Artigos do mês de: julho 2007

Acidente uma ova

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 18 de julho de 2007

“Acidente”, segundo o dicionário Houaiss, possui a seguinte acepção: “acontecimento casual, fortuito, inesperado”. A tragédia ocorrida ontem à noite, portanto, não pode ser chamada de “acidente”. Não faltaram indícios prévios de que alguma nova desgraça envolvendo aviões poderia acontecer a qualquer momento.

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Tarefa mais árdua do que o reconhecimento dos corpos será identificar, no jogo de empurra-empurra entre governo, Infraero, Aeronáutica, Anac e empresas aéreas, os irresponsáveis pela chacina de 17 de julho de 2007.
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Ivan Sant’anna, autor do livro Caixa-Preta, que reconstitui a história de três desastres aéreos, afirmou em entrevista concedida a Jorge Antonio Barros, do blog Repórter de Crime: “O piloto deve ter passado da cabeceira (da pista do Aeroporto de Congonhas) e tentou arremeter. Ele bateu tentando voar. E voou para a morte. Mas realmente foi uma tragédia anunciada”. Mais adiante, Ivan arremata: “Não tem governo. Por causa das reclamações contra o caos aéreo, ninguém tem peito de mandar fechar o aeroporto, que é o que deve ser feito, sobretudo em dia de chuva”.
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O termo grooving, utilizado para descrever as ranhuras transversais que facilitam o escoamento de água e servem para aumentar a aderência dos pneus de aviões em uma pista de aeroporto, será tão conhecido quanto a palavra transponder na época da colisão entre o Legacy e o avião da Gol, ocorrido há menos de um ano. Qual será a palavra a ser notabilizada da próxima vez?
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Cris Dias, João Paulo Cuenca, Carlos Cardoso, Bia Kunze e Chico F. escreveram posts precisos sobre os acontecimentos de ontem.
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Mais de 180 vítimas, entre passageiros, tripulantes e transeuntes que estavam nas imediações, fazem do “acidente” do vôo 3054 da TAM a maior tragédia, em número de mortos, de toda a história da aviação brasileira. Por quanto tempo esse recorde funesto perdurará? Alguma medida mais efetiva do que uma reunião de “emergência”, convocada pelo Presidente da República com seus ministros logo após saber do “acidente”, será tomada, fora decretar alguns dias protocolares de luto oficial?
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Há momentos em que palavras são inócuas, estéreis, inúteis. Não valem, nunca possuirão o mesmo valor de um abraço.

Sexta-feira 13

Por Alexandre Inagakisexta-feira, 13 de julho de 2007

Eu, particularmente, não me incomodaria em passar debaixo de uma escada, pisando sobre cacos de espelhos quebrados por mim mesmo enquanto aninho em meus braços um gato preto na manhã de uma sexta-feira 13. Mas o fato é que existem muitos supersticiosos neste mundo, a ponto de ter sido criado um termo específico para definir a fobia que alguns têm pelo número treze: triscaidecafobia. Há inclusive uma palavra específica para aqueles que temem as sextas-feiras 13: parascavedecatriafobia.

Você tem medo das sextas-feiras 13?Segundo o site Dictionary.com, triscaidecafobia é um termo surgido a partir da junção dos termos gregos triskaideka (treze) e phobos (medo). Napoleão Bonaparte, Mark Twain, Richard Wagner e Franklin Roosevelt teriam sido alguns dos mais famosos triscaidecafóbicos. Wagner, por sinal, teve quase tantas relações com o número 13 em sua vida quanto o nosso técnico Zagallo: afinal, o compositor alemão nasceu em 1813, compôs treze óperas, finalizou sua obra “Tanhauser” em 13 de abril de 1860 e morreu em 13 de fevereiro de 1883.

Para alguns “experts” no assunto, a explicação para as crendices sobre a data está no fato de que Jesus Cristo foi crucificado numa sexta-feira, sendo que na última ceia havia treze pessoas em sua mesa. Há outras teorias: segundo uma lenda nórdica, houve um banquete e doze deuses foram convidados. Loki, espírito da discórdia, apareceu sem ser chamado e armou uma briga que culminou na morte de Balder, o favorito dos deuses. Teria surgido a partir daí a crença de que convidar treze pessoas para um jantar representaria iminente desgraça.

Teorias maionésicas à parte, o fato é que parascavedecatriafóbicos abundam neste mundo. Em declaração feita à National Geographic News, Donald Dossey, fundador do Stress Management Center and Phobia Institute, afirma que cerca de 800 a 900 milhões de dólares são perdidos em negócios porque pessoas evitam voar ou fazer transações comerciais em dias como o de hoje. Um cético feito eu não entende por que tantas neuras justamente na sexta-feira, véspera dos descansos imprescindíveis dos finais de semana. Compartilho, pois, da teoria de Garfield: terríveis mesmo são as segundas-feiras 13…

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P.S. 1: Neste sábado, dia 14, a partir das 19:30, não perca o lançamento dos livros Liberal Libertário Libertino, Radical Rebelde Revolucionário e Virgínia Berlim no Rio de Janeiro!

Alex Castro preparou um comovente FAQ sobre os lançamentos. Eis uma de suas esclarecedoras respostas:

Pôxa, eu não conheço de ninguém lá, vou ficar deslocado…

Deixa de viadagem, caralho. Tá pensando o quê? Que vai estar a maior panelinha? É lançamento de livros! É pra todos os meus leitores e do Bia poderem ir, conhecer outras pessoas, se divertir. Ninguém vai ser obrigado a nada, muito menos a comprar livros. Se quiser, pode ficar quietinho num canto. Eu e o Bia nos conhecemos em um evento desses e hoje somos melhores amigos.

P.S. 2: Rodolfo Castrezana, do OMEdI, estará presente em um debate sobre o papel da Internet na vida sexual do brasileiro, organizado pela revista PIX, ao lado de nomes como Bruna Surfistinha e Gisele Rao: dia 17 de julho, a partir das 19:30, no Sesc Pinheiros. Confira!

P.S. 3: Kandy, além de auxiliar escribas distraídos na revisão de artigos apinhados de erros de grafia e concordância, é uma excepcional cronista. Exemplo recente do que afirmo: “Absurdo“, um daqueles textos que a gente lê e não resiste à compulsão de repassar para a frente.

Uma música para os tempos atuais

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 10 de julho de 2007

Há tempos o posto de melhor banda de rock do Brasil é ocupado pelo Violins. Já em 2005 o grupo de Goiânia havia lançado o melhor álbum nacional daquele ano, “Grandes Infiéis”. O lançamento recente deste petardo sonoro intitulado “Tribunal Surdo” consolidou minhas impressões: não há, neste país, uma banda de rock que possa se comparar, em termos de qualidade de letras ou coragem estética, ao Violins.

Capa de Tribunal SurdoComo bem escreveu Marcelo Costa em sua excelente resenha sobre “Tribunal Surdo”, o disco é “denso, tenso, difícil e dolorido“. Guitarras pesadas e uma bateria furiosa compõem a moldura sonora para letras que falam de um estado de coisas no qual a violência surge como parte integrante do cotidiano, vide os versos de “O Anti-Herói (Parte I)”: “Tranque a porta que eu já ouvi barulho lá fora/ Pode ser que queiram roubar a minha moto nova/ E queiram te violentar mas isso nem importa/ É bem a cara desse mundo, você só deve olhar pela janela“.

Queria dizer à sociedade que nós, pais, não temos culpa. Mas não é justo manter presas crianças que estão na faculdade, estão estudando, trabalham. Não concordo com a prisão na Polinter, ao lado de bandidos. Vão acabar com a vida deles. Peço ao juiz que dê uma chance aos nossos filhos“. O que pensar de uma sociedade na qual o pai de um dos cinco imbecis (que recebem mesada mensal e são alunos de faculdades), que espancaram covardamente uma empregada doméstica que estava solitária em um ponto de ônibus, tem a desfaçatez de dar uma declaração dessas?

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Grupo de Extermínio de Aberrações“, faixa 4 do novo álbum do Violins, expressa com raivosa ironia o zeitgeist da Terra Brasilis. O conteúdo de sua letra, expressamente proibido para analfabetos funcionais, descreve com precisão a realidade em que homossexuais são espancados nas ruas dos Jardins, enquanto a sociedade finge que inexiste racismo neste país de cidadãos bovinamente cordiais.

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Atenção, atenção!

Prestem atenção ao que vamos dizer

Nós somos o Grupo de Extermínio de Aberrações

De toda sorte que você possa conceber

Vindo até vocês pra pedir

Qualquer quantia que se possa fornecer

E eu garanto que seus filhos agradecem

Por crescer sem ter que conviver

Com bichas e michês

E pretos na TV

Tá faltando soco inglês

O estoque de extintor não chega ao fim do mês

Não tô pedindo aqui fortuna pra vocês

A gente quer limpar o mundo de uma vez

Ei amigão, amigão!

Abaixa essa arma que é melhor pra você

Nós somos o Grupo de Extermínio de Aberrações

E não viemos pra ofender

Viemos receber sem medo de pedir pra vocês

Qualquer quantia que se possa fornecer

E eu garanto que seus filhos agradecem

Por crescer sem ter que conviver

Com discípulos de Che

E putas com HIV

Tá faltando soco inglês

O estoque de extintor não chega ao fim do mês

Não tô pedindo aqui fortuna pra vocês

A gente quer limpar o mundo de uma vez

E eu garanto que seus filhos agradecem por crescer

Sem ter que conviver com bichas e michês

E pretos na TV, discípulos de Che,

Putas com HIV.

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P.S. 1: Na versão que o Terminal Guadalupe canta de Grupo de Extermínio de Aberrações, o verso “o estoque de extintor não chega ao fim do mês” foi trocado por “eu sou fiel ao Papa Bento XVI“, em uma acertada liberdade poética.

Hoje, 10 de julho, é comemorado o Dia da Pizza. Não tendo nenhuma conotação política ou jurídica, é um excelente pretexto pra que este dia acabe em pizza. Para paulistanos, recomendo uma visita à lista de dez melhores pizzarias de São Paulo elaborada pela galera do Sampaist.

Bons Amigos

Por Alexandre Inagakisexta-feira, 06 de julho de 2007

Torneiras abertas à toa. Leila, eu ainda não tô bêbado, relaxa. Quando eu me levantar desta mesa e gritar pra todo mundo que encontrei a Resposta Definitiva, aí sim é motivo pra você começar a se preocupar, ok? Teve uma vez que bebi tanto que achei que tinha virado médium, incorporei o Nietzsche, a Rita Hayworth e o Wilson Grey na mesma noite. Meus amigos sentiram que era hora de me arrastar pra casa quando comecei a cantar Put the Blame on Mame e a fazer um strip no meio do velório. Mas eu tô bem, eu tô bem. Do que é que estava falando? Ah sim, torneiras.

O problema deste mundo são esses amores não-correspondidos e desperdiçados a toda hora, entende? Como paixões que são despertadas negligentemente, ilusões platônicas que acabam com gosto de soco na alma, noites de sexo mal interpretadas, amores exilados que não encontram seu lugar no mundo, como peças extraviadas de um quebra-cabeça. O problema todo se resume nisso: corações e cérebros não falam a mesma língua. A vida seria muito menos dolorida se a gente tivesse o dom de se apaixonar por aquela pessoa que nos oferece o coração. Deveria ser tudo questão de um clique, e pronto: aquele amigo que a gente só consegue enxergar como confidente assexuado se transformaria no príncipe encantado. Mas não, não neste rascunho porco de mundo em que vivemos. Quem sabe na versão 2.0. Continue Lendo

Fiz.TV e WeShow

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 05 de julho de 2007

Fiz.TV

Vinte dos blogueiros mais conhecidos do país receberam convites para um evento especial: o pré-lançamento, na sexta-feira, dia 29 de junho, do novo projeto do grupo Abril, o canal de televisão Fiz.TV, projeto de mídia híbrida que visa conciliar Internet e televisão. O evento, que aconteceu na sede do Fiz, em São Paulo, contou com as presenças de Marcelo Botta, Gerente de Conteúdo do novo canal, e Fabio Basso Montanari, blogueiro do site.

A proposta do Fiz.TV, que entrará no ar dia 1. de agosto (obrigado pela correção, Sr. Noir!), é interessante: abrir espaço em sua programação para qualquer cidadão comum que queira enviar um vídeo por intermédio do site do canal. É lógico que, para que essa produção chegue à televisão, haverá certos filtros. Os vídeos mais votados no site, desde que respeitando determinadas restrições (um exemplo: curta consagrado pelo YouTube, o “Tapa na Pantera” seria barrado no baile por poder ser interpretado como uma “apologia às drogas”), integrarão uma programação que, a princípio, terá 4 horas inéditas por dia, com reprises em blocos. Os internautas que tiverem seus trabalhos exibidos no Fiz serão remunerados (mas não esperem valores muito substanciais) e poderão ver seus vídeos na TVA, a princípio a única operadora de canais por assinatura que veiculará o Fiz.TV.

Coube aos blogueiros presentes ao evento, como legítimos representantes da cultura “do it yourself” de arregaçar as mangas e criar seus próprios canais de veiculação das suas idéias, a tarefa de veicular ao público geral as primeiras impressões sobre a proposta do Fiz.TV. Dito e feito: Pat Barcelos, do Update or Die, Renê Fraga, do Google Discovery, Carlos Merigo, do Brainstorm #9, Phelipe Cruz, do Papel Pop, Luiz Jeronimo, do Tarja Preta, Renata Honorato, do Sampaist, Carlos Cardoso, do Contraditorium, Tiago Dória, em seu blog, Alexandre Fugita, do Techbits, e Rosana Hermann, do Querido Leitor, já escreveram sobre o assunto. Mas quem escreveu o texto mais abrangente sobre o projeto foi Gustavo Jreige, do blog Outros Olhos, que postou um excelente artigo destrinchando todas as facetas da proposta do novo canal da Abril.

WeShow

O WeShow, lançado recentemente, é um agregador de vídeos hospedados em sites como YouTube, DailyMotion e Metacafe. Todo o conteúdo encontrado é selecionado e organizado por editores, que catalogam os vídeos em mais de 200 categorias.

Para explicar melhor a proposta do WeShow, site atuante em três países (Brasil, Estados Unidos e Inglaterra), deixo a palavra com um dos sócios desta empreitada - Bruno Parodi, ex-colunista do site No Mínimo e um dos responsáveis pela concepção e realização do portal G1: “O diferencial está justamente na seleção dos melhores vídeos disponíveis na internet, não importa a fonte. Outro ponto importante é que nossa equipe editorial tem um trabalho de atribuir títulos, descrições e tags mais pertinentes aos vídeos (e uniformizadas), uma vez que o usuário que posta aquele vídeo originalmente muitas vezes não tem preocupação com a informação textual que acompanha o vídeo“.

Mensalmente será promovido o Prêmio WeShow, concurso elegendo os melhores vídeos em diversas categorias como “Carros Customizados”, “Bungee-Jumping” e “Gatas Internacionais”. Há também o WeShow TV, videocast semanal comentando os destaques em cada categoria. Explica Parodi: “A WeShow TV traz também uma outra forma de consumir os melhores vídeos, através de programas produzidos apresentando justamente essas pérolas. E quem quiser dar uma olhada na íntegra dos vídeos citados no programa, basta conferir logo abaixo da telinha os links para cada um deles“.

Marcos Wettreich, criador do iBest, foi o idealizador do projeto ao lado de Bruno Parodi. Fabio Seixas, sócio-fundador do Camiseteria, é o diretor de marketing do projeto.

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P.S. 1: Este blog vota no Sedentário & Hiperativo na categoria “Best Foreign Language Blog“, e no Brainstorm 9, na categoria “Best Marketing Blog“, do Blogger’s Choice Awards.

P.S. 2: Participe do “Drinking Game dos Blogs” proposto por meu xará Nix e descubra um ótimo álibi para se embebedar.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.
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