Leituras da semana
Por Alexandre Inagaki ≈ sexta-feira, 12 de abril de 2013
Em sua coluna na Galileu, Débora Nogueira tergiversa sobre o desligamento de vínculos em tempos de redes sociais: “(…) você provavelmente já conheceu alguém pela internet e depois o levou para a vida real. Esse texto é sobre o passo seguinte. O unfollow na vida. Seja por qual motivo você julgou que aquela pessoa não valia estar ‘entre seus amigos’ é possível cortá-la. Apagá-la. Excluí-la. As relações estão a um clique de serem rompidas (tirar a pessoa da cabeça já são outros quinhentos…). Esse rompimento do unfollow é como dizer ‘não quero mais saber o que está fazendo, ou se vai mandar indiretas para mim’. (…) Romper a relação de receber atualizações e fotos que no fim significam sentimentos para a gente. Ver o que a pessoa está fazendo sempre nos afeta após um rompimento, certo? Na internet isso é mais explícito. Por mais que você não ande na mesma região da cidade que a pessoa, você vai saber que ela está tomando um sorvete, em tal lugar e se bobear até o sabor!”
Nos tempos atuais, em que os tais seis graus de separação que antes separavam uma pessoa da outra agora só se limitam a dois ou três, graças às fronteiras dissipadas pela internet, é muito mais fácil nos desiludirmos com nossos ídolos. É como bem afirmou Millôr Fernandes: “Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos bem!”. Por isso, é bom ver quando essas expectativas são quebradas, e do melhor modo possível. O relato de Elson Barbosa, baixista da banda Herod Layne, publicado no blog do André Barcinski, mostra como Robert Smith e seus colegas do The Cure provaram que ídolos não necessariamente têm pés de barro.
Gerald Thomas fez trabalhos com Philip Glass, já dirigiu em cena atores do naipe de Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Sérgio Britto e Fernanda Torres, foi casado com a cineasta Daniela Thomas (filha do Ziraldo) e teve encenadas peças suas em países como Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra. Ou seja, construiu currículo respeitável como artista. No entanto, jogou fora toda essa reputação provando ser um ser humano dos mais boçais, ao enfiar a mão dentro do vestido da modelo Nicole Bahls. E, pior, ao querer justificar seu ato com palavras feito estas: “Meti a mão na menina. E tudo termina nos panos quentes, CPI que acaba em pizza, como todas as coisas no Brasil, esse paisinho de quarto mundo, Corsa que quer ser Mercedes.” Walter Hupsel, em sua coluna no Yahoo!, afirma: “Uma brincadeira nem sempre é apenas uma brincadeira. Algumas vezes vai muito além disso, e não é nada inocente. Fala a partir de um lugar específico, para uma vítima específica, escolhida, calculada.”
Rosana Hermann, em sua página no Medium, fala de infobesidade e de todos os alimentos trash que andam empanturrando nossos neurônios nos tempos atuais: “Somos o que consumimos. E o que tenho visto no grande buffet da mídia e no self-service das redes sociais é de explodir as artérias de qualquer um.”
A criação de conteúdos de qualidade é uma atividade que requer tempo, dedicação, pesquisas. Mas, como ninguém parece estar muito disposto a pagar para consumir obras que podem ser baixadas gratuitamente na internet, como equalizar esse dilema? Esta é uma das questões abordadas por este texto de Michel Laub, que cita publicidades protagonizadas por nomes como Tom Zé, Reynaldo Gianecchini e Mano Brown para comentar as relações complicadas entre cultura e propaganda: “A questão é saber até onde a arte, que sempre dependeu de mecenas, do Estado ou de ambos, pode ser contaminada por seus financiadores. É tão ingênuo negar que a relação é delicada como acreditar que exista independência absoluta. Alguém sempre paga a conta, mesmo que seja o público -forçando o artista a se repetir, diluir ou radicalizar para ter o trabalho aceito, demanda às vezes mais prejudicial que a de um ministério ou fábrica de biscoitos.”
P.S.: Além dos textos acima indicados, recomendo fortemente o vídeo com os comentários irretocáveis de Bob Fernandes sobre a lamentável coleção de parvoíces cometidas pelo deputado e pastor Marco Feliciano durante suas pregações.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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