Susan Boyle e Paul Potts: quando a música nos faz chorar
Por Alexandre Inagaki ≈ terça-feira, 14 de abril de 2009
Era visível a incredulidade nos rostos dos jurados e da plateia do programa Britain’s Got Talent (um misto de Show de Calouros com American Idol) quando Susan Boyles, uma senhora britânica de 47 anos, subiu ao palco para cantar “I Dreamed a Dream”, do musical Os Miseráveis.
Pouco antes de exibir sua performance, o programa mostrou uma breve entrevista na qual Susan revelou que vivia sozinha com Pebbles, seu gato de 10 anos de idade. Mais: nunca havia se casado e, pior, nunca havia sido beijada na vida. Sua aparência física certamente não se assemelha ao visual habitual dos popstars, e o seu jeito simples e levemente atrapalhado fez com que júri e audiência aguardassem por um momento supremo de vergonha alheia.
Pois foi com expectativas abaixo de zero que todos se surpreenderam ao ouvir aquela senhora simpática mostrar a sua voz. Este é o momento de dar play neste vídeo.
A performance de Susan Boyle foi simplesmente arrebatadora, arrancando lágrimas emocionadas, aplausos entusiasmados e, ao final, os risos com a “dancinha da vitória” quando aquela solteirona desacreditada foi merecidamente aclamada pelos jurados Simon Cowell, Amanda Holden e Piers Morgan. Esta apresentação foi exibida pelo canal inglês ITV no sábado, dia 11 de abril, e assim que caiu na rede tornou-se sucesso imediato, repercutindo em sites como Digg, Reddit e Twitter. Até o presente momento, o vídeo no YouTube alcançou a marca de 2.721.000 visualizações em pouco mais de 48 horas. Pudera: como bem definiu Arnaldo Branco no Twitter, “é a cena da gordinha em Escola do Rock, só que na vida real”.
Apenas três dias após sua primeira aparição na TV, Susan Boyle tornou-se uma celebridade mundial graças à internet. Em entrevista concedida ao Daily Mirror, ela revelou detalhes de sua vida pessoal. Caçula de uma família de nove irmãos, Susan nasceu de um parto complicado em que sofreu falta de oxigenação, deixando-a com uma grave sequela: dificuldades de aprendizado. Por conta disso, tornou-se alvo de chacotas e brincadeiras maldosas de outras crianças quando frequentava a escola.
Susan nunca teve um namorado. Cresceu, envelheceu e teve na música o seu único alento na vida. Porém, com problemas de auto-estima, nunca apostou em seu talento natural. Inscreveu-se, enfim, para participar do Britain’s Got Talent dois anos após a morte de Bridget, sua mãe, em 2007. Ela era fã do programa e dizia que, se um dia Susan fizesse sua inscrição no reality show, seria vencedora. Disse Boyle: “Eu nunca acreditei que era boa o suficiente. Foi só após a morte de minha mãe que tomei coragem para fazer minha inscrição. Foram tempos difíceis, sofri de depressão e ansiedade. Mas após a escuridão vem a luz. Queria que minha mãe tivesse orgulho de mim, e a única maneira de fazer isso foi correndo o risco de participar do show”.
A esta altura do campeonato, Susan Boyle já nem necessita mais vencer esta edição, cujos resultados deverão ser anunciados em 30 de maio. No domingo de Páscoa, ao chegar para a missa na igreja que frequenta, ela foi aplaudida de pé por todos que estavam no local. Também já foi chamada para conversar com executivos de uma grande gravadora, e certamente fará tanto sucesso quanto o vencedor da primeira edição do Britain’s Got Talent: o ex-vendedor de celulares Paul Potts, que em 2007 protagonizou uma história que recorda bastante a trajetória atual de Susan. Vale a pena, pois, conferir o vídeo da primeira e inesquecível apresentação de Potts no programa, cantando a ária “Nessun Dorma”, da ópera Turandot, de Giacomo Puccini. Controle as lágrimas se for capaz.
P.S. 1: Confiram o vídeo da versão legendada da apresentação de Susan Boyle em português.
P.S. 2: E Susan conquistou a América. Já viram a entrevista que ela deu para a rede CBS?
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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