanto, me surpreendo engajada no processo de identificar sinais do que poderia ser um novo momento literário ou poético.”

Pois bem: Heloisa Buarque de Hollanda acaba de coordenar, com o auxílio de colaboradores como Ramon Mello, uma nova seleção de autores, intitulada ENTER – Antologia Digital. São 37 nomes, reunidos dentre poetas, prosadores, quadrinistas, rappers, músicos, produtores culturais e cordelistas; dentre eles, este que vos escreve. Em entrevista concedida a Luiz Felipe Reis para o Jornal do Brasil, Heloisa fala sobre a nova compilação e as relações entre internet e literatura: “A antologia observa como todos esses autores encaram e exercitam diferentes práticas da palavra. Assumem essas novas modalidades e as expõem na web e nas ruas. Quero jogar luz sobre todos esses novos formatos que a palavra toma. Isso que é incrível. A palavra, nessas novas formas, apodera-se do estatuto da literatura e da prática literária. Isso é muito novo. É um momento de mudança na prática da palavra.”

Aproveito a ocasião, pois, para convidar os leitores deste blog que estiverem no Rio de Janeiro a participarem do lançamento de ENTER – Antologia Digital: dia 11 de agosto, às 20 horas, no Cinemathèque Jam Club (Rua Voluntários da Pátria, 53, Botafogo). Divirtam-se por mim. ;)

Save Ferris! Save Hughes!

Por Alexandre Inagakisexta-feira, 07 de agosto de 2009

Todos aqueles que cresceram tendo a TV como babá eletrônica e assistiram a filmes como Curtindo a Vida Adoidado, Mulher Nota 1000, Clube dos Cinco e A Garota de Rosa Shocking acordaram um pouco mais tristes e envelhecidos na manhã de hoje, depois de assimilar o baque da morte inesperada de John Hughes, diretor e roterista de clássicos da Tela Quente e da Sessão da Tarde. Creio que Kevin Smith, cineasta e nerd de carteirinha, falou por todos nós ao escrever, em seu perfil no Twitter: “John Hughes, o homem que falou para geeks de uma maneira que ninguém havia feito antes.” Continue Lendo

O blog está morto mas juro que não fui eu

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 27 de julho de 2009

Steve Rubel, diretor da Edelman Digital, anunciou em junho que abandonaria o seu blog, trocando-o pelo Posterous, plataforma de lifestreaming de uso simples e desburocratizado: basta enviar seus posts para o e-mail [email protected] para que eles sejam publicados, dispensando o preenchimento de cadastros e a memorização de mais um login e senha.
No texto em que justificou sua decisão de trocar o blog pelo Posterous, Rubel escreveu: “O formato atual dos blogs precisa de um ‘reboot’. Creio que pessoas não têm tempo para ler tanto quanto costumavam ter. Além disso, blogs precisam estar conectados a hubs de redes sociais. O Posterous me permite fazer isso de várias maneiras, inclusive permitindo que meus leitores enviem seus comentários através de Facebook, Twitter, Backtype e Friendfeed.” Mais adiante, Rubel destaca a busca por formatos menos formais de se blogar, ressaltando que seu lifestream serve como um ponto de partida para os conteúdos que ele publica em outras redes sociais: YouTube, Flickr, Twitter, yada yada yada.

A ascensão de ferramentas como o já citado Posterous, o excelente Tumblr e o tupiniquim Yahoo!Meme, destinados a “blogueiros casuais” que não têm muito tempo e procuram por meios mais simples e descomplicados de se produzir e compartilhar conteúdos, é o reflexo de tempos em que temos perfis em diversas redes sociais e cada vez mais somos impactados por informações que vêm de feeds, Twitter, janelas do Messenger, inúmeras abas abertas em seu navegador. Quem lê tanta notícia? Quem tem tempo e saco para atualizar tantos perfis?
E ainda nem citei o maior “vilão” dessa história: o Twitter. Charles Arthur, editor de tecnologia do The Guardian, publicou um artigo em 24 de junho com o seguinte título: “A Cauda Longa dos Blogs Está Morrendo”. Seu texto menciona uma matéria do New York Times, também de junho, relatando que 95% dos blogs monitorados pelo Technorati não haviam sido atualizados nos últimos 4 meses, e imputando esse abandono à migração dos “traidores do movimento” para mídias sociais como o Facebook e, especialmente, o Twitter. Afinal de contas, o Twitter oferece conteúdo imediato (redigir posts de blogs é uma tarefa muito mais trabalhosa do que compartilhar palpites e insights em até 140 caracteres) e reações quase instantâneas, seja na forma de RTs, replies ou novos tweets amplificando conversas e debates.

Eu, que abandonei este blog por mais de um mês, creio que já deixei mais do que subentendida minha concordância com a opinião de Steve Rubel a respeito da necessidade de se repensar o formato da ferramenta. Ultimamente, tenho produzido ou sociabilizado conteúdos quase que diariamente em outros sites como Twitter, Tumblr, Meme e minha página de itens compartilhados no Google Reader; mais simples, informais e interativas. Mas não posso imputar o abandono deste espaço só a isso. Excesso de trabalhos e procrastinação também fizeram com que eu me tornasse um ex-blogueiro. Preciso reinventar esse espaço, torná-lo mais dinâmico e integrado a minhas outras atividades online, fazendo deste blog um lifestream; contratar um programador e um designer estão em minha lista de tarefas.
Não, não creio que os blogs vão morrer, do mesmo modo que a televisão não acabou com as rádios e a internet não chacinou a mídia tradicional. O caminho por certo está na integração de mídias. Particularmente, penso que a saída está em amalgamar a simplicidade do Tumblr com a dinâmica do Twitter, sem deixar de lado as novas possibilidades de multimídia, assim como a apuração e a consistência de posts que necessitam de mais do que 140 caracteres para se contar uma boa história. Resolver essa equação é o desafio que os blogueiros que não querem nem podem se acomodar devem enfrentar.
Uma leitura inspiradora é a entrevista que Scott Rosenberg, co-criador do site Salon.com, concedeu à revista Time, em uma matéria sugestivamente intitulada “The Evolution of Blogging”. Nela, Scott comenta as mudanças que o microblogging está impondo aos blogs sob um ponto de vista positivo: “O Twitter está redefinindo os blogs como lugares nos quais você expressa coisas que não consegue dizer em 140 caracteres. Ironicamente, está tornando o ato de blogar mais substancial. No começo, blogs eram considerados triviais, mundanos e repletos de posts sobre o que você tinha comido no almoço. Essas mensagens agora estão no Twitter - junto com outras coisas, é claro - enquanto blogs podem servir como uma esfera pública para a discussão de ideias, assim como um local onde pessoas exercem sua criatividade e autoexpressão.”
Bem, que assim seja. ;)

* * * * *

P.S. 1: O título deste post é uma paráfrase de um livro que José Paulo Paes, um dos meus poetas prediletos, publicou em 1988.
P.S. 2: Concedi uma entrevista à Revista Capitu falando de livros. Nela, falo de dedicatórias e anotações, revelo como (des)organizo minha biblioteca pessoal e divago sobre A Margarida Friorenta, primeiro livro que ganhei na vida. :roll:
P.S. 3: Hoje é meu aniversário. Talvez isso ajude a explicar este momento auto-reflexivo. B)

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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