Todos os artigos com a tag: Educação Sentimental

Os Outros, Os Outros Anos, O Mesmo Sonho

Por Alexandre Inagakidomingo, 19 de novembro de 2006

Antes de mais nada, é bom explicar que o texto abaixo não é de minha autoria, e sim de Carlos Eduardo Lima, que acaba de lançar seu romance de estréia. Enquanto não aterrissa nas livrarias, “Vestido de Flor” já pode ser adquirido através de seu site, com a vantagem especial de ser enviado para a sua casa com uma dedicatória do autor. Eu, que tive o privilégio de escrever o prefácio do livro, decidi postar a crônica abaixo (publicado anteriormente no Scream & Yell) como uma espécie de aperitivo para aqueles que ainda não conhecem os textos deste cara que, além de crítico musical, é escriba de mão cheia e autor de um dos melhores romances de estréia que li nos últimos anos. Não à toa, encerrei meu prefácio a “Vestido de Flor” com esta frase: “Carlos Eduardo Lima é um cara que escreve com a paixão de quem ouve uma música com os olhos fechados, as asas abertas feito um coração dependurado na corda bamba“. Aprecie sem moderação.

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Houve um tempo em que um dos meus sonhos mais acalentados era receber uma fita-cassete gravada de uma ex-namorada que tivesse me feito sofrer bastante. E nesta fita deveriam estar algumas canções importantes dos tempos idos, alguns pedidos de perdão implícitos, sendo que a primeira música do lado A deveria ser Os Outros, do Kid Abelha. Sim, é isso mesmo.

Por quê? Porque Os Outros é, sem dúvida nenhuma, um dos mais intensos e fiéis retratos de uma relação de namoro que já foram feitos na língua portuguesa em muito tempo. Exagero? Pode ser, mas vamos entender os fatos. Continue Lendo

This is love

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 06 de novembro de 2006

Hoje não quero mais pensar, e imagino como seria bom estar na pele daqueles hare krishnas que passam o dia inteiro entoando aqueles mantras hipnóticos, hare hare hare hare, esvaziando a cabeça de qualquer manifestação supérflua dos neurônios, esses bichos amaldiçoados que jogam squash na quadra do meu crânio. Ah, que inveja dos cachorros que sorriem como naquela canção do Roberto, arfando com a língua de fora, despreocupados feito velhos hippies emaconhados, pedindo migalhas de brownie em troca de carinho ilimitado, sem aquelas cobranças exasperantes, “você me ama?”, “você me ama?”, maldito mantra dos amantes inseguros. Elos de ligação, chuvas molhadas, monopólios exclusivos, amantes inseguros, minha mente enfileira uma série de redundâncias pleonasticamente repetitivas, e eu sei que tudo não passa de subterfúgio barato para driblar essa saudade que me come por dentro feito um Alien recém-nascido. Mas eu só sei que nada sei, baby.

O café já esfriou, a piada perdeu a graça e as batatas fritas murcharam. A noite está tão quieta que chego a ouvir o ponteiro dos segundos se arrastando no relógio. Ligo a tevê para abafar o barulho do silêncio, recordando com saudade dos tempos em que assistia a comerciais de facas Ginsu e meias Vivarina, nada poderia ser mais eficaz para desligar as tomadas da minha cabeça, bastava sentar na poltrona, relaxar e acionar o screen saver do meu cérebro. Mas agora está passando um filme do Truffaut, e o que menos quero é pensar no delírio consciente da paixão. Continue Lendo

Observações ao léu

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Detesto dirigir. Pedestre convicto, também sou assíduo freqüentador dos ônibus e metrôs de Sampa City. Em vez de me estressar na posição de motorista enfrentando os ziguezagues dos motoboys, os faróis altos ou as agruras dos congestionamentos que pipocam pelas ruas saturadas da metrópole, atenho-me à condição de passageiro que aproveita os olhos livres para ler revistas, tirar breves cochilos ou simplesmente vendo as pessoas que passam por meus olhos.

É claro que nem tudo são louros. No ônibus a caminho para o trabalho invariavelmente viajo de pé, espremido feito os livros nas prateleiras abarrotadas do meu quarto. Mas é nessas horas que percebo o quanto tornou-se fundamental andar com meu iPod, que uso com fones de ouvido comprados em camelô (os fones brancos originais do iPod são tão discretos quanto um ornitorrinco fazendo cambalhotas). Nada como uma boa trilha sonora (no caso, “Everything Flows” do Teenage Fanclub) para tornar uma insípida viagem de busão algo mais palatável.

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O mais poderoso slogan cunhado neste ano não foi criado por nenhum publicitário. O (dúbio) mérito deve ser creditado aos traficantes que mataram os incendiadores do ônibus no Rio, que deixaram um recado do lado de fora do carro em que jaziam os corpos dos quatro bandidos assassinados: “do lado certo da vida errada”. De quebra, arremataram tal frase com o complemento: “fé em Deus”. Não sou ateu, mas às vezes a metralhadora diária das manchetes de jornais me obriga a pensar se não estou enganado quanto às minhas convicções. Continue Lendo

8 ou 80

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 15 de março de 2004

Acendo teu cigarro na estrela desta madrugada insone, enquanto pensamentos redemoinham melodias redivivas na pista de minha memória. Abra as persianas de minhas reminiscências, mocinha.

A verborragia nervosa na mesa de jantar, as citações ricocheteadas de Bergman e Woolf, a taça de vinho tremeluzendo em minhas mãos titubeantes. De repente, não mais que de repente, me vi tonto (ainda mais do que o habitual) em um mundo repentinamente grávido de possibilidades que sorriam. Como um quadro que salta pra fora da moldura. Como as reticências sugestivas no decote das nuvens ocultando a manhã. Como um big bang eclodido dentro de mim, ao toque de lábios descobrindo-se pela primeira vez.

Diante do teu sorriso sempre retrocederei ao adolescente que tropeça nas próprias palavras. Meus cadarços se transformam em serpentes que se desamarram sozinhas e sobem rebeldes, em busca de estrelas esquivas. Ah, tantas vezes quis te matar, tantas vezes ainda morrerei entre tuas pernas. Alguém já viu um teto branco se encher de cores, assim como um escritor cobre de palavras o silêncio de uma madrugada? Maybe. Mas as piadas não têm mais graça, a música neste jukebox é sempre a mesma, e os insultos doídos que vociferamos brandem dentes nervosos na algazarra da noite.

O que fazer quando não sei mais o que fazer com teus olhos? Meus neurônios jogam amarelinha oscilando entre o céu e o inferno; pendurado entre o 8 e o 80, desisto de buscar o 44. Interrogações penduram-se no alabastro do meu cérebro, como guarda-chuvas antecipando a proeminente tempestade. Na gangorra da insônia, sou a mão sem linhas na palma.

Nossa história acabará no clichê amarfanhado do “viveram felizes para sempre”? Espero que não. Porque, oras, quem deseja o tédio imortal da felicidade perene?

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.
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