As primeiras queixas surgiram no dia 29 de dezembro. Jacqueline Brandão, criadora da comunidade no Orkut “Eu Amo Chocolate” (com 147.285 membros), abriu um tópico dentro do grupo “PanElite” (de acesso restrito a moderadores de algumas das mais populares comunidades brasileiras) denunciando o fato: “roubaram a minha comunidade (…). É osso viu? Tô quase chorando, de tristeza e raiva. :( O atual moderador me disse que é provisório, pra eu não ficar triste.”.
O “atual moderador” citado por Jacqueline é Vinícius K-Max. Apelidado pelos amigos de Bozó, tem 23 anos (segundo informações de sua página no ICQ), possui um fotolog abandonado e, antes de “roubar” comunidades no Orkut, já se apossou de fotologs alheios em setembro de 2003, usando o nickname Vipzen. Na época, Vinícius usou como justificativa para o seu ato palavras de ordem contra um suposto boicote dos administradores do Fotolog contra usuários brasileiros (“FODA-SE o CAPITALISMO! FODA-SE o USA! VAMOS USAR FOTOLOGS BRASILEIROS! PAREM DE BABAR OVO PARA OS GRINGOS!!”).
Para se apoderar de algumas das maiores comunidades brasileiras no Orkut, Vinícius aproveitou-se dos inúmeros “bugs” do navegador Internet Explorer, que, aliados a falhas de segurança do site, abriram brechas para que alguém armasse a tal arapuca. Resumindo grosseiramente o funcionamento da armadilha: após criar um código de programação malicioso, “Vipzen” induziu os moderadores das comunidades “roubadas” a clicarem, inocentemente, em determinado link. Para tanto, Vinícius aproveitou-se da absurda facilidade com que internautas criam identidades falsas no Orkut, criando a persona Antonio Bitencourt. Sob a falsa alcunha, visitou as páginas pessoais dos criadores das comunidades almejadas, deixando nelas a seguinte mensagem:
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Chegou recentemente às bancas a edição nº 221 da revista “Cebolinha”, que traz na capa o anúncio de um novo personagem da Turma da Mônica: Bloguinho, personagem que se comunica com os outros através do “internetês”, aquele dialeto da língua portuguesa recheado de expressões como blz, chat, emoticon e a indefectível risada usada por nove entre dez internautas adolescentes, KKKKKKKKKKK. Uma das intenções dos estúdios Maurício de Sousa com a criação de Bloguinho é utilizar a interface dos quadrinhos para “traduzir” aos leitores a peculiar linguagem usada em chats de Messenger, blogs e fotologs de adolescentes. Admito que necessito de ajuda, afinal de contas como é que existem pessoas capazes de IxCrEvEr kOiZaX dExXe DjEiTuM?
O press-release enviado a respeito do personagem fornece uma estatística estarrecedora: cerca de 7 milhões de usuários já são fluentes nesse tal de “internetês”, esse tal linguajar crivado de expressões como “vc quer tc?“, “sua fotinha tah d++++, mtoooo xow, me adiciona no msn!!!“, ou “lôko o seu blog, naum ker trocar links?“. Continue Lendo
Em seu perfil no Orkut, meu amigo Daniel Rêgo Barros Júnior afirmava: “Como bom Nordestino, não tenho sombra, tenho réstia!!! E espero morrer aos 110 anos, assassinado por um marido ciumento.” Que pena, meu camarada, que a vida nem sempre segue o script que desejamos dar a ela.
Daniel nasceu no dia 30 de julho de 1955, em Paulo Afonso, interior da Bahia. Sua família, porém, era de Pernambuco. Já residente em Recife, formou-se em Direito pela Unicap. Anos mais tarde, mudou-se para Aracaju, onde fundou o escritório de advocacia Rego Barros Advogados Associados. Devido a essas perambulações, considerava-se um cabra “sergipernambaiano”.
Daniel foi mais um dentre tantos amigos que fiz por intermédio do Pensar Enlouquece. Na época em que comecei a postar, ele era um dos principais agitadores da então incipiente blogosfera brasileira. Além de manter um blog pessoal, Daniel foi o criador do Post-It, blog coletivo com mais de 200 integrantes, criado em setembro de 2001.
Começamos a nos corresponder por intermédio de um internauta anônimo que assinava seus posts como São Nunca e se dedicava a divulgar blogs pouco conhecidos com bastante simpatia e humor. Eu, que sou um cara deveras desligado, só fui descobrir que São Nunca e Daniel eram a mesma pessoa ao trocar scraps nesta semana com uma amiga que tínhamos em comum, Cristina Carriconde. Disse ela: “Sim! Ele era o nosso santinho milagreiro do mundo dos blogs. Imagina quanta gente ele ajudou e que não sabe a identidade. Podes confirmar isso visitando o velho link do Santo de Casa. Quando a gente clica ele leva para a página do blog de direito que ele mantinha. Mais uma página que procurava ajudar as pessoas”.
Na primeira vez em que trocamos e-mails, lá pelos idos de 2003, escrevi-lhe para comentar que nossas páginas pessoais estavam entre as mais visitadas do Yahoo na categoria Poesia na Internet. Desde então, mantivemos uma intermitente correspondência amistosa ao longo dos anos. Fiel amigo virtual, Daniel sempre esteve entre os primeiros a me auxiliar toda vez que precisei de divulgação: apoiou minha campanha pelo iBest, denunciou o episódio do bloqueio de minha URL pelo Blogger Brasil, divulgou o novo endereço do blog, foi integrante ativo da comunidade Pensar Enlouquece no Orkut. Devido à distância geográfica, jamais chegamos a beber chope juntos em uma mesa de bar; ficamos apenas com os pileques e abraços virtuais. No entanto, eu sabia que poderia contar com seu apoio sempre que necessário, e a recíproca era verdadeira.
Daniel Rêgo Barros Júnior morreu no dia 30 de outubro, aos 50 anos de idade, por não conseguir mais suportar as conseqüências causadas pela depressão e síndrome do pânico. Em uma das cartas que deixou, escreveu:
“Vivam intensamente e procurem lembrar sempre os bons momentos que passamos juntos. Acreditem em Deus, pois sem ele dentro de nós, as coisas tornam-se difíceis de serem superadas. Não quero luto.
Na quinta-feira, dia 3, seu filho Bruno Barros publicou um belíssimo texto intitulado “Meu Pai. Meu Fantástico Pai”. Nele, afirma:
“Meu pai estará eternamente no meu coração e no coração de todos que tiveram a oportunidade de conhecer a pessoa fantástica e brincalhona que ele era. Onde havia lágrima, meu pai, com um par de piadas bobocas e seu largo sorriso, conseguia fazer brotar felicidade.
Não terei mais a oportunidade de dar um abraço em meu amigo Daniel. No entanto, posso dizer que a dor de ter perdido meu camarada é tão real quanto as lágrimas que marejaram meus olhos ao saber de sua morte. Porque existem momentos nos quais as amizades virtuais transcendem os limites de bits e bytes. Porque as pessoas que mantêm blogs não são avatares ou personagens de videogame: elas riem, choram, sofrem, teimam, amam. E pessoas como Daniel, embora já não estejam fisicamente neste mundo tão imperfeito em que vivemos, permanecem fazendo-nos companhia em algum lugar dentro da gente.
Descanse em paz, Daniel, e obrigado por ter me dado o privilégio de ser seu amigo. Um dia a gente ainda há de se encontrar por aí.
* * *
P.S.: Meu amigo Fábio Sampaio também escreveu um post em homenagem a Daniel.
As únicas leis que funcionam neste país, uma vez que independem da fiscalização de nosso pantagruélico Estado, são as leis de Murphy e Gérson. Não vejo grande utilidade, pois, na convocação de um referendo que custará cerca de R$ 210 milhões aos cofres públicos, é baseado na falácia de que a proibição da venda de armas bastará para diminuir a criminalidade (como se a desigualdade social de nossa Belíndia, a corrupção na polícia e a falta de investimentos em educação não fossem os motivos principais da violência que grassa por aí) e desvia as atenções da população de assuntos mais relevantes como os processos de cassação dos deputados envolvidos no escândalo do mensalão.
Você reclamava do baixo nível da programação da TV? Ah, isso é porque você não havia sido obrigado a assistir às propagandas imbecilizantes oriundas desse referendo. De um lado, artistas bradando argumentos repletos de lugares comuns, do tipo “eu sou a favor da paz” (ué, existe algum idiota que declare ser pró-guerra?), esvaziando a discussão de um assunto sério com seus rostinhos bonitos e acéfalos. De outro, atores personificando jovens “descolados” que usam o argumento patético de que é preciso votar “não” porque a juventude é intrinsecamente contra qualquer tipo de proibição. Em comum a ambos os lados, o farto uso de números e pesquisas que supostamente corroboram seus respectivos pontos de vista. Não posso deixar de fazer a piada inevitável: 98,75% das estatísticas são totalmente manipuláveis.
* * * * *
P.S. 1: O único referendo ou plebiscito que este país necessita diz respeito ao fim da obrigatoriedade do voto.
P.S. 2: Perdoe-me se soarei grosseiro, mas não estou minimamente interessado em saber se você votará “sim” ou “não”.
P.S. 3: Indeciso e à procura de mais informações? Não permita que a mediocridade das propagandas televisivas ou a parcialidade de determinadas revistas semanais joguem fora a oportunidade de se fazer um debate minimamente aprofundado. Clique aqui, visite os links do grupo Nós na Rede e conheça opiniões de ambos os lados.
Cansei dessa necessidade que todos parecem ter de expor suas opiniões e depois verem-se compelidos a justificá-las, argumentá-las, passionalizá-las, asseverá-las a ferro e fogo. Certas discussões me lembram aquelas intermináveis mesas-redondas de futebol, em que uma bancada repleta de palpiteiros discute ad nauseam se tal jogador estava impedido, se tal lance foi pênalti ou não, e a troco de quê? Do mais rotundo e absoluto nada.
Já briguei demais com pessoas importantes em minha vida movido por essa vaidade estúpida de querer provar as minhas verdades. Estou saturado de viver em um ambiente cercado de palpiteiros patológicos que, subitamente, tornam-se experts sobre qualquer assunto que esteja sob o imediato foco midiático. Não quero provar que o meu gosto musical é mais refinado, que a minha opinião sobre o porte de armas é melhor argumentada que a sua, que eu li um porrilhão de livros e isso me torna um sujeito mais culto, que eu sou bacana e cool e blasé e indie e antenado.
A compreensão de que minha opinião sobre qualquer assunto é tão relevante quanto saber a cor da tampa do ralo do banheiro público do metrô é algo que ainda apreendo aos poucos, e faz parte do paulatino e dolorido processo de tentar me tornar uma pessoa melhor. Um dia ainda hei de saber filtrar a arrogância, o cinismo e o ceticismo que envenenaram minhas palavras em certos bate-bocas, discussões, e-mails.
(Quem afirma algo como “se eu pudesse voltar atrás faria tudo exatamente igual” é um contumaz imbecil.)
Pretendo, pois, limitar minha participação em embates verbais exclusivamente a situações in loco, ao lado de amigos que me vejam olho no olho e saibam reconhecer meus momentos de ironia, convicção, sarcasmo e, sobretudo, fraqueza.
Cláudio Rodrigues e Claucirlei Jovêncio de Souza, dois amigos desde os tempos em que eram vizinhos na comunidade do Salgueiro, talvez representem o caso de dupla mais injustiçada de toda a MPB. Melhor reconhecidos pela alcunha de Claudinho & Buchecha, gravaram seis álbuns entre 1996 e 2002, ano em que Claudinho morreu vitimado por um acidente automobilístico. Tempo suficiente, porém, para que cunhassem alguns dos melhores chicletes de ouvido dos últimos tempos, como “Nosso Sonho” (verdadeiro compêndio da geografia suburbana carioca), “Fico Assim Sem Você” (sucesso recente na voz de Adriana Calcanhoto, conhecido pelos proféticos versos “Amor sem beijinho/ Buchecha sem Claudinho/ Sou eu assim sem você”) e “Conquista” (o hit do “tchurururu”).
Além da inegável veia pop, com influências de funk e soul, é preciso destacar as letras escritas por Buchecha. Ex-auxiliar de pedreiro e office-boy, não chegou sequer a completar o primeiro grau. Em compensação, tornou-se contumaz leitor de dicionários, sendo que cada palavra que chamava sua atenção era anotada em um caderno para posterior aproveitamento em suas músicas. Provém daí a inspiração para versos como “se o destino adjudicar esse amor poderá ser capaz, gatinha” ou “nem sei se era eu próprio, mas me machuquei ao perquirir, notei o seu opróbio”. Atualmente em carreira-solo, Mc Buchecha mantém o vigor de suas composições. Vide, por exemplo, “Laços”, música com samplers de “Pocket Calculator” do Kraftwerk e uma letra de romantismo comoventemente naïf: “Os casais se encontravam na pracinha/ Se abraçavam e se beijavam em puro mel/ Hoje ninguém mais namora e o tapinha/ É o convite mais ativo pro motel”. Continue Lendo
Ao traçar o perfil do fotógrafo David Bailey, o jornalista e escritor inglês Tony Parsons extraiu a seguinte declaração do entrevistado: “Todo mundo gosta de um pouco de bajulação, sexo e dinheiro. Se bem que para mim a bajulação não é uma força motivadora tão grande - sem dúvida, prefiro sexo e dinheiro“. Ao escrever sobre os neo-hippies, Parsons vaticinou: “Nenhuma cultura que requer a leitura de O Senhor dos Anéis, Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas e Fernão Capelo Gaivota pode ser realmente boa. Uma gaivota não deve saber porra nenhuma“.
Em um artigo sobre o amor, outro tiro certeiro: “Meu caro apaixonado, você não sabe que o romance nada mais é que o amor antes de ter a chance de ter errado? E você não sabe que, se a frágil flor não for esmagada assim que florescer, então, um, cinco, dez anos depois, você vai estar empurrando um carrinho de bebê no supermercado e se perguntando: ‘Mas onde estará meu verdadeiro amor?’. E ele estará ali, diante de você, seu amor verdadeiro, que ficou frio e distante, olhando amargamente para as datas de validade.” Continue Lendo
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