11 anos (e alguns dias) de blog
Por Alexandre Inagaki ≈ quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Naquele cada vez mais distante ano de 2002, havia ainda um descompromisso geral com o ato de se criar um blog. Você podia se tornar blogueiro simplesmente porque tinha um monte de versos e crônicas rabiscadas em folhas de papel almaço, ou datilografadas em sulfites já amareladas, e porque aquela ferramenta de publicação permitia que você espalhasse aqueles textos em questão de minutos. Era uma novidade estimulante aquela brincadeira séria de expor suas ideias web afora, trocando ideias e links com outras pessoas que compartilhavam sentimentos, opiniões e reminiscências pessoais, e experimentando a sensação de que fronteiras geográficas se dissipavam naquelas conversas da mesa de boteco quase infinita que é a internet.
O primeiro layout do Pensar Enlouquece, que encontrei num site de templates gratuitos, na época em que foi hospedado no Blogger Brasil.
E olhem que a novidade já tinha vindo dar à praia há algum tempo. Quatro anos antes, Viviane Vaz de Menezes havia sido a pioneira no Brasil, escrevendo em inglês no White Noise (fora do ar) em fevereiro de 1998. Um mês depois, Nemo Nox pôs no ar o seu Diário da Megalópole. Ambos iniciaram as atividades da blogosfera de raiz, da blogosfera de várzea tupiniquim, movimentada a ponto de ter tido, em 2001, uma colunista social que dava notinhas sobre a vida pessoal de blogueiros: Jackie Miller, que chegou a ter uma coluna na edição impressa do Jornal do Brasil.
Até que demorei, pois, para começar o meu blog pessoal. Mas, como já publicava textos em vários projetos coletivos desde 1998, enviando colaborações para sites e e-zines, não tinha pressa para sair em carreira solo. Antes, publiquei meus primeiros posts em um blog coletivo chamado Logopeia, iniciativa da minha amiga carioca Tatiana Sweethell Leão, criado em dezembro de 2000. E também editava, na companhia de amigos como Ricardo Sabbag, Orlando Tosetto Jr, Ian Black e Nicole Lima, um fanzine distribuído por e-mail, o SpamZine, que desde fevereiro de 2001 reunia semanalmente textos de diversos colaboradores.
O primeiro template personalizado do meu blog, criado por Suzi Hong Tiba, numa época em que Orkut e Multiply eram as redes sociais do momento.
Mas os blogs eram mais práticos e mais ágeis de se atualizar. E foi assim que, em agosto de 2002, dei o pontapé inicial no Pensar Enlouquece, Pense Nisso, nome tirado de uma frase de para-choques de caminhão que havia lido há muitos anos, numa época em que pessoas falastronas eram vacinadas por agulha de vitrola e aprendiam na escola as capitais de lugares como Tchecoslováquia e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Usei como plataforma de publicação o Blogger Brasil, que havia acabado de ser lançado. Na época, a versão tupiniquim possuía um diferencial fundamental com relação ao Blogger original: permitia o upload de imagens. O senão era que havia uma limitação de espaço: posts com mais de 2.500 caracteres precisavam ser divididos em duas ou mais partes.
Em 2004, os motores do Blogger Brasil começaram a bater pino (vide esta matéria de Rodney Brocanelli publicada no Observatório da Imprensa), e migrei meu blog para um outro servidor gratuito, o mBlog. Como tudo que é de graça não está fadado a durar muito, logo tive que mudar novamente de endereço, e acabei encontrando hospedagem no saudoso Gardenal.org, comunidade de blogs de amigos criada por Pablo Miyazawa, Bruno Furnari e Alberto Alerigi Jr. A história de como surgiu o Gardenal, diga-se de passagem, foi relatada por Pablo em um ótimo relato importante para entender uma época na qual fazer sucesso na internet implicava em certo reconhecimento, gastos crescentes e quase nenhuma fonte de renda.
O terceiro template do Pensar Enlouquece foi criado por Bruno Furnari. E, no canto superior direito, o botão do PEPN foi criação de Matusalém Matusca.
Em 2007, as condições eram outras. Desde o ano anterior eu trabalhava full time com internet. Empresas e agências de publicidade começavam a se interessar pelos blogs, iniciando um processo considerado ótimo para alguns (me incluso nessa), nocivo para outros, inconformados com o começo de profissionalização de uma atividade que dava trabalho e prazer, mas não ajudava seus adeptos a manterem nomes limpos no SPC e Serasa. Pensando na possibilidade de que blogueiros pudessem começar a ganhar algum dinheiro produzindo conteúdos de qualidade, eu e meus amigos Edney “InterNey” Souza, Ian Black e André “Marmota” Rosa de Oliveira criamos o InterNey Blogs. Na época do lançamento do portal, Edney e eu concedemos entrevistas a Guilherme Felitti explicando de onde tinha surgido a ideia para o surgimento daquela nova empreitada.
Ian, Edney, eu e Marmota, numa das fotos que tiramos para ilustrar uma das matérias que saíram quando o InterNey Blogs foi lançado.
Depois de um ano pessoal atribulado, decidi por dar uma boa agitada no Pensar Enlouquece. Em janeiro de 2012, um novo template, criado por Henrique Costa Pereira, entrou no ar, junto com novo endereço e novo hosting, a cargo de Gilberto Knuttz. Viver, afinal de contas, é amanhecer novos recomeços a cada dia. E o meu blog, responsável direto por ter mudado meus rumos profissionais e pelas melhores amizades que mantenho até hoje, acabou por se tornar a minha constante. Embora ele por vezes padeça com a falta de atualizações mais frequentes, reflexo de momentos profissionais mais agitados, nunca sequer cogitei a ideia de um dia deixá-lo para trás, como aconteceu com alguns dos melhores blogs que lia naqueles idos de 2002.
Para marcar a nova fase do PEPN, um novo template (criado por Renata Maneschy e Marcelo Soares) entrou no ar, lançando o logotipo do post-it que uso até hoje.
O cenário para os blogs mudou muito desde que publiquei meus primeiros posts. Se antes eram criados por geeks, early adopters ligados a jornalismo ou publicidade e aspirantes a escritores, agora é possível encontrar blogs mantidos por gente de praticamente todas as atividades profissionais e interesses diversos, refletindo o processo de nerdificação da sociedade na qual a internet tornou-se quase que ubíqua. Aquela espontaneidade descompromissada, característica da blogosfera tupinambá em tempos nos quais era utopia imaginar que um dia virariam fontes de renda, também acabou se perdendo no caminho. A maior parte dos blogs deixou os campos de várzea, passou a lidar com compromissos profissionais e trocou bermudas por roupas mais sociais. E, se antes blogs eram a melhor e mais simples forma de autopublicação, hoje eles sofrem a concorrência de Twitter, Facebook, YouTube, Instagram, Vine e outras redes sociais que passaram a ser a interface favorita daqueles que gostam de compartilhar sonhos, digressões, opiniões e crônicas mais informais.
Porém, este blog continuará teimando em permanecer ativo e operante. Feito o seu dono. :)
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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