Três takes
Por Alexandre Inagaki ≈ quarta-feira, 04 de abril de 2007
Quando a melhor qualidade de um filme é a sua fotografia, há algo de errado nele. É o caso de “300″, adaptação de Zack Snyder para a graphic novel de Frank Miller e Lynn Varley, que me pareceu ser uma espécie de “Gladiador” turbinado e estilizado. Como diversão, é um filme ok. Se bem que mais engraçado é este vídeo que usa uma trilha sonora alternativa (e bem mais adequada) para “300″.
Tomo emprestadas as precisas palavras de Kléber Mendonça Filho: “Rodrigo Santoro como o egolouco Xerxes é apresentado com a aparência de um gigantesco mestre sala adaptado para a grande parada gay que deve existir no inferno, todo ano. Com piercings“.
A Blog Hunters disponibilizou ontem à noite um trailer do quarto capítulo da saga de John McClane, o policial mais zicado de Hollywood. A julgar pelas imagens acima, “Duro de Matar 4″ garante manter o mesmo nível dos longas anteriores em pelo menos um quesito: piadas infames em meio às explosões pirotécnicas habituais.
Quando o primeiro capítulo da franquia entrou em cartaz, em 1988, os críticos apontaram uma mudança de paradigma em relação aos heróis cinematográficos de praxe: John McClane era um cara que levava porradas, sangrava e se estrepava a toda hora. Muito diferente dos mocinhos exibidos em filmes como os de 007, numa época na qual James Bond escapava de tiroteios e explosões sem amassar seu terno ou amarfanhar seu impecável penteado. Os anos se passaram, Bond foi sendo mais “humanizado” nos filmes subseqüentes da série e outros heróis que vivem se dando mal a toda hora, como Jack Bauer, surgiram. Quase 20 anos após sua primeira aparição nas telas, será que John McClane ainda terá relevância? Eis uma pergunta a ser respondida quando “Duro de Matar 4″ entrar em cartaz.
Paulo Emílio Sales Gomes, talvez o maior crítico de cinema do Brasil de todos os tempos, causou polêmica ao afirmar que até o pior filme brasileiro é mais importante do que qualquer produção estrangeira. Mas, antes que alguns o acusem de xenofobia, é bom explicar o contexto em que essa defesa apaixonada foi realizada: Paulo Emílio criticava a mentalidade de um mercado no qual exibidores e distribuidoras priorizavam produções hollywoodianas em detrimento de filmes capazes de traduzir a cultura da Terra Brasilis. Em seu livro “Cinema: Trajetória no Subdesenvolvimento“, escreveu Paulo: “Não somos europeus nem americanos do norte, mas destituídos de cultura original, nada nos é estrangeiro, pois tudo o é. A penosa construção de nós mesmos se desenvolve na dialética rarefeita entre o não ser e o ser outro. O filme brasileiro participa do mecanismo e o altera através de nossa incompetência criativa em copiar“.
Para mim foi inevitável lembrar das palavras de Paulo Emílio ao assistir a Os 12 Trabalhos, bom filme no qual Ricardo Elias mostra um dia na vida de Heracles, jovem recém-saído da Febem que busca integração à sociedade tornando-se motoboy. O olhar do cineasta, ao buscar o ponto de vista de uma profissão achincalhada e vista com olhos tortos pelos figurantes da tragédia grega que é o trânsito cotidiano de uma metrópole, revela ao espectador o lado desconhecido de uma classe profissional das mais marginalizadas: segundo informações da Companhia de Engenharia de Tráfego, dois motoboys morrem a cada três dias na cidade de São Paulo. Eis uma das maiores virtudes que uma produção cultural pode ter: revelar aos seus espectadores algo que nosso olhar tornou-se incapaz de capturar na balbúrdia conturbada da rotina de nossos dias.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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