Sobre o meme da blogueira da Capricho

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 31 de julho de 2013

Ontem acessei pouco a internet e acabei perdendo o caso da vez: a história de como Giovana Ferrarezi postou uma reclamação no Facebook sobre uma casa noturna, após ter pedido para “dar uma olhada na festa antes de todo mundo pagar para entrar”, comentando com a hostess que tem um blog que faz parcerias com a Capricho. Sua atitude, interpretada como tentativa de carteirada, recebeu uma saraivada de críticas. Seu post no FB recebeu mais de 1.800 comentários e centenas de comentários, antes de ser apagado (embora seja possível ver capturas de tela do post original de Giovana em dezenas de lugares, como no site da Folha). E, como tudo que ganha certa repercussão na internet, virou meme (clique aqui para conferir o resumo da ópera feito pelo youPIX).

O lado bom de ter ficado sabendo disso fora do calor do momento é que tive um certo distanciamento para entendê-la melhor, algo fundamental nestes tempos afobados em que pessoas mal ouviram falar de uma história e já se apressam para emitir opiniões e palpites sobre ela. E, confesso, senti pena pelo fato de uma menina de 20 anos, que escreve em um blog chamado Unicórnios Radioativos, estar sendo fartamente ridicularizada por causa de um ato tolamente imaturo. Perfis corporativos estão fazendo piadas com sua história em redes sociais, um tumblr chamado Blogueira Humildona foi criado e, enfim, aquele ciclo previsível de imagens engraçadinhas e sacadinhas irônicas tomou conta da web tupinambá. Afinal de contas, todo mundo quer surfar na onda da vez.

O fato é que a internet possui pouquíssima tolerância a erros. Se você é flagrado agindo de forma vexaminosa em um vídeo, ou postando uma bobagem impensada em qualquer site, logo o tribunal das redes sociais se manifesta de forma implacável. E aí, ao alvo das críticas, restam as alternativas de: a) admitir o erro e pedir desculpas; b) jogar a culpa num pretenso hacker; c) sentar num cantinho escuro e só sair de lá no final dos tempos; ou d) aceitar as piadas e se deixar levar por elas. A julgar pelo vídeo que postou em seu Instagram, Giovana Ferrarezi optou pela última opção. Menos mal, posso dizer que fiquei até aliviado com a reação que ela teve.

Logo surgirão outras histórias, e os 15 KB de fama infame de Giovana passarão em breve. Mas o modo como a internet exibe seus dentes afiados, e seu lado mais intolerante e agressivo, em situações tão bestas como esta, nunca deixará de me surpreender.

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

Comentários do Facebook

Comentários do Blog

  • Lorena Rocco

    As pessoas que criticam todo tipo de intolerância offiline, via internet, são as mesmas que alimentam a intolerância e falta de respeito na internet… ai ai*

  • Marcus

    O erro foi duplo. A carteirada e a tentativa de se vingar com o texto. Mereceu o julgamento e a pena.

  • Baltazar Ferreira

    Não concordo com o argumento apresentado. O que causou esse reboliço todo foi a atitude mesquinha, mimada e prepotente da blogueira. Cada pessoa sentiu o senso de justiça ferido, e é claro, usou do humor e da ironia como ferramenta para combater essa injustiça; SIM, I-N-J-U-S-T-I-Ç-A! É claro que tem os que só queriam a farra do momento, e quem pode culpá-los ? São pessoas com a criatividade exalante que canalizaram através de inúmeras imagens o sentimento de desprezo pela “burguezinha” sem noção. DEBOCHE PÓÓDE!

  • Caio Bov

    Não sou de sair, mas fui conhecer algumas casas noturnas de São Paulo (Sarajevo, Tracker, Coletivo Prato do Dia, Fora do Eixo). O que pude perceber é que algumas delas fazem questão de “delimitar” (essa é a palavra) seu público.
    O erro dela, acho, foi que a pretensa credencial não só não a credenciava, como serviu como repelente.

  • crazyseawolf

    Não concordo que tenha sido um ato imaturo. Os jovens são arrogantes por natureza e isso aumenta conforme o meio onde eles vivem. Talvez na cabeça dessa menina, o que ela fez ao tentar furar a fila, seja um ato normal que as pessoas do meio dela fazem.
    Ela errou e quem sabe, ela reveja os seus conceitos.

  • Alexandre Linares

    Meu xará, na boa, esse teu post é uma aula de crítica e jornalismo. Devia ter te dado nota 11 no teu TCC na Casper anos atrás…

  • Lourdes

    Não sei não… Mas acredito que aos 50 anos ela terá o mesmo comportamento ‘imaturo’.

  • Emily @opss

    Não vi o video, mas que bom que ela soube lidar com isso né?! Reparei que ontem quando li o post dela, tinha “23 mil e alguma coisa seguidores”. Agora tem mais de 28 mil. E quantos não estão de olho só nos números e pouco importa como ela se sentiu?! Falar besteira aos 20 e poucos anos, quem nunca? rs

  • Free Truth

    Ina, muito bom o seu texto ! A internet, por tras da sua anonimidade, permite revelar a agressao e intolerancia do ser humano. Pessoas que estao prontas para julgar os outros instantaneamente, mas sequer tem consciencia do que comeram ou disseram no cafe da manha…

  • Guadalupe Albuquerque

    Ah, mas deletar o perfil no Facebook não é tão se deixar levar pelas piadas… :/

  • Manoel Netto

    É importante afirmar que a imensa maioria dos componentes desse tribunal das redes sociais, tem 20 anos ou menos, e suas ações são igualmente tolamente imaturas.

    Eu lembro da minha 5a série, no intervalo do lanche, quando alguém derrubava algo no chão de forma barulhenta ou escorregava no pátio e se estatelava. O som dos próximos 20 segundos era de gritos ensurdecedores, como uma sonora “ola” num estádio de futebol, pouco antes das gargalhadas.

    Hoje os escorregões são virtuais, e os gritos podem ser bloqueados, ignorados, mas as quedas, essas ficarão para sempre nos murais da 5a série. ;-)

    • http://tcelestino.com.br/ Tiago Celestino

      Disso tudo Netto. O problema maior é que as pessoas não estão sabendo separar a vida online da vida offline, achando que tudo deve ser postado ou venerado em redes sociais.

  • brunoalves65

    A melhor trilha sonora para esses tempos é a música de Tom Zé, “Tribunal do Feicibuqui”.

Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

Parceiros

Mantra

A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.