O post “versos inesquecíveis da música popular brasileira” já recebeu mais de 100 comentários dando dicas de outras pérolas poéticas da MPB, mostrando que o assunto é inesgotável. Depois desta parte II, pretendo dedicar meu próximo texto sobre o assunto para destacar os mais belos versos da nossa música. Mas, enquanto isso, divirtam-se com os mais toscos. ;) E não deixem de conferir as sugestões deixadas nos comentários!
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Top 5 Infâmias da Fama:
1. “Um cão sem dono, uma árvore no outono/ O nono mês de gravidez/ Eu perco o sono ao som de Yoko Ono/ E telefono pra vocês” - Engenheiros do Hawaii em sua elucubrante “Nada a Ver”, um título mui apropriado, diga-se de passagem.
2. “O amôôôôôr é cego/ Ray Chaaaaaaaarles é cego/ Stevie Wonder é cego/ E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito ‘bêím’” - “O Estrangeiro”, de Caetano Veloso, em uma transcrição feita pela minha leitora Caru.
3. “O Jô já fez a última entrevista/ Amaury também já foi embora/ Já está terminando o Perfil/ O Intercine que acabou agora/ Com certeza você também viu (… )/ E pra essa dor o único remédio seria um de nós pro outro ligar/ Eu estou na portaria do seu prédio/ Estou no celular/ Mas o porteiro é novo, ele não me conhece/ Tá cheio de suspeita, tá desconfiado/ Pega o interfone/ Diga pra ele, que ele está falando com seu namorado…” - “Interfone”, de Alexandre Pires, em dica transmitida pela Mafalda.
4. “Noutro plano/ Te devoraria tal Caetano/ A Leonardo di Caprio/ É um milagre/ Tudo que Deus criou pensando em você/ Fez a Via Láctea/ Fez os dinossauros” - Djavan mergulhando fundo no mundo da maionese na antropofágica “Eu Te Devoro”.
5. “Não aponte o dedo/ Para Benazir Bhutto/ Seu puto/ Ela está de luto/ Pela morte do pai” - Chico César compôs “Benazir” antes do assassinato da ex-primeira-ministra do Paquistão. Menos mal que, creio, ela faleceu antes de saber da rima que ele encontrou para o seu sobrenome.
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Top 5 Tradutores Traidores: Continue Lendo
Top 5 Cenários de Amor:
1. “Eu era lixeiro e você empregada/ A gente se olhava e se encontrava na mesma calçada/ E todos os dias você vinha sorrindo/ E eu às pressas contente/ Pra você lhe pedindo/ Um abraço e um beijo/ Você não pode negar/ Pois sua lata de lixo/ Sou eu quem vou carregar” (“O Lixeiro e a Empregada”, Amado Batista)
2. “Quem dera ser um peixe/ Para em teu límpido aquário mergulhar/ Fazer borbulhas de amor pra te encantar/ Passar a noite em claro/ Dentro de ti/ Um peixe para enfeitar de corais tua cintura/ Fazer silhuetas de amor à luz da lua/ Saciar esta loucura/ Dentro de ti” (Fagner na regravação de “Borbulhas de Amor”, singelíssima composição de Juan Luís Guerra, conforme bem lembrou o Gravatai)
3. “Se de repente/ A gente encontra alguém na rua/ Pode acabar até envergonhando a lua/ Num desses lances muito loucos/ Que acabam num quarto de motel/ E às vezes basta/ A porta aberta do banheiro/ Uma tremenda brincadeira no chuveiro” (“Escancarando de Vez”, Elymar Santos - o título dessa música é simplesmente demais)
4. “Então eu corro e abro a porta quase seminua/ A roupa transparente ali mesmo na rua/ Me agarro nele e espanto a solidão/ Então a gente logo entra na boléia/ É um velho costume, uma nova idéia/ A gente faz amor no caminhão” (“Amor e Paixão”, Beth Guzzo - também conhecida como a filha de Valentino Guzzo, o ator que interpretava a saudosa Vovó Mafalda do programa do Bozo)
5. “Minha vida é um flash/ De controles, botões anti-atômicos/ Olha bem, meu amor/ No final da odisséia terrestre/ Sou Adão e você será/ Minha pequena Eva/ O nosso amor na última astronave/ Além do infinito eu vou voar/ Sozinho com você…” (“Eva”, versão cometida originalmente pelo Rádio Táxi a partir de uma música composta pelo italiano Umberto Tozzi)
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Top 5 Mar de Metáforas:
1. “Você na foto toda nua/ Num banho de lua/ Meu cartão postal/ Meu corpo deu sinal” (Exaltasamba, numa imagem de elegância primorosa cometida em seu “Cartão Postal”) Continue Lendo
Em 1985 Cazuza gravou “Exagerado” seu primeiro álbum solo após a saída do grupo Barão Vermelho. Além da faixa-título, o grande destaque do disco foi “Codinome Beija-Flor“, música composta junto com Reinaldo Arias e Ezequiel Neves. Esta belíssima canção, além de surpreender os roqueiros da época com seu arranjo a la bossa nova, chamou a atenção por alguns versos que até hoje intrigam os ouvintes: “Que só eu que podia/ Dentro da tua orelha fria/ Dizer segredos de liquidificador“. O que cargas d’água Cazuza queria dizer com a expressão “segredos de liquidificador”?
Teses e teses a respeito do seu significado pululam pela Internet. Segundo Valdir Mengardo, é uma metáfora que pretende mostrar a “incompatibilidade entre a sociedade de consumo e a poesia“. Já Fernando Toledo considera que a expressão é o “equivalente urbano/industrializado para ‘segredo de polichinelo’“. E explica a sua viagem: “simplesmente não existem liquidificadores sutis. Os bichos fazem um barulho dos diabos quando acionados. Logo, seria um segredo que não seria um segredo“. Continue Lendo
Cláudio Rodrigues e Claucirlei Jovêncio de Souza, dois amigos desde os tempos em que eram vizinhos na comunidade do Salgueiro, talvez representem o caso de dupla mais injustiçada de toda a MPB. Melhor reconhecidos pela alcunha de Claudinho & Buchecha, gravaram seis álbuns entre 1996 e 2002, ano em que Claudinho morreu vitimado por um acidente automobilístico. Tempo suficiente, porém, para que cunhassem alguns dos melhores chicletes de ouvido dos últimos tempos, como “Nosso Sonho” (verdadeiro compêndio da geografia suburbana carioca), “Fico Assim Sem Você” (sucesso recente na voz de Adriana Calcanhoto, conhecido pelos proféticos versos “Amor sem beijinho/ Buchecha sem Claudinho/ Sou eu assim sem você”) e “Conquista” (o hit do “tchurururu”).
Além da inegável veia pop, com influências de funk e soul, é preciso destacar as letras escritas por Buchecha. Ex-auxiliar de pedreiro e office-boy, não chegou sequer a completar o primeiro grau. Em compensação, tornou-se contumaz leitor de dicionários, sendo que cada palavra que chamava sua atenção era anotada em um caderno para posterior aproveitamento em suas músicas. Provém daí a inspiração para versos como “se o destino adjudicar esse amor poderá ser capaz, gatinha” ou “nem sei se era eu próprio, mas me machuquei ao perquirir, notei o seu opróbio”. Atualmente em carreira-solo, Mc Buchecha mantém o vigor de suas composições. Vide, por exemplo, “Laços”, música com samplers de “Pocket Calculator” do Kraftwerk e uma letra de romantismo comoventemente naïf: “Os casais se encontravam na pracinha/ Se abraçavam e se beijavam em puro mel/ Hoje ninguém mais namora e o tapinha/ É o convite mais ativo pro motel”. Continue Lendo