O amor é cego e brega
Por Alexandre Inagaki ≈ quinta-feira, 12 de junho de 2008
Neste Dia dos Namorados, dedico a todas as leitoras e leitores deste blog seis pérolas do cancioneiro amoroso brasileiro. Afinal de contas, como já afirmei em meu surrado texto Teu Amor é Como um Alien Dentro de Mim, “sei que devo estar sendo até piegas, mas todos que amam são meio bregas”. E o amor, afinal de contas, é cego e hemburresce, mas ainda não é surdo. :P
Roupa Nova - “Linda Demais”. 1985 foi o ano do Roupa Nova, que ganhou disco duplo de platina com um álbum repleto de músicas que Edson “Bolinha” Cury qualificaria como “sucessos que o pooooooovo gosta”, dentre os quais destacam-se “Dona” (tema da Viúva Porcina na novela Roque Santeiro), “Seguindo no Trem Azul”, “Show de Rock’n Roll” e a apoteótica “Linda Demais”, balada catártica que, não à toa, é hit de qualquer karaokê que se preze. Pudera: quem nunca teve a necessidade de soltar o sentimento encalacrado no peito por meio de versos motelicamente românticos como “te desejo muito além do prazer”, “vem fazer diferente o que mais ninguém faz” ou “mil beijos de amor em muitos lençóis”? Amar não é pra amadores, mermón! E tá pensando que é fraco um grupo cujo blog oficial só tem um único post, mas que recebeu nada menos que 962 comentários?
Só Pra Contrariar - “Depois do Prazer”. Uma obra-prima da cara-de-pau. Abra o teu coração e confesse pra mim, mulher: qual seria a tua reação se eu chegasse na porta da tua casa e admitisse, com os olhos umedecidos de arrependimento e o peito aberto, que “tô fazendo amor com outra pessoa, mas meu coração vai ser pra sempre teu”? Será que realmente “o que o corpo faz a alma perdoa”? Sei não. Para mim, esta canção gravada pelo grupo Só Pra Contrariar em 1997 é um crássico da desfaçatez daqueles que se bronzeiam diariamente com óleo de peroba. Mas admito que seus versos romanticozinhos dizem ao menos uma verdade incontestável, principalmente para os homens que pensam com a cabeça de baixo e só recuperam o equilíbrio racional depois de terem alcançado o ápice orgasmático: “Dá pra ver nessa hora/ Que o amor só se mede/ Depois do prazer”.
Markinhos Moura - “Meu Mel”. Nascido no Ceará, este cantor e compositor mudou-se para São Paulo em meados dos anos 80. Sonhava em ser bailarino, mas acabou se encontrando na carreira musical. Em 1986, invadiu as AMs e FMs, merecendo da locutora do Vídeo Show a seguinte descrição: “Markinhos não era nenhum abelhudo, mas vivia lambuzando de mel as paradas musicais”. Bem, o que mais dizer de uma música que leva ao pé da letra o fato de ser tão melada a ponto de não ser recomendada a corações diabéticos? Markinhos Moura, após ter superado rompantes de síndrome do pânico nos anos 90, segue adiante com sua carreira bem-sucedida, disponibilizando em seu site oficial fotos, vídeos e suas gravações mais recentes.
Agepê - “Deixa Eu Te Amar”. “Quero te pegar no colo/ Te deitar no solo/ E te fazer mulher”: trata-se, indubitavelmente, de um refrão digno de qualquer antologia. Graças a esta música, o sambista carioca Antônio Gilson Porfírio, que juntou suas iniciais para criar seu nome artístico, vendeu expressionante 1 milhão e meio de cópias do álbum Mistura Brasileira, de 1984. É uma pena que Agepê, ícone do samba romântico, morreu cedo, em agosto de 1995, aos 53 anos de idade. Sua música, porém, permanece embalando noites tórridas de paixão pelo Brasil afora.
Wando - “Moça”. Convenhamos: não é qualquer um que promete se virar do avesso só para dar um abraço. E, embora o mineiro Wanderley Alves dos Alves seja mais conhecido por sucessos como “Fogo e Paixão” e “Chora Coração”, sua obra-prima, que foi trilha sonora da novela Pecado Capital em 1975, é definitivamente esta canção na qual este singelo colecionador de calcinhas canta, com toda a sensibilidade que só um macho possui: “Moça/ Sei que já não és pura/ Teu passado é tão forte/ Pode até machucar”. Já que o que importa é o presente, e o futuro é um papel em branco a ser escrito a quatro mãos, o que nosso bardo ui-Wando de paixão poderia dizer? “Eu quero me enrolar nos teus cabelos/ Abraçar teu corpo inteiro/ Morrer de amor/ De amor me perder”.
Zezé di Camargo & Luciano - “Você Vai Ver”. Mirosmar José e Welson David de Camargo anualmente gravam novos discos repletos de músicas que cravam diretamente o peito daqueles que amam e, embevecidos de paixão, mal conseguem balbuciar palavras capazes de descrever seus sentimentos. Um bom exemplo? Esta canção, gravada em 1994, que representa uma espécie de “Detalhes” na obra de Zezé di Camargo, com versos nos quais a dupla sertaneja entoa a ilusão de que aquele amor, por mais parceiros que vá encontrar ao longo de sua vida, jamais se esquecerá de você, seu gostosão convencido (“Você pode provar milhões de beijos/ Mas sei que você vai lembrar de mim/ Pois sempre que um outro te tocar/ Na hora você pode se entregar/ Mas não vai me esquecer nem mesmo assim”).
Feliz Dia dos Namorados! E para os solteiros, feliz Dia das Possibilidades! :roll:
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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