O Oscar em que DiCaprio desencantou e Gloria Pires roubou a cena

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A grande questão que mobilizou mentes e corações neste Oscar 2016 era saber se Leonardo DiCaprio finalmente ganharia sua primeira estatueta, após ter sido indicado pelas atuações em Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador (1994), O Aviador (2004), Diamante de Sangue (2006) e O Lobo de Wall Street (2013), por seu papel em O Regresso. O resultado foi o fim de uma piada e a injustiça pelo urso não ter sido citado no discurso de agradecimento.

Internet, essa garota marota que nunca me decepciona.

Publicado por Alexandre Inagaki em Domingo, 28 de fevereiro de 2016

Mas o Oscar começou marcado pelas questões étnicas: a ausência, mais uma vez, de indicações a atores, diretores e roteiristas negros nas principais categorias gerou protestos e boicotes que não passaram em branco (ops) pelo monólogo de abertura feito pelo apresentador deste ano, o comediante Chris Rock.

A fim de tentar compensar um ano em que a Academia esnobou Idris Elba (ganhador do SAG de Ator Coadjuvante por Beasts of No Nation), Michael B. Jordan e Ryan Coogler (respectivamente ator principal e diretor de Creed, filme que rendeu a Sylvester Stallone sua indicação ao Oscar) e Straight Outta Compton (cinebiografia sobre o grupo de rap NWA que, ironicamente, só foi indicada na categoria de Melhor Roteiro Original, sendo que todos os seus roteiristas são brancos), a cerimônia ficou repleta de apresentadores negros que estiveram no palco para entregar prêmios a… brancos. Mas enfim, a ocasião foi perfeita para que Chris Rock soltasse sua metralhadora verbal e desferisse alfinetadas para todos, incluindo os profissionais negros que boicotaram a cerimônia:

Por que estamos protestando? Por que nesse Oscar? É a 88ª edição do prêmio. Você imagina que poderia ter acontecido nos anos 50, nos 60… e tenho certeza de que não houve indicações. Sabe por quê? Porque nós tínhamos coisas de verdade para protestar contra naquela época. Estávamos ocupados demais sendo estuprados e linchados para se importar com quem venceu melhor direção de fotografia. Quando a sua avó está enforcada em uma árvore, é realmente difícil pensar em quem venceu o melhor curta-metragem de documentário estrangeiro.

Vale a pena conferir seu monólogo na íntegra. De qualquer modo, creio que um dos problemas está na falta de papéis mais relevantes e menos estereotipados. Basta lembrar: as últimas atrizes negras oscarizadas foram Octavia Spencer (que interpretou uma EMPREGADA em Histórias Cruzadas) e Lupita Nyong’o (ESCRAVA em 12 Anos de Escravidão). De resto, vale citar o comentário feito por Viola Davis, primeira negra a vencer o Emmy de Melhor Atriz Dramática por How to Get Away with Murder em 2015.

De qualquer modo, toda essa celeuma ao menos serviu para render algumas boas piadas, como ver Tracy Morgan no papel de uma garota dinamarquesa.

A noite apresentou algumas zebras. Sylvester Stallone perder o Oscar de Ator Coadjuvante para Mark Rylance, de A Ponte dos Espiões, por exemplo, me derrubou no bolão (no fim só acertei 16 de 24 palpites). E ver Sam Smith ganhar o prêmio de Melhor Canção Original pela música soporífera que compôs para 007 Contra Spectre me fez lamentar a ausência de Kanye West na cerimônia. A favorita desta categoria, Lady Gaga, fez uma apresentação impactante de “Til It Happens To You”, que contou com a participação no palco de vítimas de violência sexual, a quem dedicou a canção. Ao final da performance, Brie Larson - ganhadora do Oscar de Melhor Atriz por O Quarto de Jack, interpretando uma mãe que é mantida em cárcere privado e sofre abusos sexuais durante anos - fez questão de abraçar cada uma das mulheres que se apresentaram com Gaga.

Em compensação, o momento do anúncio de Melhor Longa de Animação foi tão surpreendente quanto chuva cair molhada. Uma pena para O Menino e o Mundo, mas não se pode dizer que o resultado não foi justo.

Enquanto tudo isso acontecia, no Brasil quem roubou a cena foi Gloria Pires, graças aos seus comentários lacônicos durante a transmissão feita pela Rede Globo. Assumindo que não viu boa parte dos filmes indicados e resumindo seus comentários a observações sucintas como “merecido”, “eu gostei” e “muito interessante”, Gloria logo assumiu a dianteira dos Trending Topics do Twitter e inspirou toda uma nova safra de memes noite afora.

De qualquer modo, creio que Gloria Pires merece um desconto. Ela afirmou, durante certo momento da transmissão: “Não sou capaz de opinar”. Na real, eis uma autocrítica que mais gente deveria ter por aí. Com certeza você ainda vai se deparar muito com este gif animado resumindo o sentimento diante de certos textões de Facebook.

Por fim, em uma cerimônia na qual Mad Max: Estrada da Fúria levou quase todos os prêmios técnicos (e merecia ter ganho outros mais) e Emmanuel Lubezki recebeu justamente seu terceiro Oscar consecutivo de Melhor Fotografia por seu trabalho em O Regresso, o grande momento da torcida mundial enfim chegou: Leonardo DiCaprio foi premiado e levou ao delírio incautos de todos os lugares.

Fora as piadas inevitáveis de plantão, vale destacar a reação emocionada de Kate Winslet, sua amiga de tantos anos.

Kate, diga-se de passagem, me fez descobrir que sofro de TOC, por ter me deixado incomodado com seus óculos tortos. De qualquer modo, devo dizer que ela estava deslumbrante com seu cosplay de Superman se disfarçando de Clark Kent.

O Oscar 2016 terminou com os anúncios das premiações de Alejandro González Iñárritu (Melhor Diretor por O Regresso) e Spotlight: Segredos Revelados como Melhor Filme. Embora alguns cinéfilos tenham considerado essa vitória de Spotlight uma homenagem ao bom jornalismo investigativo, a verdade dos fatos nem sempre é agradável de se constatar.

Mas enfim, o importante é o que importa. No Troféu Imprensa do cinema mundial, quem é de festa teve motivos de sobra para celebrar que a vida é boa e cheia de possibilidades. :)

Hoje a noite vai ser longa em Hollywood, todo mundo na festa do DiCaprio!

Publicado por Pensar Enlouquece, Pense Nisso em Domingo, 28 de fevereiro de 2016

Pense Nisso!
Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.

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Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

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